Um dos momentos mais complexos de um negócio, passar o bastão exige profissionalismo e um processo progressivo. Veja histórias de quem está vivendo isso

Hora de fazer a sucessão da empresa, e agora?


Um dos momentos mais complexos de um negócio, passar o bastão exige profissionalismo e um processo progressivo. Veja histórias de quem está vivendo isso

Confiança é a palavra-chave para garantir o sucesso no processo de sucessão familiar. Esse sentimento foi um dos lemas seguido na Tomasetto Engenharia, criada em Veranópolis, em 1981, pelos irmãos Paulo e Gersino Tomasetto.
Confiança é a palavra-chave para garantir o sucesso no processo de sucessão familiar. Esse sentimento foi um dos lemas seguido na Tomasetto Engenharia, criada em Veranópolis, em 1981, pelos irmãos Paulo e Gersino Tomasetto.
A empresa, hoje com sede na Capital, teve como sócio investidor Avelino Tomasetto, pai da dupla. Desde 2015, o negócio está sob comando da segunda geração. Os filhos de Paulo, Romeu, 34 anos, e Roberto, 32, e o filho de Gersino, Sandro, 42, repetem o feito dos genitores.
Os três tocam empreendimentos residenciais no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, e outro no bairro Salgado Filho, em Gravataí. "Nosso grande segredo foi encontrar sinergia em fazer melhor o que já fazíamos", determina Sandro.
Romeu, o primeiro a entrar na Tomasetto, em 2003, revela que sempre quis fazer parte do negócio da família. "Entrei como um faz tudo. Me formei em 2009, em Administração de Empresas, e passei a trabalhar de maneira integral", conta.
Em 2005 foi a vez de Sandro, graduado em Engenharia Civil. Ele chegou a fazer trainee e trabalhar em São Paulo, mas confessa que sempre teve a ideia de voltar. "É um negócio que é nosso e isso faz muito mais sentido na nossa cabeça", justifica.
Por último, entrou Roberto, também engenheiro civil. Ele ajudava o pai no andamento da construtora em Veranópolis e, em 2014, decidiu retornar a Porto Alegre por motivos pessoais. Com isso, começou de fato a sucessão.
Romeu destaca que houve uma avaliação da complementaridade dos perfis para dividir as tarefas executivas da empresa. "Isso fez com que conseguíssemos nos manter juntos. Vimos o que cada um tinha a agregar, a somar para empresa. Quando conseguimos enxergar a totalidade nos três, fizemos a sucessão. Foi ali que ela ficou completa", aponta Romeu. Roberto elogia a postura do pai e do tio nessa transição. "Foram as peças fundamentais. Ambos souberam nos dar espaço e confiança. Não é fácil para eles. Geraram do zero, uma vida inteira trabalhando e, de repente, entram pessoas novas, com outras visões, querendo outras coisas", relata.
Essa etapa coincidiu com o retrocesso econômico do País. "Passamos a crise e a sucessão juntos. Sobrevivemos, ficamos mais fortes ainda", pontua Sandro. Os empreendedores indicam que a transferência de gestão deve ser feita quando a empresa está justamente bem financeiramente, para não causar problemas.
Romeu acrescenta que o respeito é outro ingrediente para essa fórmula dar certo. "O núcleo familiar tem que ser respeitado. Tu podes ter negócios a vida toda, com diversos familiares teus, mas sempre tem que lembrar de preservares o núcleo. O mais importante de tudo é esse entendimento entre todos. O amor e o respeito sempre nos norteou como família e não desaparece devido a um atrito", garante.

Novo comando da Bibi Calçados vislumbra expandir internacionalmente

Andrea Kohlrausch ocupa cargo que já foi do pai e do avô

A Bibi Calçados, que completou 70 anos no mercado neste ano, está sob o comando da terceira geração da família desde abril. A nova presidente da empresa, Andrea Kohlrausch, sucedeu o pai, Marlin Kohlrausch, que ficou por três décadas no cargo. Já ele assumiu a presidência do Conselho Consultivo, composto ainda por Cristina Franco, empresária e ex-presidente da ABF (Associação Brasileira de Franchising), e Volnei Garcia, da Fundação Dom Cabral.
Pai e filha se prepararam para esse momento. Andrea participou de um processo que durou sete anos, no qual ela e os outros três candidatos desenvolveram habilidades. Já Marlin concluiu no dia 12 de julho um curso de conselheiros e de alta performance pela Dom Cabral. "Não somente para ser conselheiro da Bibi, mas também de outras empresas. Quero ajudar esse País a crescer", exalta o empresário.
A marca foi fundada em 1949, em Parobé, por Albino Eloy Schweitzer. Quando ele passou a presidência para o genro Marlin na década de 1980, a empresa passava por dificuldades financeiras. "Não houve planejamento. Meu pai assumiu para apoiar, porque a empresa estava passando por uma crise financeira muito forte", conta Andrea. "Havia diferentes planos econômicos. Num ano tinha previsão de alta demanda, teve investimento, mas no outro caiu e ficou uma situação financeira complicada. Meu pai ficou ao lado do meu avô", detalha.
Hoje o cenário mudou. A Bibi tem mais de cem lojas, entre próprias e franquias, espalhadas pelo Brasil e no exterior, além de estar presente em multimarcas. "Tivemos uma gestão altamente participativa, na qual desenvolvemos muito o endomarketing. Trabalhamos muito as pessoas", credita Marlin sobre a recuperação.
Andrea comenta que o assunto sobre a sucessão sempre foi tratado pela família. "As pessoas um dia vão morrer, mas as empresas não necessariamente vão morrer. Meu pai não vai largar porque assumi, até porque ele tem essa visão super estratégica e super empreendedora. Ele fará 70 anos no próximo ano e está bem atualizado com o mundo dos negócios", elogia.
A atual presidente afirma que sempre gostou da área de administração de empresas, o que facilitou a escolha do rumo profissional a seguir. "Quando estava na faculdade, já queria começar a trabalhar e a conhecer o negócio. Eu mesma que pedi oportunidade para entrar na Bibi", revela. Ela tem duas irmãs. Uma delas, Camila Kohlrausch, atua como diretora de desenvolvimento de produto, marketing e franquias. A outra é médica.
Entre os planos futuros da marca, de acordo com a executiva, está intensificar o modelo de negócio de franquia no exterior. "Estamos com quatro lojas fora do Brasil. Vamos ter abertas nos próximos meses mais três, principalmente na América Latina, e tem o modelo de quiosques que vamos levar para a Romênia, que é mais enxuto", projeta.
Marlin, que é autor de livros e propaga seus conhecimentos através de palestras, sugere o planejamento aos empreendedores que pensam em sucessão familiar.
"Em primeiro lugar tem que ter um conselho, altamente independente e alguém de fora para ajudar a preparar, se é uma empresa de origem familiar. Porque não pode ter emoções, tem que trabalhar com a razão. Ao meu ver, tem que ser feito de uma forma profissional e tem que ser preparado ao longo dos anos e não de uma hora para a outra. É preciso desenvolver competências, porque ninguém é perfeito", compartilha. 

Pai para filho: Panvel contratou consultoria especializada para troca de comando

O processo de sucessão familiar na Panvel é motivo de orgulho para Julio Mottin, atual presidente do conselho administrativo do grupo Dimed, composto pela Panvel, pela distribuidora de medicamentos Dimed e pela Lifar, divisão de desenvolvimento de fabricação de cosméticos, medicamentos e alimentos. Em gravação do podcast do GeraçãoE, Julio explicou como o tema foi tratado na companhia.
Em 2016, ele passou o cargo da presidência do grupo para seu filho de mesmo nome, Julio Mottin Neto. Para o empresário, o processo é motivo de orgulho. "Sou um cara bem sucedido porque eu consegui fazer uma sucessão no negócio e colocar meu filho. Foi altamente disputado", lembra.
Para realizar a sucessão, a Dimed contratou uma consultoria especializada no assunto, justamente para avaliar qual seria o melhor caminho para a nova composição do quadro diretor da empresa. "Contratamos uma pessoa para fazer um assessment (processo para avaliar comportamento, competências e eficiência). Foi feito por todas as pessoas na empresa: toda a diretoria e toda a gerência", descreve. 
Para Julio, o processo, que durou cerca de cinco anos, indicou um caminho promissor para o futuro da rede. "Ele [Julio Mottin Neto] tem um dom. É muito centrado, tem um conhecimento vasto de toda tecnologia moderna, que eu acho muito importante." 
Além disso, o filho tem uma vantagem: conhece toda a história da marca, cuja concepção teve muito de seu pai. A Panvel é a união das drogarias Panitz e Velgos, no início dos anos 1970. "Comecei na drogaria Panitz, no departamento pessoal. Minha primeira função era preencher a carteira de trabalho das pessoas", conta. Essa história a família sabe bem, e representa muito o estilo de trabalho de Julio, que não se acomodou. Como a atividade não o atraía, começou a atuar na primeira loja aberta dia e noite em Porto Alegre.
São detalhes de uma jornada que constroem também a cultura organizacional da empresa. Uma vantagem quando a sucessão ocorre na própria família. "Começou como uma empresa pequena, com cinco lojas de um, 12 lojas de outro. Desde a fusão, fizemos um planejamento estratégico baseado em crescimento orgânico."
Mesmo que o comando tenha passado de pai para filho, a rede diz valorizar os demais funcionários. Com mais de 4 mil colaboradores e cerca de 400 lojas espalhadas pelo Estado e também por Santa Catarina, Paraná e São Paulo, para fortalecer o grupo, Júlio conta que a empresa aposta nos colaboradores que já fazem parte do quadro. "Nós usamos muito a base das pessoas internas, trazemos muito pouca gente de fora, só postos chaves. Fazemos esse trabalho muito interno", explica. 
 

Especialista lista dicas para negócios familiares

A psicóloga Claudia Tondo, da Tondo Consultoria, que trabalha desde 1993 em casos de empresas familiares, aponta algumas dicas que considera essenciais para o processo sucessório.
1. Planeje a sucessão antes que você precise dela.
2. Comece a delegar para os possíveis sucessores problemas menos complexos e vá aumentando gradualmente essa complexidade.
3. Envolva a família empresária ou os sócios nas escolhas de sucessão. Em geral, as pessoas não gostam de surpresas.
4. Busque a ajuda de profissionais especializados, eles podem evitar grandes dores de cabeça.
5. Entenda que o(a) sucessor(a) pode cometer erros e, muitas vezes, fará as coisas diferente de você. Essa pessoa precisará forjar seu próprio modelo de gerir.
6. Tenha um plano A, um plano B e um plano C, pois o A pode dar errado.
7. O processo de sucessão é de médio a longo prazo. Ou seja, dura entre cinco e 10 anos.
8. Indicamos ao sucedido(a) que tenha um novo projeto de vida. Tenha em mente no que vai se dedicar.