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Educação

- Publicada em 13 de Agosto de 2020 às 08:11

Retorno presencial somente em 2021 é descartado por escolas públicas e privadas do RS

Retomada das aulas presenciais se deu a partir do dia 5 de outubro

Retomada das aulas presenciais se deu a partir do dia 5 de outubro


CAMILA DOMINGUES/PALÁCIO PIRATINI/JC
O modelo de ensino remoto estabelecido às pressas para garantir a continuidade das aulas durante a pandemia do novo coronavírus tem gerado incertezas quanto à qualidade e à efetividade da aprendizagem. As escolas públicas trabalham com dois cenários: perda significativa de conteúdo neste ano letivo, mesmo que as aulas retornem, e volta somente em 2021 - ainda que esse panorama não esteja nos planos da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc). Já para as escolas particulares, a volta neste ano letivo é trabalhada como uma certeza.
O modelo de ensino remoto estabelecido às pressas para garantir a continuidade das aulas durante a pandemia do novo coronavírus tem gerado incertezas quanto à qualidade e à efetividade da aprendizagem. As escolas públicas trabalham com dois cenários: perda significativa de conteúdo neste ano letivo, mesmo que as aulas retornem, e volta somente em 2021 - ainda que esse panorama não esteja nos planos da Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (Seduc). Já para as escolas particulares, a volta neste ano letivo é trabalhada como uma certeza.
O calendário proposto pelo governo do Estado na terça-feira (11) prevê retomada das atividades presenciais para 31 de agosto, de forma escalonada. Porém, as públicas já trabalham com a possibilidade de haver uma perda significativa dos conteúdos. Estender o período de aulas, disponibilizar reforço ou aumentar a carga horária são algumas das ideias para recuperar o que foi perdido. As aulas foram paralisadas em março no Rio Grande do Sul.
O calendário apresentado pelo governo, que sugere o retorno pela Educação Infantil, não agradou a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). Segundo o presidente, Maneco Hassen, o plano é vago e inseguro. "Além de não ser seguro para as crianças, o Estado precisa esclarecer algumas coisas, como a questão do transporte escolar e do aumento no número de funcionários para cumprir os protocolos."
Movimentos como Direito ao Ensino não Presencial e Unidos por um Brasil com Vida, criados nos últimos meses de forma voluntária, por pais de crianças e adolescentes contra o retorno às atividades presenciais, cogitam ir à Justiça ou acionar o Ministério Público Estadual (MP-RS), caso seja confirmada a proposta do governo Eduardo Leite. Além disso, foi ignorada a consulta pública digital realizada junto às entidades da área da educação e de assistência à criança e ao adolescente para avaliar a melhor forma de retomada. As opções foram início pelo ensino Superior, seguido por Ensino Médio, Ensino Fundamental (5º ao 9º anos), Ensino Fundamental (1º ao 4º anos) e, por último, Educação Infantil.
Independentemente da data de retorno, a Seduc já determinou a aplicação de uma avaliação diagnóstica sobre o aproveitamento dos conteúdos das aulas remotas. "A avaliação é feita pela escola, por meio do professor, que irá fazer as intervenções pedagógicas necessárias de forma individualizada", explica o secretário da educação, Faisal Karam.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Imperatriz Leopoldina, de Porto Alegre, desenvolve planos de disciplina para caso as aulas presenciais retornem em 2020, mas também elabora um plano para a possibilidade de ocorrer somente em 2021. "Estamos supondo que antes de setembro ou outubro vai ser muito difícil de as aulas presenciais retornarem. Pedimos aos professores que, quando fizessem esse plano, estabelecessem os conteúdos mínimos a serem trabalhados, porque não vamos conseguir repor o ano inteiro", afirma a coordenadora do Serviço de Orientação Educacional, Nair do Amaral Menezes.
Ela ainda aponta que a escola já aceitou o fato de que não será possível trabalhar todos os conteúdos previstos em 2020. "Pelo o que estamos conversando com os professores, já é possível perceber que o primeiro ano provavelmente só será alfabetizado no segundo ano, em 2021." Para Nair, as atividades compensatórias talvez façam parte da rotina dos alunos para além do próximo ano. "Alguns estudos mostram que pode levar até três anos para recuperar todos os conteúdos perdidos durante a pandemia", acrescenta.
Já em Novo Hamburgo, a Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, que oferece Ensino Técnico - Eletrônica, Eletrotécnica, Mecânica e Química - integrado com o Médio, considera aumentar a carga horária em 2021. A ideia é liberar a Progressão Parcial (PP) para todas as disciplinas e disponibilizar aulas de reforço no turno inverso. "Na PP, ao final do ano, quando o aluno é aprovado na maioria das disciplinas, mas reprovado em uma, pode passar para o próximo e refazer apenas aquela disciplina no turno inverso. Antes, essa opção era limitada a algumas matérias, mas agora pensamos em liberar", contextualiza o diretor executivo, Ramon Hans.
Caso o retorno ocorra neste, o plano é focar nas aulas práticas das disciplinas técnicas que, em grande maioria, estão pausadas, e naqueles alunos que não estão acompanhando de forma remota. "Dos três mil alunos da escola, temos em torno de 300 que não estamos conseguindo resgatar. Dou aula no Curso de Mecânica e tenho quatro alunos que não estão fazendo nada. Não sabemos o motivo, mas imaginamos que a maioria não tem acesso à internet, e alguns podem ter desistido", explica.
Apesar disso, as avaliações continuam acontecendo. "A escola tem um alto nível de exigência, então não estamos dando nota máxima só porque o aluno assistiu à aula. Mas também não reprovamos aquele que não assiste."
Na Imperatriz Leopoldina, as avaliações estão menos rígidas e são poucos os alunos que não conseguem acompanhar as aulas. "Ainda que volte esse ano, vai ser bem devagar e em um ambiente bem diferente. Agora estamos trabalhando com os pais as perspectivas para esse ano. Temos que pensar em nos cuidar e depois em recuperar conteúdos", aponta Nair.
A vice-presidente do Cpers/Sindicato, Solange Carvalho, concorda com Nair e acredita que é inevitável que haja perda de conteúdos, mas a saúde vem em primeiro lugar. “Vai haver um apagão educacional no Brasil durante esse ano. Mas a vida está muito diferente, estamos no meio de uma pandemia. Falar em conteúdo é como se estivesse tudo normal. Quando as aulas retornarem, pensaremos sobre o que será validado e o que será feito, por enquanto temos que sobreviver.”

Nas escolas particulares gaúchas, Sinepe crê que até 90% do conteúdo será entregue por meio do ensino remoto

Para minimizar os efeitos negativos da educação remota, a Mosaico Escola de Ensino Fundamental focou na singularidade dos alunos

Para minimizar os efeitos negativos da educação remota, a Mosaico Escola de Ensino Fundamental focou na singularidade dos alunos


REPRODUÇÃO FACEBOOK/JC
Na rede privada, por conta da estrutura educacional das instituições e das famílias, acredita-se que a perda de conteúdo pode ser minimizada, mesmo que, em um cenário hipotético, as atividades presenciais só voltem em 2021. O presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe), Bruno Eizerik, defende que as escolas gaúchas estão conseguindo entregar de 50% a 90% do conteúdo. A entidade apoia a volta das atividades presenciais a partir de 31 de agosto, conforme proposto pelo governo Eduardo Leite.
Para Eizerik, os alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I (1º a 5º anos) são os que mais correm o risco de enfrentar dificuldades de aprendizagem e perda de conteúdo. "Os alunos do Fundamental II (6º a 9º anos), do Ensino Médio e do Ensino Superior vão conseguir atingir 90% dos objetivos. E o que não for atingido pode ser recuperado quando as aulas voltarem, neste mês ou em setembro, com aulas aos sábados ou períodos adicionais", explica. Assim, crê que a rede privada terá poucas lacunas a preencher em 2021.
Na Rede Marista - com 19 colégios e 16 unidades sociais no Estado, o coordenador educacional, Renato Capitani, também acredita que não haverá grandes problemas quanto à entrega dos conteúdos. Segundo ele, todas as unidades estão conseguindo, e não terão dificuldades em validar os dias letivos. "Por isso, não trabalhamos com a pauta da reposição quantitativa. Quando olhamos a educação de forma ampla, é possível perceber que nossas condições de ensino, mesmo a distância, são muito boas, tanto do ponto de vista da escola quanto do das famílias."
Caso as aulas presenciais não retornem neste ano, Capitani afirma que a Rede Marista tem condições de finalizar o ano remotamente. "É algo maior que nós e só nos cabe fazer o melhor dentro das condições que temos", afirma.
A avaliação diagnóstica, sugerida pela Seduc, é uma prática já explorada pela Rede, que defende a singularidade das turmas e das escolas. "Cada turma tem um processo de aprendizagem. No contexto da escola, mesmo dentro da normalidade, acreditamos que o início de cada ano é o momento de fazer a avaliação, conhecer cada turma e qual o ponto de partida de cada aluno", explica Capitani.
A Mosaico Escola de Educação Fundamental Bilíngue, de Porto Alegre, também compartilha desse pensamento. A pandemia só transformou ainda mais alguns processos de aprendizagem, já que a metodologia de ensino é diferente das escolas tradicionais. A diretora pedagógica, Patrícia Nystrom, conta que, para minimizar os efeitos negativos da educação remota, a escola focou na singularidade dos alunos. "Sabemos que vão ficar lacunas, então já estamos planejando ações. Como nossas aulas presenciais acontecem das 10h às 17h30min, temos margem de tempo para organizar as atividades e garantir que seja possível recuperar alguns conteúdos em 2021."
As turmas, com no máximo 16 alunos, ficaram ainda menores. "Dividimos as turmas em grupos de quatro ou cinco crianças e, com isso, conseguimos um atendimento mais personalizado. Além disso, a escola passou exercícios de sondagem e, assim, os professores puderam personalizar ainda mais o ensino. "A partir disso, cada aluno recebeu uma apostila para treinar as habilidades que ainda não desenvolveu. Se fulano troca a letra M e N, ele vai receber mais exercícios focados nisso", acrescenta.
O presidente do Sinepe reconhece que não é um ano normal. "É muito diferente e há muitos desafios, mas as escolas estão conseguindo entregar mais da metade do que era previsto. E é importante lembrar que, antes de pensar em 2021, temos que focar em 2020."