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Saúde

- Publicada em 19 de Setembro de 2020 às 08:30

Engenheiro Marcelo Bauer encontrou doador de medula mais perto do que imaginava

Moisés e Maristela tiveram resultado 100% compatível para doar medula óssea para Marcelo (de preto);

Moisés e Maristela tiveram resultado 100% compatível para doar medula óssea para Marcelo (de preto);


MARCELO BAUER/ARQUIVO PESSOAL/JC
Neste sábado (19), é celebrado o Dia do Doador de Medula Óssea, e a saga de quem necessita de um transplante, por vezes torna-se um processo duro, apesar de carregado de esperança. Os motivos vão desde a dificuldade em encontrar um doador compatível, até localizá-lo e realizar o procedimento. Ainda que essa seja uma realidade para inúmeros pacientes, não foi para o engenheiro de produção Marcelo Bauer, 56 anos, que encontrou o seu doador mais perto do que imaginava.
Neste sábado (19), é celebrado o Dia do Doador de Medula Óssea, e a saga de quem necessita de um transplante, por vezes torna-se um processo duro, apesar de carregado de esperança. Os motivos vão desde a dificuldade em encontrar um doador compatível, até localizá-lo e realizar o procedimento. Ainda que essa seja uma realidade para inúmeros pacientes, não foi para o engenheiro de produção Marcelo Bauer, 56 anos, que encontrou o seu doador mais perto do que imaginava.
Em 2012, após realizar um exame de rotina, Marcelo descobriu que uma das modalidades do exame sanguíneo havia apresentado alterações. Na época, por conta desse detalhe, foi submetido a uma biópsia de medula, que identificou uma alteração neoplásica. Por não possuir sintomas, seu diagnóstico inicial foi confirmado como leucemia indolente, quando a progressão da doença acontece de forma lenta.
De 2012 a 2018, o engenheiro de produção manteve a rotina de acompanhamento médico e mapeamento da doença. No entanto, em 2018 passou a sentir sintomas e, numa nova avaliação médica, teve o diagnóstico alterado de leucemia para linfoma. Ao longo de todo esse período, Marcelo passou por pelo menos quatro tipos de tratamento: imunoterapia, terapia alvo, radioterapia e quimioterapia. Todos sem sucesso, confirmando, assim, a necessidade de transplante de medula óssea. “O medo é uma emoção que bate muito nessa hora, mas precisamos ter confiança na equipe médica e nas pessoas que estão nos cuidando e que estão conosco”, disse.
A partir da confirmação, o primeiro passo do paciente atendido pela equipe do oncologista Sérgio Roithmann, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, foi de realizar exames de compatibilidade com os irmãos Moisés Bauer e Maristela Bauer. Contrariando a realidade de muitas famílias, o resultado dos irmãos foi 100% compatível com Marcelo. Tanto Moisés quanto Maristela estavam aptos para o procedimento. “Fui agraciado com uma benção. Foi uma sensação indescritível. É difícil colocar em palavras. Foi como tivesse renovando o meu futuro”, explicou.
Por detalhes técnicos, Moisés, que é professor universitário de imunologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), acabou fazendo a doação. “Por ser do mesmo sexo, facilitou o processo. Então logo me prontifiquei para ser o doador”, explicou o irmão. “Sempre tivemos uma ligação muito forte e próxima. O Marcelo sempre foi meu norte e sempre me incentivou na área da pesquisa científica e na vida. Devo muito a ele, e faria tudo de novo se preciso fosse”.
Para Moisés, realizar o procedimento foi uma experiência confortante e maravilhosa, além de muito segura, por ter sido similar à doação de plaquetas. “É difícil de colocar em palavras. É uma sensação que nos renova. Claro que quando se tem familiares que são compatíveis tudo é mais fácil, mas eu faria de novo mesmo que fosse para ajudar um desconhecido”.

Hematologista reforça importância da doação


A história da família Bauer mostra a importância da doação, não apenas entre familiares, mas em um contexto geral de pessoas que precisam de gestos como esse para continuarem vivendo. O transplante de medula óssea é o único tratamento curativo para algumas doenças hematológicas, como leucemia e linfomas, por exemplo. O tratamento substitui o tecido doente por células saudáveis do próprio paciente ou de uma pessoa compatível.

Conforme a coordenadora da Unidade de Terapia Hematológica do Hospital Moinhos de Vento, Cláudia Astigarraga, há, na instituição, pelo menos três tipos de tratamento: autólogo (quando a medula vem do próprio paciente), alogênico aparentado (de um familiar) e alogênico não aparentado (de um terceiro). “Sempre tentamos encontrar algum familiar compatível, mas se isso não é possível ou a pessoa se encontra impedida, buscamos doadores no Registro Nacional de Doares de Medula Óssea (Redome)”.
Atualmente, há dois tipos de procedimentos possíveis para a coleta: o feito em bloco cirúrgico e a coleta por aférese. No centro cirúrgico, a doação é feita sob anestesia geral e dura em média duas horas. Para aspirar a medula são feitas punções com o auxílio de agulhas nos ossos da bacia. O volume retirado é de até 15% e não causa nenhum prejuízo à saúde do doador. A coleta por aférese é mais simples, similar à doação de plaquetas. A doação é realizada através de uma máquina de aférese que colhe o sangue, separa as células-tronco e devolve os elementos que não são necessários para o receptor. Nesse caso, não é necessária internação nem anestesia.
O interessado em ser um doador de medula deve ter entre 18 e 55 anos de idade, bom estado geral de saúde e não apresentar doenças hematológicas (do sangue), imunológicas ou câncer. Para se cadastrar no banco, basta ir até o Hemocentro de sua cidade ou região, onde será preenchido o cadastro e feita a coleta de uma amostra de sangue. “O fato da doação em si não causa nenhum impacto de saúde na vida do doador. Quando alguém doa células tronco ou medula, em média em três ou quatro semanas já está recuperado”, garante a médica.
O Brasil tem o terceiro maior Banco de Doadores de Medula no mundo, com pouco mais de 4 milhões doadores cadastrados. O País fica atrás somente dos Estados Unidos e da Alemanha. Para Cláudia, mais importante do que se dispor a doar, os interessados devem manter o cadastro atualizado no Redome, a fim de que sejam encontrados fisicamente quando algum paciente compatível necessitar do procedimento. “Enquanto médicos, vemos o paciente lutando pela vida. Em muitos casos, a única saída é o transplante, por isso a importância de manter sempre o cadastro atualizado”, reforça. “Esse é um ato que salva, que modifica a vida das pessoas, que dá a elas uma nova chance para viverem”.