Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Geral

- Publicada em 19 de Abril de 2020 às 21:01

Nutrição comportamental busca alimentação humanizada

Conforme Lidiane, papel do nutricionista comportamental é o de escutar mais e prescrever menos

Conforme Lidiane, papel do nutricionista comportamental é o de escutar mais e prescrever menos


Arquivo Pessoal
Gabriela Porto Alegre
A relação que as pessoas têm com a comida vem se tornando cada vez mais complexa. A clássica sensação de culpa após comer e a dificuldade para manter ou reduzir o peso são apenas algumas das consequências desse cenário. Apesar disso, a nutrição comportamental surge com o objetivo de melhorar todos os comportamentos relacionados à alimentação. Em entrevista ao Jornal do Comércio, a nutricionista comportamental Lidiane Pellenz explica como essa técnica pode ajudar a melhorar esse quadro e a tratar os transtornos alimentares.
A relação que as pessoas têm com a comida vem se tornando cada vez mais complexa. A clássica sensação de culpa após comer e a dificuldade para manter ou reduzir o peso são apenas algumas das consequências desse cenário. Apesar disso, a nutrição comportamental surge com o objetivo de melhorar todos os comportamentos relacionados à alimentação. Em entrevista ao Jornal do Comércio, a nutricionista comportamental Lidiane Pellenz explica como essa técnica pode ajudar a melhorar esse quadro e a tratar os transtornos alimentares.
Jornal do Comércio - Como a nutrição comportamental pode melhorar a relação das pessoas com a comida?
Lidiane Pellenz - Essa relação tem se tornado cada vez mais complexa, são tantas informações e orientações que ninguém sabe mais o que seguir. Na tentativa de atingir um objetivo de saúde, as pessoas acabam recorrendo a dietas restritivas, e são vários os relatos do sentimento de culpa após comer um alimento considerado proibido. Essa culpa leva a episódios de compulsões alimentares, que são uma necessidade emocional, e não fisiológica. Após a compulsão, o indivíduo passa a se sentir frustrado e, na tentativa de reverter a situação, inicia um novo ciclo de restrição, e esse ciclo se perpetua. Ou seja, as restrições pioram a situação e não ajudam. A nutrição comportamental vem com outra forma de entendimento e relação com a alimentação e o corpo, uma vez que respeita o tempo que cada pessoa leva para conseguir os resultados. Estudos comprovam que não basta um plano alimentar bem estruturado quando não se consegue atingir o principal objetivo: seguir a nova rotina alimentar. Tornar uma dieta viável e individualizada era um desafio, muitas vezes, inalcançável. No entanto, com as ferramentas necessárias, existe uma facilidade maior no tratamento, possibilitando atingir objetivos sem sofrimento, restrição ou sensação de fome.
JC - Qual é o papel do nutricionista comportamental no tratamento de transtornos alimentares?
Lidiane - Os transtornos alimentares são condições que acometem a relação com o alimento e, muitas vezes, são um sintoma de que alguma coisa não vai bem. O nutricionista comportamental usa de recursos como a escuta e a empatia para se vincular ao sofrimento do paciente e, dessa maneira, ajudar e não julgar. Dois fatores são importantes no início desse processo: criar hábitos e não focar apenas em emagrecer ou engordar. É preciso equilíbrio, pois ser muito saudável pode ser uma doença. O importante para cuidar do peso é fazer escolhas saudáveis, e não apenas reduzir a alimentação. Além disso, adotar uma rotina muito severa e reduzir consideravelmente a alimentação por conta própria pode desencadear sintomas como compulsão. A mudança de pensamento é necessária para que a pessoa consiga resultados visíveis e satisfatórios. As perguntas do tipo "isso pode?" ou "tal alimento é bom?" dão lugar aos questionamentos "será que estou com fome?" e "por qual motivo quero comer?", possibilitando a análise da situação.
JC - Quais são as técnicas utilizadas neste contexto de nutrição comportamental?
Lidiane - As técnicas utilizadas visam gerar uma reflexão maior sobre a questão do comer, ou seja, tentar entender o significado que o comer e que os alimentos têm para cada indivíduo. A escuta empática se faz presente durante todo o processo. O nutricionista comportamental prescreve menos e escuta mais, para entender a real necessidade do paciente. Isto é, busca a motivação que cada um tem para a mudança, seja ela emagrecer, se alimentar de maneira mais saudável ou lidar melhor com o corpo.
JC - Quais são as diferenças entre o "comer intuitivo" e o "comer com atenção plena"?
Lidiane - O comer pleno é uma ferramenta para trazer a pessoa ao momento presente, tirar do automático. Muitas vezes, comemos e não percebemos a textura, o sabor ou até a quantidade. Existem técnicas que auxiliam o desenvolvimento dessa habilidade. Já o comer intuitivo precisa da atenção plena (comer pleno) para desenvolver o autoconhecimento alimentar. Estar presente e atento aos sinais do corpo faz com que, intuitivamente, busquemos o que, de fato, nosso corpo precisa. Cada indivíduo tem necessidades diferentes em termos de quantidades alimentares, sensações corporais de fome, desejos alimentares. Essas técnicas possibilitam deixar de seguir uma prescrição alimentar imposta para desenvolvermos uma escuta mais aprofundada sobre nossas reais necessidades.
JC - Em tempos de pandemia, dúvidas surgem em relação aos alimentos mais e menos saudáveis. Essa segregação entre o que é bom e o que é ruim pode implicar em efeitos negativos?
Lidiane - Com o período de isolamento, sintomas de ansiedade, angústia e desânimo passam a ser mais frequentes, e, via de regra, é na comida que se acaba aliviando os sentimentos negativos. No entanto, após essas refeições sem pensar, outros sentimentos - como a frustração - surgem. Por isso, é fundamental reconhecer quando existe influência de algum sentimento. Dessa forma, o comer se torna menos sofrido e mais saudável. Os hábitos alimentares são tão importantes quanto a quantidade de nutrientes que uma pessoa ingere por dia, pois o seu corpo é o seu lar.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO