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O serviço da Trashin é recolher resíduos recicláveis de escolas, empresas e condomínios. O que diferencia a empresa gaúcha de outras do setor é que ela paga pelo lixo dos parceiros. Eleita no início deste mês a segunda iniciativa mais inovadora do Rio Grande do Sul pelo Innovation Award, a Trashin é constituída por cinco sócios que largaram tudo para se dedicar ao projeto.
Na prática, funciona da seguinte forma: os condomínios entram em contato com a startup, que avalia os descartes e troca o material por dinheiro. Se a quantidade não for tão grande, em vez de dinheiro, produtos de limpeza servem como "pagamento"
Em 2012, Sérgio Finger, 33 anos, sócio de uma agência de publicidade, participou de um hackaton, evento que reúne profissionais relacionados à área da programação com o intuito de, em um período curto de tempo, solucionar problemas de forma inovadora. No evento, o lixo foi o tema de trabalho escolhido por Sérgio.
O projeto, por motivos de estrutura, foi deixado de lado por um tempo. Em 2018, surgiu a possibilidade de, junto ao Instituto Federal, colocar a empreitada em prática. No IF, Sérgio e o grupo contaram com a mentoria de professores, consultoria estratégica, parceria para possíveis expansões, entre outros aportes. Há, ainda, o apoio das aceleradoras Ventiur, InovAtiva Brasil e da imobiliária Bento Azevedo, que acertou com a Trashin uma parceria para recolhimento do lixo de todos os empreendimentos administrados por ela. 
Cash from trash
A chave da Trashin para trabalhar pagando pela retirada do lixo é justamente ter encontrado novas soluções para o que pode ser feito com ele. As receitas não são oriundas somente da venda do material, mas também da capitalização de produtos criados a partir do que é recolhido e da publicidade da marca. Enxergar o lixo como obra-prima é essencial. O slogan “Cash from trash” – dinheiro vindo do lixo – abrange mais do que se pode enxergar à primeira vista. “Eu não quero vender o PET a R$ 1,50, quero construir um produto a partir daquilo e que nele eu possa cobrar R$ 10,00. É importante buscarmos marcas que entendam o valor do resíduo e saibam gerar valor agregado em cima disso”, acredita Sérgio. Para Rafael Dutra, chief operating office (COO) da marca, o projeto também é promissor para as cooperativas de reciclagem. “Temos uma responsabilidade com as cooperativas porque fazemos de tudo para que elas ganhem também. Afinal, lá se concentra a mão de obra e as pessoas que, de fato, fazem acontecer."
Sendo uma relação em que todos ganham, o trabalho funciona como uma parceria. Há um maior esforço por parte de quem vende o seu lixo. Quanto maior o aproveitamento, maior o incentivo ganho. Em um dos condomínios, por exemplo, a Trashin conseguiu aproveitar, inicialmente, 55% do material reciclável. Hoje o aproveitamento supera a casa dos 90%. “Tentamos salvar tudo que dá, inclusive o que nos concede R$ 0,05 de lucro por uma grande quantidade, mas infelizmente muita coisa ainda vai parar no aterro”, salienta Sérgio.
O projeto pode ser vantajoso para quem trabalha com a separação do lixo. “A gente trabalhava diretamente com a cooperativa e ganhava muito pouco, não temos o Ensino Médio e fazíamos, no máximo, R$ 250,00  na semana. Então, a oportunidade veio daquele jeito que o cara nem espera”, contam os meninos Guilherme Neckel e Igor Silva, que trabalham com a Trashin. Para Rafael e Sérgio, é importante valorizar quem atua diretamente na separação do lixo. “Isso também faz parte da responsabilidade social, sem falar que eles trabalham muito bem, já tinham experiência e fazem por merecer a oportunidade que demos."
LUIZA PRADO/JC