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Direitos Humanos

- Publicada em 21 de Setembro de 2018 às 01:00

Na Venezuela, mortalidade infantil retrocede 40 anos

Quase 400 casos de sarampo foram registrados entre indígenas no ano

Quase 400 casos de sarampo foram registrados entre indígenas no ano


MAURO PIMENTEL/AFP/JC
A mortalidade infantil na Venezuela retrocedeu 40 anos e já é duas vezes maior que a média da América Latina. Um levantamento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, realizado a partir de banco de dados do Unicef e do Banco Mundial, revela que as taxas registradas em 2017 são equivalentes aos índices do país em 1977.
A mortalidade infantil na Venezuela retrocedeu 40 anos e já é duas vezes maior que a média da América Latina. Um levantamento obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, realizado a partir de banco de dados do Unicef e do Banco Mundial, revela que as taxas registradas em 2017 são equivalentes aos índices do país em 1977.
Procuradas pela reportagem por mais de dois meses, entidades internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) têm evitado comentar a situação, alegando que não contam com dados confiáveis sobre a Venezuela. O jornal apurou que o silêncio é resultado de pressões políticas de governos aliados a Caracas.
Enquanto isso, o governo usa os encontros na Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir que a crise é causada exclusivamente pelo embargo imposto pelos Estados Unidos e pela União Europeia ao governo do presidente Nicolás Maduro. Na semana passada, no Conselho de Direitos Humanos, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, insistiu que em seu país "todos têm acesso à saúde".
No entanto, os dados internos dos levantamentos realizados mostram uma outra realidade e indícios de que os avanços sociais já estavam em franca decadência antes mesmo de Washington ou Bruxelas optarem por sanções financeiras.
Um dos indicadores dessa situação é a mortalidade infantil. Há 40 anos, os dados revelam que a mortalidade de crianças com menos de um mês de vida atingia 19 para cada mil crianças nascidas. A taxa caiu para apenas 9,7 casos por mil crianças, em 2008, e se manteve baixa até 2013.
No entanto, desde então, a alta é cada vez mais pronunciada. Agora, os dados mostram que, em 2017, uma vez mais, a taxa havia chegado próximo a 20 mortes por mil nascimentos. Em números absolutos, significa que, no ano passado, 12 mil crianças morreram no primeiro mês de vida. Em 1990, por exemplo, o total era de 7 mil mortes.

Surtos de doenças antes controladas se proliferam pelo interior do país

A taxa de mortalidade de crianças com menos de cinco anos é outro sinal da crise. São 30,9 crianças mortas para cada mil. A taxa, neste caso, é equivalente a de 1989. Em todo o período da década de 1990, esse índice sofreu contração, chegando a 21 mortes para cada mil crianças.
Os avanços continuaram, chegando a 16 por mil em 2011. Mas, a partir de 2014, se registra um aumento. Há quatro anos, era de 19 mortes, subindo para 22, em 2015, para 26, em 2016, e saltando para 30,9, em 2017. No total, foram 18 mil mortes no ano passado, taxa que é duas vezes superior à média latino-americana.
Os números ainda alertam que as crianças estão especialmente ameaçadas por surtos de doenças que, até 2016, estavam controladas. No ano passado, foram 727 casos confirmados de sarampo na Venezuela. No entanto, em 2018, os novos casos já chegaram a 3,5 mil, com 62 mortes. Outra constatação é a contaminação pelo sarampo de grupos indígenas nas florestas venezuelanas. Apenas em 2018, 396 casos foram registrados. Outros 334 ainda estão sob investigação. Em Alto Orinoco, estado venezuelano do Amazonas, já são 53 mortes.