Em meio a pandemia de Covid-19, um problema antigo preocupa a Ugeirm - Sindicato dos agentes de polícia do Rio Grande do Sul: o aumento no número de presos em delegacias gaúchas. De acordo com um levantamento da entidade, até a sexta-feira passada, ao menos 30 presos ocupavam as dependências da Delegacia Policial de Pronto Atendimento (DPPA) de Canoas. Em outras delegacias de Porto Alegre e da Região Metropolitana, foram contabilizados 71 presos. "Todos os dias, temos uma média de quase 100 presos em delegacias. A DPPA tem sido a que tem mais presos costumeiramente, mas as vezes em Novo Hamburgo, São Leopoldo e Porto Alegre também há vários", afirmou o presidente da Ugeirm, Isaac Ortiz.
Além da preocupação com a saúde dos policiais civis e das pessoas que buscam atendimento, o presidente do sindicato reforçou a luta da entidade para que o Estado cumpra a determinação de que não se tenha presos em delegacias. "Nesse momento de pandemia, consideramos um perigo muito grande. Estamos vivendo uma luta incansável enquanto o próprio governo permite que aglomerações se formem dentro de suas estruturas. Os presos que chegam às delegacias não são testados para a Covid-19 e podem estar contaminados de forma assintomática", reforçou Ortiz, ao lembrar que ao menos 400 policiais civis já foram contaminados pelo novo coronavírus.
Ortiz garantiu que o sindicato vai alertar, novamente, o Legislativo, o Ministério Público, a OAB-RS e o Judiciário para que seja cumprida a decisão do próprio Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS), que
determinou em março o esvaziamento de todas as celas de delegacias do Estado. "Vamos cobrar judicialmente e vamos continuar denunciando publicamente o risco que a população corre. Precisamos resolver isso o quanto antes, sob pena do governo do Estado não cumprir o que ele próprio determina em relação ao distanciamento e às aglomerações".
A Secretaria Estadual da Administração Penitenciaria (Seapen) explicou, por sua vez, que não é possível encaminhar os presos direto ao sistema penitenciário em virtude do risco de contágio e contaminação pela Covid-19. A pasta informou que devido às operações policiais é normal que um número maior de presos seja encaminhado às delegacias. Porém, garantiu que eles ficam nesses locais somente enquanto os trâmites burocráticos e judiciais estão em andamento e, uma vez que o juiz da Vara de Execuções Penais (VEC) do município determina o local onde eles devem cumprir a pena, são encaminhados para o presídio. A expectativa da pasta é de que a situação melhore a medida em que a Penitenciária de Sapucaia comece a funcionar como centro de triagem para receber esses presos.