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- Publicada em 25 de Maio de 2021 às 13:03

Brasil tem menos isolamento social que campeões de vacinação como Reino Unido e Israel

Para cada vítima britânica, 87 brasileiros morreram por Covid-19

Para cada vítima britânica, 87 brasileiros morreram por Covid-19


MARIANA ALVES/JC
Com cerca de 20% da população vacinada contra a Covid e quase 2.000 mortos pela doença todos os dias, o Brasil tem níveis de isolamento social tão baixos quanto países que largaram muito à frente na corrida pela vacinação.
Com cerca de 20% da população vacinada contra a Covid e quase 2.000 mortos pela doença todos os dias, o Brasil tem níveis de isolamento social tão baixos quanto países que largaram muito à frente na corrida pela vacinação.
Segundo dados do Google, o Brasil tem hoje cerca de 14% menos movimento no transporte público que no período anterior à pandemia. É a maior movimentação entre 16 países analisados pela reportagem - os 12 com as maiores taxas de vacinação, mais Colômbia, México (por terem perfil semelhante ao do Brasil) e Índia (que vive um surto atualmente).
É uma movimentação maior, por exemplo, que a registrada no Reino Unido (37% menos movimento que antes da pandemia) e nos Estados Unidos (-20%), países onde cerca da metade da população recebeu ao menos a primeira dose. Também é maior o número de mortes registradas a cada dia. Na semana passada, o Brasil teve uma média diária de 9 mortes a cada milhão de habitantes, contra 0,1 entre britânicos e 1,7 nos EUA.
Isso significa que, para cada vítima britânica, houve 87 brasileiras. Também morreram quase seis vezes mais brasileiros pela Covid que americanos.
Ainda assim, há mais movimento em bares, shoppings e restaurantes no Brasil que no Reino Unido. Com 55% dos cidadãos vacinados com a primeira dose, os britânicos flexibilizam aos poucos as medidas de isolamento social, atentos à nova variante indiana que já ameaça a reabertura mais abrangente, inicialmente prevista para o meio do ano.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que distanciamento social e uso de máscaras são fundamentais para o combate ao vírus, especialmente em países que não estão com vacinação avançada.
Outro caso que chama a atenção é o de Israel, líder mundial na imunização e um dos primeiros a começarem a vacinar seus habitantes. Até quinta-feira (20), 63% da população havia recebido o imunizante.
No início deste mês, o governo israelense já liberava eventos culturais com até 500 pessoas e removeu parte das restrições ao turismo internacional. Nas duas últimas semanas, porém, os níveis de movimentação despencaram em razão do conflito com o Hamas.
O governo israelense e o grupo palestino anunciaram um cessar-fogo na última quinta (20), após dez dias de bombardeios. Houve mais de 240 mortos, a maioria deles palestinos. No período anterior ao conflito, todavia, Israel apresentava movimentação no transporte público 14% menor que o observado antes da pandemia, e 11% menor em locais de lazer.
Números próximos aos que o Brasil registra agora, com porcentagem muito inferior de vacinados: 14% menos movimento no transporte em relação ao início de 2020 e 22% menos frequência em bares, shoppings e restaurantes.
O Google faz esse monitoramento a partir do deslocamento dos aparelhos móveis, como celulares e tablets. Os dados são anônimos, ou seja, não identificam os usuários.
No auge da quarentena, em março do ano passado, os índices no Brasil chegaram a -68%, na comparação com janeiro e fevereiro. Hoje, a taxa de óbitos diária é 140 vezes maior do que naquela época.
Naquele momento, havia maior adesão da população às medidas de distanciamento. Segundo o Datafolha, em abril do ano passado 72% estavam totalmente isolados ou saíam de casa somente quando era inevitável. Na última pesquisa, feita neste mês, o percentual caiu para 30%, o menor na pandemia.
Analistas afirmam que declarações do presidente Jair Bolsonaro com críticas ao distanciamento social, aliadas a ajuda financeira insuficiente para a população, são causas para a queda do apoio às restrições.
Já a Índia, que vive momento semelhante ao do Brasil no último mês de março, com nova variante e taxas de mortes em rápida ascensão, tem níveis muito superiores de confinamento. Em meio à sua pior fase da pandemia até então, com 4.454 mortos e mais de 200 mil novos casos somente nesta segunda (24), os indianos conseguiram reduzir em 66% o movimento em locais de lazer e em 53% no transporte público, sempre na comparação com o início de 2020. Os índices já chegaram a 88% e 73% em abril do ano passado, ainda no início da crise da Covid.
Embora seja o maior produtor mundial de vacinas, a Índia patina para imunizar sua gigantesca população de 1,4 bilhão de pessoas. Pouco mais de 10% receberam ao menos uma dose do fármaco contra o coronavírus. Em números absolutos, isso representa 150 milhões de doses aplicadas, ou o suficiente para vacinar 93% dos brasileiros com mais de 18 anos.
Outro país que passa por escalada nos números é o Uruguai, até há pouco um exemplo de sucesso no combate à Covid com poucas medidas restritivas. As mortes pela doença, raríssimas no ano passado, dispararam no início de março.
Hoje, o Uruguai tem o maior número diário de mortes do mundo, quando considerado o tamanho da população: são 15 a cada milhão de habitantes (60% mais que a do Brasil atualmente), considerando a média móvel do último dia 20.
Análise genômica mostrou que a maioria das amostras coletadas em maio eram de pacientes contaminados com a variante de Manaus, mais transmissível, segundo alguns estudos. Assim, os uruguaios vivem uma corrida entre o aumento de casos e a rapidez da vacinação, que tem avançado a passos largos. Os que já receberam ao menos uma dose são 44% da população.
O país tem aplicado imunizantes da Pfizer e da Sinovac, que exigem administração em duas doses. Para obter a imunização esperada, é necessário aguardar duas semanas após a aplicação da segunda dose. Especialistas têm alertado para o fato de que apenas a vacinação não é suficiente para conter rapidamente a disseminação do vírus.
O governo uruguaio, que tinha chamado a atenção do mundo por ter adotado uma política de "liberdade com responsabilidade", sem grandes medidas de isolamento, foi cobrado para rever sua posição e endurecer as regras a fim de combater a epidemia.
Em abril, o presidente Luis Lacalle Pou fechou cassinos, academias de ginástica e repartições públicas e proibiu espetáculos e eventos culturais. Também fechou escolas, que retornaram gradualmente às atividades neste mês, após leve melhora nos números da Covid.
Na última semana, o Uruguai apresentava uma redução média de 33% do movimento em locais de lazer e de 28% no transporte público, na comparação com o período pré-pandemia, isolamento maior que o brasileiro. No auge da quarentena, em abril de 2020, esses índices entre os uruguaios giravam em torno de 60%.
Folhapress
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