Uma das áreas mais afetadas da pandemia contou com mulheres empreendedoras que, de diferentes formas, batalham para manter o aprendizado de crianças e adolescentes

Mulheres que comandam escolas são exemplo de superação neste dia 8 de março


Uma das áreas mais afetadas da pandemia contou com mulheres empreendedoras que, de diferentes formas, batalham para manter o aprendizado de crianças e adolescentes

Simone Daros Ribeiro, 54 anos, professora de matemática e uma das donas do Universitário, resume o sentimento de empreender no ramo da Educação em meio à pandemia: "tem que ser guerreira". Após investir na compra de um colégio de Ensino Fundamental e Médio com mais de 104 anos que abrigou outras escolas em Porto Alegre, na avenida Teresópolis, nº 2.805, ao lado do presídio feminino, ela precisou de forças para acalmar pais, equipe e estudantes.
Simone Daros Ribeiro, 54 anos, professora de matemática e uma das donas do Universitário, resume o sentimento de empreender no ramo da Educação em meio à pandemia: "tem que ser guerreira". Após investir na compra de um colégio de Ensino Fundamental e Médio com mais de 104 anos que abrigou outras escolas em Porto Alegre, na avenida Teresópolis, nº 2.805, ao lado do presídio feminino, ela precisou de forças para acalmar pais, equipe e estudantes.
"De casa, sentada no meu sofá, ligava para os alunos que estavam estressados, com depressão. Ficava uma hora falando com eles. Isso é essencial, esse envolvimento. O colégio precisa ser um local agradável", interpreta.
O local, no entanto, agora, está vazio. As lições migraram para o online, praticamente, de um dia para o outro em 2020 no Universitário. Mesmo assim, Simone segue indo à unidade, mas encontra silêncio - algo tão incomum para um ambiente de aprendizado. A justificativa para seguir indo e acreditando está em ser uma mulher empreendedora, que, segundo ela, é mais organizada. "A mulher, quando acredita, vai fundo, lida com mais carinho, mais cuidado. Esse é o nosso diferencial."
E os números têm mostrado que essa característica é capaz de segurar um negócio também. Simone conta que não teve perda significativa de alunos e que a procura vem aumentando. Da equipe, teve de demitir cerca de 20% do quadro. Quem ficou, porém, demonstrou união e amor à Educação. "Todo mundo pegou junto. Se há o que posso tirar de bom da pandemia foi que o grupo trabalhou em prol da mesma causa."
A empreendedora orgulha-se, ainda, de ter conseguido alfabetizar crianças no novo formato - algo que seria impensável antes do coronavírus. "O mais preocupante para mim era o Ensino Fundamental 1. E não é que conseguimos alfabetizar eles no online? Sempre tendo atrás os pais", salienta. Simone é responsável por mais de 2 mil alunos, cursos pré-vestibulares, colégio, EJA. Pelas contas, por administrar a inadimplência e o medo: ela segue, como uma guerreira.

Cíntia trabalha para que a sala de aula continue viva no online

Estar à frente de um grupo educacional como o Monteiro Lobato, que possui Ensino Médio, EJA, faculdade, pós-graduação e grupo de extensão, é um trabalho que Cíntia Eizerik, 62 anos, realiza com muito gosto. "Me vejo como uma privilegiada, porque é nesse lugar que tu vais poder mudar a vida das pessoas", diz a educadora, que faz parte da segunda geração da família que lidera a marca.
O Monteiro Lobato abriu as suas portas em 1958, com Pinheiro e Berta Eizerik, os pais de Cíntia. No início, a escola era focada no EJA e, segundo Cíntia, o princípio do grupo educacional continua o mesmo desde sua criação: manter um espaço de diálogo onde os alunos e as alunas se sintam confortáveis em questionar e discordar, mas principalmente aprender. "É um espaço onde os alunos têm voz. Antes da pandemia, a minha porta estava sempre aberta, assim como a do Bruno Eizerik, que comanda a parte da faculdade. Agora, com a pandemia, nós transferimos as portas abertas presenciais para as virtuais. Os alunos têm o meu WhatsApp e, assim, o vínculo continua a crescer."
Com a pandemia, o Monteiro Lobato teve que passar para o digital, e Cíntia fica feliz de ver que a interação dos alunos com os professores segue acontecendo, mesmo que por telas.
"Uma coisa que temos que diferenciar é o EAD do Ensino Remoto. No EAD, geralmente, tem uma aula já gravada com pouca ou nenhuma interação com o professor. No Monteiro Lobato, nós temos o Ensino Remoto, onde as aulas são ao vivo, onde o professor conversa com os alunos. Nós da direção passamos nas salas online para dar o bom dia e saber como estão as aulas. Mesmo não sendo presencial, a nossa sala de aula segue vida", celebra a diretora.
No entanto, por conta da pandemia, muitos alunos optaram por sair da escola. Mesmo que o Monteiro Lobato tenha uma política diferente de pagamentos, na faculdade, por exemplo, o estudante pode parcelar um semestre em oito vezes, ao invés de seis, o grupo seguiu com o mesmo valor.
"O que mudou foi que a gente deixou de pagar a luz e água do prédio, mas investimos em cursos para nossos professores e outras tecnologias. Tivemos bastante sorte, pois a Flávia Eizerik, terceira geração da família, estava fazendo um mestrado em Inovação na Educação em Lisboa, com semestre sanduíche na Alemanha. Então, ela nos trouxe muitas informações que conseguimos colocar em prática na instituição", explica Cíntia.

Missão de Taiana é promover o acesso na escola pública

"Está sendo muito difícil, porque esse ano é o meu segundo à frente da escola. Assumi em 2020 e veio a pandemia", relata Taiana Marcelino Rosa, diretora da Escola Municipal de Ensino Infantil Gilda Schiavon, localizada na Rua Montenegro, n° 1037, bairro Rio Branco, em Canoas. Taiana, assim como outras diretoras de escolas públicas e particulares, está tendo que administrar uma instituição em tempos de incertezas. O caso dela é um exemplo de intraempreendedorismo, pois precisa administrar diversas engrenagens - e de forma limitada.
Segundo a diretora, lidar com os pais dos alunos é difícil, mas ela entende os questionamentos. "A gente tem todo um lado de entender que os pais precisam que a escola esteja aberta, para auxiliar no cuidado dos filhos, mas também tem o outro lado, que é a pandemia. Do cuidado com a vida e com a saúde de todos. Mas a nossa comunidade tem nos favorecido muito em relação às trocas e a aceitação desse trabalho remoto. Temos bastante abertura com os pais para conversar."
No início, Taiana diz que houve dificuldades no contato com as famílias, pois muitos trabalhavam e não tinham o tempo necessário para manter um relacionamento com os professores e com as atividades. Conforme foi passando o tempo, todos foram se adaptando.
Se os pais tiveram dificuldades no início, os professores e os alunos também. A equipe teve que se adaptar totalmente à forma remota, e muitos não dominavam a internet e os instrumentos digitais.
"Tivemos cursos, fizemos formações com quem sabia um pouco mais para auxiliar os outros e dentro do nosso grupo fomos se ajudando", diz Taiana. A verba destinada à escola não foi diminuída, e o local ainda recebeu uma verba auxiliar para estruturar a escola para o futuro retorno das aulas presenciais, que em Canoas está previsto para abril.
Na Gilda Schiavon, houve pouca evasão escolar, porém, segundo Taiana, alguns alunos não têm internet. "Para essas crianças que não tem, disponibilizamos material impresso, para que elas não deixassem de participar", explica a diretora. O objetivo é alinhar todo mundo para que o aprendizado aconteça.
"As crianças estão sentindo bastante o distanciamento social, está sendo difícil para elas, então nós temos que pensar em como vai ser o retorno para a escola", conta Taiana, que também pensa na volta dos professores, e como essas novas relações de ensino e convívio vão acontecer.
Taiana faz parte da primeira turma de diretoras de escolas de educação infantil que foi escolhida pelo voto dos pais na cidade de Canoas, uma reivindicação de mais de 20 anos, tanto de pais quanto dos sindicatos.
"Para mim, ser diretora é um desafio muito grande. Quando recebi a oportunidade, fiquei muito nervosa e ansiosa no início, pensando se eu daria conta ou não. Mas eu acredito que eu tenho essa destreza de estar à frente de uma escola, de um grupo, ainda mais nessa época de pandemia. Está sendo um momento muito importante na minha vida profissional", classifica, sem perder as esperanças sobre o futuro da educação.

Raquel preocupa-se em oferecer um espaço de saúde para os pequenos

"Ficou um sentimento de vitória". Assim Raquel Suertegaray, 42 anos, avalia os impactos da pandemia no seu negócio. A psicóloga comanda, há 10 anos, a Pirlimpimpim, escola privada de educação infantil de Porto Alegre. Frente aos desafios e incertezas que o abre e fecha das escolas trouxe, predomina, para a empreendedora, o orgulho de ter mantido integralmente sua equipe e a estrutura da escola para iniciar um novo ano letivo.
O espaço, que funciona na rua Professor Álvaro Alvim, n° 310, no bairro Rio Branco, nasceu da crença de Raquel na escola como um ambiente preventivo em relação às demandas emocionais das crianças. Com uma atuação prévia em consultório e abrigos de crianças e adolescentes, foi na educação infantil que ela encontrou o seu percurso como empreendedora. "A principal proposta da escola é oferecer um espaço de saúde, que possibilite um desenvolvimento integral, onde as crianças sejam acolhidas de forma afetiva, olhadas pela sua individualidade, sem colocar em uma forma. A ideia é justamente não perder de vista que as crianças são diferentes. Cada uma tem a sua individualidade, e isso precisa ser levado em conta", explica Raquel, sobre a proposta do negócio.
A pandemia trouxe, segundo Raquel, contrastes para a sua rotina na gestão. Ao passo que o momento desafiador tornou a equipe mais unida e coesa, as dificuldades da evasão de alunos e a falta de proximidade física tornaram os dias mais difíceis. "Senti um forte propósito da equipe de manter a escola de pé, me senti muito amparada. Mas, enquanto gestora, foi um ano de solidão. Decisões difíceis precisavam ser tomadas, tinha que se lidar com um desafio de manter a escola funcionando, uma necessidade permanente de reduzir custos todos os meses, porque a receita ia diminuindo. A cada mês, perdíamos mais alunos, e, ao mesmo tempo, se entendia as famílias, as dificuldades que estavam passando. Então, tive que lidar com afetos contraditórios, porque cada aluno que saía colocava a manutenção da escola e da equipe em cheque", pontua Raquel. Hoje, são 42 alunos matriculados, mas chegou a perder metade ao longo do último ano.
Para aproximar as crianças, as estratégias foram diversas, desde entrega do feijão que era servido nas refeições até kits pedagógicos. "Fizemos questão de que pessoas da equipe entregassem e que as crianças pudessem nos ver para ter essa troca. Durante a pandemia, montamos uma biblioteca do lado de fora da porta da escola. As crianças podiam fazer revezamento para buscar livros", conta Raquel, sobre as estratégias.