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Vinhos e Espumantes

- Publicada em 17 de Maio de 2019 às 03:00

Dona Bita, a dama do vinho

Beatriz Dreher Giovannini é a fundadora da premiada vinícola Don Giovanni, que produz 120 mil garrafas ano em vinhedos próprios

Beatriz Dreher Giovannini é a fundadora da premiada vinícola Don Giovanni, que produz 120 mil garrafas ano em vinhedos próprios


/ADRIANA FRANCIOSI/DIVULGAÇÃO/JC
Flavia Mu
Ao sair do elevador, é possível sentir o cheiro do caldo de frango no fogo. Está pronto para a sopa do almoço. Na hora de servir, basta colocar o capelete fechado um a um por uma senhora que mora perto de Bento Gonçalves. A mesa está posta sobre uma toalha branca. Taça e copos em cristal, talheres bem polidos e guardanapos de pano com prendedores decorados com um cachinho de uvas verdes que parece feito à mão. Beatriz Dreher Giovannini espera na porta com um sorriso e um abraço afetuoso.
Ao sair do elevador, é possível sentir o cheiro do caldo de frango no fogo. Está pronto para a sopa do almoço. Na hora de servir, basta colocar o capelete fechado um a um por uma senhora que mora perto de Bento Gonçalves. A mesa está posta sobre uma toalha branca. Taça e copos em cristal, talheres bem polidos e guardanapos de pano com prendedores decorados com um cachinho de uvas verdes que parece feito à mão. Beatriz Dreher Giovannini espera na porta com um sorriso e um abraço afetuoso.
Assim é Dona Bita, como é conhecida a fundadora da premiada vinícola Don Giovanni: sabe que receber é a arte da gentileza, que cada encontro é um presente e que os brindes podem ser cotidianos. "Uma boa comida merece um bom vinho. E a mesa deve ser sempre rodeada de amigos. Esse é o melhor lugar do mundo", reflete. Herdeira da Dreher, desde cedo acompanhou o processo de fabricação dos destilados e, posteriormente, dos vinhos produzidos em caráter experimental pelo pai e pelo tio. "Praticamente nascida numa pipa. O vinho sempre fez parte da minha vida. E é, antes de tudo, sinônimo de alegria. Minha família soube transmitir bem esse sentimento", recorda.
Nem em sonhos a realidade do negócio que construiu ao lado do marido, Ayrton Giovannini, seria tão bonita. A vinícola está num alto nível de qualidade nos produtos e nos serviços. Em vinhedos próprios, em processo de conversão para o manejo biodinâmico focando na sustentabilidade e no legado para as próximas gerações, a Don Giovanni produz 120 mil garrafas ano. A vinícola e seus rótulos de excelência tiveram papel importante ao trazer visibilidade a Pinto Bandeira e tornar seu terroir reconhecido mundialmente pelos espumantes de excelência.
Além dos vinhedos, da vinícola e do varejo de vinhos, a Don Giovanni é também pousada e restaurante. "Vejo muito de mim aí. Eu não sabia ser hoteleira. Transformei o casarão junto da vinícola como se fosse a minha casa", reconhece. A pousada possui sete apartamentos, numa construção de 1930, mantendo na decoração características originais da colonização italiana. "De início, servíamos apenas do café da manhã. O hóspede, que passeava o dia todo pela região, queria jantar algo na pousada mesmo. E, a partir desta demanda, abrimos um pequeno restaurante que aos hóspedes e a grupos mediante reserva", explica. Grande parte do que é oferecido no cardápio, como temperos, legumes e hortaliças, é produzido na propriedade. Os pratos que mais fazem sucesso - risoto de alcachofra e o frango assado com cerveja - são criações de Bita que puxou o talento da mãe nas panelas. Cerca de 12 mil visitantes passam pelo local todo ano, entre hóspedes e visitantes.
A trajetória de Bita e da Don Giovanni exigiu esforço e dedicação. "Trabalhamos muito. Já colhi muita uva, cozinhei muito na pousada, servi muitas mesas, carreguei muito prato e lavei muita louça. Mas a gente faz com vontade. A gente ama tudo isso e tenta passar adiante", comenta. Carolina (15), Giovana (1) e o recém-chegado Lucas, netos de Bita e Ayrton, sempre estão por perto e acompanham a rotina da família. "Neste sentido, eu fui muito privilegiada. Quando criança, eu morava bem do lado da empresa. E não tínhamos tanta opção de lazer naquela época. Nossa diversão era passar as tarde no vinhedo e na indústria. Lembro bem direitinho da minha mãe esconder as cestas de Páscoa na vinícola", relembra.
Aos 74 anos, Bita é cheia de energia. Acorda cedo e sempre tem algo para fazer. Ajuda os filhos com as crianças, mantém a casa em ordem com a ajuda da Adriana - que já trabalha ao seu lado faz 25 anos - e está sempre disponível para os chamados da equipe da pousada. Gosta de bordar e pintar. À noite, depois do jantar, escolhe um filme para assistir com o marido. Em seu tempo livre, mantém ainda uma vida comunitária ativa. "Eu adoro Bento Gonçalves e a região. Sempre que posso estou envolvida com as causas que movimentam a cidade Aos fins de semana e nos feriados, gosta de atender os clientes na loja junto à vinícola. O visitante adora encontrar conosco na vinícola e ficar conversando. Ele quer saber a nossa história, receber as nossas indicações de vinhos e espumantes. O processo de vinificar é muito semelhante em tudo que é lugar do mundo. Algo precisa tornar a experiência turística diferente. E eu acredito que é por isso que ele volta", comenta.
Bita sabe da importância do vinho e do seu negócio para a região. "Fico feliz em ver que, ano após ano, nossa região tem cuidado mais e melhor da nossa produção. Eu tenho o maior respeito e admiração pelo colono e pelo agricultor. Quantas famílias a produção de vinho sustenta na serra gaúcha? Por quantas mãos passa uma garrafa de espumante até que chegue ao momento do brinde? O processo de elaboração de vinhos e espumantes envolve muita gente. Ainda espero que o vinho nacional tenha o reconhecido que merece", comenta.
O olhar sensível - que encontra beleza nas mais diferentes pedras que sempre traz na bagagem ou na coleção de copos da família - está muito ligado à arte. Bita já foi dona de galeria, curadora de exposições e costuma dar força aos artistas locais. "Fazer vinho é também uma arte, não é mesmo? E a arte é necessária para sobrevivermos. É através dela que sabemos como evoluímos", reflete.
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