Empresas mostram que o empreendedorismo feminino chegou para ficar e conquistar espaços

Iniciativas de negócio fomentam o networking e o apoio profissional entre mulheres


Empresas mostram que o empreendedorismo feminino chegou para ficar e conquistar espaços

Atualmente, muita gente não entende a importância de iniciativas empreendedoras que são voltadas, exclusivamente, para as mulheres. Para além dos serviços, essas ações têm como objetivo ampliar redes, criar comunidades e promover um ambiente propício para quem se identifica com o gênero. As publicitárias Gabriela Teló, 26 anos, e Gabriela Stragliotto, 27, são as sócias-fundadoras da Nuwa, plataforma de negócios criada para contribuir com o ecossistema empreendedor feminino em Porto Alegre. Mas por quê?
Atualmente, muita gente não entende a importância de iniciativas empreendedoras que são voltadas, exclusivamente, para as mulheres. Para além dos serviços, essas ações têm como objetivo ampliar redes, criar comunidades e promover um ambiente propício para quem se identifica com o gênero. As publicitárias Gabriela Teló, 26 anos, e Gabriela Stragliotto, 27, são as sócias-fundadoras da Nuwa, plataforma de negócios criada para contribuir com o ecossistema empreendedor feminino em Porto Alegre. Mas por quê?
"Para conseguir construir, tem que se sentir igual. Nossa ideia não é separar os gêneros, mas propiciar com que as mulheres possam se agregar entre si", pontua Gabriela Teló, ao que a sócia cita as inúmeras desigualdades de gênero no mercado de trabalho, como os salários mais baixos e o pouco acesso de mulheres a cargos de liderança. "A gente pensa em construir, aqui dentro, algumas coisas que ficaram faltando, que a gente só descobre quando chega a certa idade, no mercado de trabalho", explica Gabriela Stragliotto.

Objetivo da Nuwa é criar um ambiente de trocas

Elas fizeram pesquisas de mercado em 2017 para entender o que queriam enquanto negócio e se a demanda existia. No recorte de empreendedorismo por gênero, foi constatado que o propósito é muito importante para as mulheres. "E a Nuwa foi sendo desenhada a partir dessas variáveis", justifica Gabriela Teló. 
fotos CLAITON DORNELLES/JC
  CLAITON DORNELLES /JC| Fotos: Claiton Dornelles/JC
O primeiro aspecto firmado por elas enquanto negócio é gerar confiança, o que perpassa todo processo empreendedor e profissional. "É preciso ter confiança de como se posicionar para fazer a diferença", explica Gabriela Stragliotto. "Confiança é a questão central de como as pessoas te percebem. Muitas mulheres se sentem patinando, a gente demora para fazer as escolhas, e não temos o suporte adequado", ilustra Gabriela Teló. Agregar foi a palavra seguinte, e, assim, chegaram ao formato da Nuwa, que oferece suporte presencial e on-line. Para que as mulheres pudessem compartilhar conhecimentos e experiências, o local se materializa no coworking com capacidade para até 50 pessoas, com estrutura de sala de reuniões, espaços com divisórias para trabalhos em grupo e sozinhas, escritório compartilhado e salas para atendimentos. Por uma assinatura mensal de R$ 540,00, a estrutura, que fica na rua Augusto Pestana, nº 153, no bairro Santana, está disponível das 8h às 20h. Para quem quiser testar, nos primeiros meses, o acesso custa R$ 50,00 por dia.
Entendendo a importância de reunir as mulheres e criar redes fora do ambiente digital, um dos serviços da Nuwa é o Social Club, clube de assinaturas que dá acesso a eventos, palestras e programações especiais da casa por R$ 240,00 mensais. Entre as atividades estão aulas de inglês, coach profissional e meditação e acesso a conteúdos. "A partir daí, vamos criar junto das associadas", emenda Gabriela Stragliotto.

Criar redes para fortalecer negócios e sociedade

Ionara Rech é coordenadora do curso de Administração da Escola de Negócios da Pucrs e organizou, junto a Letícia Hoppe, o livro Empreendedorismo feminino - Protagonistas de nossas vidas, lançado em 2017. O livro nasceu dos encontros de empreendedorismo feminino realizados na universidade desde 2016, com o objetivo de ser espaço de discussão sobre as necessidades das empreendedoras, no qual são abordados desde questões de gestão de negócios à gênero e família.
Segundo Ionara, os encontros nasceram de uma necessidade do mercado. "Tem um mercado voltado para a criação de negócios que são para mulheres, para mães também", pontua, além de toda a gama de empresárias, empreendedoras e empregadas no mercado de trabalho. "As mulheres precisam e querem falar sobre negócios, querem se conhecer", emenda. Uma das provas disso foi quando os eventos começaram a lotar. "E isso nos mostrou que as mulheres precisam falar. Querem saber sobre carreira e desenvolvimento pessoal, e nas áreas dos seus negócios." Para além da discussão sobre o próprio papel na sociedade, assuntos não são tão diferentes de outros eventos com foco em empreendedorismo, como gestão, marketing e finanças.
Ionara afirma que a competição entre mulheres é outro paradigma que os tempos atuais vêm para quebrar. "Antigamente, havia uma ideia de competição entre as mulheres, e hoje em dia não. Nos encontros, me surpreende o quanto o networking acontece. A gente vê as mulheres se aproximando e dando dicas. Em geral, esse próprio conceito de concorrência tem mudado. A gente fala muito mais em parceria, independentemente de gênero", resume.
fotos CAMILA CUNHA/ASCOM/PUCRS/DIVULGAÇÃO/JC
Encontros de empreendedorismo feminino deram origem a livro sobre o tema | Foto: Camila Cunha/Pucrs/Divulgação/JC
Com uma média de 250 participantes a cada edição, o evento já impactou quase 2 mil pessoas, e é aberto a todo mundo que queira se aproximar do tema. "Já tivemos homens participando, eles não se sentiram desprezados nem diminuídos. E a gente queria que eles participassem mais, queremos trazê-los para as discussões de empreendedorismo feminino ou gênero no ambiente organizacional", ilustra. Muito embora o empreendedorismo feminino encontre certa resistência em determinados círculos.
"Já fui em um fórum falar sobre esse tema e não me entenderam. É difícil explicar isso, muita gente entende, em um primeiro momento, que estamos querendo segregar, não é isso. É gerar um ambiente propício, dar espaço para que elas possam se colocar e se sintam tranquilas em trabalhar e ter sua vida pessoal e em família. Tocarem tudo isso em equilíbrio", enfatiza.
Veja, abaixo, alguns exemplos de empresas voltadas para mulheres que já passaram pelo GeraçãoE:

Centro de boxe exclusivo para o público feminino

A empreendedora Carla Silva criou um centro de treinamento de boxe exclusivamente para mulheres, em 2014. A ideia surgiu depois de a instrutora perceber que parte do público feminino se sentia pouco à vontade nas aulas mistas. O espaço, no Centro de Porto Alegre, recebe cerca de 80 alunas, divididas em oito turmas. A faixa etária das alunas, de acordo com a proprietária do negócio, varia entre meninas a partir dos nove anos e senhoras de idade avançada.

Estúdio de tatuagem para elas

O estúdio de tatuagem Cadê Amélia, em Porto Alegre, aposta em um diferencial no ramo: é voltado totalmente para o público feminino, para que as clientes se sintam à vontade na hora de riscar a pele. Uma das apostas do negócio é simplificar o orçamento e acompanhar os cuidados pós-tatuagem. No primeiro mês de funcionamento, de acordo com o site do empreendimento (www.cadeamelia.tattoo), os resultados foram surpreendentes: "Agenda cheia, entrevistas na TV e o melhor feedback do mundo - clientes satisfeitas e felizes."

Empresa gaúcha de reparos domésticos só com mulheres

A SOS Gurias é uma prestadora de serviços e reparos domésticos, da advogada Stael Sabrina de Figueiredo e da técnica em administração Daniani Gisele Thozeski Vargas, que surgiu em janeiro de 2016 para atender o público feminino em Porto Alegre e na Região Metropolitana. Na época, contou Stael, o principal incentivo veio de uma amiga, que precisava de um serviço em casa e não se sentia à vontade para contratar os profissionais homens, mais comuns na atividade. A decisão de apostar no ramo veio depois de conhecerem um serviço similar de São Paulo.

Salão de beleza feminista com mesa de sinuca

Com proposta de fugir dos padrões, foi inaugurado, em maio, o Mad'am Parlour, um salão de beleza pensado a partir dos preceitos do feminismo, com o objetivo de se alinhar às necessidades das mulheres contemporâneas. As idealizadoras da empreitada são Hanny Barcellos e Daniella D'Ávila. Além dos serviços usuais de salão de beleza, o local possui mesa de sinuca, estúdio de tatuagem, drinques e cervejas artesanais - produzidas por mulheres -, itens antes encontrados apenas em barbearias.