Alunos e professores de um dos campi da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufgrs) vivem nesta quarta-feira (20) clima de tensão e até medo devido a mensagens trocadas em redes sociais que falam de uma suposta trama de um atentado na instituição. O alvo seria o Campus do Vale, no bairro Agronomia. Em posts, há referência aos autores do massacre em Suzano, na semana passada.
A reitoria levou o caso à Polícia Federal (PF), na tarde dessa terça-feira (19), além da Polícia Civil, Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e inteligência da Brigada Militar, devido principalmente à repercussão. O fato domina as atenções da comunidade.
O reitor da Ufrgs, Rui Oppermann, reuniu, na tarde dessa terça-feira, diretores das unidades da instituição para abordar a situação. Diretores de cursos que estavam no encontro enviaram e-mail com alertas, que acabaram sendo reproduzidos em grupos de WhatsApp, elevando a preocupação e alimentando as conversas sobre a ameaça. A PF informou que está apurando o caso.
A origem do alarde foram mensagens postadas na chamada deep web, internet que não é visível ao público e que seria usada hoje para fluxo de informações que podem envolver ilícitos e até crimes. Uma das imagens reproduz postagens com foto de um
dos autores do massacre da escola em Suzano na semana passada. Os dois atiradores - um menor com 17 anos e um jovem de 25 anos - teriam usado a deep web para tramar o ataque. No caso da Ufrgs, circula a reprodução de um suposto diálogo na deep web citando ameaças de ataques contra mulheres, com críticas à causa feminista, e negros, com associação a cotas.
Os temores também acabaram sendo transferidos a grupos de fora da comunidade da Ufrgs. Alunos da Pucrs, em Porto Alegre, também receberam imagens e reprodução de alertas. Uma das mensagens cita o Campus do Vale como local do suposto ataque, pois a "segurança é meramente patrimonial", diz um dos participantes da conversa, que teria pedido um presente de aniversário, e recebeu a oferta de ataque no campus. E escreve: "Mate vadias das exatas no campus do Vale". Os posts têm referência de data e hora e são recentes.
O e-mail que vazou em grupos de WhatsApp é assinado pelo diretor do Instituto de Matemática e Estatística da Ufrgs. No texto, o professor cita que a "mensagem é uma das mais estranhas e difíceis que precisei escrever até hoje". Ele cita a reunião com a reitoria e comenta sobre as mensagens da deep web que se referem à Ufrgs. O professor pede que as pessoas fiquem atentas a situações de anormalidade.
"Seguindo recomendações que recebi, solicito especial atenção ao ambiente de trabalho, a indivíduos desconhecidos, em atitude suspeita e favor reportar à portaria/vigilância", indicou. "Infelizmente, é impossível estabelecer um perfil para estas ameaças, pode ser qualquer pessoa, a qualquer hora e qualquer lugar." O professor identifica os autores como "pessoas extremamente perturbadas" e que usam um discurso do ódio.
A reitoria da Ufrgs emitiu nota no começo da tarde informando que "recebeu informações de ameaça de atentado no Campus do Vale, semelhante ao ocorrido em Suzano". A instituição diz que outras universidades já foram alvo de ameaças semelhantes. "Diante disso, a Universidade acionou, preventivamente, o setor de segurança da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), polícias Federal e Civil e o setor de inteligência da Brigada Militar e, ainda, reforçou sua segurança interna".
Segundo a universidade, as medidas buscam manter "todas atividades no local com segurança e tranquilidade". Informações apuradas pelo JC indicam que as aulas estão normais no campus.
Como as pessoas navegam na deep web: é preciso instalar dois programas - um que mascara a localização do IP (a identidade da máquina na internet) e outro para a navegação. A ideia é manter possibilidade de anonimato, com diferentes propósitos. O navegador mais usado é o Tor. A rede funciona com fóruns de discussão, onde cada usuário tem uma identidade e pode lançar foto. Os endereços não se mantêm os mesmos, por isso é difícil rastrear. A internet que não é pública passou a ser um dos grandes desafios para a Polícia, devido à relação com crimes e violência, mas o uso desse ambiente vai muito além disso.