Os cinco pês que farão o mercado respirar


No marketing existe uma regra, uma lei, um mantra: os famosos quatro pês (produto, preço, praça e promoção). Os estudiosos e teóricos - e muitos práticos talentosos - dizem que é o equilíbrio entre esses quatro elementos que possibilita o sucesso de uma marca. Outras teorias afirmam que há, na verdade, cinco pês - sendo o quinto elemento as pessoas, fundamentais e essenciais no meu modesto ponto de vista.Pois, na verdade, a ideia aqui é ir além.

Não é deixar de lado os quatro pês do marketing - o famoso mix ou composto que vem lá dos anos 1950 - que foi, e é, tão bem difundido por Kotler e tantos outros. Não é debater a importância, relevância e premência das pessoas como outro importante elemento nessa equação.

O que busco é uma breve reflexão. Quero deixar no ar um questionamento e algumas percepções sobre os últimos momentos do mercado - os últimos mesmo, porque como tão bem definiu uma empresária, dia desses, depois de mais uma das inúmeras entrevistas coletivas, pronunciamentos, comunicados, manchetes aterradoras: "cada segundo é um flash".

Cada segundo é um flash e cada e-mail que cai na caixa postal de um empreendedor, cada WhatsApp recebido por um profissional liberal, cada telefonema vindo de um cliente, tudo assusta. Tudo assusta porque todos estão - estamos - temerosos. Ligamos a televisão e vemos números, relatos de morte, pedidos de isolamento. Autoridades pedem para ficarmos em casa, outras autoridades nos mandam sair. Nas rádios, a mesma coisa; nos jornais impressos os números se consolidam: na internet se multiplicam exponencialmente mal disfarçados como fake news. E no meio de tudo isso, o mercado: nós.

Nós que também nos assustamos porque todas essas notícias significam negócios parados, portas fechadas, luzes apagadas, caixas vazios. Nós, que ajudamos a roda a girar e que não queremos quebrar nenhum elo dessa engrenagem.

Queremos manter os funcionários e os fornecedores. Queremos pagar o aluguel em dia, a luz, a água, o condomínio. Queremos também fazer compras no supermercado, sair para jantar, viajar de férias, quem sabe trocar de carro, escolher um vinho, dar um presente para a mãe.

E a cada e-mail, WhatsApp ou telefonema, temos medo de mais um cancelamento, um contrato encerrado antes do tempo, um aviso de término de atividades, coisas que nos obrigam a ir pelo mesmo caminho: cortar, desligar, demitir. Isso termina com o equilíbrio do mercado.

E nós somos o mercado. Vivendo, trabalhando, produzindo, consumindo. Ajudamos uns aos outros, e agora, mais do que nunca, precisamos nos apoiar.

Por isso, acho que poderíamos pensar em um uso paralelo dessa expressão que funciona tão bem ajudando nossos produtos, serviços e negócios. Vamos nos utilizar de outros cinco Pês para atravessarmos juntos esse momento. Antes de qualquer atitude, pare um minuto - ou dois, ou 15 - e lembre disso:

Pense - dê um passo atrás e analise as possibilidades.

Protele - não cancele, adie.

Parcele - não deixe de pagar, negocie.

Postergue - não se omita, trace um objetivo mesmo que a longo prazo.

Proteja - todos fazemos parte da cadeia. Um ajuda o outro que ajuda o outro que ajuda o outro.

Nesse momento, é importante negociar, ouvir, entender, se colocar no lugar do outro. Aponte soluções, diga como ficaria melhor para você, para sua empresa, ouça seu parceiro de negócios, conversem, troquem ideias. Ele também quer fazer um acordo. Ceda, ajude. Lembre que é um jogo de trocas e quem ajuda agora será ajudado em breve. Já está sendo, porque está mantendo a seu lado um importante aliado, alguém que vai lembrar sempre dessa atitude.

Tenha sempre em mente: nada se faz sozinho. Só juntos conseguiremos sair dessa. E vamos sair. Alguns mais, outros menos lanhados, mas todos vamos sair.

GT Marketing e Comunicação/Divulgação/JC

Gaudêncio Torquato é professor titular da USP, consultor político e de comunicação
Lucia Porto

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