Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Geral

- Publicada em 04 de Junho de 2020 às 20:50

"Coronavírus tem relação com problemas ambientais", explica biólogo

Bicca-Marques defende a necessidade de banir o comércio e o consumo de animais silvestres nas cidades

Bicca-Marques defende a necessidade de banir o comércio e o consumo de animais silvestres nas cidades


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
A origem do coronavírus é assunto de muitos debates. Ainda que seja difícil definir com certeza de onde partiu o vírus, cientistas espalhados por todo o mundo já estabeleceram que é uma zoonose. Assim como a dengue e a ebola, por exemplo, a Covid-19 também é uma doença que pode ser transmitida aos seres humanos pelos animais. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o biólogo e professor das disciplinas de Ecologia e Sustentabilidade e Biologia da Conservação na Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Júlio César Bicca-Marques, explica que essas doenças têm relação direta com problemas ambientais.
A origem do coronavírus é assunto de muitos debates. Ainda que seja difícil definir com certeza de onde partiu o vírus, cientistas espalhados por todo o mundo já estabeleceram que é uma zoonose. Assim como a dengue e a ebola, por exemplo, a Covid-19 também é uma doença que pode ser transmitida aos seres humanos pelos animais. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o biólogo e professor das disciplinas de Ecologia e Sustentabilidade e Biologia da Conservação na Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Júlio César Bicca-Marques, explica que essas doenças têm relação direta com problemas ambientais.
Jornal do Comércio - Qual a relação entre os problemas ambientais e a existência e propagação do coronavírus?
Júlio César Bicca-Marques - Os vírus do grupo coronavírus e um número incalculável de outros tantos fazem parte da vida do nosso planeta. O que precisamos entender é que eles estão integrados com os seres vivos que os hospedam nos ecossistemas onde evoluíram. Ou seja, como os vírus e seus hospedeiros animais se desenvolveram juntos ao longo do tempo, esse contato já selecionou os hospedeiros mais resistentes e os vírus menos agressivos. Consequentemente, os animais vivem em equilíbrio com os seus vírus na natureza, sem desenvolverem doenças ou morrerem. A situação muda quando o vírus entra em contato com uma espécie diferente. Esse é o caso do novo coronavírus com a espécie humana. É aqui que entram os problemas ambientais. A destruição e a fragmentação dos ecossistemas naturais, visando a expansão de áreas para a pecuária e a agricultura, a mineração, a urbanização e a construção de estradas, entre tantas outras prejudiciais ao meio ambiente e oriundas de um crescimento exponencial da população humana mundial e de um modelo de exploração insustentável dos recursos naturais, favorecem o nosso contato com seres vivos que estavam protegidos de nossa ação. Quando o ser humano aproveita essa facilidade de acesso para explorar os animais silvestres para a obtenção de bens (carne, peles, penas, chifres, venenos etc) ou para usá-los como pets, criamos condições para que os vírus desses animais saltem para a nossa espécie. Como o nosso organismo não foi treinado para lidar com esse novo agente patogênico, há o risco de que ele seja bastante agressivo para nós.
JC - Além do coronavírus e da ebola, por exemplo, que outras doenças recentes podem ter relação com problemas ambientais?
Bicca-Marques - Todas as doenças zoonóticas estão, de uma forma ou de outra, relacionadas aos problemas ambientais provocados pelo homem. A destruição, a fragmentação e a degradação dos ecossistemas naturais, a poluição, a liberação (introdução) de espécies invasoras de outras regiões do planeta, e a caça e a captura predatórias de animais, rompem o equilíbrio ambiental, reduzindo a qualidade de vida, a imunidade e a saúde de seus habitantes, com consequências diretas ou indiretas à própria saúde humana.
JC - De que forma o ser humano pode ser responsabilizado pela existência e pelo agravamento de tais patologias?
Bicca-Marques - Somos os principais e, geralmente, os únicos responsáveis pelos problemas de saúde que enfrentamos. Essa culpa se deve ao nosso estilo de vida e ao desrespeito com a natureza. Precisamos estar cientes de que assim como temos enfrentado problemas de saúde que obtivemos dos animais, essa é uma troca de duas vias: ou seja, nós causamos a morte de um grande número de animais silvestres quando levamos nossos agentes patogênicos para os ecossistemas naturais que invadimos. Esse problema ocorre e é muito sério, inclusive, dentro da nossa própria espécie. Me refiro ao risco de desaparecimento das populações indígenas. Como os indígenas não têm uma história de contato com a maioria dos nossos agentes patogênicos, são muito mais vulneráveis do que as pessoas de nossa cultura.
JC - Essas doenças poderiam ter sido evitadas?
Bicca-Marques - Evitar é um objetivo ousado e que estaria aquém da nossa vontade. Contudo, reduzir significativamente o risco dessas doenças, com certeza está ao nosso alcance. A primeira ação é banir o comércio e o consumo de animais silvestres nas cidades, assim como o seu uso como pets. Além disso, precisamos aprender a respeitar a natureza e todos os seres que compartilham o planeta e o dom da vida conosco.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO