Empreender é um desafio por si só. Criar um modelo de negócios, conquistar públicos e desenvolver produtos à altura das expectativas são processos que vivem na linha entre o prosperar e o esmorecer. Fazer tudo isso na área da cultura e das artes se torna ainda mais desafiador. Baseada em uma lógica participativa, a produtora gaúcha Zapata Filmes sobrevive há 13 anos sem editais públicos nem utilizar fundos estatais em seus projetos.
Criada pelo colombiano radicado no Rio Grande do Sul Juan Zapata, a produtora tem, atualmente, 11 investidores, que dividem os lucros. São engenheiros, psicólogos, professores universitários e profissionais de outras áreas que não o cinema. Conforme explica o sócio da Zapata, o historiador norte-americano Douglas Limbach, o desenvolvimento da empresa sempre foi voltado a ser colaborativo. "Como somos estrangeiros, os editais sempre foram difíceis. As pessoas daqui são mais experientes com a legislação e têm certa vantagem. Tivemos que achar um modelo de negócio sustentável e pensar fora da caixa", afirma.
Douglas foi um dos primeiros investidores, em 2013, durante a gravação do filme Simone, primeiro longa de ficção do portfólio da produtora. A partir daí, os sócios foram desenvolvendo essa lógica de trazer pessoas apaixonadas por cinema e cultura para dentro das produções. "Quando eu comecei, pensei: por que eu entrei nisso? Porque eu queria ser parte, desenvolver meu lado artístico", lembra. Durante jantares e eventos sociais, Douglas e Juan angariavam amigos e conhecidos para a empreitada.
Assim, formaram uma rede colaborativa que não só investe como também contribui para as produções. "Os investidores são convidados a participar das filmagens, eventos, sobem nos palcos para receber prêmios. Não é um investimento apenas de dinheiro, mas de participação artística. Eles também são nosso público, porque não trabalham diretamente com arte", salienta.
O historiador exemplifica esse processo conjunto com as filmagens do longa Uma vez em Veneza, em que alguns do grupo foram à Itália para acompanhar as gravações. O filme está em fase de pós-produção e tem previsão de ser lançado em outubro. Quando pensa na pandemia, Douglas diz que a interpreta como um momento de reflexão. "As pessoas estão repensando e querendo novas experiências. O mundo da arte tem que começar a pensar dessa maneira, porque não sabemos o futuro do dinheiro público. Temos que salvar a arte sem a esquerda ou a direita", opina. A Zapata já está negociando o próximo projeto, que poderá levar um selo da Organização das Nações Unidas (ONU) como reconhecimento da contribuição da produção na valorização dos direitos humanos. "Não deixamos de lado o nosso propósito e consciência", pontua.
Os filmes do portfólio da Zapata podem ser acessados através da plataforma Mowies (www.mowies.com).