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Estatística

- Publicada em 09 de Setembro de 2018 às 22:01

Litoral é destino de quem busca vida melhor

Além de aposentados, famílias como a de Manoela deixam cidades maiores e vão morar na praia

Além de aposentados, famílias como a de Manoela deixam cidades maiores e vão morar na praia


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Era uma quarta-feira e a reportagem do Jornal do Comércio rumou ao Litoral Norte gaúcho, para descobrir por que dos 10 municípios com maior aumento populacional identificado na última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sete estão localizados naquela região. A primeira constatação, ao chegar em cada uma das praias visitadas (Imbé, Xangri-lá e Arroio do Sal), é de que foi-se o tempo em que o inverno era sinônimo de ruas vazias e comércio fechado naquelas cidades. Ao contrário: o Litoral está vivo, e muito.
Era uma quarta-feira e a reportagem do Jornal do Comércio rumou ao Litoral Norte gaúcho, para descobrir por que dos 10 municípios com maior aumento populacional identificado na última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sete estão localizados naquela região. A primeira constatação, ao chegar em cada uma das praias visitadas (Imbé, Xangri-lá e Arroio do Sal), é de que foi-se o tempo em que o inverno era sinônimo de ruas vazias e comércio fechado naquelas cidades. Ao contrário: o Litoral está vivo, e muito.
Segundo os prefeitos entrevistados, dois tipos de pessoas têm se mudado para as praias gaúchas - os aposentados e aqueles que moram em cidades grandes e têm sofrido na pele a crise econômica, com a redução de emprego e o aumento na criminalidade. Como, por um lado, o custo de vida nos municípios menores é mais baixo e, por outro, a vinda de aposentados torna as cidades litorâneas mais ricas, uma vez que os idosos se mudam com renda garantida e sem necessidade de conseguir empregos, os desempregados chegam às praias no verão e acabam por lá ficando.
O aposentado José Carlos Tomacheski, de 60 anos, andava de bicicleta pela praia de Xangri-lá por volta das 14h de uma quarta-feira, quando parou para olhar o mar e foi abordado pela reportagem do Jornal do Comércio. Ele mora há 18 anos no Litoral Norte, tendo ficado 14 anos em Capão da Canoa e se mudado para Xangri-lá há quatro, em busca de uma vida mais tranquila do que a de Capão, que hoje alcança 52 mil habitantes. Originalmente, vivia em Canoas e trabalhava como padeiro. Contudo, em virtude de problemas de saúde, foi aposentado por invalidez e orientado a se mudar para alguma cidade litorânea, onde o clima e a tranquilidade fariam bem para o seu organismo.
Tomacheski percebe um aumento populacional todos os anos, depois do veraneio. "As pessoas vêm para cá passar férias, se apaixonam pela cidade e ficam. É muito bom por causa do clima, da tranquilidade. No inverno, a praia é só nossa", destaca. O aposentado admite que Xangri-lá não está livre de problemas com segurança e saúde, por exemplo, mas assegura que as dificuldades encontradas são muito menores do que em municípios maiores.
Érico de Souza Jardim, prefeito em exercício da cidade gaúcha campeã de aumento populacional, Xangri-lá, percebe o crescimento do número de habitantes quando faltam coisas que nunca faltaram no município, como vagas em creches e profissionais o suficiente para atender à demanda na área da saúde. A cidade passou de uma população de 14.650 pessoas em 2017 para uma de 16.025 pessoas em 2018, uma ascensão de 9%.
A fim de garantir recursos para dar conta desse aumento, Jardim quer atrair a atenção dos aposentados, que já se mudam com renda garantida. Para isso, espera que um Hospital-Dia que está sendo construído no município, na Estrada do Mar, dê conta da demanda por tranquilidade na área da saúde para os idosos. O estabelecimento, quando concluído, atenderá clientes de planos de saúde e oferecerá atendimento particular. Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) são atendidos em um posto de saúde 24 horas existente em Xangri-lá e nas outras unidades que funcionam em horário comercial.
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Mais tempo com filhos e melhor serviço público são atrativos

Manoela Nádia de Brito Scopel, de 39 anos, se mudou em janeiro para Arroio do Sal com toda a sua família (o marido e dois filhos), após passar em concurso público para ser assistente social no município. Os quatro viviam, antes, em Caxias do Sul, mas resolveram migrar, à procura de uma vida mais tranquila. A decisão não foi fácil - o marido de Manoela, Michel Elias Scopel, de 41 anos, precisou deixar seu emprego, na empresa Marcopolo, para fazer a mudança, e ainda não se reposicionou no mercado litorâneo, que não abriga fábricas. Mesmo assim, em nome do sonho de oferecer uma qualidade de vida melhor e mais tempo de dedicação aos filhos, Demily, de nove anos, e Luiz Alberto, de quatro.
Entre as melhorias de vida já percebidas, Manoela cita a obtenção de vaga na Educação Infantil para o Luiz Alberto. "Em Caxias, eu nunca tinha conseguido", revela. O custo de vida é mais baixo, o que permite que se viva bem com menos, e o tempo usado com o descanso e a família tem sido bem maior. "Lá em Caxias, eu saía do trabalho às 12h, chegava em casa às 12h30min, comia rapidinho e já tinha que arrumar meus filhos para ir à escola, não descansava. Aqui, eu saio às 12h e às 12h05min já estou em casa e aproveito até as 13h25min." Como tudo é perto, os quatro têm caminhado mais e usado menos carro. Devido à segurança, as crianças também têm andado mais de bicicleta e ido mais a pracinhas para brincar.
Pela Estimativa de População do IBGE, Arroio do Sal foi a segunda cidade gaúcha com maior aumento populacional entre julho de 2017 e julho de 2018, perdendo apenas da também litorânea Xangri-lá. O crescimento foi de 9%, passando de 9.050 habitantes para 9.842. Muitos dos novos moradores são de Caxias do Sul, que tradicionalmente já veraneavam naquela praia.
O prefeito em exercício de Arroio do Sal, Adilson Vargas, acredita que a estimativa do IBGE está equivocada, e que o número deve chegar a 15 mil habitantes. "Temos pessoas que passam grande parte dos dias aqui, usam nosso sistema de saúde e de educação, mas, quando são entrevistadas, dizem que moram em Caxias, porque lá é seu domicílio eleitoral", explica.
Vargas pretende entrar na Justiça para contestar a estimativa, a fim de aumentar a fatia recebida através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), recurso do governo federal distribuído com base no número de habitantes de cada cidade - por 158 pessoas que faltam para alcançar os 10 mil habitantes na população do município, a prefeitura recebe R$ 2,5 milhões a menos por ano do que receberia. Os prefeitos das cidades litorâneas também querem que a União implemente distribuição de recursos conforme a sazonalidade, a fim de que os municípios com praias não sofram tanto para oferecer bons serviços também no verão, quando a população chega a ficar até dez vezes maior.

Prefeitos acreditam que crescimento tenha sido maior do que o apontado

Quem também não concorda com o número de habitantes apontado pelo IBGE é Márcia Tedesco, prefeita de Balneário Pinhal, a terceira cidade com maior aumento populacional. "Para se ter uma ideia, o IBGE apontou 13.760 habitantes, sendo que só o SUS do município registra 23.941 pessoas cadastradas", salienta. O aumento registrado foi de 9%, passando de 12.671 habitantes para 13.760.
O crescimento demográfico se deve, de acordo com Márcia, à proximidade entre Pinhal e a Região Metropolitana e à maior qualidade de vida no balneário. A prefeita pontua que o município oferece maior agilidade de atendimento em serviços de saúde, educação e assistência social, mesmo diante de atrasos recorrentes de repasses por parte do Estado.
A suspeita de que a estimativa tenha sido abaixo da realidade é compartilhada, ainda, por Pierre Emerim, prefeito de Imbé, a quarta cidade com maior aumento populacional. Enquanto os números oficiais apontam crescimento de 9% na população, passando de 20.578 para 22.309 pessoas, Emerim acredita que um número mais próximo à realidade gira em torno de 30 mil. "Eu aposto tudo que eu tenho que essa informação está abaixo dos níveis reais", destaca. O lamento pela discrepância é ainda maior em função da proximidade com a faixa seguinte do FPM. Quando Imbé alcançar 23 mil habitantes, passará a receber R$ 4,8 milhões a mais do governo federal - ou seja, se fossem registrados mais 691 habitantes, a prefeitura teria recurso extra para investir.
Mesmo sem a verba extra, a prefeitura comemora o aumento de 20% na receita no último ano, que tem sido usada em melhorias em áreas como tratamento de esgoto, limpeza e segurança pública. "Estamos em dia com tudo e financeiramente equilibrados, o que tem chamado atenção especialmente dos aposentados, que vêm em busca de uma vida mais tranquila", afirma.