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Geral

- Publicada em 14 de Outubro de 2020 às 17:38

'Maior risco da flexibilização são as aglomerações', diz reitora da UFCSPA

Lucia aponta necessidade de esforço coletivo para manter indicadores positivos de enfrentamento à Covid

Lucia aponta necessidade de esforço coletivo para manter indicadores positivos de enfrentamento à Covid


LUCIANO VALÉRIO /UFCSPA/DIVULGAÇÃO/JC
Fernanda Crancio
Integrante do comitê científico de apoio ao enfrentamento à pandemia da Covid-19 do Rio Grande do Sul, a médica cardiologista e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Campos Pellanda, revelou em audiência na Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, na semana passada, que o comitê não recomendava a volta do ensino presencial no Estado.
Integrante do comitê científico de apoio ao enfrentamento à pandemia da Covid-19 do Rio Grande do Sul, a médica cardiologista e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Campos Pellanda, revelou em audiência na Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, na semana passada, que o comitê não recomendava a volta do ensino presencial no Estado.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, ela explica a avaliação do colegiado- instância consultiva do Executivo gaúcho-, embasada em referências na experiência de outros países, alerta "que não se voltou totalmente ao normal", que ainda é preciso evitar aglomerações, e que as escolas devem estar preparadas para a possibilidade de voltar a fechar, se necessário for.
Jornal do Comércio- Em evento na Assembleia Legislativa, na semana passada, a senhora afirmou que o comitê científico não recomendava a volta às aulas presenciais. Pode explicar o que foi colocado pelo colegiado ao governo do Estado?
Lucia Pellanda- Em primeiro lugar é preciso destacar que o comitê é consultivo e formado por pessoas de muitas áreas, e foi feita uma revisão de todos os artigos mais relevantes sobre a volta às aulas em outros países, na qual vimos que não tinha nenhuma experiência em condições iguais às nossas. Alguns países que retornaram às aulas tinham condições melhores ou taxa de transmissão muito menor ou condições muito boas nas escolas, grupos pequenos de alunos e um só professor por turma, condições bem diferentes da nossa. Então, o comitê faz a revisão de todas as evidências, dos artigos científicos e apresenta as considerações para o governador, que também tem outras para analisar. Ou seja, a nossa opinião é uma delas, o nosso papel é consultivo, não somos uma instância decisória. Entendemos que também existem as variáveis de as crianças não estarem na escola, a importância da escola para a alimentação, para a questão da violência doméstica, para o desenvolvimento das crianças. Tem muita coisa a se considerar, talvez seja a decisão mais complexa de todas, e o comitê concluiu por não recomendar a volta às aulas nos locais em que a taxa de transmissão é alta e não controlada, onde não se consegue testar todo mundo nem rastrear todos os contatos. E, quando voltar, isso deve ser feito mediante protocolos de segurança, infraestrutura, mantendo distanciamento, etc. Agora, em locais que tiveram pouquíssimos casos, que há meses não registram casos nem internação, esses devem ser tratados de maneira diferente. Então, o que colocamos é que não existia nenhuma experiência bem-sucedida, neste momento, com as condições que a gente tem hoje.
JC-  Como médica, qual sua avaliação do retorno das atividades escolares, principalmente do escalonamento proposto no RS, que liberou primeiro as crianças menores?
Lucia- Eu me preocupo por vários motivos. Entendo que a decisão é complexa e não é fácil, mas me preocupo porque as crianças pequenas não fazem distanciamento e isso é muito difícil para elas, porque no nosso País é muito comum lares com várias gerações, o que é bem diferente da experiência de outros países. Outra questão se refere às pessoas que trabalham nas escolas, que sofrem mais risco que as crianças em si, e tem de haver muito rigor com os fatores de risco e proteção. Mas se os pais já estão trabalhando e as crianças ficam sozinhas ou com avós, também tem de se pesar o risco, por isso é uma decisão tão complexa.
JC- Embora menos afetadas pela Covid e com sintomas mais leves, as crianças têm grande capacidade de transmissão. Como isso pode refletir na disseminação do vírus com a volta às aulas?
Lucia- Ainda é muito difícil de saber se as crianças transmitem mais ou menos. Elas transmitem, têm mais contatos e entram em contato com mais pessoas, então, se tiver mistura de turmas, de professores, há de se ter muito cuidado. Alguns países que abriram as escolas observaram surtos e tiveram de fechar novamente. Então, tem de se estar sempre pronto para abrir e fechar, e observar muito a curva.
JC- Uma vez retomadas a aulas, como torná-las mais seguras?
Lucia- É cuidar muito o distanciamento entre as crianças e com os professores, uso de máscara para as crianças maiores e todos os funcionários e professores, limpeza e protocolos de higienização e, principalmente, agir como se cada escola fosse um país, tendo de controlar bem qualquer pessoa que apareça com sintomas, qualquer contato com pessoa suspeita e imediatamente isolar, testar e avisar todos os contatos dessa pessoa. As escolas têm de estar preparadas para fechar turmas e suspender aulas.
JC- Com o aumento das flexibilizações e melhora nos indicadores, é natural que as pessoas circulem mais, mas o que tem se visto são pessoas sem máscara e se aglomerando. Qual a orientação do comitê nesse sentido, é possível um relaxamento dos cuidados?
Lucia- Nesse momento, se a flexibilização for feita com muito cuidado e as pessoas entenderem que ainda não se voltou totalmente ao normal, podemos ter um resultado bom. O retorno gradual de atividades pode funcionar se a gente mantiver os demais cuidados e tudo o que se aprendeu de março pra cá, como uso de máscara e higiene das mãos. É importante as pessoas entenderem que não se voltou ao normal e que quanto mais cuidados tiverem, mais se conseguirá segurar esse resultado bom e flexibilizar mais. O maior risco da flexibilização, o maior problema, são as aglomerações. Um único evento pode transmitir pra muitas pessoas e ter um resultado muito trágico. Uma coisa é ir trabalhar e estar ao ar livre com poucas pessoas e distanciamento, outra é ir numa festa cheia de gente. Ainda não está na hora de comemorar.
JC- Temos visto que alguns países e até estados, como o Amazonas, já começam a ter aumento de casos e novas restrições. Qual a possibilidade de termos uma segunda onda da Covid no RS, principalmente diante da liberação de atividades?
Lucia- Poder, pode, por isso precisamos ter consciência e  a colaboração de todos. Por um lado, tivemos uma ação precoce e se conseguiu evitar o caos e  a sobrecarga da saúde, e muitas vidas foram poupadas. O modelo do distanciamento controlado mostra isso, se começar a aumentar o número de casos, tem de aumentar a restrição de novo. É como uma dança, abre o passo um pouco, fecha um pouco, e isso pode acontecer. Quanto mais conscientização da sociedade, mais resultado e mais rápido a gente volta ao normal, é uma tarefa coletiva.
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