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Geral

- Publicada em 13 de Fevereiro de 2020 às 20:48

Tarifa de ônibus é apenas um dos pontos a serem debatidos, afirma coordenadora do ITDP

Beatriz Rodrigues aponta necessidade de ouvir demandas dos usuários

Beatriz Rodrigues aponta necessidade de ouvir demandas dos usuários


/ITDP/DIVULGAÇÃO/JC
O debate acerca das engrenagens que envolvem o transporte urbano nas grandes cidades é complexo e não se resumem apenas ao valor da tarifa cobrado dos usuários, ainda que esse seja um ponto central da questão. Transporte público eficiente significa transporte de baixo custo, com fácil e rápido acesso, integrado com os demais modais, eficiente e confiável. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Beatriz Rodrigues, engenheira civil e coordenadora de Transporte Público do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), entidade norte-americana criada em 1985 e que tem a sede brasileira no Rio de Janeiro, ressalta pontos importantes que precisam ser levados em conta quando se fala sobre o tema.
O debate acerca das engrenagens que envolvem o transporte urbano nas grandes cidades é complexo e não se resumem apenas ao valor da tarifa cobrado dos usuários, ainda que esse seja um ponto central da questão. Transporte público eficiente significa transporte de baixo custo, com fácil e rápido acesso, integrado com os demais modais, eficiente e confiável. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Beatriz Rodrigues, engenheira civil e coordenadora de Transporte Público do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), entidade norte-americana criada em 1985 e que tem a sede brasileira no Rio de Janeiro, ressalta pontos importantes que precisam ser levados em conta quando se fala sobre o tema.
Jornal do Comércio - Direito social garantido na Constituição, o transporte tem se tornado um nó nas grandes cidades. Onde o Brasil falhou na construção de seu modelo de transporte em suas metrópoles?
Beatriz Rodrigues - Na maioria das cidades do mundo e, principalmente, no Brasil, existe o desafio de como as pessoas vão se locomover. Isso aconteceu com a construção das próprias cidades. Faltou planejamento dos transportes vinculado ao planejamento urbano. As políticas de transporte e uso e ocupação de solo continuam a ser pensadas separadamente. Temos cidades e regiões metropolitanas com ocupações cada vez mais espraiadas, pessoas morando mais distantes do seu local de trabalho, alta concentração de oportunidades em alguns lugares específicos da cidade, em geral nos centros. Por isso, temos um transporte que passa por uma série de desafios, afetando a qualidade de vida das pessoas. O transporte deveria servir como mecanismo para as pessoas alcançarem as oportunidades, o lazer, os serviços. Muitas vezes, as pessoas que mais precisam não conseguem alcançar isso.
JC - Isso cria um círculo vicioso...
Beatriz - Com a tarifa sendo cada vez mais alta cria-se, de fato, um círculo vicioso. As pessoas mais pobres não conseguem pagar pelo transporte, o transporte perde passageiros e se torna mais caro para tentar ter um equilíbrio econômico-financeiro. Acho que cabe pensarmos que tipo de intervenção pode ser feita. Em geral, as cidades continuam muito a favor do transporte individual motorizado. Precisamos ter um espaço no sistema viário que carregue mais gente de forma mais rápida. Como isso é possível? A partir de uma prioridade viária. Se você traz uma prioridade para a transporte público, isso pode influenciar na decisão quanto ao modo de transporte a ser utilizado, afetando a percepção de confiabilidade e o tempo de viagem. O Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) tem uma página chamada Movedados, onde faz um levantamento das vias com prioridade para o transporte púbico. Porto Alegre é uma das capitais que possui uma maior prioridade viária em termos de faixas exclusivas e corredores, tendo 4% das vias prioritárias. Mas, note, 4% é aquém da necessidade. O quanto isso reflete a decisão das pessoas que utilizam esse meio de transporte? Que mensagem estamos passando para essas pessoas? Que 4% das nossas vias serão para o transporte público? E o resto será para quê? Para o transporte individual motorizado?
JC - Em Porto Alegre, o debate mais vivo diz respeito à tarifa dos ônibus. Quais as alternativas mais viáveis para conter esses reajustes e manter o modal viável economicamente?
Beatriz - A questão tarifária é sempre importante. O custo diário de uma viagem é um aspecto que entra muito na balança quando se é usuário e, principalmente, se você usa de duas ou três conduções por dia para chegar ao trabalho e o transporte não tem integração. Vou dar um exemplo: o gasto médio de uma trabalhadora doméstica com o transporte público em Porto Alegre pode chegar a 19% do salário. Esse é um valor muito alto. É importante mencionar também que toda essa questão da tarifa e de quanto ela sobrecarrega o usuário está muito relacionada com a transparência dos dados. Se falta informação sobre como funciona o real custo do transporte, como conseguimos numerar e identificar o que é a tarifa para o usuário? Como conseguimos confiar que a tarifa está sendo correta? A falta de informação dificulta o entendimento da população e, mais do que isso, dificulta para o próprio poder público o aprimoramento do planejamento da gestão do sistema.
JC - A prefeitura de Porto Alegre e as empresas de ônibus apontam um motivo principal para o aumento da tarifa tão acima dos índices de inflação: a redução no número de passageiros. Porém, nenhuma medida consistente foi tomada para atrair novamente essa população para os ônibus. O que pode ser feito para reverter isso?
Beatriz - O sistema vem perdendo passageiros por conta não só do valor da tarifa, mas por uma série de falta de qualidades. O que pode ser feito? Uma das questões é atribuir mais qualidade. O serviço tem de garantir a integração tarifária para que se possa conectar diferentes modos de transporte, não só o público, mas também o por bicicleta. Conectar as vias que se utilizam para acessar os meios de transporte. Como estão as calçadas? Estão iluminadas? Isso traz uma maior sensação de continuidade para a viagem que o usuário experimenta. A integração precisa ser tarifária, física e operacional. A forma como se vai colher essa percepção da experiência do usuário é superimportante para pautar as melhorias que se precisam ter. A mensagem que eu quero passar é essa: para sair do círculo vicioso é importante entender quais são as prioridades do ponto de vista do usuário. É importante incluir o usuário e até o não usuário do transporte público, aquele que já se perdeu, no planejamento do sistema.
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