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Trânsito

- Publicada em 04 de Janeiro de 2021 às 21:12

Gastos com acidentes no Brasil poderiam construir 730 hospitais

Entre os motoristas mortos, 41,3% tinham álcool no sangue

Entre os motoristas mortos, 41,3% tinham álcool no sangue


/IVO GONÇALVES/PMPA/JC
O trânsito é uma das principais causas de morte no Brasil. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, acidentes de trânsito causam cinco mortes por hora no País. O custo emocional e social de uma vida perdida é imensurável, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) conseguiram calcular os custos financeiros desses acidentes.
O trânsito é uma das principais causas de morte no Brasil. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, acidentes de trânsito causam cinco mortes por hora no País. O custo emocional e social de uma vida perdida é imensurável, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) conseguiram calcular os custos financeiros desses acidentes.
Segundo a ONU, o Brasil usa 3% do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de R$ 220 bilhões, para pagar os custos decorrentes dos acidentes de trânsito. Esse cálculo engloba, majoritariamente, custos com saúde.
Já segundo levantamento do Ipea, o custo de uma morte no trânsito é de, aproximadamente, R$ 785 mil. Esse dado leva em consideração os custos com a saúde, a perda de produção, os danos materiais e os danos à propriedade pública e privada.
De acordo com o médico coordenador da Mobilização Nacional dos Médicos e Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA), Alysson Coimbra, o primeiro gasto é o de remoção da vítima do local do acidente, que é feito por uma equipe especializada e, às vezes, feito de forma aérea. "Na chegada ao hospital, esse paciente é atendido por uma equipe multidisciplinar, passando por diferentes profissionais, e realiza uma série de exames de alta complexidade para mensurar o tamanho do problema", explica Coimbra. Depois disso, ele afirma que, normalmente, o paciente vai para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), pois, caso o estado seja muito grave, a cirurgia não pode ser realizada imediatamente. "O custo médio da diária em um Centro de Terapia Intensivo (CTI) particular é de, no mínimo, mil reais. Se for calcular a internação prolongada entre CTI e enfermaria por uns seis meses, é uma conta onerosa", acrescenta.
Além disso, o paciente que sai com vida do hospital corre o risco de ficar com sequelas que o encaminharão para uma reabilitação fisioterápica. "Isso já impacta a capacidade laboratorial desse cidadão, que provavelmente já perdeu o emprego depois de uma hospitalização por longo período. Quando consideramos que, muitas vezes, esse acidentado é o responsável pelo sustento de uma família, a conta é ainda mais onerosa. Essa pessoa pode demorar para receber um auxílio e a família pode ficar desassistida por um bom tempo", complementa o especialista.
Esses custos também são significativos para o País. "Os acidentes de trânsito ocupam uma fatia de 60% dos leitos de UTI pública e particular e, ainda, 50% das cirurgias do Sistema Único de Saúde", pontua. Segundo cálculo da Mobilização Nacional dos Médicos e Especialistas em Trânsito, com esse valor de 3% do PIB, o governo poderia construir 730 hospitais com mais de 225 leitos, ou ainda aumentar em 50% os investimentos nacionais em educação.
 

EPTC trabalha para diminuir gastos e número de vítimas

Em Porto Alegre, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) trabalha para mudar esse cenário. Diariamente, a engenheira da EPTC Diva Yara Leite e sua equipe analisam os detalhes dos acidentes fatais que ocorrem na Capital. "Nós vemos como o acidente aconteceu e analisamos o contexto, como as vítimas e partes envolvidas estavam, acompanhamos o laudo e as vítimas", relata.
Ela afirma, ainda, que esse trabalho não é feito para investigar o culpado, mas sim para corrigir os possíveis erros que levaram ao acidente. "Com esse trabalho, conseguimos agilizar muitas ações junto com a engenharia e a fiscalização. Se tem um poste de sinalização colocado numa tangente, e notamos que os motociclistas estavam escapando da curva e batendo, então trocamos o poste de lugar", explica.
Atualmente, Diva conta que existem três fatores de risco bem importantes: a velocidade, a alcoolemia e a habilitação. Em 2018, Porto Alegre atingiu a meta da ONU prevista para 2020, que era reduzir o número de mortes no trânsito para, pelo menos, 76 ao ano. "Analisar cada acidente é um trabalho de formiguinha, mas que está dando resultado. Tivemos 75 óbitos em 2018, 74 em 2019 e tivemos 61 em 2020." Em 1999, Porto Alegre registrou 199 mortes no trânsito.

O maior custo não é o financeiro

Quem já viu uma borboleta pintada no asfalto pode imaginar o quanto o trânsito pode trazer sofrimento. A fundadora da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, conhecida pelo Programa Vida Urgente, Diza Gonzaga, explica que o maior custo dos acidentes de trânsito não é financeiro. Diza perdeu o filho Thiago, de 18 anos, em maio de 1995, para um acidente de carro. Desde então, ela dedica a vida para conscientizar jovens e adultos para que não haja mais Thiagos.
"Qual o valor da vida do meu Thiago? E de tantos outros jovens mortos no trânsito? Não tem 'zeros' suficientes para colocar nessa conta", fala. Segundo ela, é inaceitável que o Brasil ache normal que tantas mortes no trânsito aconteçam diariamente. Em um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil aparece em quinto lugar no ranking de países que mais matam no trânsito.
Agora, como Diretora Institucional do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS), Diza afirma estar focando na educação para o trânsito. "Por isso criamos a Escola de Educação para o Trânsito, com diversos cursos presenciais e EAD para crianças, jovens, adultos e idosos. Queremos que essa escola faça do Rio Grande do Sul um Estado onde morrer no trânsito não seja algo banal."