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- Publicada em 06 de Julho de 2018 às 20:33

Nova vacina experimental contra HIV tem resultados promissores

Um regime experimental de vacinação contra o HIV, o vírus causador da Aids, teve resultados promissores em testes com humanos e macacos, abrindo caminho para um ensaio clínico mais amplo que pode ajudar a dar fim à epidemia da doença, meta traçada para 2030 pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Relatada em artigo publicado nesta sexta-feira no periódico "The Lancet", a experiência teve como peça central uma chamada vacina "mosaico", que pega pedaços de diferentes linhagens do HIV para despertar uma resposta imunológica contra uma variedade maior de "tipos" do vírus, mas também envolveu outros imunizantes e substâncias conhecidas como adjuvantes na busca por um esquema vacinal que indique quanto, quais, como e quando administrar esses compostos de forma a conferir proteção contra a infecção pelo vírus em caso de exposição.
Um regime experimental de vacinação contra o HIV, o vírus causador da Aids, teve resultados promissores em testes com humanos e macacos, abrindo caminho para um ensaio clínico mais amplo que pode ajudar a dar fim à epidemia da doença, meta traçada para 2030 pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Relatada em artigo publicado nesta sexta-feira no periódico "The Lancet", a experiência teve como peça central uma chamada vacina "mosaico", que pega pedaços de diferentes linhagens do HIV para despertar uma resposta imunológica contra uma variedade maior de "tipos" do vírus, mas também envolveu outros imunizantes e substâncias conhecidas como adjuvantes na busca por um esquema vacinal que indique quanto, quais, como e quando administrar esses compostos de forma a conferir proteção contra a infecção pelo vírus em caso de exposição.
 
Segundo os pesquisadores liderados por Dan Barouch, diretor do Centro de Virologia e Pesquisas de Vacinas do Centro Médico Beth Israel Deaconess e professor da Escola de Medicina de Harvard, ambos nos EUA, tanto as vacinas usadas no experimento quanto as substâncias adjuvantes foram bem toleradas e geraram uma robusta reação imunológica nos voluntários e nos macacos, com a maioria dos animais também ficando protegida da infecção por um vírus similar ao HIV quando deliberadamente "desafiados" a combatê-lo. Diante disso, eles já iniciaram ensaios clínicos para investigar a segurança e eficácia da estratégia imunizante, na chamada fase 2b deste tipo de experiência, com 2,6 mil mulheres sob risco de contrair o HIV de cinco países no Sul da África.
 
Esta é apenas a quinta experiência vacinal contra o vírus da Aids que chega a testes de eficácia em humanos nos mais de 35 anos de pesquisas desde o início da epidemia global da doença, que até 2016, segundo o Unaids, já atingiu 76,1 milhões de pessoas, matando 35 milhões delas. As candidatas prévias, no entanto, ficaram limitadas a algumas regiões do mundo e linhagens do vírus. Além disso, dos quatro regimes que anteriormente passaram por ensaios com humanos, só um, designado RV 144 e testado na Tailândia, se mostrou capaz de bloquear a infecção pelo HIV. Sua taxa de redução da contaminação pelo vírus de apenas 31%, porém, foi considerada muito baixa para ampla aplicação.
 
Já o novo esquema é baseado em uma vacina "mosaico" batizada Ad26.Mos.HIV, ou simplesmente Ad26, desenvolvida pelo laboratório Janssen com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates e do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH). Criada a partir de diferentes linhagens do HIV, ela contém os antígenos - substâncias que ao entrarem no organismo são dadas como "estranhas" e provocam reação do sistema imunológico - Env, Gag e Pol "apresentados" às células de defesa do corpo por um vírus derivado do que causa o resfriado comum, mas alterado para não se replicar justamente para não correr o risco de provocar a doença, conhecido como adenovírus 26. Além disso, o experimento buscou solucionar problemas de comparação dos ensaios pré-clínicos e clínicos das vacinas usadas, que usam tecnologias e abordagens diversas.
 
Para tanto, os pesquisadores recrutaram 393 adultos saudáveis com idades de 18 a 50 anos em clínicas no Leste da África, África do Sul, Tailândia e EUA entre fevereiro e outubro de 2015. Os voluntários foram então divididos aleatoriamente em grupos que receberam ou uma de sete combinações de vacinas e adjuvantes, ou apenas uma solução salina, formando um grupo de controle, num total de quatro injeções ao longo de 48 semanas.
 
Para estimular, ou "iniciar", a reação imunológica, cada participante - com exceção os do grupo de controle - recebeu uma injeção intramuscular da Ad26 no começo do estudo e novamente 12 semanas depois. Já para "reforçar" essa resposta do imunológica, os voluntários receberam mais duas vacinações 24 e 48 semanas após a inicial, que incluíram várias combinações da Ad26 e diferentes imunizantes desenvolvidos com uma abordagem chamada Vaccinia Ankara Modificada (MVA, na sigla em inglês), tudo com ou sem duas também diferentes doses da proteína gp140 do envelope proteico do HIV, a "capa" externa do vírus, como adjuvante.
 
Os resultados do experimento mostraram que todos regimes testados foram capazes de gerar uma resposta imunológica contra o HIV nos voluntários com taxas similares de reações adversas nos diferentes grupos. Estes efeitos colaterais foram de leves a moderados, com apenas cinco dos participantes relatando reações de grau 3, como dores abdominais e diarreia, tonturas e dores nas costas.
 
Paralelamente, os cientistas também avaliaram a eficácia protetora dos diferentes esquemas baseados na vacina "mosaico" em 72 macacos rhesus repetidamente "desafiados" com o vírus da imunodeficiência símio-humana (SHIV), similar ao HIV. Nestes testes, o regime vacinal Ad26 mais Ad26 com reforço da gp140, que apresentou a mais forte resposta imunológica nos voluntários humanos, se mostrou capaz de impedir a infecção pelo SHIV em cerca de dois terços dos animais após seis tentativas de contaminação.
 
- Estes resultados representam um marco importante - considerou Barouch. - Este estudo demonstra que o mosaico induziu uma robusta resposta imunológica em humanos e macacos, promovendo ainda uma proteção de 67% contra o vírus nos macacos.
 
Mas estes resultados também devem ser interpretados com cautela, acrescentou:
 
- Os desafios no desenvolvimento de uma vacina para o HIV são sem precedentes, e a capacidade de induzir respostas imunológicas não indica necessariamente que a vacina vai proteger humanos da infecção pelo HIV. Esperamos com ansiedade os resultados do ensaio de eficácia de fase 2b, "Imbokodo" ("rocha" em zulu), que vai determinar se esta vacina vai proteger humanos contra o HIV ou não.
 
Em comentário que acompanha o artigo no "Lancet", George Pavlakis e Barbara Felber, pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos EUA, também ressaltam que mais estudos são necessários para confirmar se a reação imune aos diferentes esquemas vacinais também vai dar proteção contra a infecção pelo HIV em humanos, e numa eficácia superior à observada no RV144. Diante disso, eles destacam a necessidade de continuidade não só dessas pesquisas como dos estudos para o desenvolvimento de outras vacinas atualmente em diferentes estágios.
 
"Novos conceitos de vacina e vetores (como o adenovírus usado neste experimento) estão em desenvolvimento e podem progredir para os ensaios de eficácia, o que é um processo muito importante já que o desenvolvimento de uma vacina contra a Aids ainda é urgente", escreveram. "Apesar dos avanços sem precedentes no tratamento e profilaxia do HIV, o número de pessoas vivendo com a infecção continua a subir em todo mundo. A implementação de mesmo uma moderadamente eficaz vacina contra o HIV junto com as atuais estratégias de prevenção e tratamento pode contribuir enormemente para a evolução da resposta ao problema do HIV/Aids", acrescentaram.
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