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Educação

- Publicada em 26 de Agosto de 2019 às 21:16

MPF, reitores e deputados criticam programa Future-se

Audiência pública reuniu comunidade acadêmica em auditório da UFCSPA

Audiência pública reuniu comunidade acadêmica em auditório da UFCSPA


/CLAITON DORNELLES/JC
Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, Ministério Público Federal (MPF), reitores das universidades e dos institutos federais gaúchos e deputados federais e estaduais criticaram o programa Future-se. Proposto em julho pelo governo federal, o projeto apresenta mudanças polêmicas nas federais, como a presença da iniciativa privada na gestão e a criação de um fundo de financiamento das instituições. O evento foi realizado em auditório da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, Ministério Público Federal (MPF), reitores das universidades e dos institutos federais gaúchos e deputados federais e estaduais criticaram o programa Future-se. Proposto em julho pelo governo federal, o projeto apresenta mudanças polêmicas nas federais, como a presença da iniciativa privada na gestão e a criação de um fundo de financiamento das instituições. O evento foi realizado em auditório da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O procurador regional da República Paulo Gilberto Cogo Leivas relata que no último mês, desde o bloqueio de 30% do orçamento das instituições federais de ensino, muitas ações judiciais têm sido ajuizadas e algumas liminares já foram concedidas pela Justiça. Em sua concepção, é preciso defender a autonomia universitária, princípio presente na Constituição Federal de 1988 que tem como finalidade garantir a liberdade acadêmica. "A pesquisa e o ensino precisam ser livres. Precisamos da universidade como um espaço livre de ideias, que não pode ter interferência nem do Estado, nem do mercado", pontua.
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A menção ao mercado se deve à proposta do Future-se de que as instituições possam ser geridas por organizações sociais (OSs), entidades privadas que recebem o status "social" ao comprovar eficácia e fins sociais, entre outros quesitos. "O Brasil vive em um contexto de neoliberalismo que demanda que as instituições públicas de ensino resistam à força do mercado, a fim de manter sua autonomia", pontua o procurador. Leivas identifica, ainda, que o programa alija o quadro docente das universidades, uma vez que as OSs poderão contratar professores sem passar por concurso público, "retirando-lhes a influência nas decisões da instituição".
A audiência teve participação da deputada federal Margarida Salomão (PT-MG), presidente da Frente Parlamentar Mista pela Valorização das Universidades Federais, que é professora universitária e já foi reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Segundo a parlamentar, o Future-se promete autonomia financeira, mas sem autogestão financeira, o que faria com que as instituições ficassem à mercê do que as OSs decidissem.
Sobre o fundo, seria composto em parte por imóveis das próprias universidades, que seriam vendidos. Conforme Margarida, muitas dessas propriedades são consideradas patrimônios históricos e, portanto, não podem ser vendidas, e as restantes dependeriam da vontade das instituições de serem vendidas e terem o valor repartido entre todas as federais. "Não está esclarecido quem venderia seus imóveis", pontua. O Ministério da Educação (MEC) sinaliza que o fundo em questão já teria disponíveis, de início, R$ 102,6 bilhões, somados o fundo imobiliário e outros fundos.

'Projeto é tão vago que é até difícil fazer análise aprofundada'

De acordo com a vice-reitora da UFCSPA, Jenifer Saffi, o Future-se está sendo debatido internamente desde o início de agosto pela instituição e um grupo de trabalho foi montado para fazer uma análise profunda a respeito, mas o projeto apresentado pelo MEC é "tão vago, que é até difícil aprofundar". A vice-reitora sente falta de um esclarecimento sobre como funcionará a participação das OSs nas federais e defende que a comunidade acadêmica não permita a perda de autonomia.
O reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Rui Vicente Oppermann, lembrou que, na sexta-feira, o Conselho Universitário (Consun) da instituição aprovou de forma unânime uma moção de repúdio ao Future-se. "O programa é uma ameaça à autonomia das universidades, prevista na Constituição, bem como a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão", critica. Sob sua ótica, o projeto, como está, é "inaceitável e dificilmente poderá ser remendado no Congresso".
O Future-se está em fase de consulta pública até 29 de agosto no site https://isurvey.cgee.org.br/future-se/. Até a terça-feira passada, 55 mil pessoas já tinham se cadastrado na página. Após a análise das sugestões, o projeto será encaminhado ao Congresso.