Facilidade, segurança e economia de tempo. Na hora de fazer compras no mercado, são nesses conceitos que o engenheiro Guilherme Cabral acredita. Pensando nisso, ele fundou, ao lado do sócio Cassio Soares, a Zuper, startup que cria lojas autônomas para serem implementadas em condomínios residenciais. Com cerca de 500 itens na primeira loja, que fica na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, o negócio não tem custo aos moradores e funciona integrando o acesso por tag ao condomínio. Assim, é possível acessar a loja com o mesmo dispositivo.
Nessa entrevista, Guilherme conta como a empresa surgiu, os diferenciais da Zuper no mercado de conveniência e as perspectivas de futuro.
GeraçãoE - Como a Zuper surgiu?
Guilherme Cabral - A Zuper surgiu em 2019, quando começamos a planejar um modelo de loja autônoma para ser implementada em condomínios residenciais, que até o momento não estava sendo atendida por nenhuma empresa. Como alguns condomínios não dispõem de uma área fechada, projetamos a nossa primeira loja numa estrutura metálica, de forma a possibilitar que a loja fosse transportada para outros lugares e evitasse a necessidade de realização de contratos de longo prazo com os condomínios.
GE - Como a loja funciona e quantos itens oferta?
Guilherme - A loja é acessada com mesmo sistema de acesso do próprio condomínio, que é integrado com o da loja. Então, com o mesmo tag que os moradores usam para entrar no condomínio, é possível acessar a loja. Atualmente, estamos com cerca de 500 itens na primeira loja, mas este mix é customizado com base no perfil de cada condomínio.
GE - A loja não tem custos para os moradores nem na taxa de condomínio? Como isso ocorre?
Guilherme - Para implantação da loja, não cobramos qualquer custo, e nos responsabilizamos por toda a adequação do espaço. Como algumas adequações exigem um gasto maior, como uma eventual divisão de alguma sala com gesso, nós solicitamos um período contratual maior para conseguirmos remunerar este custo.
GE - Quais são os requisitos para um condomínio ter uma loja da Zuper?
Guilherme - Nós costumamos dizer que o principal requisito é o condomínio querer ter a Zuper. É claro que é importante que haja uma quantidade significativa de unidades para viabilizar uma loja. Os contêineres são avaliados para condomínios com mais de 300 unidades habitacionais, mas para condomínios a partir de 80 unidades nós podemos montar esta loja em uma área disponibilizada pelo condomínio.
GE - Quanto custa para instalar uma loja da Zuper no condomínio?
Guilherme - O custo da implementação da loja é pago com a venda dos produtos, mas para isso é necessário que haja uma perspectiva de consumo para conseguir pagar esta implantação.
GE - Por que investir nesse negócio?
Guilherme - Iniciei minha experiência empreendedora muito cedo, e sempre gostei de inovação. Aos 20 anos, montei um rodízio de crepes em Capão da Canoa, que funcionava semelhante a um rodízio de pizza. Depois de "quebrar", fiz alguns concursos públicos, o que possibilitou que eu entrasse na Sulgás. Lá, atuei por muito tempo com inovação, tendo implementado o primeiro projeto de biometano do Brasil, projetos de geração de energia com gás natural em postos de combustíveis e fui gestor da área comercial do segmento residencial. Aí está a ligação com este segmento, porque eu aprendi como funciona o processo de decisão dos condomínios residenciais. Acreditamos que este negócio faz todo o sentido para a vida das pessoas que vivem em condomínios residenciais, trazendo produtos de supermercado para o conforto de suas casas, evitando o gasto de tempo, com mais segurança. Entendemos que este negócio seja a evolução do varejo, que num primeiro momento será para atendimento às necessidades emergenciais, mas que, no futuro, será uma alternativa logística para as pessoas.
GE - Como você vê o mercado de lojas de conveniência? É promissor?
Guilherme - Nós não nos denominamos como lojas de conveniência, porque estas lojas geralmente possuem um valor elevado dos seus produtos. Nosso propósito é ser um micro mercado e ser uma alternativa para as pessoas nos condomínios residenciais. As lojas autônomas possuem muitos processos equivalentes a um supermercado tradicional e, para sermos competitivos, teremos que aprender e evoluir nestes processos, como o de compras, reabastecimento das lojas, manutenção, etc.
GE - Como a pandemia atinge negócios como a Zuper?
Guilherme - As pessoas têm ficado mais em casa e percebido a necessidade de terem uma estrutura maior nos seus condomínios, e nisso a Zuper se encaixa muito bem. Mas como os condomínios estão se adaptando aos processos de assembleias virtuais, e a deliberação destas lojas muitas vezes passa pelas assembleias, este processo de implementação foi um pouco interrompido durante a pandemia.
GE - Acredita que a valorização dos negócios locais é uma tendência?
Guilherme - Uma ação que estamos fazendo que tem nos trazido um retorno muito legal é de colocar na Zuper alguns produtos produzidos pelos próprios moradores. Eles já faziam a venda no condomínio, mas entenderam que, com a Zuper, eles conseguem dispor dos produtos num período maior, 24 horas. Esperamos que, no futuro, tenhamos grande parte das lojas da Zuper sendo fornecidas por produtores locais.
GE - Quais são as metas da Zuper para o futuro? Qual é a capacidade de expansão?
Guilherme - Como toda startup, temos planos e métricas para chegar na lua, mas estamos em fase de aprendizagem para conhecer qual o perfil dos usuários que percebe valor nessas lojas, assim como tornar o negócio sustentável e interessante para todos. Então, temos negociado a implantação da Zuper em vários regiões do Estado, como nos condomínios do Litoral e cidades da região Sul do Rio Grande do Sul, mas, ao mesmo tempo, estamos conversando com alguns parceiros estratégicos para tornar o negócio mais competitivo. Até o final do ano, esperamos implementar mais três lojas e, depois disso, o céu é o limite.