Miltinho Talaveira

Mundo glamourizado por influenciadores de todos os tipos não existe mais

Glamourização da pandemia: é hora de darmos um basta

Miltinho Talaveira

Mundo glamourizado por influenciadores de todos os tipos não existe mais

No final de 2005, lancei o MGL gaúcho (Movimento da Glamourização do Litoral), em uma época em que ainda não tínhamos redes sociais - uma pena, pois teria repercutido ainda mais. Eu levantava a questão que nosso litoral não tinha estrutura e capacidade de ser como os demais de nosso País para receber turistas e, principalmente, nós, gaúchos. Um texto em forma de entrevista foi publicado no jornal Zero Hora na coluna de Fernanda Zaffari. Dias depois, Martha Medeiros escreveu em sua coluna um manifesto sobre nosso litoral que repercutiu minha opinião. Foi uma Pandemia na Mídia por um tempo.
No final de 2005, lancei o MGL gaúcho (Movimento da Glamourização do Litoral), em uma época em que ainda não tínhamos redes sociais - uma pena, pois teria repercutido ainda mais. Eu levantava a questão que nosso litoral não tinha estrutura e capacidade de ser como os demais de nosso País para receber turistas e, principalmente, nós, gaúchos. Um texto em forma de entrevista foi publicado no jornal Zero Hora na coluna de Fernanda Zaffari. Dias depois, Martha Medeiros escreveu em sua coluna um manifesto sobre nosso litoral que repercutiu minha opinião. Foi uma Pandemia na Mídia por um tempo.
Anos se passaram e o glamour levantado naquela época deu espaço ao que vemos hoje, ou víamos até então, antes da pandemia. Condomínios fechados em novos empreendimentos, festas e badalações, uma apoteose de lifestyle nas areias, eventos e acontecimentos sociais, lançamentos de produtos e ações de marca focadas no perfil do gaúcho litorâneo. Tudo por glamour. Glamour esse, muitas vezes, ostentado, cada vez mais em perfis de redes sociais de "produtores de conteúdo" pertencentes a uma classe privilegiada - ou nem tanto. Mas todos lá, causando. Enquadramentos perfeitos nas fotos, filtros, poses, carões, cenários, looks da estação de forma descompromissada como se fosse parte do dia a dia de cada um. Seria isso real? Muitas dessas pessoas tiveram seus perfis cobiçados e seguidos por milhares de pessoas que também almejavam aquela vida de recebidos exclusivos e lançamentos. Aquele bem-estar, qual fosse o segmento. Muitos tornaram-se referência e viraram influenciadores digitais, uma nova "casta", que alguns insistem em ainda chamar de blogueiros, apesar da ferramenta blog já estar em desuso. Além de desejo, esses perfis contribuíram para um aumento na insatisfação, frustração e até depressão de muitos de seus seguidores, que, ao se compararem com os influencers, não encontravam alguma semelhança com suas realidades.
A onda eram posts "instagramáveis". Quanto mais bonito, produzido, bem enquadrado, perfeito, melhor. Quanto mais seguidores, mais chances de rentabilizar através dos perfis. Eu mesmo surfei nessa onda, comi e bebi por conta de muitas marcas, frequentei belas festas, participei de ações de marcas, recebi presentes e degustações em minha casa - os famosos recebidos que despertavam desejo dos meus amigos e demais pessoas ao postar as fotos no feed e stories das minhas redes sociais. O luxo dos gaúchos. Isso sem falar de muitos ao meu redor que alcançavam outro patamar de rentabilização, com viagens, eventos bancados totalmente por marcas, e o melhor, os posts pagos. Um mundo Disney.
Mas daí veio a pandemia. Esse povo surtou, ou melhor, todos nós surtamos, e não me venham com ataques de "gratiluz", pois não está fácil pra ninguém. Não está fácil mesmo. Essa loucura toda ainda tornou-se uma verdadeira guerra polarizada. Entre esquerda e direita. Entre o certo e o errado. Entre o bem e o mal. Entre os que acreditam que precisamos salvar os CNPJs frente aos CPFs. Entre os que acreditam que vai passar e voltaremos às nossas vidas como eram em março e os que acreditam no novo normal, muito diferente do que estamos acostumados. Um vírus que mata, a cada dia, milhares de pessoas. Que revela ainda mais nossa desigualdade social. Nossa fragilidade política. O próprio caos.
Cheguei até aqui, como muitas dessas pessoas que ostentavam antes da pandemia. Porém, esse mundo glamourizado, por mim, por influenciadores de todos os tipos, e por todos os seus seguidores veio abaixo, não existe mais.
Não existe mais. Por mais que se insista em glamourizar a todo custo, ou tentando transformar um objeto necessário para nossa proteção, a máscara, por exemplo, em patamar de produto de luxo, seguindo com a produção de conteúdo sobre as tendências da estação para looks, calçados ou make, além do home office descompromissado. Esse mundo não existe mais. Olá, querido! Olá, querida! Acorda menina, como diz Ana Maria Braga. O mundo que nós vivíamos morreu. Ele deixou de existir e nunca mais vai voltar. Mas muitos desses insistentes sobreviventes ainda ostentam, ainda replicam tendências que supostamente estariam nas vitrines das lojas que não estão abertas, bebem seus vinhos, sucos e drinks como se o mundo fosse uma bolha de plástico feito John Travolta naquele filme dos anos 1970. Como transformar a pandemia em oportunidade? Primeiro você sobrevive. Sobreviveu? Pronto, você está tendo sua oportunidade. E para quem diz vai passar: vai passar, mas nada será como antes.
Miltinho Talaveira

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