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Geral

- Publicada em 02 de Março de 2021 às 21:48

Um ano de pandemia de Covid-19: sobreviventes contam como foi enfrentar o vírus

Seis meses após a alta hospitalar, um em cada quatro pacientes graves de Covid-19 que foram intubados acaba morrendo

Seis meses após a alta hospitalar, um em cada quatro pacientes graves de Covid-19 que foram intubados acaba morrendo


CHRISTOPHE SIMON/POOL/AFP/JC
A Covid-19 tem evoluído muito rapidamente no Brasil. Até ontem, eram mais de 10,6 milhões de casos confirmados da doença no Brasil - 5% da população de 211,8 milhões de habitantes - e 255,7 mil mortos. De 1° de março de 2020 - quando os primeiros casos ainda estavam sendo registrados - até 24 de fevereiro deste ano, 2 a cada 3 brasileiros com coronavírus que precisaram ser intubados morreram. No SUS, 7 a cada 10 vão a óbito. Os dados são da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que tem monitorado UTIs das redes pública e privada do País na pandemia.
A Covid-19 tem evoluído muito rapidamente no Brasil. Até ontem, eram mais de 10,6 milhões de casos confirmados da doença no Brasil - 5% da população de 211,8 milhões de habitantes - e 255,7 mil mortos. De 1° de março de 2020 - quando os primeiros casos ainda estavam sendo registrados - até 24 de fevereiro deste ano, 2 a cada 3 brasileiros com coronavírus que precisaram ser intubados morreram. No SUS, 7 a cada 10 vão a óbito. Os dados são da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que tem monitorado UTIs das redes pública e privada do País na pandemia.
Tosse seca, febre e cansaço são os sintomas mais comuns da Covid-19, mas falta de ar, dores de cabeça, musculares e de garganta também estão no quadro. Há aqueles que não apresentam sintoma algum. Há outros em que os sintomas evoluem tão rápido, que em uma semana estão na UTI.
A estudante Larissa Menezes*, de 18 anos, está entre a parcela que apresentou um quadro leve. "Tive tosse seca, congestão nasal, dor de cabeça, muito cansaço, perdi o olfato e o paladar. Também tive febre nos dois primeiros dias, depois melhorou", conta. Considera que, embora a experiência tenha sido ruim, foi tranquila. "O único problema foi que me senti culpada de estar elevando a curva e com medo de passar para os meus pais."
Larissa pegou Covid-19 no final de 2020, quando viajou para a praia de Ferrugem (SC) com amigos. "Era festa e aglomeração o tempo todo. As pessoas não estavam tendo nenhum cuidado e, consequentemente, não tive também. Quando estava lá, já sabia que pegaria Covid-19, porque já não estava mais me cuidando como deveria há algum tempo", relata.
Ao retornar da viagem, acabou passando a doença para o pai, de 59 anos. "Foi horrível. Fiquei com medo do que poderia acontecer com ele. Tive que controlar a tristeza e a ansiedade para não demonstrar para os meus pais." Apesar da idade, Larissa conta que o pai apresentou só sintomas leves.
No início da pandemia, existia um entendimento de que as pessoas infectadas poderiam ficar imunes contra a doença. Com o avanço das pesquisas, foi descoberto que existem diversas variantes do vírus em circulação, fazendo com que o número de reinfecções e, até mesmo, coinfecções, seja maior.
Foi o que aconteceu com o bancário Tiago Rafael Moren, de 35 anos, que pegou Covid-19 duas vezes. "Acho que a primeira vez foi no trabalho, em junho, e a segunda em um jantar de família, um pouco antes do Natal. Em junho, tive apenas cansaço, dor de cabeça e mal estar. Mas, na segunda vez, tive falta de ar, muita fadiga e perdi o olfato", descreve ele. Além do bancário, outras sete pessoas presentes no jantar foram infectadas, inclusive a esposa e o filho, de três anos.
O contador Edgar Calgaroto, de 60 anos, foi o terceiro da sua família a ser infectado. Apesar de viverem na mesma casa, cada um dos familiares foi diagnosticado com Covid-19 em um momento diferente. Calgaroto conta que estava preocupado quando começou a sentir os sintomas, mas que teve apenas dor nas costas, dor de cabeça e um dia com febre alta. "Minha recuperação foi muito tranquila. Fiquei 17 dias sem ter qualquer contato com outras pessoas. E, talvez, essa tenha sido a parte mais difícil: ficar longe de tudo e de todos."
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'Achei que nunca pegaria Covid-19. Muitas vezes, relaxei nos cuidados e, agora, mudei de pensamento', afirma Calgaroto. Foto: Arquivo Pessoal/JC
O empresário Tadmor Fontoura, de 42 anos, ficou três semanas longe de tudo enquanto estava internado na UTI por conta da Covid-19. "Acho que peguei a doença em agosto, de um dos meus funcionários. Tive perda de olfato, bastante febre e falta de ar", conta. Ainda que com sintomas considerados leves, a febre e a falta de ar foram o suficiente para levar Fontoura, que é asmático, até à Santa Casa. "Lá, fiquei 1h com oxigênio e não melhorei nada. Fui para o quarto e fiquei em observação. Sabia que estava mal, porque usava a bombinha de asma e não melhorava", acrescenta.
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'Comecei a pensar que havia uma chance de eu não sobreviver', conta Fontoura, de 42 anos, intubado por 3 semanas. Foto: Arquivo Pessoal/JC
Em seguida, ele foi para a UTI e continuou sem melhora. "Chamei a médica para dizer que não aguentava mais e, naquele momento, comecei a pensar que havia uma chance de eu não sobreviver", lembra.
Depois disso, Fontoura foi entubado por três semanas. "Quando a médica disse que seria intubado, minha preocupação era voltar do coma e estar cheio de aparelhos conectados ao meu corpo." Mas, quando ele saiu do coma induzido, começou uma nova etapa.
"Saí da UTI tão fraco que não conseguia nem tomar um copo d'água. Mas, quando voltei para casa, segui minha vida normal. Comecei a caminhar bastante no dia seguinte, para recuperar o fôlego, e continuei fazendo as minhas coisas." Hoje, Fontoura acredita estar 100% fisicamente, sem nenhuma sequela. "Não sofri com a doença porque foi menos de uma semana entre sentir os sintomas e ser intubado. E, enquanto estava lá, não senti nada."
Ainda que o empresário e o contador tenham se recuperado sem sequelas, é comum que o contrário aconteça. Até esta terça-feira (2), mais de 9,4 milhões de pessoas tinham se recuperado da doença, mas não há estimativa de quantas delas ficaram com sequelas.
Resultados preliminares do estudo Coalizão, conduzido por oito hospitais de excelência do Brasil e institutos de pesquisa, que avalia a qualidade de vida e os desfechos de sobreviventes de hospitalizações por Covid-19, mostram que no período de seis meses após a alta hospitalar, um em cada quatro pacientes graves de Covid-19 que foram intubados acaba morrendo. Entre os internados que não precisaram de ventilação mecânica, a taxa de mortalidade é de 2%. Nesta terça, o Rio Grande do Sul alcançou 100% de ocupação de UTIs.
Moren e Larissa relatam que ainda não recuperaram totalmente o olfato e o paladar. Mas há outros tipos de complicações, como comprometimento pulmonar ou renal.
Ainda que Calgaroto tivesse visto pessoas próximas com Covid-19, pensou que poderia não ser infectado. "Achei que nunca pegaria Covid-19. Muitas vezes, relaxei nos cuidados e, agora, mudei de pensamento", afirma o contador.
"Depois que peguei Covid-19, comecei a entender que o vírus está mais próximo do que imaginamos. Hoje, tenho mais cuidado. Não quero ter a doença pela terceira vez", resume Moren.
Fontoura sempre entendeu a gravidade da doença, mas nunca pensou que chegaria a ser intubado. "Não acreditava que, com 42 anos, chegaria nesse ponto, a um estado tão grave."
* Nome fictício para proteger a identidade da fonte
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