Conhecido como período de baixa no litoral norte gaúcho, o inverno é sempre desafiador. Com a Covid-19, este ano foi diferente

Inverno e pandemia: como foi o período para os negócios da praia


Conhecido como período de baixa no litoral norte gaúcho, o inverno é sempre desafiador. Com a Covid-19, este ano foi diferente

Antes que os meses de verão cheguem, os negócios do litoral norte gaúcho, normalmente, passam por um longo período de baixa: o inverno. Já acostumados com as dificuldades do esvaziamento das praias na medida em que as temperaturas entram em queda, neste ano, empreendedores passaram por um desafio ainda maior com a pandemia de Covid-19. Impedidos de receber o público de forma presencial durante a bandeira vermelha, protocolo de segurança sanitária instaurado pelo governo estadual para frear a disseminação do vírus, tiveram de buscar alternativas para equilibrar as contas e ainda atender a demanda fora do comum - e adequar a estrutura.
Antes que os meses de verão cheguem, os negócios do litoral norte gaúcho, normalmente, passam por um longo período de baixa: o inverno. Já acostumados com as dificuldades do esvaziamento das praias na medida em que as temperaturas entram em queda, neste ano, empreendedores passaram por um desafio ainda maior com a pandemia de Covid-19. Impedidos de receber o público de forma presencial durante a bandeira vermelha, protocolo de segurança sanitária instaurado pelo governo estadual para frear a disseminação do vírus, tiveram de buscar alternativas para equilibrar as contas e ainda atender a demanda fora do comum - e adequar a estrutura.
Já se sabe que a digitalização é um caminho sem volta para o empreendedorismo e pode representar o salvamento de negócios. Foi isso que os proprietários da Fruteira PegPag, de Torres, aprenderam durante o período da quarentena. Funcionando desde março, o aplicativo próprio se tornou uma solução para as vendas da empresa, que existe na cidade desde 1970.
Segundo o sócio da PegPag, Camilo Acosta, 33 anos, quando o comércio de Torres estava impedido de receber clientes, entre março e abril, o aplicativo registrou pico de vendas. "Tínhamos 10 a 15 pedidos por dia. Nesse período de lockdown, foi para 70", conta. Com cerca de 80% dos produtos da loja cadastrados no aplicativo, a fruteira oferece o serviço de tele-entrega ou de retirada. "Foi o que salvou as nossas vendas. Só agora as pessoas estão voltando a frequentar presencialmente", relata.
O desenvolvimento do aplicativo, conta Camilo, custou cerca de R$ 2,5 mil, com uma taxa de manutenção mensal. "Tive a sorte de ver, na faculdade, um colega que fez algo parecido. Procurei desenvolver a ideia porque vi que é uma tendência." Foram essas experiências acumuladas que permitiram que a PegPag sobrevivesse e atendesse uma clientela totalmente diferente neste inverno. Um ano que deixará muitas lições e um legado tecnológico sem volta.

Restaurante de Rainha do Mar registrou alta ao longo do ano

Movimento de pessoas que foram passar a quarentena no litoral aqueceu as vendas

A pandemia representou um período de extrema dificuldade para alguns empreendedores de diversos setores e regiões. Porém, no restaurante Meu Recanto, em Rainha do Mar, o momento foi de alta nas vendas. Isso porque muitos veranistas se refugiaram na praia mesmo no inverno para passar a quarentena isolados, conforme conta o sócio do negócio, Ricardo Lima da Silva, 38 anos. "Está sendo um divisor de águas. Não posso me queixar do movimento", afirma.
Comandando o restaurante familiar ao lado do irmão, Everaldo Lima da Silva, 43, Ricardo conta que a pandemia aqueceu a economia do balneário. O período realmente difícil foi entre março e abril, em que o negócio teve de fechar as portas durante um mês em razão da bandeira vermelha. "Em abril, quando tudo retornou com os protocolos, vimos que teve aumento da demanda e foi acentuando", lembra.
Com capacidade para atender 30 mesas, agora, implementando o distanciamento obrigatório entre os clientes, o restaurante opera com 12. O buffet, que era tradição da casa, foi suspenso temporariamente, ficando apenas os pratos a la carte. "Tudo o que vendemos é do portfólio da casa que sempre tivemos, só não tem o buffet", explica. As mudanças implementadas, porém, não afetaram as vendas. "Os dias da semana estão se equivalendo aos de fins de semana", afirma o sócio. No somatório, o número de almoços vendidos diariamente fica entre 100 e 120. Além disso, cerca de 90% dos clientes são veranistas e não moradores.
Além do aumento de frequentadores, Ricardo afirma que o restaurante fica bem localizado, logo na entrada de Rainha do Mar, o que também ajudou a manter o faturamento em alta. "Quem chega na praia, passa por nós. Não temos Facebook nem Instagram por opção. A melhor propaganda é o boca a boca", justifica. Para o verão, ele espera que a temporada seja boa, mas teme que as pessoas não tenham consciência e não usem máscaras. "A vacina vai ser o principal motivo para o verão ser bom ou não."

Empreender na praia só tem uma certeza: trabalho duro

Nos quatro meses de alta, os donos de negócios da praia trabalham exaustivamente enquanto veem suas cidades lotadas de veranistas tirando férias, descansando e aproveitando o verão. O momento é ideal para conhecer novos clientes, aprimorar o atendimento, atestar a qualidade dos produtos e, claro, faturar mais.
Porém, curiosamente, no inverno, o trabalho não diminui. Isso porque o desafio de empreender na praia se torna ainda maior, desta vez carregado de inseguranças por não saber se será possível manter a casa ativa por mais uma temporada.
Com a cidade praticamente vazia, é necessário, muitas vezes, fazer malabarismos para continuar sobrevivendo. Há dois anos, acompanho meus pais, Dagoberto Paulo, 50, e Marilene da Cruz, 54, na jornada empreendedora. Donos do Prensadão Torres, que fica na praia de Torres, eles tomaram coragem para tocar um restaurante e serem seus próprios chefes. Para eles, 2020 está sendo um ano difícil.
Depois do verão mediano em Torres, em termos de vendas, a pandemia chegou. Nos primeiros dois meses da quarentena, em que muitas cidades da Serra estavam com negócios fechados devido à bandeira vermelha, como Caxias do Sul, eles registraram certo aumento nas vendas.
Os veranistas da Serra viajaram ao litoral para passar a quarentena e isso aqueceu, de certa forma, a economia local. Porém, eles retornaram às suas cidades. Os demais quatro meses foram de estagnação e, em alguns momentos, de queda.
No Prensadão, que serve lanches, pizzas e rodízio de massas e grelhados, meus pais tiveram de desenvolver novos produtos e promoções. No período em que estavam impedidos de receber clientes, eles criaram o "rodízio em casa", em que as pessoas podem escolher diferentes tipos de massas e molhos e ter a experiência reduzida de um rodízio no conforto do lar.
Diferentemente do restaurante Meu Recanto, em Rainha do Mar, a maioria dos clientes do Prensadão são moradores da cidade. E essa sempre foi uma preocupação, principalmente no verão, em que as vendas sobem repentinamente e podem atrapalhar alguns processos.
Se meus pais estão lidando com a pandemia de maneira certa ou errada, não posso dizer. O fato é que estão se mantendo no zero a zero, pelo menos, e essa já é considerada uma vitória. Esperamos, eles e eu, que o verão seja quente nas temperaturas e nas vendas, mas sempre conscientes, seguindo protocolos, usando máscaras e álcool em gel.
Dentro do Prensadão e fora dele.