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Coronavírus

- Publicada em 02 de Abril de 2021 às 10:33

Síndrome pós-Covid pode diminuir qualidade de vida de sobreviventes da doença

Médicos e especialistas sugerem que pessoas com os sintomas da síndrome façam acompanhamento multidisciplinar

Médicos e especialistas sugerem que pessoas com os sintomas da síndrome façam acompanhamento multidisciplinar


NIKOLAY DOYCHINOV/AFP/JC
A síndrome pós-Covid é uma complicação cada vez mais comum entre sobreviventes da Covid-19. Com a extensão de alguns dos sintomas mais comuns da doença, a síndrome pode comprometer a qualidade de vida desses pacientes por meses após a recuperação. Por isso, médicos e especialistas sugerem que pessoas com os sintomas da síndrome façam acompanhamento médico e multidisciplinar.
A síndrome pós-Covid é uma complicação cada vez mais comum entre sobreviventes da Covid-19. Com a extensão de alguns dos sintomas mais comuns da doença, a síndrome pode comprometer a qualidade de vida desses pacientes por meses após a recuperação. Por isso, médicos e especialistas sugerem que pessoas com os sintomas da síndrome façam acompanhamento médico e multidisciplinar.
“É comum que as pessoas confundam a síndrome pós-Covid com sequelas decorrentes da doença. Sequela é quando o vírus danifica algum órgão, como o pulmão, por exemplo. Já a síndrome pós-Covid é uma complicação, com sintomas gerais e que não estão envolvidos com a danificação de órgãos”, esclarece o vice-diretor da Escola de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luciano Zubaran Goldani. Além dos sintomas comuns, como dores, fraqueza muscular e cansaço, Goldani alerta que a síndrome pode ser caracterizada por outras manifestações. “Como dores no peito, problemas de memória e de concentração, insônia, tontura, palpitações, dores de cabeça e perda de olfato e paladar.”
Ainda, o especialista explica que, normalmente, os pacientes com Covid-19 ficam 100% depois de duas ou três semanas. “Mas se a pessoa continuar sentindo esses sintomas após 12 semanas da recuperação da doença, já pode ser considerado um quadro de síndrome pós-Covid”, complementa. Segundo ele, ainda não há estudos que indiquem se isso é um fenômeno do vírus ou um fenômeno de resposta imunológica do vírus. “Não se sabe se é algo que o vírus danificou durante a doença ou algo que se desenvolveu no sistema imunológico. É possível perceber isso em algumas doenças virais, como a mononucleose, que pode causar uma síndrome parecida com a pós-Covid.”
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Graciele indica que o paciente comece a reabilitação o mais rápido possível para garantir melhores resultados. Foto: Arquivo pessoal/JC
A chefe do Serviço de Fisioterapia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Graciele Sbruzzi, explica que a síndrome acontece porque a Covid-19 é uma doença multissistêmica. “O vírus promove uma resposta inflamatória que promove alteração e danos em vários órgãos e sistemas. Então quanto maior o tempo de internação, maior a probabilidade de o paciente adquirir a síndrome pós-Covid ou sequelas.” Apesar disso, ela afirma que pessoas que não foram hospitalizadas ou não tiveram a doença de forma grave não estão livres de apresentar os sintomas da síndrome. A complicação também não demonstra um padrão de idade.

Cansaço e falta de ar são sintomas mais comuns relatados por pacientes

Pacientes relatam cansaço após realizar qualquer atividade

Pacientes relatam cansaço após realizar qualquer atividade


MARCOS NAGELSTEIN/JC
Segundo os especialistas, os sintomas mais recorrentes são a fadiga intensa e a dificuldade para respirar. “Eles reclamam muito de fadiga crônica. Os pacientes não se referem como falta de ar, mas como cansaço. Um cansaço geral, de quem está saindo de uma gripe. Eles dizem que ficam cansados após realizar qualquer atividade”, relata o chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Gazzana.
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Gazzana aconselha fazer uma revisão clínica após a recuperação da doença. Foto: Arquivo pessoal/JC
Para Gazzana, é essencial que os pacientes façam acompanhamento médico, principalmente os que foram internados por causa da doença. “Alguns pacientes não apresentam o sintoma, mas quando fazem exame de função pulmonar, descobrem que estão com capacidade reduzida. Tem pessoas que não foram hospitalizadas, então também é recomendado que elas se consultem depois da Covid-19 para fazer uma revisão clínica”, sugere.
Para os que foram hospitalizados, a fraqueza muscular também faz parte da lista de sintomas comuns. Graciele conta que o Serviço de Fisioterapia do HCPA fez um trabalho com pacientes que foram hospitalizados por conta da Covid-19. “Dos 75 pacientes incluídos no estudo, observamos que 38% daqueles que tiveram alta da UTI e 13% dos com alta hospitalar têm fraqueza muscular. Esses pacientes que saem com fraqueza também tiveram maior tempo de internação e maior necessidade de ventilação”, comenta.
A Pesquisa de Coalizão Covid-19 Brasil, realizada por uma aliança de nove hospitais brasileiros - incluindo o Hospital Moinhos de Vento -, busca entender mais sobre a qualidade de vida dos sobreviventes e os desfechos da Covid-19, e também indica outros sintomas. De acordo com os resultados parciais, 22% e 19% dos mais de mil pacientes da análise desenvolveram ansiedade e depressão, respectivamente, seis meses após a doença. “Por isso, acredito que o acompanhamento médico clínico, psiquiátrico, nutricional e a reabilitação física são os pilares de recuperação do paciente pós-Covid”, aponta Gazzana.

Tratamento deve ser com multidisciplinaridade e supervisão

A fisioterapeuta Marisa Dal Pizzol reconhece a importância da multidisciplinaridade no tratamento da síndrome pós-Covid. “Comecei a receber pacientes com quadro de fraqueza muscular, dificuldade motora e de equilíbrio, falta de ar, alteração na pressão e questões psicológicas. Uma paciente perdeu o marido e o filho para a Covid-19 e agora lida com essa ressignificação da vida, tendo que se recuperar física e cognitivamente enquanto enfrenta o luto”, relata.
Graciele acredita que o recomendável seria que o paciente entrasse em um programa de recuperação cardiopulmonar. “Assim, ele poderá recuperar a força muscular, reduzir o cansaço e a falta de ar, melhorar a condicional e a função pulmonar.” Os exercícios sugeridos trabalham a parte respiratória, o fortalecimento da musculatura e o condicionamento físico. “Na alta do hospital, o paciente recebe uma cartilha com exercícios e nós continuamos o acompanhamento por até seis semanas para avaliar a progressão. No HCPA, podemos realizar esse serviço por telemedicina ou no Ambulatório de Fisiatria e Reabilitação”, acrescenta.
“Tenho especialização em osteopatia e formação em pilates, então uso as técnicas de avaliação e tratamento da osteopatia associadas com a reabilitação através do pilates. Tenho tido bons resultados com essa combinação”, relata Marisa. Ela conta que, para os pacientes com falta de ar, ela mistura exercícios de respiração do pilates com recursos da osteopatia. “As técnicas da osteopatia reabilitam o músculo do diafragma, que é o principal músculo respiratório do corpo humano. Liberando a inervação e vascularização do diafragma, é possível dar mais condições para o músculo poder trabalhar”, descreve.
Para Graciele, é importante começar o acompanhamento o mais rápido possível. “Se o indivíduo apresenta esses sintomas, a qualidade de vida pode ser consideravelmente reduzida. Por isso, esse paciente pode acabar desenvolvendo quadros de ansiedade e depressão. É importante que essa reabilitação seja feita com vários profissionais, como fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo e médicos. Quanto antes o paciente iniciar a recuperação, melhor será o prognóstico.”
Marisa entende que, às vezes, pode ser difícil ter força e disposição para fazer fisioterapia. “Dependendo do caso, é recomendado que a pessoa faça fisioterapia duas ou três vezes por semana. Mas às vezes recebo pacientes com alteração no sistema nervoso autônomo e na tolerância ao exercício, então a frequência pode mudar.” Ainda, a fisioterapeuta conta que, por existir pouca evidência científica, ela está sempre atenta aos sintomas. “Vou monitorando e se percebo que algo não melhorou, já encaminho para um médico. É uma reabilitação multidisciplinar.”

Sintomas mais comuns da síndrome pós-Covid

  • Dor crônica
  • Fraqueza muscular
  • Fadiga intensa
  • Dificuldade para respirar
  • Ansiedade
  • Depressão