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Saúde

- Publicada em 11 de Setembro de 2021 às 10:30

Medidas de prevenção à Covid-19 contribuem para que RS não tenha casos de sarampo há 17 meses

De 2016 a 2020, a cobertura vacinal no RS variou de 90,5% a 84,1%, não atingindo os 95% de meta

De 2016 a 2020, a cobertura vacinal no RS variou de 90,5% a 84,1%, não atingindo os 95% de meta


Erasmo Salomão/Ministério da Saúde/JC
O último caso de sarampo no Rio Grande do Sul foi notificado em 2 de abril de 2020, pouco menos de um mês após o início da pandemia do novo coronavírus. Como a cobertura vacinal dos últimos cinco anos no Estado continua abaixo da média esperada, especialistas acreditam que isolamento social e uso de máscara podem ter contribuído para o atual cenário.
O último caso de sarampo no Rio Grande do Sul foi notificado em 2 de abril de 2020, pouco menos de um mês após o início da pandemia do novo coronavírus. Como a cobertura vacinal dos últimos cinco anos no Estado continua abaixo da média esperada, especialistas acreditam que isolamento social e uso de máscara podem ter contribuído para o atual cenário.
O vírus do sarampo é altamente transmissível. “Há estudos que calculam que uma pessoa doente com sarampo pode passar o vírus para, em média, 18 pessoas", explica a especialista em saúde da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Juliana Dourado Patzer. A forma mais efetiva de proteção contra o sarampo é a vacina tríplice viral, oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas entre 1 e 59 anos de idade.
“Para manter o vírus do sarampo longe, temos que ter uma cobertura vacinal de, no mínimo, 95%. De 2016 a 2020, a cobertura vacinal aqui no Estado variou de 90,5% a 84,1%. Não atingimos em nenhum ano”, conta Juliana.
Segundo dados do DataSUS, o Brasil não atinge a meta desde 2016. Em 2019, a cobertura vacinal da primeira dose da tríplice viral no País ficou em 92,6% e, em 2020, em 70,6%.
O infectologista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento Marcelo Comerlato Scotta entende que a proteção contra o sarampo está ligada, principalmente, à vacina. “Mas o uso de máscara e o isolamento podem ter ajudado a reduzir, sim”, pontua.
Segundo ele, as medidas de proteção ao coronavírus - uso de máscara e distanciamento social - podem ter ajudado a diminuir a disseminação de outras doenças. “Tivemos uma redução grande de doenças respiratórias pediátricas como a bronquiolite, por exemplo, e influenza. Outras, como as doenças virais respiratórias e algumas infecções bacterianas, como infecção por pneumococo, também reduziram bastante”, conta.
No cenário nacional, até 14 de agosto tinham sido confirmados 572 casos da doença. A maioria se concentra no estado do Amapá, com mais de 430 ocorrências. Mas o vírus também está circulando no Ceará, em Alagoas, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nenhuma morte foi registrada até o momento.
Em 2016, o Brasil recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) a certificação da eliminação do vírus. Em 2018, o vírus voltou a circular no País e foram confirmados 10.346 casos da doença e 12 óbitos. No ano de 2019, quando houve franca circulação do vírus, o País perdeu a certificação, e a doença voltou a ser endêmica. Naquele ano, com vários surtos pelo Brasil, foram registrados 20.901 casos da doença e 16 óbitos. Em 2020 ocorreram 8.448 casos e 10 óbitos.

Em 2019 e 2020, RS teve 138 casos da doença

No Rio Grande do Sul, o vírus do sarampo não circulava desde 1999, graças as altas coberturas vacinais em todos os municípios. Em 2010 e 2011, o Estado teve casos importados da África e da Europa. Em 2018, o vírus voltou a circular, os surtos da doença ressurgiram e o Estado notificou 47 casos.
Em outubro daquele ano, os surtos foram encerrados. Mas, em 2019, os casos retornaram. “Encerramos 2019 com 101 casos. Porém, fechamos apenas porque acabou o ano. Consideramos o ano de 2019 junto com o de 2020 porque é a mesma cadeia de transmissão, o mesmo vírus circulando”, explica a especialista em saúde da Cevs. Somando com os 37 casos registrados entre janeiro e abril de 2020, foram 138 casos da doença em dois anos.
Os casos registrados nesses três anos (185) eram de vírus com o mesmo genótipo circulando no resto do País. Dos casos confirmados, 94,6% viviam na zona urbana, 59% eram do sexo masculino e 65,3% se concentravam em uma faixa etária de 10 a 29 anos. “Apesar dessa faixa etária ter tido um maior número de casos, quem tem maior risco de adoecer por sarampo são os menores de um ano, que ainda não foram vacinados”, complementa Juliana.
O dado mais alarmante é que dos 185 casos, 87% das pessoas não estavam vacinadas ou não tinham completado o esquema vacinal, e 80% foram internados, mas nenhuma morte foi registrada.
A transmissão do vírus do sarampo ocorre de pessoa a pessoa, por via aérea, ao tossir, espirrar, falar ou respirar. A doença é tão contagiosa que uma pessoa infectada pode transmitir para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes. Com uma transmissão tão semelhante à da Covid-19, não se descarta que as medidas de prevenção adotadas desde 2020 tenham contribuído para a redução da circulação do vírus.
“Não podemos afirmar com certeza que a máscara e o isolamento social ajudaram a diminuir o número de casos, mas existe uma grande probabilidade”, explica Juliana. Ela chama atenção para o fato de que escolas e universidades tiveram as atividades presenciais interrompidas, o que diminuiu a exposição da faixa etária mais atingida nos anos anteriores. Outro fator foi a redução de viagens no período de pandemia. Com menor deslocamento a estados onde o vírus têm maior circulação, as ocorrências diminuíram.

Vacina é a forma mais efetiva de proteção e está disponível de 1 e 59 anos de idade no SUS

Caso as medidas de proteção contra a Covid-19 sejam responsáveis por zerar o número de casos de sarampo em um ano e cinco meses no Rio Grande do Sul, isso significa que há chances de os casos voltarem a aparecer assim que essas medidas forem extintas. Ainda, por conta da alta circulação do vírus em outros estados, é importante estar atento. 
A vacina está disponível para qualquer pessoa entre 1 e 59 anos de idade. Até os 29 anos, duas doses devem ser aplicadas. Depois, apenas uma. Mas Juliana garante que aquele que não lembra quantas doses já tomou ou, sequer, se foi vacinado, pode iniciar o esquema vacinal do zero sem problema nenhum. “A única contraindicação dessa vacina é para gestantes. De resto, qualquer um pode tomar. Não faz mal nenhum.”

Casos suspeitos devem ser notificados imediatamente

Segundo a especialista da Cevs, o sarampo é uma doença de notificação compulsória. Ou seja, qualquer caso suspeito deve ser notificado imediatamente, porque as ações e medidas de controle para conseguir conter o vírus devem ser feitas de forma rápida.
“Um caso suspeito é qualquer indivíduo que tenha febre e exantema, que são as manchinhas avermelhadas no corpo, associado a um sintoma respiratório. Pode ter febre, exantema e/ou coriza, e/ou tosse, e/ou conjuntivite”, explica Juliana. Caso a pessoa note esses sintomas, deve fazer a notificação para a vigilância municipal. “Ou, ainda, o Estado disponibiliza o número 150, que é o Disque Vigilância.”