Com a imprevisibilidade acerca das aulas presenciais, pais e mães recorreram a profissionais particulares como uma alternativa no último ano

Pandemia impulsiona iniciativas no mercado de aulas de reforço


Com a imprevisibilidade acerca das aulas presenciais, pais e mães recorreram a profissionais particulares como uma alternativa no último ano

A pandemia impactou diretamente na rotina de estudantes de diversas idades. Os que estão no início de sua trajetória escolar encontraram, além das dificuldades já conhecidas desse momento, os desafios de dar o primeiro passo na alfabetização em meio à instabilidade das aulas presenciais e o ensino mediado por telas. Foi justamente por perceber as dificuldades desses alunos que a jornalista Carla Santos, 49 anos, iniciou seu projeto de de aulas particulares para estudantes de séries iniciais focadas em auxiliar nesse processo de alfabetização. 
A pandemia impactou diretamente na rotina de estudantes de diversas idades. Os que estão no início de sua trajetória escolar encontraram, além das dificuldades já conhecidas desse momento, os desafios de dar o primeiro passo na alfabetização em meio à instabilidade das aulas presenciais e o ensino mediado por telas. Foi justamente por perceber as dificuldades desses alunos que a jornalista Carla Santos, 49 anos, iniciou seu projeto de de aulas particulares para estudantes de séries iniciais focadas em auxiliar nesse processo de alfabetização. 
Apesar da sua formação no magistério, Carla deixou a profissão de lado para atuar na sua outra área de formação: o Jornalismo. "Antes de ser jornalista, sou professora. Me formei no magistério no interior, fiz alguns cursos, vim para Porto Alegre para seguir na carreira e acabei indo para o jornalista", conta Carla que ainda atua como assessora de imprensa. Foi durante a pandemia, percebendo as dificuldades que as crianças estavam passando com as aulas online, que a jornalista se reconectou com a sua primeira formação. Auxiliando filhos de amigos que estavam sentindo os impactos desse novo modelo de ensino, ela percebeu que existia uma demanda de mercado e decidiu incrementar sua formação com especializações em neurociência e alfabetização. Assim, deu início, em 2021, ao seu novo projeto.
"Montei no meu apartamento uma sala de aula e atendo um aluno por vez com todos os cuidados. Coloquei na entrada do apartamento dispenser com álcool em gel, tapete sanitizante. A sala é higienizada cada vez que um aluno sai", explica Carla que atua em duas frentes: aulas de alfabetização para crianças que já passaram do primeiro ano e acompanhamento nos temas de casa. "Muitos pais estão procurando aulas particulares porque não conseguem acompanhar nos temas, então esse é um serviço que eu presto. Mas minha maior demanda é alfabetização de crianças que já passaram do primeiro ano e não sabem ler", conta. 
As aulas, que duram cerca de uma hora, custam R$ 80,00 e podem ser agendadas pelo WhatsApp (51) 98442-7727. Segundo Carla, o processo é totalmente personalizado de acordo com as necessidades de cada criança. "Faço um diagnóstico de cada aluno que chega, vejo as demandas que aquela criança tem, e, dentro dessas dificuldades, crio um planejamento de médio ou curto prazo. Ajudo no momento de dificuldade, a criança se alfabetiza e segue a vida dela", explica sobre o funcionamento das aulas. Carla acredita que esse contato de forma presencial é fundamental no processo de alfabetização. Por essa razão, as aulas são somente nesse formato e não de forma online. "A alfabetização precisa ter uma pessoa ao lado, construindo aquele conhecimento. A alfabetização não é natural. Não é como aprender a caminhar, comer sozinho. Ler e escrever é um processo que tem que ser ensinado, e a distancia acho que causa um prejuízo no aprendizado da criança", acredita. 
Mesmo atuando ainda como jornalista, Carla revela que encontrou uma realização profissional muito grande na área da educação, e deve apostar cada vez mais nesse segmento. "As crianças te ensinam, tem uma visão diferente, é apaixonante. Quando se alfabetiza uma criança, está ajudando a mudar o destino dela", orgulha-se. 
Para Carla, o mercado das aulas particulares e de reforço escolar deve continuar aquecido mesmo com a volta das escolas de forma presencial. "Tem crianças que têm mais dificuldade na alfabetização e outras que não fazem os temas sozinhas. Tem uma demanda bem grande, é um mercado que pede por profissionais, acho que investi na hora certa", comemora. Como dica para os pais que desejam melhorar o processo de alfabetização dos filhos, Carla indica introduzir o hábito da leitura desde cedo, para que a criança crie familiaridade com os sons e formas das letras. "É muito importante que os pais leiam histórias para os filhos. E não é com quatro anos. Começa com um, dois meses de idade. Isso ajuda na alfabetização, sem contar que é um momento muito bom em família, de criar vínculos, e de começar a investir na alfabetização desse bebê", sugere. 

Professora cria mentoria para famílias auxiliarem estudantes

As aulas extras sempre fizeram parte da rotina pós-expediente escolar da professora Angela Denise Eich, 46 anos, mestre em Física. A pandemia do coronavírus, no entanto, trouxe uma mudança nas necessidades dos alunos e, principalmente, dos responsáveis.
"Nas últimas duas décadas, percebia que a procura por aulas de reforço, muitas vezes, dava-se no segundo semestre, pois batia o desespero perante a aprovação ou não. Com a pandemia, a procura pelas aulas já vem acontecendo no primeiro semestre e, com ela, veio uma nova modalidade de ofertar meu trabalho: mentoria às famílias", relata Angela.
Segundo a professora, o serviço foi criado pois "nem todos estão dando conta do home office e do suporte aos filhos nos estudos". A mentoria funciona da seguinte maneira: a família a contrata para auxiliar nas atividades escolares e na organização da rotina.
"Muitos pais encontram dificuldades em ajustar o ritmo e ter a didática necessária para explicar o conteúdo. Sendo assim, a mentoria envolve suporte às famílias quanto a temas, trabalhos e tarefas escolares, bem como aulas de reforço e revisão de conteúdo", detalha a profissional. Angela ministra aulas de Física e Matemática de maneira virtual ou presencial. Atualmente, ela mora na cidade de Tuparendi, portanto a segunda opção é para quem também vive na região.
Os encontros, agendados pelo WhatsApp (51) 99994-9608, são de 60 minutos e o aluno recebe o resumo do conteúdo, listagem de exercícios com gabarito e suporte. O valor da hora individual é de R$ 110,00, enquanto o pacote com quatro aulas totaliza R$ 400,00.
Com a reabertura das escolas, Angela acredita que a demanda de trabalho aumentará. "Pais e alunos perceberão a carência cognitiva e falhas no processo de ensino-aprendizagem que podem ter ocorrido durante o ensino remoto", justifica.
 

Tecnologia como ferramenta para manter o vínculo e a interação com os alunos

A trajetória de Fátima Rodrigues, 38 anos, na educação sempre esteve relacionada com a tecnologia. Por isso, quando a pandemia chegou e as aulas passaram a ser online, a professora pôde contar com recursos já conhecidos para manter a relação próxima e interativa com as crianças. Com a necessidade de compartilhar essas estratégias, ela ministrou um curso para outros educadores sobre atividades lúdicas para tornar o momento de aprendizagem a distância mais alegre e eficiente.
Quando tinha 18 anos, Fátima iniciou no Colégio Vicentino Santa Cecília, em Porto Alegre, como monitora de informática. Foi a partir dessa experiência que nasceu o desejo de cursar pedagogia. Em 2020, a professora estava no início de uma nova jornada profissional no Colégio Marista Assunção quando as aulas presenciais foram interrompidas em razão da pandemia. Naquele momento, ela já conciliava a atividade na escola com aulas de reforço, também presenciais, e foi preciso encontrar alternativas. “Moro com meu pai, que é idoso, e vi que não poderia ter esse risco de entrar e sair de casas diferentes. Foi aí que uma mãe me sugeriu dar aula online. Comecei com uma menina de educação infantil, de cinco anos, totalmente online”, conta Fátima, que teve nove alunos no formato ao longo do último ano.
Ela considera que a experiência foi positiva graças ao uso da tecnologia como recurso pedagógico. “Foi uma experiência muito boa e penso que vamos levar por muito tempo na nossa vida ainda. Nós temos um alcance muito grande de estudantes que podemos atender remotamente. Tive aluno até em São Paulo”, pontua a professora, que faz a ressalva sobre a importância também dos espaços físicos. “Não vamos tirar o mérito de estar dentro de sala de aula, que é muito melhor, mas é possível fazer aulas online, principalmente particulares. A minha experiência foi de resultados muito positivos. Crianças que continuam comigo mais seguras, confiantes. Penso que essa modalidade veio para ficar e podemos utilizar a nosso favor”, acredita.
A boa desenvoltura no formato fez Fátima e outras duas amigas também pedagogas criarem um curso voltado para outros profissionais da educação que ensinava recursos de interatividade. Foram cinco turmas em 2020, que reuniam, em cada uma, cerca de 15 participantes. “Muitos professores estavam precisando de auxílio para reinventar as suas aulas. Elaboramos um curso de jogos e atividades lúdicas no Power Point, porque é um recurso que quase todas as pessoas têm acesso”, explica, revelando que os encontros também foram importantes para a troca de experiências em um momento tão adverso. “Foi uma experiência muito boa, conhecemos pessoas da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro. Conseguimos fazer muitas trocas de conhecimento, de desabafos, de como estava sendo difícil ter ideias novas para facilitar e levar ludicidade para os nossos alunos, que também não estavam num momento fácil”, expõe Fátima. Apesar do sucesso, o trio não seguiu com o projeto neste ano, já que, considera Fátima, os professores se apropriaram mais dessas ferramentas, de modo que não existiria tanta demanda.
Mesmo com a volta das aulas presenciais, Fátima segue apostando nas aulas de reforço online, que custam a partir de R$ 65,00 por hora. O contato para mais informações pode ser feito via WhatsApp pelo número (51) 99106-2642. Para ela, uma das grandes vantagens é evitar o deslocamento, podendo conciliar as atividades extras com a rotina em sala de aula que, neste momento, está em modelo híbrido. 
“Voltar e poder ver crianças que eu não conhecia pessoalmente foi muito emocionante. É um misto de preocupação diária pela segurança de todos, mas de alegria de poder estar com eles, sorrir pelo menos com olhos. No primeiro dia, tive um relato de um menino que me disse: ‘Prof., hoje é o dia mais feliz de toda a minha vida’, porque ele estava dentro de sala de aula”, emociona-se Fátima, que fica orgulhosa da resiliência das crianças no enfrentamento da pandemia. “Nós batemos palmas para os heróis que são os profissionais da saúde, mas também temos que aplaudir as crianças e estudantes, porque eles foram verdadeiros heróis. Segurar uma criança na frente de um computador, tendo uma qualidade mental e física, é muito difícil. Deixar de ir em uma pracinha, brincar com seus amigos, ver só a família. Para mim as crianças foram e são ainda heróis nesse sentido, porque eles aguentaram muito tempo”, considera Fátima.