Empreendedores brasileiros sediados em diferentes países relatam a experiência de estar à frente de um negócio na pandemia

Lições de empreender no exterior em meio à retomada


Empreendedores brasileiros sediados em diferentes países relatam a experiência de estar à frente de um negócio na pandemia

A vontade de empreender sempre esteve presente para Claudia de Diego. Ela, junto com as sócias, Carolina de Diego, sua irmã, e Sabrina da Mata, uma amiga em comum das duas, administra a Padoca Bakery, uma padaria brasileira sediada em Londres. “Eu moro aqui desde 2006, a Carol desde 2007, e a Sabrina chegou em 2010. Nós trabalhávamos na mesma empresa, mas em setores diferentes, no entanto a formiguinha do empreendedorismo já estava com a gente. Depois de uma viagem para o Japão da Carol e da Sabrina, elas voltaram com uma ideia de negócio e me convidaram para fazer parte do projeto”, relembra Claudia.
A vontade de empreender sempre esteve presente para Claudia de Diego. Ela, junto com as sócias, Carolina de Diego, sua irmã, e Sabrina da Mata, uma amiga em comum das duas, administra a Padoca Bakery, uma padaria brasileira sediada em Londres. “Eu moro aqui desde 2006, a Carol desde 2007, e a Sabrina chegou em 2010. Nós trabalhávamos na mesma empresa, mas em setores diferentes, no entanto a formiguinha do empreendedorismo já estava com a gente. Depois de uma viagem para o Japão da Carol e da Sabrina, elas voltaram com uma ideia de negócio e me convidaram para fazer parte do projeto”, relembra Claudia.
O planejamento da padaria começou em julho de 2019, e de acordo com Claudia, o plano era abrir em novembro ou dezembro do mesmo ano, porém as regras em Londres para alugar um espaço são diferentes do Brasil, o que torna o processo na capital da Inglaterra mais burocrático. "Nós tínhamos o molde de negociação no Brasil. Lá a pessoa escolhe um local para alugar, trata direto com o proprietário do imovel e a transação está feita. Aqui, os trâmites são feitos por advogados das duas partes interessadas. Nós tivemos sorte com o nosso negócio pois os trâmites ocorreram em três meses, mas já soube de conhecidos que já levaram um ano para acertar”. Outro diferencial da cidade é que lá os acordos firmados duram 10 anos.
As empreendedoras pegaram a chave em março, quando começou a pandemia, então a abertura oficial da Padoca Bakery veio depois do primeiro Lockdown em Londres, em Junho de 2020. “Algumas restrições caíram, o que chamamos de “lifting” aqui. Quando abrimos, tivemos uma surpresa positiva. Acabou superando nossas expectativas com o negócio em mais ou menos 30%. Aí veio o segundo lockdown, que diferente do primeiro, não podíamos receber clientes na loja. Nos adaptamos, diminuímos o cardápio e apostamos no e-commerce. Nossas vendas nos mantiveram até o terceiro lockdown, onde novamente nos adaptamos, mudamos nosso menu, mas principalmente escutamos nossos clientes”, conta Claudia. Uma das opções criadas pelo trio era o kit de aniversário para 6 pessoas, número máximo permitido pelas restrições do coronavírus.
Agora, Claudia, Carolina e Sabrina se preparam para abrir novamente as portas ao público. Com o avanço da vacina no Reino Unido, e o número de casos e mortes diminuindo, o governo britânico está fazendo uma abertura gradual, e bares, pubs e padarias, como a Padoca, estão programados para abrir em maio.
Para Claudia, uma das coisas mais importantes foi escutar sua clientela e observar bastante antes de dar algum passo. “É preciso se reinventar, perceber o que se pode fazer no momento e o que o governo me deixa fazer, então a partir dali traçar novos caminhos se necessário. Não precisamos ter medo, e sim partir pra cima”, sintetiza.

Cabeleleira celebra apoio do governo londrino

A avaliação da hairstylist Fernanda Nabuco, 38 anos, é de que a pandemia do novo coronavírus não lhe trouxe grandes impactos. Natural de São José do Rio Preto, em São Paulo, ela vive em Londres há 15 anos, mas foi em 2009 que abriu o atelier de hairdressing que leva seu nome. Segundo a empreendedora, não apenas o tempo de operação e clientes fiéis garantiram a estabilidade em tempos de crise. Ela cita vários fatores, entre eles, a atuação governamental e uma visão futurista em relação ao seu modelo de negócio.
A visão futurista, a qual ela se refere, surgiu com a experiência. Antes do próprio salão, Fernanda atuou como cabeleireira móvel, indo até a casa das clientes. Depois, passou a alugar espaço em um salão da capital inglesa prática que é comum por lá. A relação com as clientes antes de buscar seu próprio imóvel esteve sempre alicerçada em um atendimento de proximidade e exclusividade, que foi levado para o atelier desde a inauguração. "Eu brinco que sai à frente por ser futurista, porque o nosso atendimento sempre foi muito artesanal e intimista. Somos três profissionais e cada uma recebe apenas uma cliente por vez, com horário marcado, em um espaço amplo. Então, já existia o distanciamento físico no salão. O que mudou mesmo foi a obrigatoriedade do uso de máscaras e álcool gel, a medição de temperatura na chegada e a higienização com os produtos específicos", explica.
No entanto, mesmo observando cuidados, a operação nem sempre foi possível - a Inglaterra enfrentou uma série de períodos de lockdown, inviabilizando completamente o funcionamento de atividades consideradas não essenciais. Nestes períodos, a atuação do governo, liderado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, com fornecimento de suporte aos empresários e trabalhadores, foi fundamental. "O governo aqui é muito organizado. A partir do momento que o lockdown é decretado, que tudo fecha, ele se responsabiliza. O aluguel comercial é extremamente caro, então, se não houvesse um incentivo para que os pequenos empreendedores pudessem manter essa despesa em dia, provavelmente, a gente não conseguiria retornar. E não só as empresas foram apoiadas, os funcionários também. O governo pagou 80% do salário base", conta.
Atualmente, Londres experimenta um momento que é esperado por muitos. Desde o dia 12 de abril, uma nova fase de relaxamento das restrições teve início. "As coisas já estão no clima da 'volta ao normal'", comemora.

Subsídio do governo foi essencial para os empreendedores brasileiros na Austrália

Mesmo estando no outro lado do mundo, foi em um ingrediente tipicamente brasileiro que Bruno Homero e Renata Santoniero encontraram a inspiração para empreender na Austrália. Desde 2019, a dupla comanda a Taoca, marca que se propõe a levar a tapioca para Sidney.
Bruno conta que, antes da pandemia, o negócio estava ainda nos seus primeiros passos. Naquele momento, o foco inicial era consolidar o produto em feiras com foco em produtos veganos e vegetarianos. “Nossa estratégia foi começar a fazer feiras no Sydney Vegan Market, que é uma feira enorme que acontece uma vez por mês e é frequentado por 10 mil pessoas. Fizemos nosso primeiro market e foi um sucesso, vendemos tudo e o feedback foi incrível. Ficamos superfelizes e decidimos seguir na ideia mantendo nossos trabalhos, eu como engenheiro e a Renata como arquiteta”, lembra.
Com a chegada da Covid-19 no país, os empreendedores tiveram de adaptar o produto. O foco que antes era de comercializar as tapiocas já preparadas, passou a ser no produto para preparo em casa. “Em março de 2020, estávamos com tudo preparado para o market de domingo, e, no sábado, a Austrália entrou em lockdown. Todo mundo em casa, restaurantes e comércio fechados, praias e parques fechados, apenas mercados, farmácias e lojas de delivery ou take-away abertas. Optamos, então, por desenvolver um produto que pudéssemos entregar na casa das pessoas. Começamos a vender a tapioca hidratada em embalagens de 500g. O público-alvo passou a ser a comunidade brasileira que já conhece tapioca e tem o hábito de fazer em casa. Nos sentimos abraçados pela comunidade, amigos e grupos de Facebook, que deram um apoio enorme, e conseguimos manter a marca viva”, comemora Bruno, salientando que não foi somente o apoio dos brasileiros residentes no país que fez o negócio ganhar fôlego no período mais restritivo da pandemia.
Segundo ele, o governo australiano prestou auxílio aos empreendedores para que os negócios continuassem vivos, a fim de garantir a manutenção dos empregos. “O governo australiano foi incrível. Como a economia estava parando com tudo fechado, o governo criou um plano chamado job-keeper, que distribuía AU$3,000 / mês por funcionário para qualquer negócio que tivesse decaído 30% das vendas desde que a empresa não demitisse esse funcionário. A Taoca recebeu esse benefício por meses e isso manteve o fluxo de caixa positivo enquanto os markets não voltavam. Penso que sem esse apoio talvez o business não tivesse sobrevivido”, acredita Bruno.
O apoio do governo, aliás, fez parte da construção da Taoca. Ainda em fase de elaboração, a dupla recebeu uma mentoria para estruturar e lapidar o negócio. “O governo australiano subsidia quatro sessões de coaching para empreendedores que gostariam de abrir uma empresa. O sonho inicial era criar uma rede de tapioca e café para franquear no futuro. A coach a testar o produto nos markets de rua, pois assim teríamos um custo mais baixo para descobrir como o paladar australiano receberia a nossa famosa tapioca”, relata Bruno, que considera um desafio inserir um produto tão típico do Brasil na rotina dos australianos. “O desafio é educar os estrangeiros sobre o que é o nosso produto. Precisamos mostrar que fazer tapioca em casa é fácil e divertido", pondera.
Hoje, a vida no país se aproxima da normalidade. Desde o início da pandemia, a Austrália registrou 29 mil casos e 910 mortes por coronavírus. Cerca de 2 milhões de pessoas já foram vacinadas no país, que tem uma população estimada em 25 milhões. Esses números refletem na vida de quem mora por lá. “Tudo funciona aqui dentro: boates, bares, restaurantes e até eventos esportivos sem limite de pessoas. Contudo, as fronteiras seguem fechadas para visitantes estrangeiros. Como residente ou cidadão, não podemos sair do país sem uma autorização do governo, que só é dada em casos especiais, e para retornar precisamos ficar de quarentena por 15 dias em um hotel pagos por nós. Se tem algum caso novo de Covid, o lockdown vem no mesmo dia para o bairro onde teve esse caso, e a partir daí a situação se controla rapidamente”, relata Bruno, que lamenta a situação dos empreendedores brasileiros na pandemia. “Fico triste de acompanhar o cenário no Brasil, principalmente pelo que tem acontecido durante a pandemia. A sensação que tenho é que, aqui, o governo se coloca junto da população e governa para os australianos. Quando olho para o que vem acontecendo no Brasil, penso que o governo governa para si e os brasileiros acabam ficando em segundo plano. Empreender aqui é ótimo, pois você se sente cidadão, o apoio aparece quando você mais precisa”, afirma.

Delivery no DNA e um manifesto auxiliaram loja em Nova Iorque

No início da pandemia do coronavírus, pouco se sabia, de fato, do que se tratava o novo normal, que era pauta de diversas discussões naquele momento. Entre as mudanças que provocavam o assunto, aparecia a transformação nos hábitos de consumo. Lojas físicas estavam vazias e os deliveries mais demandados do que nunca. Foi assim no mundo inteiro, inclusive em Nova Iorque, na Petisco Brazuca, empresa de comidas típicas do Brasil que tem a coxinha como carro-chefe.
Mas enquanto alguns corriam para acompanhar a nova realidade, o publicitário Ricardo Rosa e a sua esposa e sócia, a administradora Vanessa Pedreira, ambos de 32 anos, já haviam largado na frente. Isso porque, em 2013, quando a Petisco foi criada, havia um ponto fora da curva tradicional à época: a aposta nos aplicativos de delivery, que começavam a se fortalecer. “Nós lançamos o primeiro app de delivery de petiscos brasileiros do mundo e, nos três primeiros meses, tivemos mais de 10 mil downloads e fomos destaque na imprensa. Acabamos trabalhando muito e desenvolvendo uma expertise que foi essencial durante a pandemia”, explica Ricardo.
Além disso, outros dois canais também alicerçaram a empresa, as feiras de rua, que nos EUA são grandes eventos, e os food courts, espécies de praças de alimentação com restaurantes de vários tipos. Foram nestes canais de venda que houve o maior impacto. As restrições, lembra Ricardo, tiveram início em fevereiro de 2020, quando a empresa já tinha vários contratos  fechados para o futuro. Grandes eventos foram proibidos e era deles que a Petisco esperava 50% do faturamento do ano. Prevendo um agravamento ainda maior da situação, a saída encontrada pelo casal foi um manifesto, enviado aos clientes fiéis, alertando sobre as dificuldades e a importância do apoio deles para a sobrevivência do negócio. 
A iniciativa deu certo e outras ações foram adotadas, como a readaptação dos produtos vendidos. As grandes encomendas, com quantidades consideráveis de petiscos entregues de uma vez, deram espaço a pacotes com produtos que poderiam ser consumidos de acordo com a demanda do cliente ao longo do tempo. “Assim, nós conseguimos manter o faturamento acima de 50% durante a pandemia”, revela. Atualmente, com a vacinação avançada, é possível vislumbrar a retomada. “Notamos a retomada de eventos, com um aumento de, em média, 50% do nosso ticket médio.