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reportagem cultural

- Publicada em 02 de Dezembro de 2021 às 18:45

Espaço underground da cultura, antigo Bar do IAB completa 40 anos da inauguração

Dirceu Russi abriu o negócio em 1º de dezembro de 1981, ao lado do amigo Antonio Carlos Castro

Dirceu Russi abriu o negócio em 1º de dezembro de 1981, ao lado do amigo Antonio Carlos Castro


ANDRESSA PUFAL/JC
"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para se abrir um bar", escreveu o carioca Antonio Callado citando o poeta inglês W.H. Auden na epígrafe do livro Bar Don Juan. Não sei se o empresário Dirceu Russi leu este livro - é possível que sim - mas de qualquer forma foi esta decisão que ele tomou há exatos 40 anos, no segundo semestre de 1981, quando ao lado do amigo Antonio Carlos Castro resolveu abrir um bar.
"Quando o processo histórico se interrompe... quando a necessidade se associa ao horror e a liberdade ao tédio, a hora é boa para se abrir um bar", escreveu o carioca Antonio Callado citando o poeta inglês W.H. Auden na epígrafe do livro Bar Don Juan. Não sei se o empresário Dirceu Russi leu este livro - é possível que sim - mas de qualquer forma foi esta decisão que ele tomou há exatos 40 anos, no segundo semestre de 1981, quando ao lado do amigo Antonio Carlos Castro resolveu abrir um bar.
Hoje, a condição descrita por Auden e reproduzida por Callado quase que se repete, mas Dirceu, 76 anos, pendurou as garrafas e as taças - está aposentado da noite, depois de ter dado uma contribuição inestimável aos hábitos notívagos. Como não pensa em abrir um bar (mais um), o que só aumentaria seu currículo etílico, tampouco voltar para trás dos balcões está nos seus planos, Dirceu pretende agora lançar um site contando a história e as histórias de um bar que marcou a vida social e cultural de Porto Alegre: o Bar do IAB.
O site (www.espacoannesdias166.com.br) no ar desde o dia 1º é o resumo daqueles dias agitados e daquelas noites efervescentes de boa parte da década de 1980 no Centro de Porto Alegre. O que Dirceu - assessorado pelo amigo e diretor de imagens Aloisio Rocha - está recuperando são depoimentos de frequentadores, recordações de amigos, relatos de artistas, curiosidades e fatos que fizeram parte de um período estimulante da vida brasileira em geral e da porto-alegrense em particular.
Infelizmente - em épocas pré-celular - são poucas as fotos que sobraram. "Apesar de o local ter sido frequentado por dezenas de fotógrafos, não fiquei com quase nada daquela época", explica Dirceu, que aproveitará o site para fazer um apelo a quem tiver imagens e que se disponha a doar o material para o acervo. "A ideia é que o site seja vivo, em constante atualização, contando com a colaboração de velhos frequentadores".
Como não pensa em escrever um livro sobre o que viu no seu tempo de balcão - "Se contasse o que poderia ser contado, o livro não teria graça nenhuma; se contasse o que não pode ser contado, seria morto", resigna-se Dirceu - o site também servirá como o registro daquele tempo tão bem vivido.
Dirceu e seus amigos lembrarão de shows (Cida Moreira e Nana Caymmi, os mais badalados, ou Tangos & Tragédias, com Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, ou Cem Modos com O Menor Espetáculo da Terra, ou ainda a Suíte para Flauta e Jazz-Piano, com Ayres Pothoff e Celso Loureiro Chaves, alguns dos pioneiros) e também a quantas andava o País que vivia os estertores da ditadura e começava a respirar os ares das eleições diretas e da abertura democrática.
"Minha relação com o Bar do IAB é afetiva. O Tangos & Tragédias começou ali. Depois fomos para outros bares e logo para o teatro. O IAB foi o Cavern Club de Kraunus e Pletskaya", compara o músico Hique Gomez.
Para entender a importância de um bar num caldo cultural como aquele é necessário entender quase todo entorno (político, social, econômico e, principalmente, cultural). Entender ainda seus personagens, pessoas que com suas trajetórias diversificavam e enriqueciam o convívio. Por fim, é preciso separar o essencial do supérfluo, o fundamental do anedótico - embora muitas vezes o fundamental esteja justamente no anedótico. Sob o comando de Dirceu, o Bar do IAB durou cinco anos. Funcionava de segunda a sábado e só fechava aos domingos. Na memória dos que lá estiveram, o bar nunca fecha.

O espaço underground da cultura

O Menor Espetáculo da Terra, do grupo Cem Modos, é um dos que marcou história no local

O Menor Espetáculo da Terra, do grupo Cem Modos, é um dos que marcou história no local


Acervo Dirceu Russi/Divulgação/JC
Com sua vida profissional formada em bancos e no mercado financeiro, Dirceu Russi havia chegado aos 36 anos com um emprego (mais ou menos) estável, morando em Curitiba com a mulher e três filhos, a caçula ainda com poucos meses. A estabilidade mostrava-se precária e Dirceu começou a sentir que poderia ser demitido a qualquer hora. Não deu outra. Quatro meses antes que 1981 findasse, Dirceu foi dispensado. O abalo só não foi maior porque Dirceu já imaginava a situação e pensava em colocar em prática um plano alternativo: voltou a Porto Alegre, se instalou com a família na casa da mãe e começou a procurar o local onde o bar poderia ser montado.
A ideia se materializou quando ele e Antonio Carlos Castro foram ao prédio do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). "Reviramos a cidade inteira e nada parecia agradável. Só ali achamos o local ideal. Já imaginamos de imediato como dividir o espaço entre um bar e uma livraria. E, além disso, ainda havia um corredor ótimo que se transformaria em galeria", lembra Dirceu.
Depois de reformas e adaptações, o bar foi inaugurado no dia 1º de dezembro. A primeira atração artística foi uma exposição do fotógrafo Luiz Carlos Felizardo. A vernissage, seguindo a tradição, oferecia canapés e vinho branco, cedido por uma vinícola. Mas lá pelas tantas, alguém perguntou se não tinha cerveja. "Liberei uma garrafa, depois outra. Resultado: o bar abriu oficialmente no dia seguinte quase a zero. Foi uma correria para repor o estoque".
O começo foi lento. Dezembro teve um desempenho fraco, janeiro e fevereiro quase às moscas. A situação só foi melhorar a partir de março. O bar/restaurante servia almoço com sugestão de prato do dia e cardápio. A procura era boa. À tarde, o movimento diminuía para ser retomado a partir das 18h com o mesmo cardápio agora ampliado com petiscos, tendo o bolinho de queijo como carro-chefe. "Até então o que me salvava da falência era uma mesa do Solon Lemos Pinto, (então engenheiro da CEEE e mais tarde diretor da Procergs), e dois amigos. Eles eram fiéis e consumiam bastante. A ida deles uma vez por semana me ajudava muito", conta Dirceu. "A nossa preferência era ficar no balcão, com atentos bartenders sempre de ótimo humor e preparados para uma boa conversa com os clientes. Dali se sabia quem chegava e quem saía do bar", diz Solon. A jornalista Alice Urbim vai numa linha parecida de memória: "Éramos sempre observados por Genésio e Flavio, lendários garçons e fiéis camareiros do bar. Entre uma tragada e outra, uma dose de álcool, e uma porção de bolinho de queijo, em receita nunca revelada, era lá que se decidia os rumos da cultura".
Quem viu, viu. Quem não viu lamenta ter chegado atrasado para a saideira. "Nessa época eu era tão duro que só dava para comer cachorro-quente. Muitas vezes, eu e o Werner Schünemann, outro duro como eu, ficávamos ali pela frente só olhando. Mas do pouco que conheci, tenho ótimas lembranças", lamenta Aloisio Rocha, que se aproximou de Dirceu recentemente, quando buscava material para um documentário sobre o Tangos & Tragédias.
"O Bar do IAB foi, para mim e acredito que para toda uma geração, um dos lugares mais importantes nos anos 1980. Foi fundamental no cenário cultural de Porto Alegre. Era o ponto de encontro de todo mundo", lembra a arquiteta Sylvia Moreira. Alice completa: "Era quase uma caverna. Tinha um pequeno palco que em determinados momentos parecia triplicar de tamanho e um seleto público de publicitários, jornalistas, arquitetos, artistas, estudantes e intelectuais. O público-raiz nos anos 80". E completa: "Talvez por isso, por ficar num subsolo, o espaço passou a ser o point realmente underground de Porto Alegre".

O bar e todos os sons

Comédia musical Tangos & Tragédias começou no Espaço do IAB

Comédia musical Tangos & Tragédias começou no Espaço do IAB


/ROBERTO SILVA/DIVULGAÇÃO/JC
A qualidade musical começou a dar o tom do que o bar poderia se transformar. Primeiro pelos LPs e fitas-cassetes que rodavam o melhor do jazz: Bud Powell, Dizzy Gillespie, Max Roach, Charles Mingus, Miles Davis, Chet Baker, Thelonious Monk e Charlie "Bird" Parker, além de novidades como o grupo de jazz afro-cubano Irakere e mais Paquito D'Rivera, Arturo Sandoval e Chucho Valdés. "Era um lugar alto-astral onde encontrávamos os amigos para ouvir o bom jazz entre destilados e fermentados. O elegante anfitrião tratava de deixar todos a vontade logo na chegada. Especialmente às sextas-feiras, aportávamos - muito cedo, porque logo a lotação estaria esgotada - eu e dois amigos, Breno Ribeiro e Rommel Simões, trazendo nos bolsos fitas-cassete com algumas preciosidades musicais", conta Solon.
"Queria criar um centro que irradiasse cultura e ideias", diz Dirceu. Logo depois, vieram as apresentações ao vivo. "O surgimento de artistas e espetáculos foi natural. Não havia uma agenda fixa, mas eu precisava ter habilidade e sensibilidade para saber o que poderia se encaixar". Tangos & Tragédias, com os músicos Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, como Kraunus Sang e o maestro Pletskaya, foi um dos primeiros. E deram sorte. "As coisas que aconteceram ali tiveram consequência. Jamais imaginamos que aquele projeto criado de maneira tão espontânea duraria tanto. Já são 37 anos", diz Hique.
Depois vieram apresentações de nomes como Léo Ferlauto, Nei Lisboa, Nana Caymmi, Rosinha de Valença, Geraldo Flach, Cida Moreira e o saxofonista recentemente falecido, Letieres Leite, um baiano que na época vivia em Porto Alegre.
 

Longe dos balcões

Dirceu Russi na frente do edifício da Annes Dias, onde funcionava o Espaço

Dirceu Russi na frente do edifício da Annes Dias, onde funcionava o Espaço


/ANDRESSA PUFAL/JC
Aos 76 anos, aposentado, Dirceu mantém como único hábito boêmio as saídas vespertinas que faz com o neto João Pedro, nove anos, uma vez por semana. "Quarta-feira é dia de buscar o neto na escola, e passar no nosso bar (que é como os dois se referem a um café localizado num posto de gasolina próximo ao colégio). É sempre muito divertido".
Naqueles cinco anos de IAB, Dirceu deu tudo de sua atenção ao bar, abdicando de passar mais tempo com os amigos e com a família - algo que agora ela busca compensar com o neto. Ganhou dinheiro? "Ganhei. Não fiquei milionário, até porque eu reinvestia tudo o que ganhava no bar. Mas tinha um ótimo padrão de vida", reconhece.
Do IAB e pelas próximas décadas, Dirceu não mais pararia. Primeiro, em paralelo ao IAB, seria o Bar Nota 7 (nome dado por Luis Fernando Verissimo) e que ocupava a parte central da Feira do Livro. "Montei a barraca com dinheiro do meu bolso". A estreia e o sucesso foram instantâneos. Em poucas horas haviam acabados todos os sanduíches e - seguindo uma velha tradição - todo o estoque de cerveja. Pelos próximos 15 dias do evento, Dirceu viveria uma fase que só se alternava entre dois pontos: lotado ou muito lotado.
Na sequência, Dirceu teria o Bogart - primeiro em Atlântida, depois no Moinhos de Vento, outro local que marcaria época em Porto Alegre -, o Bere Ballare, dando vida à Avenida Independência, e sendo pioneiro na Nilo Peçanha, com o Ópera Rock e com o Amsterdam, e na Fernando Gomes, a Calçada da Fama, com o Jazz-Café. "Eu fiz o logo do Ópera-Rock para o Dirceu", lembra o publicitário Erh Ray. "Ficamos próximos e ele me ofereceu a exploração de um espaço interno, uma espécie de bomboniére onde se vendia chicletes, camisinhas, epocler e camisetas. Hoje em qualquer casa noturna existe a ideia de maximizar venda de marcas e produtos. Nisso Dirceu também foi pioneiro".
A última parada de Dirceu, já num clima mais diurno e menos agitado, seria com o Mezanino, um buffet em que ele esteve à frente por 15 anos. O local servia apenas almoço.
Hoje, Dirceu reconhece que a noite cansa. Dá prazer, mas consome muito da saúde e da energia de quem a ela se dedica: "E o pior: a noite emburrece. O tempo que eu passei em bar, perdi de ler livros, ver filmes e peças, ouvir discos...".

O IAB hoje

Solar do Conde de Porto Alegré a atual sede do Instituto, no Centro Histórico

Solar do Conde de Porto Alegré a atual sede do Instituto, no Centro Histórico


/ANDRESSA PUFAL/JC
O espaço é diferente, bem como o público e também o espírito. Mas a ideia é que o IAB siga resistindo. O ponto agora está localizado na esquina das ruas General Canabarro e Riachuelo, no Centro, se chama Solar do Conde de Porto Alegre e é a sede da seccional gaúcha do Instituto dos Arquitetos do Brasil. Não há mais nenhum vínculo com o prédio da Annes Dias.
Erguido por volta de 1835, o solar herdou o nome de um de seus residentes mais famosos. Manoel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre. No começo deste século, o IAB assumiu o imóvel com recursos oriundos de parte da venda da antiga sede do IAB. Os recursos, porém, se esgotaram, e desde então o restauro avança na medida em que o caixa do instituto permite. "A importância do antigo Bar do IAB transcende a arquitetura e sua entidade. Foi uma referência cultural da cidade e hoje fala-se hoje mais do bar do entre não-arquitetos do que entre arquitetos", diz Rafael Pavan dos Passos, presidente do IAB-RS. E completa: "Nesses mais de 20 anos fomos retomando a programação cultural com editais anuais, exposições e debates. Também existe a ideia de retomar um bar que pode ser melhor aproveitado com a participação de bandas e de grupos teatrais". Com a pandemia muitas atividades estão paralisadas, mas já há um projeto para que em 2022 haja uma agenda especial para marcar o aniversário de 250 anos de Porto Alegre.

Dez Histórias do IAB

Lançamento do LP Antologia Poética de Mario Quintana teve a participação do próprio na sessão de autógrafos

Lançamento do LP Antologia Poética de Mario Quintana teve a participação do próprio na sessão de autógrafos


Acervo Dirceu Russi/Divulgação/JC
1 - Dirceu lembra de um dos casais mais assíduos nos primeiros anos de IAB. Eles iam seguidas vezes, sempre à tarde, para tomar Campari e namorar. Ele, o então deputado estadual Carlos Araujo; ela, Dilma (na época ainda Linhares), então economista da Fundação de Economia e Estatística e futura presidente da República.
2 - Havia um garçom que bebia. Muito. E, como todo bom bêbado, ele era hábil em descobrir locais onde poderia esconder copos e garrafas pelo bar e assim se abastecer durante a noite toda. O garçom obrigava Dirceu a ter uma dupla vigilância: no andamento do bar e no comportamento do garçom. Dirceu se esforçava, mas muitas vezes saía de lá exausto - e derrotado. O funcionário encerrava o expediente quase sempre embriagado.
3 - O mesmo garçom, ameaçado de demissão várias vezes, continuava com seu vício. Numa delas, Dirceu não aguentou mais. Chamou o garçom, explicou os motivos e disse que não tinha mais como mantê-lo no emprego. Foi feito um acordo com todas as dívidas trabalhistas devidamente esclarecidas e acertadas. Isso não impediu que dias depois, Dirceu chegasse à tarde no bar e encontrasse o ex-garçom completamente bêbado - e armado. Por longos minutos, Dirceu foi ameaçado diante de outros funcionários e de uns poucos frequentadores. Um destes, o ator Oscar Simch, conseguiu se esgueirar pelo corredor, sair do bar e ir à delegacia que ficava na Rua da Praia avisar a polícia. Tudo foi resolvido, e o garçom passou um período preso.
4 - Solon Lemos Pinto lembra que o show que mais o impressionou foi o da cantora Nana Caymmi. Tanto pela qualidade do repertório, quanto pela interpretação. E - mais ainda - pela quantidade de uísque que ela bebeu: "Se eu tivesse tomado a mesma quantidade, nem conseguiria me manter em pé".
5 - Sylvia Moreira e outros amigos costumavam se encontrar no local depois das sessões de análise. As consultas eram realizadas no edifício ao lado, reduto de vários consultórios de psicanalistas. Apelido do prédio: Gaiola das Loucas.
6 - A Viva Produções, produtora comandada por Alice Urbim e Ligia Walper, fazia a divulgação dos eventos do IAB. E como elas também trabalhavam para a L&PM Editores elas resolveram unir os clientes e organizar a sessão de autógrafos de Millôr Fernandes no IAB. Outro evento que contribuiu para consolidar a imagem do Bar do IAB foi o lançamento do LP Antologia Poética de Mario Quintana, com produção do publicitário Jesus Iglesias e a participação do próprio Quintana na sessão de autógrafos.
7 - Sergio Silva, mais conhecido como Sergio Caveira, foi conhecer o bar, gostou e prometeu levar pessoas que se identificassem com a proposta. Alguns dias depois, os integrantes do Teatro de Bonecos Cem Modos foram conhecer o local e decidiram produzir o primeiro dos pockets-shows de altíssima qualidade: O Menor Espetáculo da Terra, com participação do cantor e compositor Raul Ellwanger.
8 - Como o local era quase que a parada obrigatória de tantos clientes, Dirceu teve uma ideia para prestigiar os mais assíduos: colocou um relógio-ponto na entrada.
9 - O cantor Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, em temporada em Porto Alegre, apareceu certa noite para jantar por lá. Sozinho, ele comeu, pagou a conta e foi embora. Depois elogiaria para amigos a qualidade da comida e o fato de não ter sido importunado por ninguém que lhe pedisse autógrafo.
10 - Outro que passava por Porto Alegre era Paulinho da Viola. Estava olhando uns livros na livraria quando foi reconhecido por Dirceu. O proprietário se apresentou e convidou o músico para que voltasse à noite para jantar. Convite aceito, o sambista foi recepcionado por Dirceu e alguns amigos. Já no final, Dirceu perguntou se Paulinho se importaria se ele acendesse um charuto. "Só não me importo se você me oferecer", respondeu. E passaram o resto da noite fumando no local.
 

* Márcio Pinheiro é porto-alegrense e jornalista. Trabalhou em diversos veículos da Capital, de São Paulo e do Rio de Janeiro.