Publicada em 07 de Setembro de 2021 às 23:12

Valorização de raças ovinas provoca escassez de animais

'O setor está em franco crescimento para venda', aponta Colares, sobre as raças coloridas

'O setor está em franco crescimento para venda', aponta Colares, sobre as raças coloridas


PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Patrícia Comunello
Quem tiver reprodutores e matrizes de ovinos para vender é rei nos corredores onde estão expostos exemplares das raças no Pavilhão dos Grandes Animais na Expointer, em Esteio. A valorização e busca por animais para ampliar e melhorar os plantéis são alavancadas pela recente emissão do certificado de zona livre de aftosa sem vacinação no Rio Grande do Sul, apontam dirigentes do setor e criadores. 
Quem tiver reprodutores e matrizes de ovinos para vender é rei nos corredores onde estão expostos exemplares das raças no Pavilhão dos Grandes Animais na Expointer, em Esteio. A valorização e busca por animais para ampliar e melhorar os plantéis são alavancadas pela recente emissão do certificado de zona livre de aftosa sem vacinação no Rio Grande do Sul, apontam dirigentes do setor e criadores. 
Os ovinos também batem recorde como rebanho na feira, com aumento de 3,58% na mostra. Foram 809 animais inscritos de 14 raças diferentes, com a a liderança do Texel, que soma 192 animais, acima dos 185 de 2019. Em 2020, não teve a mostra presencial devido à pandemia.
As raças naturalmente coloridas vieram com representação recorde, com aumento de 102,17%, passando de 46, em 2019, para 93 neste ano. Esse desempenho é comemorado pelos criadores em Esteio. A busca pelas raças tem três ingredientes decisivos, explica o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos Naturalmente Coloridos (ABCONC), Oscar Francisco Silveira Colares:
"É um animal que produz mais, dura mais, tem couro mais grosso e ainda vai além da carne, ofertando o pelego e a lã", lista o presidente da ABCONC. Outro aliado neste processo é a pulverização de ferramentas digitais para divulgar eventos e nivelar a informação sobre o manejo e melhoramento. Por isso, a expectativa sobre o resultado do leilão na feira, nesta quinta-feira (9), é alta.
"Vamos usar dois canais na internet para o Brasil, ou melhor, para todo o mundo."
Sobre a venda, o presidente da associação espera que se mantenha o nível atual, que é considerado muito bom. "O setor está em franco crescimento para venda. Produzo Corriedale e não temos carneiro para vender. Ninguém tem animal de dois anos, vendemos borregos com um ano", descreve Colares. A abertura do fluxo para Santa Catarina teve forte efeito.
"Fazia 20 anos que os criadores do estado não podiam comprar diretamente ou tinham de fazer quarentena, que é muito custo. Hoje não tem mais este empecilho", arremata o dirigente   
A expectativa é de mais negócios em feiras catarinenses e no Paraná, que também conquistou a condição sanitária. O setor busca outros canais de disseminação, como as pequenas propriedades. O rebanho hoje no Estado é de 3 milhões de cabeças de animais e estima-se que os naturalmente coloridos representem 30% do plantel. 
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'Temos 15 raças maravilhosas. É produto de exportação', orgulha-se Gressler. Foto: Patrícia Comunello/JC
"Momento extraordinário e a euforia têm origem na pandemia", aposta o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Edemundo Ferreira Gressler. O isolamento imposto pela crise sanitária fez os criadores se voltarem mais para as propriedades, com cuidados mais intensivos desde o acasalamento e nascimentos.
"Essa capacidade de melhoramento na genética e no manejo se reflete na Expointer. Temos 15 raças maravilhosas, com animais de ponta e que serão sucesso em qualquer lugar que forem. É produto de exportação inclusive", valoriza Gressler. A Expointer de 2021 tem muita evolução da qualidade genética", afirma o dirigente da Arco, que considera o momento único por estar aliado com a demanda alta do mercado, incluindo a industrial, e investimentos.
"Temos uma supersafra de genética", resume Gressler. Para manter este bom momento, o setor aciona medidas para manter a capacidade e até expandir na área genética e ainda ampliar a base de produção, pois a indústria demanda cada vez mais cortes de cordeiro e não encontra matéria-prima suficiente.
A Arco vai firmar acordo com a Emater-RS para levar informação e assistência a pequenas propriedades que queiram ingressar na atividade, pois a criação de ovinos se ajusta a pequenas áreas e pode ser mais uma alternativa de renda.

Criador vendeu todos os reprodutores antes da feira

'Se alguém chegar na minha propriedade para comprar um ou dois carneiros não tenho mais'

'Se alguém chegar na minha propriedade para comprar um ou dois carneiros não tenho mais'


PATRICIA COMUNELLO/ESPECIAL/JC
Tradicional criador de genética de Texel e Corriedale na Serra Gaúcha, Luiz Alfredo Horn Junior, da Cabanha São Paulino, em Vacaria, conta que vendeu antes de chegar à feira toda a oferta de reprodutores que ele havia reservado para a Expointer. Desde julho, com o certificado sanitário de zona livre de aftosa sem vacinação, o mercado comprador não para de crescer.
"Todo mundo estava com medo da pandemia, e o ano passado foi bom e este ano está melhor ainda", resume Horn. "Se alguém chegar na minha propriedade para comprar um ou dois carneiros não tenho mais. Vendi o último há uns 15 dias", conta o criador. A demanda é de pecuaristas gaúchos, principalmente, e tem a procura por produtores de Santa Catarina e do Paraná.

Suffolk não terá leilão em Esteio por falta de oferta

Criadores (esquerda para a direita) Schulz, Szortyka, Botelho e Costa comemoram bom momento

Criadores (esquerda para a direita) Schulz, Szortyka, Botelho e Costa comemoram bom momento


LUIZA PRADO/JC
Um sintoma de como está aquecido o mercado de genética é que não vai ter leilão de exemplares de genética da raça ovina Suffolk na Expointer. A razão: falta de animais para colocar na pista. O vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Suffolk, Tiago Szortyka, aponta a grande procura como o motivo. "Foi fantástico", cita o dirigente, sobre o certificado.
"Eu vendi tudo e o que eu trouxe para cá não vou vender", avisa o vice-presidente da associação. Segundo Szortyka, isso se repete entre criadores catarinenses. Tradicional criador da raça, João Augusto Botelho do Nascimento, da Fazenda Descanso, em São Martinho da Serra, é um dos poucos com animais disponíveis e é abordado a todo instante por compradores. "Estou avaliando se vou vender", diz ele. 
O empresário em Joinville, em Santa Catarina, Edoardo Schulz, diz que as cabanhas não conseguem atender a demanda de mercado. "Teremos feira agora que vão crescer muito em animais", projeta Schulz, associando ao efeito do certificado. 
Antonio Gilberto da Costa, que já foi dirigente da associação e é dono da cabanha Maçaroca, em Terra de Areia. "Está bombando", resume Costa, que ressalta a importância do conhecimento técnico para desenvolver a raça. Sobre a disseminação da raça em pequenas propriedades, Costa observa que um cordeiro de qualidade tem de ter um reprodutor de qualidade. 
O mercado de abate é outro desafio, cita Szortyka, já que são escassas as propriedades com maior escala de produção. A luta do setor é ter oferta permanente de cordeiro, para vencer o impacto da sazonalidade do inverno. "A oferta de pastagem é fundamental", resume o dirigente.
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