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Geral

- Publicada em 22 de Agosto de 2018 às 23:08

Estudante se torna a primeira indígena a concluir o curso de Odontologia da Ufrgs

'Não vamos parar por aqui', garante Jessica Kaingang

'Não vamos parar por aqui', garante Jessica Kaingang


MARIANA CARLESSO/JC
Suzy Scarton
A estudante de 24 anos Jessica Kaingang se tornará, hoje, uma dentista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Além da conquista pessoal, a graduação representa, também, uma vitória histórica: ela será a primeira indígena a colar grau no curso de Odontologia da instituição.
A estudante de 24 anos Jessica Kaingang se tornará, hoje, uma dentista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Além da conquista pessoal, a graduação representa, também, uma vitória histórica: ela será a primeira indígena a colar grau no curso de Odontologia da instituição.
Jessica, que morava na periferia de São Paulo, se mudou para Porto Alegre em 2012. Ingressou na Ufrgs pelo Processo Seletivo Especial (PSE) Indígena, uma das medidas do programa de Ações Afirmativas da universidade que garante auxílios aos ingressantes, como vaga na Casa do Estudante. 
A adaptação na Capital não foi fácil. "No começo, foi um choque. Venho de um coletivo e, quando tu entras na universidade, principalmente em um curso tão elitizado, tu vês aquela competição e pessoas muito individualistas. Foi muito difícil", lembra. Com o apoio do coletivo indígena, dos amigos e da família, Jessica conseguiu superar as adversidades. Dentro da universidade, a estudante também sofreu preconceito. "Ouvi piadinhas, disseram que eu estava tirando a vaga de alguém. Também falaram que eu deveria estar de tanga, com vestuário indígena, o que só mostra o desconhecimento das pessoas", relata.
A jovem optou pela Odontologia porque é uma das especialidades mais requisitadas nas comunidades indígenas, onde ela planeja exercer a profissão. Em seu trabalho de conclusão de curso, abordou a interculturalidade na saúde indígena. "Trago essa questão da interculturalidade na universidade também. É algo que não existe. Nunca tive uma cadeira que pautasse a saúde indígena. Os colegas pensam que indígena é a pessoa que mora na Amazônia, isolada. Tentamos mostrar para a universidade que também temos algo a contribuir", argumenta.
As cotas para negros, indígenas e estudantes de baixa renda são garantidas pela Lei nº 12.711, de 2012. Já o PSE garante a criação de dez vagas anuais, em dez cursos, para povos originários. "É um tema sobre o qual estamos falando há muito tempo. São só dez vagas anuais, é muito pouco", lamenta Jessica. Para suprir os custos com materiais, contou com o apoio financeiro da Bolsa Permanência, de R$ 900,00 mensais, e também com o valor que recebia da bolsa de extensão.
Desde a criação do Processo Seletivo Especial Indígena, em 2008, 104 pessoas ingressaram em 29 cursos. Atualmente, 65 seguem vinculados. Jessica será apenas a oitava indígena a concluir um curso de graduação na Ufrgs. Ainda em 2018, estão previstas as formaturas de Silvana Claudino, no curso de Serviço Social, e de Mauro Vergueiro, na Medicina.
"Estarmos aqui inspira outras pessoas a procurarem o Ensino Superior. Nossa presença tem de afetar de alguma maneira. (Ser a primeira indígena a se formar em Odontologia) é uma coisa inédita, um fato grandioso. É fruto de muita luta, uma determinação dos povos originários. Estamos mudando as estruturas de poder do País, com médicos, dentistas, professores indígenas, e não vamos parar por aqui", garante Jessica.
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