Nínive Girardi e Vitorya Paulo
Quem viaja de Canoas até Campo Bom, num raio de pouco mais de 40 quilômetros, passa por três propulsores da inovação no Estado: os parques tecnológicos. Responsáveis por promover o empreendedorismo e as novas tecnologias,
as unidades geram cerca de 6,7 mil empregos na região. Em Canoas, o
Ulbratech congrega 12 startups. No
Tecnosinos, em São Leopoldo, são 36. Já o
Techpark Feevale, que tem uma unidade em Novo Hamburgo e outra em Campo Bom, dá espaço para 73 empresas.
Mas o que é, de fato, uma startup? De acordo com a diretora do Tecnosinos, Susana Kakuta, são empresas nascentes, com forte base tecnológica e que fazem parte da economia do conhecimento. "Elas nascem pequenas, mas têm capacidade potencial escalar. Em pouco tempo, podem fazer a virada para se estabelecer no mercado", explica. O coordenador do Feevale Techpark, Gustavo Piardi, complementa que essa modalidade de empreender não exige, por regra, a criação de tecnologias revolucionárias. "Às vezes, o diferencial está em utilizar algo já existente com um novo olhar", diz.
Para o Tecnosinos, são consideradas startups as empresas de até cinco anos, sendo três de incubação e dois de maturação no mercado. O parque seleciona os empreendimentos por meio de vários canais de captura de ideias, como o Prêmio Roser, competição de empreendedorismo do local. No Ulbratech, a seleção é realizada por meio de apresentação dos projetos para comissão avaliadora, inscritos a partir de editais.
Já no Techpark, são promovidos os Pitch Day e Pitch Night a cada três meses, eventos em que os futuros empreendedores apresentam suas propostas.
A partir desse processo seletivo, os projetos podem ingressar na pré-incubação. Essa fase, marcada pela construção do plano de negócios da empresa, pode durar de três a quatro meses. Susana destaca a importância de mentorias e qualificações para que as empresas tenham um ingresso qualificado no mercado. "Tudo isso para que esse novo potencial nasça melhor. Não apenas crie um CNPJ e depois morra", pontua.
Depois dessa etapa, as startups passam, novamente, por uma avaliação para a incubação. "O peso muda conforme o estágio", afirma Gustavo. Em seguida, a startup assume um tom formal: é hora de obter número de CNPJ e cumprir com obrigações, como pagamento de salários e custos da produção.
"É nesse momento que a empresa sai do campo das ideias", destaca Susana. Para os gestores dos parques, não há dúvidas que o Vale do Sinos tem tradição empreendedora. "A vocação da região está dada. O perfil do empreendedor é seletivo, começa por uma qualificação técnica muito boa", define Susana.
Essa inclinação ao empreendedorismo está aparecendo cada vez mais cedo entre os estudantes. "As pessoas já decidem como carreira. Não é mais a última opção", complementa Gustavo.
O diretor de inovação da Ulbra e CEO do Parque Tecnológico Ulbratech, Márcio Machado da Silva, acrescenta que o perfil da região é industrial. "Encontramos mais empreendedores com projetos voltados à indústria, tendo em vista a histórica vocação regional", explica.
Nesse sentido, Susana lembra que o Vale do Sinos sempre teve foco no trabalho de contexto internacional. A diretora destaca que, além das startups, o Tecnosinos abriga empresas nacionais e multinacionais. "Essa mescla cria um ambiente diferenciado e faz com que as startups já nasçam globais", aponta. Só em 2018, o Tecnosinos teve crescimento de 30%. "A expectativa deste ano é que o parque cresça pelo menos 25%", declara.
No Techpark Feevale, houve avanço significativo no número de empresas instaladas: de 47 empreendimentos em 2017 para 60 em 2018, um aumento de 27%. Essa expansão foi um dos motivos para a criação, em dezembro do ano passado, do Hub One, a unidade do parque em Novo Hamburgo. Atualmente, a unidade não tem salas disponíveis para ingresso de empresas.
"Nas duas cidades, temos ocupação de 90% do espaço disponível", afirma.
Em Canoas, no Ulbratech, a perspectiva é de crescimento. Márcio destaca a novidade da incubação virtual, modalidade a distância que está sendo desenvolvida no parque e que já existe no Techpark da Feevale. "Temos startups de diferentes níveis: algumas que ainda não estão faturando e outras que já atingiram o ponto de equilíbrio", expõe.