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Esportes

- Publicada em 25 de Dezembro de 2021 às 14:48

'Boxe é a ovelha negra do esporte', diz Hebert Conceição

Campeão olímpico em Tóquio 2020, Hebert afirma que sente o preconceito no ambiente esportivo

Campeão olímpico em Tóquio 2020, Hebert afirma que sente o preconceito no ambiente esportivo


LUIS ROBAYO/AFP/JC
Preto, pobre e lutador de boxe. É por essas três características que Hebert Conceição, medalhista de ouro nos Jogos de Tóquio na categoria peso médio, se identifica. E por todas as três ele já se sentiu discriminado. "O boxe é a ovelha negra das modalidades", dispara. "Por que é um esporte praticado majoritariamente por pessoas humildes e simples", acrescenta.
Preto, pobre e lutador de boxe. É por essas três características que Hebert Conceição, medalhista de ouro nos Jogos de Tóquio na categoria peso médio, se identifica. E por todas as três ele já se sentiu discriminado. "O boxe é a ovelha negra das modalidades", dispara. "Por que é um esporte praticado majoritariamente por pessoas humildes e simples", acrescenta.
"Quando dou uma entrevista conversando tranquilamente, batendo papo além de esporte, sobre conhecimentos gerais, as pessoas até ficam surpresas por eu ser lutador de boxe. Na cabeça delas, acham que lutador de boxe não tem capacidade de se comunicar, ser inteligente", completa o campeão olímpico.
Historicamente, os pugilistas vêm das periferias. Muitos são imigrantes e/ou negros. No Brasil, por exemplo, toda a seleção de boxe que foi para Tóquio começou a lutar em projetos sociais. Robson Conceição, primeiro pugilista brasileiro campeão olímpico, foi criado por mãe-solo e trabalhou como feirante e ajudante de pedreiro para auxiliar a família antes de fazer sua carreira no esporte.
Hebert conta que sente a discriminação contra o boxe mesmo dentro do ambiente esportivo, principalmente por parte de atletas de outros países, que menosprezam a modalidade.
Natural do bairro de Pau de Lima, em Salvador, na Bahia, lembra que, na infância, "por ser pobre, era tratado como mero sonhador". Como se, partindo do lugar de onde ele nasceu, o sucesso fosse possível apenas em forma de ilusão. Não que ter alcançado a glória esportiva tenha feito sua realidade se transformar completamente.
"Às vezes, no aeroporto, eu chego na fila premium de embarque e chega um funcionário e diz que 'sua fila não é essa'. Eu digo 'por que?' Ele: 'Porque aquela é a comum'. Quando digo que sou premium, o cara se surpreende e pede desculpa. Mas você não vê ele abordando quem está de gravata, paletó e cabelo liso", diz.
O pugilista lembra que, quando criança, nunca passou fome, mas também não sobrava dinheiro na família. Conta que sempre foi maior que seus amigos e, quando moleque, era encrenqueiro. Vivia na rua e, jogando bola (é torcedor fanático do Bahia), arranjava briga.
Assistia ao UFC e queria ser lutador. Começou pelo jiu-jítsu, passou pela capoeira e, ainda com foco nas artes marciais mistas, entrou no boxe. Mas após subir no ringue com as luvas pela primeira vez, nunca mais quis largá-las.
"Com 15 anos eu já tinha compromissos que outros amigos não tinham. Estudava e trabalhava numa padaria, porque meus pais não tinham como tirar R$ 100,00 por mês para pagar transporte, tênis e luva para eu treinar. Quando fui campeão brasileiro aos 19, comecei a ganhar bolsa e pude parar de trabalhar e até ajudar em casa", conta.
Hebert nunca escondeu a importância da terra natal em sua vida. No Japão, entrou para suas lutas ao som de "Madiba" - canção de Raimundo Bida e Marquinhos Marques que faz referência a Nelson Mandel -, interpretada pelo Olodum.
Nas Olimpíadas de Tóquio, o Nordeste teve protagonismo inédito para o Brasil, trazendo quatro ouros. Mas tanto Hebert quanto muitos de seus conterrâneos precisaram deixar a região para chegar à elite do esporte. No caso do pugilista, saiu de Salvador em 2017 e foi para a São Paulo.
"Infelizmente, as cidades nordestinas, mesmo capitais, não têm o poder aquisitivo que as do Sudeste e Sul têm. Chega um momento em que a gente precisa de grandes estruturas. Fico feliz de ter sido bem acolhido em São Paulo, mas queria, sim, ter desenvolvido toda a carreira aqui [na Bahia], sem precisar ficar longe da família por tanto tempo", diz.
A modalidade estará nos Jogos de Paris, em 2024, mas pode ficar de fora de Los Angeles 2028 se não resolver problemas internos de governança. Enquanto pretende lutar pela permanência do boxe no programa olímpico, o próprio Hebert se distanciará desse circuito: o pugilista acaba de entrar para a categoria profissional.
No esporte, o boxe olímpico é considerado amador e tem um circuito próprio, separado do profissional, onde, assim como no UFC, há mais dinheiro.
Hebert não esconde que quer estar em Paris, mas o panorama financeiro e a possibilidade de passar mais tempo em Salvador perto da família pesaram para sua decisão - que segue o caminho de nomes como Robson Conceição e Esquiva Falcão.
"Minha vontade é ficar em Salvador, não vou mentir. Se eu for para mais um ciclo olímpico, vou voltar para São Paulo com felicidade. Mas vejo como prioridade o lado financeiro, ainda estou construindo minha vida financeira", afirmou, ainda antes do anúncio oficial como profissional da equipe Probellum.
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