Com feiras e comemorações farroupilhas canceladas ou só na internet, empreendedores que têm na data seu auge de vendas tiveram de se adaptar

Com eventos cancelados, empreendedores do tradicionalismo gaúcho se reinventam


Com feiras e comemorações farroupilhas canceladas ou só na internet, empreendedores que têm na data seu auge de vendas tiveram de se adaptar

Se para muitos negócios do varejo o Natal é a data mais promissora do ano, para empreendedores e empreendedoras que estão inseridos no universo gauchesco, o mês de setembro, em função da Semana Farroupilha, representa o auge de vendas. É em torno da celebração que acontecem feiras e acampamentos com milhares de pessoas e que, consequentemente, aquecem os resultados. 
Se para muitos negócios do varejo o Natal é a data mais promissora do ano, para empreendedores e empreendedoras que estão inseridos no universo gauchesco, o mês de setembro, em função da Semana Farroupilha, representa o auge de vendas. É em torno da celebração que acontecem feiras e acampamentos com milhares de pessoas e que, consequentemente, aquecem os resultados. 
Para Marilene Stumm, 46 anos, não era diferente. A empreendedora de Ivoti conta que a venda das alpargatas que produz com seu marido, Valdir Stumm, e suas duas filhas, Ana e Laura, passou por mudanças durante a pandemia. Antes, as feiras e eventos representavam o maior volume de vendas da Ana Laura Alpargatas. Por isso, Marilene precisou encontrar novas formas de contatar os clientes e remanejar a equipe para manter o negócio lucrativo. "Tínhamos duas pessoas que nos ajudavam. Em função da pandemia, acabamos dispensando e ficando só a família", conta. 
Até então, a Expointer, feira de agronegócio que acontece em Esteio, era a maior vitrine da marca. Com o evento físico cancelado, Marilene conta que retomou os contatos feitos em anos anteriores e incrementou o relacionamento com quem revende o produto. "A Expointer não aconteceu, mas nossos clientes que nos visitavam nos outros anos começaram a pedir para mandarmos pelos Correios. Então, por um lado, foi bom porque não precisamos fazer o investimento em estoque para o evento, mas vendemos bem", comemora Marilene, que encara a redução de 30% das vendas no mês de agosto em relação a 2019 como um resultado positivo frente às adversidades
Produzindo por demanda e não mais com grandes estoques, a empreendedora conta que a família intensificou a produção de modelos mais simples, com valores mais acessíveis. "Nos reinventamos. Tivemos que buscar modelos lá do início, que tínhamos parado de fazer. Modelos mais simples, mais baratinhos. Como estávamos com tempo, já que não temos a demanda de feiras, começamos a fazer de novo somente por pedido. Não fizemos mais estoque e deu certo, até hoje", relata. Os valores das alpargatas partem de R$ 30,00, mas depende do modelo.
Mesmo com o mês de setembro de muitas encomendas para revenda, a empreendedora estima que as vendas representem 50% menos que nos anos anteriores. Para manter o faturamento em dia, contatou clientes antigos via WhatsApp e conseguiu prospectar novas vendas em todo o Estado através do Instagram da marca (@analauraalpargata), no qual publica as novidades. 
A produção, totalmente artesanal, é feita pelos quatro em casa. Valdir desenha os modelos, que são costurados por Marilene e pelas filhas. Para o inverno, eles desenvolveram uma bota forrada com lã. A empreendedora garante que nada é colocado à venda sem ser testado por ela. "Meu marido desenha e eu monto o quebra-cabeça. Uso por dias um modelo para testar. Têm uns que chegam a ter seis ou sete moldes até ficarem perfeitos", explica. Por ser uma produção customizada, a marca tem uma grade ampla, que vai do 16 ao 44. "É um diferencial, porque calçamos da criança até o avô. Às vezes, para uma mesma família, conseguimos vender mais de 10 pares."

Concurso nas redes ajuda a manter relacionamento com clientela

Neste mês de setembro, para celebrar a época que simboliza o tradicionalismo gaúcho e a marca de 10 mil seguidores da loja Chimas Girl no Instagram, a pedagoga e empreendedora Estéfani Colvero Bairros, 27 anos, de São Leopoldo (RS), está promovendo um concurso nas redes sociais. Ao lado de negócios parceiros, a iniciativa visa premiar duas fotos e vídeos mais curtidos com a temática gaúcha. Além disso, todos os participantes ganharão algum brinde pelo seu engajamento na ideia.
Segundo Estéfani, que criou a Chimas Girl em 2018 para vender itens que personalizam e decoram o chimarrão, além de outros artigos relacionados ao tema, o concurso é uma forma de fazer as pessoas realmente engajarem com a marca. "É diferente de um sorteio, em que as pessoas só precisam marcar os amigos. Não quero só vender, quero que as pessoas saibam sobre a nossa cultura", afirma ela, que sempre vendeu em feiras e pelo Instagram @chimasgirl.
A empreendedora conta que iniciou a relação com o chimarrão na escola em que trabalha. Assistindo as colegas professoras compartilharem as cuias todos os dias, foi se relacionando com a bebida. "Vi que tinha letras de açúcar para vender, um tipo de confeito. Resolvi criar um kit de decoração com outros itens e foi um sucesso. Fiz para as amigas e outras pessoas começaram a pedir." Já compartilhando as dicas pelas redes sociais, a pedagoga percebeu que o chimarrão decorado poderia ser um negócio."Hoje, muitas pessoas falam que eu sou referência nesse meio", expõe.
No seu e-commerce, Estéfani vende tudo, ou quase tudo, que se precisa para fazer um mate. Cuias, ervas-mate, térmicas, além de um case de sucesso: a bomba de vidro. "Ela é divertida, não esquenta na boca. Só precisa tomar cuidado porque pode quebrar", explica. Enfeites de biscuit e de acrílico, placas para imprimir e recortar, palavras e letras são outros artigos que são muito procurados. "E isso não é frescura. Tem quem me fale que o chimarrão decorado apareceu na vida dela e foi como uma terapia. É um momento que tu foca só nisso e faz um bem danado", afirma.
Com vendas feitas para os estados do Pará, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, entre outros, ela afirma que a pandemia de Covid-19 não prejudicou suas vendas. Pelo contrário, auxiliou. "Esse período me trouxe mais retorno porque foi quando consegui me dedicar mais aos produtos, às ideias. As pessoas estão mais em casa, tomam mais chimarrão, e acabo fazendo mais vendas", diz. A ideia da empreendedora é conseguir focar no próprio negócio e espalhar cada vez mais cores pelas cuias a fora.
 

Cuteleiro aposta no digital para que sua fábrica de facas sobreviva

Com muitas feiras adiadas e canceladas por conta da pandemia, Leandro Riva teve que reinventar o seu negocio

Leandro Riva é dono da Facas Macanuda há uma década. O negócio, especializado na fabricação de facas artesanais, teve sua performance abalada com a pandemia, pois 80% do faturamento vinha das feiras de cutelaria que participava. "Digamos que este é o pior momento que já passei desde que abri a empresa em 10 anos", pontua.
O empreendimento começou quando Leandro, que já era cuteleiro, decidiu juntar a loja com o atelier numa coisa só. O intuito do ponto de venda é mostrar para o cliente como acontece todo o processo de fabricação.
"Sempre foi uma das minhas prioridades manter a produção artesanal. Ou seja, não saem da cutelaria duas peças iguais, por mais que se queira", avisa. Formado em Empreendedorismo pela Pucrs, Leandro já saiu da faculdade com seu plano de negócio bem estruturado, mas conta que, no começo, teve algumas dificuldades. "Foi um início bem difícil e de poucos recursos, mas os pedidos começaram a entrar. Na primeira semana, levantei da cadeira para trabalhar e, até hoje, não parei mais. Aos poucos, a empresa foi tomando corpo até chegar onde está hoje", orgulha-se.
A Facas Macunada já participou de muitas feiras de produtos artesanais e de cutelaria em todo Brasil. Também esteve presente nos eventos tradicionalistas no Rio Grande do Sul, como a Semana Farroupilha que acontece no Parque Harmonia, e o Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart). Esse ano, por conta da pandemia, os eventos foram adiados ou cancelados, o que foi um baque para Leandro. A forma que o empreendedor encontrou de se manter no negócio foi através de vendas online. "A questão do se reinventar veio da conscientização de que é necessário investir no comércio eletrônico pela internet como uma forma alternativa de venda."