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Geral

- Publicada em 21 de Outubro de 2018 às 22:02

Setor plástico deve se conscientizar sobre descarte de lixo nos oceanos

Biólogo Alexander Turra é referência em pesquisas sobre lixo no mar

Biólogo Alexander Turra é referência em pesquisas sobre lixo no mar


EDUARDO FONTOURA/CAMEJO/DIVULGAÇÃO/JC
Isabella Sander
Referência brasileira em pesquisas sobre lixo no mar, o biólogo Alexander Turra, professor do Instituto Oceanógrafo da Universidade de São Paulo, esteve recentemente em Porto Alegre, para participar do 3º Congresso Brasileiro do Plástico. Na ocasião, ministrou palestra sobre a presença de plástico nos oceanos, que representa 95% do material despejado. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Turra explica de onde vem todo esse plástico, qual seu impacto no meio ambiente e o que é possível fazer para melhorar a realidade atual.
Referência brasileira em pesquisas sobre lixo no mar, o biólogo Alexander Turra, professor do Instituto Oceanógrafo da Universidade de São Paulo, esteve recentemente em Porto Alegre, para participar do 3º Congresso Brasileiro do Plástico. Na ocasião, ministrou palestra sobre a presença de plástico nos oceanos, que representa 95% do material despejado. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Turra explica de onde vem todo esse plástico, qual seu impacto no meio ambiente e o que é possível fazer para melhorar a realidade atual.
Jornal do Comércio - Como é o fluxo de despejo de plástico no mar?
Alexander Turra - Uma das principais dúvidas em relação ao lixo no mar é que ele não é necessariamente produzido no mar. A principal fonte são atividades realizadas em terra: 80% do lixo vem da terra, de cidades, da agricultura, do turismo, de ocupações, e vão parar no oceano. Os 20% restantes são gerados em atividades no mar, como transporte marítimo, pesca, turismo náutico, resíduos que podem voltar para a costa. 
JC - Qual o impacto no meio ambiente da existência de ilhas de lixo?
Turra - Isso causa dois grandes problemas: um é quando o resíduo é pequeno em relação ao organismo que ingere as partículas. O animal pode ter perfuração no trato digestivo, e a ingestão de algumas substâncias pode fazer com que ele não sinta mais fome e morra por inanição. Quando o resíduo é muito grande em relação ao animal, tem potencial de emaranhá-lo. Linhas de pesca e redes, por exemplo, quando emaranham tartarugas e golfinhos, que precisam ir à superfície respirar, causam a morte dos animais por afogamento. Esse fenômeno é chamado de pesca fantasma, um dos principais problemas com origem em atividades realizadas no mar.
JC - Sabe-se quais espécies são mais afetadas?
Turra - Há uma grande quantidade de peixes e tartarugas que já ingeriram plástico. É um problema amplamente disseminado, mas ainda não temos conhecimento do efeito que a ingestão de partículas diminutas de plástico vai causar na cadeia alimentar dos animais. Há uma incerteza sobre os impactos, mas o fato é que a maioria dos peixes, aves marinhas e golfinhos já ingeriram partículas de plástico. Com relação à pesca fantasma, isso vai variar, dependendo da especialidade da pesca de cada região. Nos Estados Unidos, há uma região com muitas armadilhas de caranguejo, o que gera impacto de 20% de prejuízo na pesca local. Além do prejuízo ambiental, o problema também é econômico. No Paraná, eu orientei uma tese de doutorado que aponta prejuízo de US$ 8,5 milhões em Pontal do Sul por conta da pesca fantasma. São muitos impactos associados.
JC - O que fazer para melhorar essa realidade?
Turra - Como é um problema complexo e tem várias torneiras que levam lixo para o mar, é preciso combater cada uma. Um aspecto é aprimorar a coleta de resíduos sólidos, que depende fortemente de prefeituras e cooperativas de catadores. Muita gente no Brasil mora em ocupações localizadas em áreas de proteção ambiental, onde há rios, encostas. Nesses locais o estado não pode prover coleta, então eles acabam virando grandes produtores dos resíduos que param no mar. O problema não envolve só gestão de resíduos, mas justiça social, para que a desigualdade diminua e as pessoas tenham dignidade. Uma saída é o Plastic Bank, criado para as pessoas levarem seus resíduos a pontos de coleta, onde são trocados por créditos para elas comprarem alguma coisa, ou receberem algum dinheiro. Isso já existe no Brasil, em Belo Horizonte, e em três outros países.
JC - O que o senhor acha das medidas tomadas pelos governos para reduzir o uso do plástico?
Turra - É preciso que o setor plástico esteja presente na discussão para decisões nesse sentido serem tomadas de forma equilibrada, com consciência. Muitos municípios no Brasil, como Rio de Janeiro e Ilhabela, proibiram canudo. Há países que baniram canudos e sacolas plásticas. Associar a produção plástica ao descarte irregular não é necessariamente correto, e o banimento tampouco é educativo. Banir não significa que haverá mudança no comportamento, e essas ações não focam no maior problema dos lixos nos mares. É importante que isso não seja usado para mascarar o problema, fazer um green wash (lavagem verde), enquanto a discussão é quase inócua. Debater o uso do canudo é interessante porque você pensa se vai usar ou não. Se você bane, impede que a pessoa pense sobre isso. Não dá para banir e impedir o direito de escolha.
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