A pandemia do coronavírus mostrou que não tem mais como adiar a transição dos negócios ao mundo virtual

A hora do digital é agora nas empresas


A pandemia do coronavírus mostrou que não tem mais como adiar a transição dos negócios ao mundo virtual

Adaptação é a palavra-chave do momento para os empreendedores, pois é preciso encontrar novas soluções para manter o vínculo com a clientela e o desempenho do negócio frente à pandemia. Um desses caminhos é a digitalização: sair do físico e migrar para o ambiente digital, algo que causa apreensão em alguns casos.
Adaptação é a palavra-chave do momento para os empreendedores, pois é preciso encontrar novas soluções para manter o vínculo com a clientela e o desempenho do negócio frente à pandemia. Um desses caminhos é a digitalização: sair do físico e migrar para o ambiente digital, algo que causa apreensão em alguns casos.
O processo, porém, pode ser fácil, seguro e sem grandes custos quando feito de maneira correta e com boa instrução. Abertura de e-commerces, vendas nas redes sociais e nos aplicativos são formas de marcar presença no ambiente digital e angariar novos clientes mesmo antes do fim do coronavírus.
O Super Davi, mercado que fica no bairro Aberta dos Morros, em Porto Alegre, encontrou nas vendas on-line seu novo caminho. Charles Davi, 34, gestor e segunda geração do negócio criado em 1989, conta que a reinvenção começou ainda em março, com vendas por meio do WhatsApp.
"Como somos um mercado de bairro, nossos clientes são praticamente os mesmos todos os dias. E notamos que muitos deixaram de aparecer na loja, pessoas que chamávamos pelo nome. A oportunidade apareceu e, ao invés de ficarmos lamentando, começamos a vender pelo celular. Temos muitos clientes idosos, e que estavam precisando de ajuda nesse momento", pontua Charles.
O formato de venda, embora não tenha contado com nenhuma divulgação nas redes sociais, foi um sucesso, segundo o gestor. "O mercado fica na avenida Juca Batista e estávamos atendendo gente do bairro Menino Deus, por exemplo. Pessoas do Centro Histórico, da Cidade Baixa, perguntando se entregávamos", relata.
A partir da grande demanda, o negócio, que é administrado pelo pai de Charles, Olir Davi, com seus primos Jurandir e Juarez Davi, passou a operar com um e-commerce (www.superdavi.com.br). A plataforma foi desenvolvida pelo Noos Estúdio Criativo e pensada para que os clientes consigam ter o melhor aproveitamento possível do novo canal.
"Selecionamos bem os itens para colocar no e-commerce. São cerca de 3 mil, que é muito menos que temos em loja, justamente, para facilitar a usabilidade. Fazer uma compra on-line é muito diferente de fazer uma compra em loja, onde tu estás vendo aquela infinidade de produtos e pode fazer escolhas. Limitamos as opções pensando em facilitar", destaca Charles.
Atualmente, o serviço atende 22 bairros da Zona Sul da Capital e a entrega tem um custo de R$ 15,00. Mesmo com o e-commerce, o mercado segue vendendo via WhatsApp para, segundo o gestor, atender bem todos os tipos de público. Os pedidos do delivery são feitos pelo número (51) 99200-8419.
Em meio à crise, a resposta do público foi positiva e proporcionou, ainda, a chegada de novos clientes. "Somos um mercado de bairro, por isso nosso consumidor é muito tradicional. Imaginávamos que a procura seria mais lenta, mas pelo contrário. Acabou se expandindo muito rápido. E, hoje, o nosso principal cliente acaba nem sendo o do bairro. Esse continua, mas tem muito jovem que acabou vindo até a marca pela comodidade", acredita.
Ser uma empresa de bairro, aliás, é o que ele considera o grande diferencial do negócio, já que proporciona um contato próximo com a clientela. "É um serviço bem personalizado no final das contas. Muitas vezes, o pessoal manda a lista por WhatsApp e pede um produto que não tem. Entramos em contato e damos as opções de substituição daquele item. Tentamos não deixar o cliente na mão de maneira nenhuma. Acredito que nosso diferencial é ser um mercado local porque isso gera um atendimento que os mercados grandes não oferecem", afirma o empreendedor.

Quem não vende na internet precisa aprender

O momento de crise, que levou diversos setores a paralisarem operações e fecharem as portas de lojas, impulsionou empreendedores a buscarem ou adiantarem soluções que, antes, não pareciam tão urgentes. A abertura de 100 mil e-commerces entre o início de março e o final de abril, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), mostra a busca pela inovação e destaque no on-line. Esse processo, porém, precisa ser bem avaliado, conforme explica o especialista em e-commerce Márcio Eugênio, sócio da D Loja Virtual (www.dlojavirtual.com), empresa que desenvolve sistemas de vendas pela internet.
"Se o dono da empresa precisa vender o almoço para comprar a janta, talvez o negócio virtual não seja o melhor caminho", explica, sobre o investimento em sistema de vendas on-line. Para alguns setores, como o de alimentação, há soluções mais viáveis e rápidas, como os aplicativos de delivery iFood, Uber Eats e Rappi, ou até mesmo as redes sociais, como o Facebook e o Instagram. Essas alternativas, afirma Márcio, garantem retorno mais rápido se comparadas ao desenvolvimento de um e-commerce do zero.
Para o especialista, a pandemia é um divisor de águas no relacionamento das pessoas com a internet. Ele exemplifica o fenômeno com a explosão de transmissões ao vivo durante o período. "Se tem gente fazendo, tem gente consumindo. As lives facilitam o processo das pessoas serem influenciadas para comprar", diz. O empreendedor também destaca o fato de que todas as faixas etárias, hoje em dia, estão na web.
"A minha sogra tem 76 anos. Ela contou que viu uma receita de pão de ló no YouTube e fez. Para nós, é natural. Para uma senhora dessa idade, no entanto, é um avanço", percebe.
Para quem decide abrir um e-commerce, há diversos sistemas simples com baixo custo, até os mais complexos e milionários, explica Márcio. "Conseguimos colocar no ar uma loja virtual para vender para qualquer lugar do Brasil em duas horas com o custo de R$ 48,00 por mês", diz. Porém, mesmo com a facilidade monetária para montar a operação virtual, o nível de comprometimento é igual ou até maior que o necessário para lojas físicas. "O empreendedor precisa ter ciência que vai ter que colocar energia, ou uma pessoa com energia, ou uma empresa especializada para cuidar disso", afirma.
Emissão de notas fiscais, facilidade de pagamento e resolução de problemas como defeitos e trocas também são fatores que o negócio precisa ter, tanto no físico quanto no virtual. Além de serem primordiais, alguns detalhes podem ser diferenciais para o e-commerce, visto que a concorrência on-line é maior. "Assim como o dono da empresa, o cliente pesquisa quando vai comprar itens pela internet. É preciso se desapaixonar pelo produto e se perguntar se compraria aquilo", orienta Márcio.

Empresa investe em visitação virtual de imóveis

Visitar imóveis ou apartamentos decorados durante a pandemia de coronavírus é algo não recomendado pelas autoridades em saúde. Com as orientações para permanecer em casa, o mercado imobiliário viu, como outros setores, dificuldades para se manter ativo. Pensando nisso, a empresa gaúcha Neorama (neorama.com/walkin), especializada em narrativas audiovisuais arquitetônicas, desenvolveu um sistema de realidade virtual que permite que o usuário se movimente em tempo real pelo projeto.
Essa virtualização, nomeada de Walk-In, custa cerca de 10% a 15% do que custaria para a incorporadora montar um decorado. Sem precisar de óculos 3D, plugins ou qualquer equipamento, o sistema necessita de boa conexão com a internet e um dispositivo, que pode ser o celular ou computador. Conforme explica a gerente comercial e de marketing da Neorama, Sabrina Lapyda, a plataforma concede ao potencial comprador de imóveis uma maior autonomia e liberdade no processo de compra. "Primeiro, a pessoa entende que quer comprar. Aí, começa a sondar, entender suas necessidades. Tem um momento nessa jornada que é individual, e essa ferramenta vem para agir nessa hora", afirma.
Antes da Covid-19, entende Sabrina, a cultura on-line nas empresas caminhava devagar. Com a pandemia, as decisões para se digitalizarem ficaram mais fortes. "O tempo das pessoas é a principal moeda", diz. Porém, para ela, a visitação física nunca deixará de existir, mas sistemas como o Walk-In podem proporcionar ao cliente uma sensação de experiência maior, tornando-se um diferencial para o ramo imobiliário. "Fizemos testes com pessoas mais velhas e mais novas, porque a compra de imóveis atinge públicos diferentes, e tivemos bons retornos", afirma Sabrina.
A ferramenta está em fase de negociação com duas incorporadoras no Brasil e com arquitetos de interiores nos Estados Unidos. A gerente explica que, a partir do sucesso da visitação virtual, o sistema está sendo incorporado por empresas que também percebem que a digitalização será um legado do coronavírus. "Existiam tours de visitas virtuais com apartamentos existentes. O que não existia era essa solução para imóveis ainda não construídos", expõe.