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Esportes

- Publicada em 28 de Março de 2021 às 09:00

Como a pandemia impactou os clubes de futebol do Interior gaúcho

Para alguns times do Interior do RS, o Campeonato Gaúcho se torna a principal - e às vezes única - competição da temporada

Para alguns times do Interior do RS, o Campeonato Gaúcho se torna a principal - e às vezes única - competição da temporada


Reprodução/Facebook FGF/JC
Vinicius Alves
Não é novidade que os clubes do interior do Rio Grande do Sul não vivem com grandes orçamentos, como é o caso da dupla Grenal. São diversas as dificuldades encontradas durante o ano por essas equipes, principalmente nas questões financeiras.
Não é novidade que os clubes do interior do Rio Grande do Sul não vivem com grandes orçamentos, como é o caso da dupla Grenal. São diversas as dificuldades encontradas durante o ano por essas equipes, principalmente nas questões financeiras.
Para alguns times, o Campeonato Gaúcho se torna a principal - e às vezes única - competição da temporada, e o planejamento para o restante do ano passa por ele. Com duração estimada em três meses, os clubes do interior, principalmente aqueles sem uma competição para disputar no segundo semestre, planejam usar suas receitas durante esse período para pagar salários de jogadores e funcionários, investir na estrutura do estádio e em outras despesas de um clube de futebol profissional.

Parada e recomeço das competições em 2020

Agora em março fez 1 ano da paralisação da primeira divisão do Campeonato Gaúcho por conta do início da pandemia de Covid-19 no Brasil. A competição, que estava prevista para se encerrar no dia 19 de abril, teve o término de sua segunda fase somente no início de agosto. Na época, a paralisação pegou os clubes gaúchos de surpresa, tendo em vista que o planejamento financeiro da grande maioria comportava somente os três meses de campeonato e a arrecadação das bilheterias nos jogos como mandante eram essencial para as finanças do clube.
Segundo o presidente do Clube Esportivo Aimoré, Ronaldo Vieira, o Índio Capilé sofreu com um aumento considerável de despesas durante a parada do campeonato, o que gerou um desequilíbrio grande entre o que o clube arrecadava e gastava. A solução foi recorrer a empréstimos bancários e parcelar outras dívidas. Ele destaca também que a falta de público e, consequentemente, a falta de arrecadação nas bilheterias, aumentou ainda mais as dificuldades diante dos vários custos fixos relacionados às partidas do time após a retomada, mas entende que não havia outra solução diante do atual contexto. “Pior seria se tivesse parado a competição”, relembra.
A ausência da torcida nos estádios ao longo do ano foi a dificuldade mais citada entre os dirigentes entrevistados. A arrecadação dos jogos como mandante é muitas vezes crucial para manter positivo o balanço orçamentário dos clubes. As vendas de ingresso para os confrontos contra a dupla Grenal, por exemplo, são sempre vistas com bons olhos, porque geralmente são partidas em que os estádios atingem capacidade máxima.
“Penso que perdemos muito nessa parte porque estávamos num momento em que o clube disputava 2 competições (Gauchão e Copa do Brasil) nas quais poderíamos ter colocado o público no estádio e até mesmo arrecadado um valor que a gente não costuma arrecadar”, comenta o gerente executivo do Esporte Clube São José, Luciano Machado. Na temporada passada, o Zequinha chegou até a terceira fase da Copa do Brasil, campanha que proporcionou aos cofres do clube R$ 2,69 milhões, valor importante para conseguir cumprir com compromissos financeiros.
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Na temporada passada, o Zequinha chegou até a terceira fase da Copa do Brasil, embolsando R$ 2,69 milhões. FOTO: Reprodução/Facebook/JC
Segundo o presidente do Clube Esportivo de Bento Gonçalves, Laudir Piccoli, o clube trabalhou no estancamento de despesas durante o período de paralisação. Ele comenta ainda sobre o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, instituído pelo governo federal, que oportunizou, através de acordos individuais ou coletivos com seus jogadores e funcionários, reduzir jornadas ou suspender contratos de trabalho. Com isso, os jogadores e funcionários continuaram recebendo integralmente os seus salários durante esse período, sendo uma parte paga pelo Esportivo e outra pelo programa do governo.
Essa ajuda também foi bem-vinda pelo Caxias. O presidente Paulo Cesar Santos relembra que o clube tomou todas os cuidados necessários para não deixar nenhuma possibilidade de reclamatória trabalhista em aberto: “Tivemos uma conversa muito franca com os jogadores. Adotamos uma política de conversar com os atletas e mostrar as possibilidades para adaptar essa questão da baixa de receita e, dentro disso, recorremos ao programa do governo que nos deu certo alívio de algumas folhas. O Caxias adotou uma política de cumprir com todas as suas obrigações no sentido de folha salarial e não simplesmente uma redução ao atleta sem a concordância do sindicato. Essa redução foi da forma como a lei e o auxílio do governo nos permitiu fazer”.
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Clubes gaúchos como o Esportivo tiveram os testes de Covid-19 nos dias dos jogos bancados pela FGF em 2020, mas em 2021, despesas ficam com as equipes. FOTO: Esportivo/Reprodução/JC
A partir de julho começaram as retomadas dos campeonatos estaduais e nacionais, com a adoção dos protocolos de segurança, como a ausência das torcidas nos estádios e a realização de testes de Covid-19 nos atletas e demais envolvidos nas partidas de futebol. O Campeonato Gaúcho voltou no dia 22 de julho para a disputada das três últimas rodadas da segunda fase. Em 2020, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) ficou responsável pelo custeio desses testes nos dias de jogo, o que ajudou os clubes de baixa condição financeira. No entanto, para a temporada 2021, as despesas ficaram por conta dos clubes.

Dificuldades na arrecadação

Além das cotas dos direitos de transmissão dos campeonatos estaduais e nacionais e da arrecadação com ingressos, outras importantes fontes de renda dos clubes do Interior são as mensalidades de sócio-torcedor, das escolinhas de futebol e a venda de produtos. O empresariado local ajuda por meio dos patrocínios. Porém, em momentos de crise, essas relações são fortemente afetadas. O Esportivo, por exemplo, perdeu cerca de 90 mensalidades da escolinha de futebol durante a pandemia, o que fez falta, segundo o presidente do Clube.
Para o vice-presidente do Novo Hamburgo, Saul Borba, a paralisação dos treinos das categorias de base traz prejuízos de médio a longo prazo aos clubes menores. “Há um prejuízo muito grande em clubes como o Novo Hamburgo na questão da formação dos atletas. Comprovadamente, uma das grandes fontes de captação de renda de clubes de futebol é formar o atleta e vender. Com essas paradas nos treinamentos, há um prejuízo grande com os atletas de diferentes faixas etárias que não estão disputando campeonatos”.
O apoio da população das cidades do Interior é muito importante para os clubes. Em momentos de crise, como o que estamos vivenciando, com a taxa anual de desemprego no Brasil batendo em 13,5%, recorde até então, é normal que haja a diminuição de associados. Diferentemente de times como Inter e Grêmio, que contam com um quadro social bem estabelecido, com números expressivos, nas equipes do Interior a situação não é a mesma, e qualquer baixa faz falta aos cofres.
De acordo com os presidentes de Aimoré e Esportivo, os clubes perderam em torno de 50% e 20% dos sócios no último ano, respectivamente. Já o presidente do Caxias destaca que, embora também tenha acontecido uma redução no quadro social, houve uma grata surpresa pelos torcedores que conseguiram manter as mensalidades em dia. “Vale enaltecer e parabenizar a torcida pela sua manutenção e principalmente por demonstrar confiança em nosso projeto”, comenta.
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Aimoré perdeu em torno de 50% dos sócios em 2020. FOTO: Aimoré/Reprodução/JC
Nas questões de patrocínio, o atual contexto torna desfavorável a obtenção de novas parcerias. “Mesmo quem não teve perda com a pandemia, utiliza este argumento para não investir no futebol neste momento sem público nos estádios”, comenta o presidente do Aimoré, Ronaldo Vieira. Ele conta que o clube da região do Vale dos Sinos perdeu dois patrocinadores importantes no último ano. Situação parecida com a do Caxias, que segundo seu presidente, também teve contratos encerrados com patrocinadores devido às dificuldades financeiras causadas pela pandemia, mas destaca que os principais parceiros se mantiveram. 
Já para o gerente executivo do São José, a situação do clube porto-alegrense em relação aos patrocínios se manteve parecida de um ano para o outro. Ele relembra que o Zequinha perdeu dois patrocinadores para a temporada de 2021 e que em 2020 houve outros reajustes de contrato para que os parceiros conseguissem seguir ajudando o clube.
Quando comparadas as situações com patrocinadores de um ano para o outro, o presidente do Esportivo comenta que o clube da serra conseguiu novos patrocínios para essa temporada, com destaque para o Banrisul. O banco apoia os clubes que participam das competições nacionais e, neste ano, o Esportivo vai disputar série D. Entretanto, ele destaca que o valor arrecadado com as novas parcerias não chega perto do montante de 2020.

Ações para levantar fundos

Em momentos como esse, os clubes buscam diversas maneiras de equilibrar a situação financeira, seja com a mobilização de torcedores, com campanhas específicas ou por meio de novos patrocinadores.
No final do ano passado, o Novo Hamburgo lançou uma camiseta comemorativa de 110 anos - o aniversário é em maio de 2021. De acordo com seu vice-presidente, o Noia está sempre buscando participar de eventos sociais e solidários a fim de mobilizar e trazer mais torcedores ao clube, porém destaca que o retorno ainda é bem complicado.
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No final do ano passado, o Novo Hamburgo lançou uma camiseta comemorativa de 110 anos. FOTO: E.C NOVO HAMBURGO/REPRODUÇÃO/JC
Já o presidente do São Luiz de Ijuí, Lauro Hass, conta que apesar das dificuldades que o alvirrubro vem encontrando, há uma mobilização muito grande por parte das pessoas envolvidas com o clube: “Estamos tendo uma mobilização muito grande por parte de toda diretoria, dos conselheiros e de muitos associados que têm ajudado o clube de forma particular. Algumas ações foram feitas e estamos chamando sócios para o clube. Projetamos desde o ano passado uma campanha de antecipação das mensalidades. Também estamos com uma campanha em andamento na qual sócios têm cedido algum valor em forma de empréstimo para o clube. É a maneira encontramos de administrar toda essa dificuldade que estamos tendo”.
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No Caxias, ano da pandemia também foi de lançar novas campanhas para aproximar o torcedor. FOTO: Divulgação/SER Caxias do Sul/JC
Uma campanha de destaque é a “Honradores da História”, uma doação coletiva lançada pelo Caxias em junho do ano passado que, segundo o presidente, trouxe aos cofres do clube uma receita entre R$ 520 e R$ 540 mil em 2020. Em troca das doações, o torcedor ganha recompensas conforme o valor doado. “Nosso torcedor abraçou a causa. Isso nos deu sustentação para cumprir nossas obrigações”, destaca Paulo Cesar. Em 2020 o clube grená também adotou a ação do ingresso solidário, que dá à torcida a chance de comprar um ingresso virtual diante de alguma partida decisiva. No dia 17 de março, 1.712 torcedores garantiram o ingresso virtual para a partida contra o Fortaleza pela Copa do Brasil.
As cotas de direitos de transmissão dos campeonatos em que participam, a ajuda dos patrocinadores e a mobilização da torcida com associações e outras ações específicas são o que fortalecem os clubes para a temporada de 2021 que recém se iniciou. O momento é de muita incerteza no futebol e, apesar das dificuldades, os clubes seguem sobrevivendo como podem.
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