Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, se encontrarão hoje em Helsinque, na Finlândia. Do lado russo, a cúpula é uma grande oportunidade para começar a deixar o isolamento diplomático ao qual Moscou está submetido desde 2014. Já Trump busca obter algum acordo que permita melhorar sua imagem de negociador, já pensando nas eleições legislativas de novembro.
O atual estágio das relações EUA-Rússia, o pior desde a Guerra Fria, nas palavras do próprio Putin, decorre de uma espiral de eventos. Após o fim da União Soviética, em 1991, o Ocidente se aproveitou e atraiu países até então comunistas à sua esfera de instituições, em especial a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), sua aliança militar.
Putin assumiu o poder em 2000 e, com métodos autoritários, pôs ordem na casa. É criticado, mas goza de ampla popularidade. Foi reeleito para um quarto mandato com 77% dos votos, em março. Sem sucesso na relação com o Ocidente, resolveu em 2008 deter o avanço da Otan, guerreando na Geórgia em favor da minoria russa do país. A crise econômica daquele ano debilitou os adversários, e o presidente usou o ciclo de alta do petróleo para modernizar suas forças de segurança.
Sob o regime de Barack Obama, os EUA tentaram isolar Putin. Quando um golpe tirou do poder o governo pró-Moscou na Ucrânia, o presidente russo foi rápido e desestabilizou o vizinho para evitar que caísse no arcabouço institucional do Ocidente. Anexou a Crimeia, de maioria russa, e estimulou separatistas no Leste do país. Sofreu sanções e partiu para o ataque: interveio na guerra civil síria em 2015 e voltou a dar as cartas no Oriente Médio.
Quando Trump assumiu, em 2017, havia expectativa de mudanças por conta de uma suposta simpatia mútua dos líderes, que se encontraram no G-20 e se falam eventualmente por telefone. Mas as acusações de que o Kremlin ajudou a campanha do republicano, negadas por Putin e investigadas em Washington, prejudicaram qualquer reaproximação.
O presidente norte-americano pode exigir uma concessão midiática em troca de amaciar as sanções econômicas. Isso daria a Putin espaço para fazer o país crescer e trabalhar sua fraqueza, a renda dos cidadãos. Com efeito, a proposta de reformar a Previdência, um meio de lidar com os nós fiscais russos, derrubou pela primeira vez em quatro anos sua popularidade.
O ponto é saber no que o mandatário russo cederia. A Crimeia está fora de cogitação. A Síria poderia entrar no jogo, levando em consideração que a mídia estatal russa tem destacado a "retirada de forças" do país, embora a base estabelecida vá ficar onde está.
O fato de os EUA terem aderido à guerra diplomática liderada pelo Reino Unido após o envenenamento de um ex-espião russo na Inglaterra também ajuda a turvar o clima. Uma eventual reaproximação entre Washington e Moscou gera ansiedade na Europa, que percebe as movimentações nas fronteiras russas como uma ameaça.
Na semana passada, a passagem de Trump pela cúpula da Otan, onde fez críticas duras e exigências inviáveis aos aliados, causou mal-estar. Ao fim, os entraves russo-americanos não irão sumir em um aperto de mãos, mas canais podem ser abertos.