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Geral

- Publicada em 20 de Outubro de 2021 às 10:23

Obesidade já atinge 20% da população brasileira

Estimativa é de que em 2025 cerca de 2,3 bi de adultos estejam acima do peso em todo o mundo

Estimativa é de que em 2025 cerca de 2,3 bi de adultos estejam acima do peso em todo o mundo


CLAUDIO FACHEL/ARQUIVO/JC
Adriana Lampert
Porta de entrada para mais de 200 comorbidades, a obesidade já atinge 20% da população brasileira. E outros 50% de indivíduos no País estão neste caminho, por estarem acima do peso. E esta não é uma peculiaridade nacional: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde em todo o globo. Devido a fatores como sedentarismo e hábitos alimentares não saudáveis, a estimativa é de que em 2025 cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam acima do peso em todo o mundo. Destes, 700 milhões de indivíduos estarão obesos, ou seja, com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30.
Porta de entrada para mais de 200 comorbidades, a obesidade já atinge 20% da população brasileira. E outros 50% de indivíduos no País estão neste caminho, por estarem acima do peso. E esta não é uma peculiaridade nacional: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde em todo o globo. Devido a fatores como sedentarismo e hábitos alimentares não saudáveis, a estimativa é de que em 2025 cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam acima do peso em todo o mundo. Destes, 700 milhões de indivíduos estarão obesos, ou seja, com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30.
Ainda de acordo com a OMS, no Brasil a patologia aumentou 72% nos últimos 13 anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. No caso da população não adulta, o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde apontam que 12,9% das crianças brasileiras entre cinco e nove anos de idade têm obesidade, assim como 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos.
Ainda que a data de 11 de outubro tenha sido instituída (pela Lei nº 11.721/2008) como o Dia Nacional de Prevenção à Obesidade, na prática não existem políticas de prevenção que garantam um recuo destes índices, alerta a médica endocrinologista Jamile Sartori El Ammar. "Esta é uma doença crônica, complexa e multifatorial, difícil de tratar", explica a especialista, emendando que "é importante combater a obesidade, que é uma patologia ainda pouco valorizada e muito negligenciada" pelas autoridades governamentais.
Segundo a endocrinologista, ao tratar "a causa maior" é possível reduzir os índices de outras comorbidades, e contribuir com a redução de custos destinados ao tratamento de diversas doenças. "Teria um impacto econômico significativo", avalia Jamile, ao sugerir campanhas de prevenção mais ostensivas, a exemplo das vinculadas a políticas antitabagismo e de redução de uso de álcool.
A nutricionista Juliana Gonçalves destaca que a obesidade é um transtorno alimentar e uma das patologias mais antigas descritas na literatura do mundo inteiro, que tem um impacto muito grande na saúde das pessoas. Ela observa que apesar de 30% a 40% dos obesos o serem por fatores genéticos, outros 60% a 70% desenvolvem a doença por fatores ambientais, hábitos de vida e de alimentação.
Juliana destaca que alimentos industrializados, principalmente açúcares e gorduras (em especial as trans), consumidos em excesso se tornam os principais vilões. "Para que ocorra gasto energético, é preciso comer estes produtos de forma moderada e fazer atividade física", sinaliza. Segundo a nutricionista, a obesidade exige um tratamento multidisciplinar, que vai além de alimentação equilibrada e atividade física, e inclui mudança de hábitos, como dormir adequadamente.
Já o psicólogo Thiago Lacerda afirma que é possível curar a doença promovendo um "maior conhecimento de si mesmo", para que se possa "rever seus conceitos e decidir pelo aumento de saúde e maior qualidade de vida."
Considerada como das maiores epidemias do século 21, a obesidade se estabelece também por conta do estresse e da má qualidade de sono, entre uma série de sintomas resultantes do comportamento da sociedade moderna. "Vemos os índices crescentes, especialmente por conta do estilo de vida dos dias atuais, onde é muito comum o pouco tempo para as refeições, o que acaba gerando o consumo de opções mais práticas, muitas vezes mais calóricas e pouco nutritivas, com baixo poder de saciedade", observa Jamile. "Além disso, com os adventos tecnológicos, o ser humano está cada vez mais sedentário."
Com o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, o que antes já era uma realidade se agravou: pessoas passam horas na frente de computadores, caminham e se exercitam pouco. "Um estudo publicado em janeiro deste ano aponta que o Brasil foi o país onde a população mais ganhou peso durante a pandemia, com 52% dos brasileiros acusando excesso de peso durante 2020 – provavelmente os que ficaram em casa, mais ociosos", destaca Juliana.
Lacerda complementa que também a ansiedade, a depressão e a dificuldade de lidar com problemas do dia a dia podem contribuir para o aumento da obesidade na sociedade contemporânea. "Não é uma regra, mas quem enfrenta constantemente a ansiedade, pode ser induzido a consumir açúcar (doces), o que acaba levando a pessoa a ter uma relação não muito saudável com seu peso e corpo físico."
"O meu problema começou na minha segunda gestação, que se tornou de risco por eu estar muito acima do peso", conta a atendente de pizzaria, Jéssica Teixeira (29 anos), que chegou a pesar 130kg. "Eu achei que quando a minha filha nascesse eu iria voltar ao meu peso anterior, que era 85kg, mas daí em diante só piorou", recorda. Ela afirma que durante o período de licença maternidade, em casa, comia "cada vez mais". "Certamente tive crises de ansiedade e descontava na comida, nunca procurei ajuda porque até então era algo ´normal` na minha percepção."
Há um ano, Jéssica começou seu processo de emagrecimento e desde então já se livrou de 32kg. Ela conta que no início foi difícil. "Hoje estou na musculação e me sinto muito mais feliz e contente comigo mesma. Não me cobro tanto, não me julgo, tenho uma alimentação saudável, como sem restrições." Para chegar neste patamar a atendente precisou da ajuda de nutricionista e personal trainer.

Estigma social abala a vida de boa parte das pessoas obesas

Denominado gordofobia, o estigma social da obesidade é considerado como violação dos direitos humanos e abala a vida de boa parte das pessoas que sofrem com o transtorno alimentar. Diante de um padrão de beleza estereotipado, os indivíduos obesos são considerados como "relaxados" e sofrem discriminações por causa do formato corporal. Muitos inclusive não conseguem emprego por conta do preconceito.
A nutricionista Juliana Gonçalves destaca que a gordofobia pode ser identificada inclusive em frases como "Hoje posso comer qualquer coisa, pois é o dia do lixo", ou "Ela é gordinha mas tem o rosto bonito", bem como expressões como "dia de gordice; pensamento de gordo; e comportamento de gordo".
"Vivemos atualmente em uma sociedade que preconiza o culto ao corpo e um tipo específico de beleza, discriminando todos aqueles indivíduos que não se enquadram neste padrão", observa o psicólogo Thiago Lacerda. "É comum vermos a aversão a pessoas acima do peso, que muitas vezes são mal tratadas, desmerecidas, a ponto de se sentirem inferiorizadas por conta de características de que estariam acima do peso considerado ideal."
O psicólogo alerta que isso ocasiona um nível "importante" de sofrimento psíquico. "Muitas destas pessoas passam a se sentirem inadequadas à sociedade que vivem e acabam buscando fórmulas mágicas e tratamentos de emagrecimento milagrosos, que muitas vezes são vendidos no mercado sem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no caso do Brasil."
A atendente de pizzaria Jéssica Teixeira afirma que já sofreu muito preconceito no período em que esteve obesa. "Até hoje ouço que eu malho e não mudo nunca; que continuo gorda; que estou jogando dinheiro fora". Frases como: "Se eu fizer o mesmo, fico melhor que tu que está há anos treinando", também são comuns, afirma a atendente. "Os mesmos que me julgam pedem dicas de como eu consegui emagrecer."
Lacerda observa que este tipo de ataque pode gerar outros transtornos como aneroxia e bulimia em pessoas que decidem buscar um ideal de beleza disfuncional. "Nossos corpos são diferentes, não somos formados com o mesmo número de manequim. É importante que haja diversidade, que nos aceitemos antes de sermos aceitos socialmente, e que haja uma busca pela saúde antes da estética", aconselha o psicólogo.
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