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reportagem cultural

- Publicada em 21 de Outubro de 2021 às 19:41

A bossa nova com sotaque gaúcho de João Palmeiro

Maior parte da obra do compositor conhecido como João da Benga, de 80 anos, segue inédita

Maior parte da obra do compositor conhecido como João da Benga, de 80 anos, segue inédita


ANDRESSA PUFAL/JC
Mais antigo arraial de Porto Alegre, o Menino Deus era descrito pelo historiador, poeta e arquiteto Francisco Riopardense de Macedo como "aprazível local de veraneio", onde a juventude "desfilava, com apuro e galhardia, exibindo as vestes domingueiras em espontâneos desfiles de beleza e elegância". O retrato é da primeira metade do século XIX, mas - excluindo a referência a um local apropriado para as férias de verão - não está distante da realidade do começo da década de 1960, quando o bairro fez jus à tradição solar ao se transformar no berço de um estilo musical que ecoava as sofisticadas harmonias de Tom Jobim e a original batida do violão de João Gilberto. Neste território, destacou-se a figura de João Luiz Palmeiro, o João da Benga, um dos principais mentores da bossa nova com sotaque gaúcho.
Mais antigo arraial de Porto Alegre, o Menino Deus era descrito pelo historiador, poeta e arquiteto Francisco Riopardense de Macedo como "aprazível local de veraneio", onde a juventude "desfilava, com apuro e galhardia, exibindo as vestes domingueiras em espontâneos desfiles de beleza e elegância". O retrato é da primeira metade do século XIX, mas - excluindo a referência a um local apropriado para as férias de verão - não está distante da realidade do começo da década de 1960, quando o bairro fez jus à tradição solar ao se transformar no berço de um estilo musical que ecoava as sofisticadas harmonias de Tom Jobim e a original batida do violão de João Gilberto. Neste território, destacou-se a figura de João Luiz Palmeiro, o João da Benga, um dos principais mentores da bossa nova com sotaque gaúcho.
Porto Alegre tinha perto de 640 mil habitantes, quando foi cenário das composições bossa-novistas criadas no Menino Deus. "Eu sou um dos músicos que mais cantou as belezas desta cidade. Lupicínio Rodrigues cantava as tristezas, já eu não queria fazer música de dor de cotovelo. Eu queria cantar as pessoas, as rodas de violão, o pôr do sol, a vida", diz João da Benga, de 80 anos (completados em abril de 2021). Segundo Toneco da Costa, que fez os arranjos do CD Águas abertas, de 1995, até hoje o único registro fonográfico da obra de Palmeiro, "João tem o dom de transportar as pessoas até as imagens das canções, como se as letras fizessem parte de um filme ou de uma aquarela, além de compor melodias delicadas e extremamente bem elaboradas".
Poucos compositores gaúchos tiveram a honra de ter músicas gravadas por Elis Regina. Palmeiro faz parte da lista, ao lado de Mutinho, Luiz Mauro, Sérgio Napp e Túlio Piva. O terceiro disco da Pimentinha, de 1963, inclui Formiguinha triste (no LP, intitulado Ellis, com dois "l", o compositor é identificado apenas como Joãozinho). Em maio daquele ano, eles se apresentaram juntos no show anunciado como "lançamento da dança da bossa em Porto Alegre" no requintado Cotillon Club, na avenida Salgado Filho (no programa, aparece o nome de Joãozinho do Violão), como registra Juarez Fonseca no artigo Porto Alegre, anos 60: uma década musical quase esquecida, publicado no livro Pensando Porto Alegre (Instituto Hominus).

Da esquerda para direita: Zequinha Guanabara (violão), João Palmeiro (de pé) e Elis Regina

Da esquerda para direita: Zequinha Guanabara (violão), João Palmeiro (de pé) e Elis Regina


ACERVO JOÃO PALMEIRO/DIVULGAÇÃO/JC
"A Elis ia lá em casa pedir música", conta Palmeiro, relembrando a época anterior à mudança da cantora para o Rio de Janeiro, ocorrida em 1964.
Formiguinha triste tem uma levada "joão-gilbertiana", como destaca Fonseca, mas Palmeiro jura que, até então, desconhecia que o baiano espalhasse cascas de bergamota embaixo da cama do Hotel Majestic para atrair formiguinhas e, com isso, afugentar a solidão. Essa é uma das lendas que rondam a temporada de oito meses que João Gilberto passou em Porto Alegre, em 1955, antes de ficar famoso. Seja como for, aos 14 anos de idade, quando já sabia tocar violão e andava para cima e para baixo com os músicos de Porto Alegre, Palmeiro havia tido um breve encontro com o ídolo no Farolito, bar da Rua da Praia, defronte ao Cine Cacique. "Ele estava lá, de gabardine, cantando Ho-ba-la-lá (uma das raras composições de autoria de João Gilberto). Aí alguém disse: 'Joãozinho da Bahia, vou te apresentar o Joãozinho Gaúcho'."
No exílio porto-alegrense, João Gilberto também frequentou o Clube da Chave, de Ovídio Chaves, poeta, jornalista, compositor e boêmio (Mario Quintana o apelidou de "Ave Noturna"), na rua Castro Alves. Inspirado em clubes europeus, era um ambiente para se escutar música e, obviamente, beber, mas os frequentadores levavam a própria bebida, que ficava guardada em armários dos quais cada um possuía sua chave. Menor de idade, Palmeiro não tinha acesso ao Clube da Chave, mas conseguiu entrar na churrascaria que funcionava nos fundos do bar, levado pelas mãos de Neneco, acordeonista do grupo Os Gaudérios. Ali, teve o segundo e último encontro presencial com João Gilberto.

Um montanhista no pico da Tijuca

Compositor ficou conhecido como João da Benga, além de outros apelidos

Compositor ficou conhecido como João da Benga, além de outros apelidos


/ACERVO MARIA LÚCIA SAMPAIO/DIVULGAÇÃO/JC
João Palmeiro faz parte de uma família com muita história na capital gaúcha. A mãe, Carmelita, era bisneta de Dionísio de Oliveira Silveiro, médico homeopata português que se estabeleceu em Porto Alegre em 1832, tornando-se figura ilustre da cidade - doou terrenos para a construção da Igreja Nossa Senhora da Conceição e do Hospital Beneficência Portuguesa. Não à toa, os Silveiro viraram nome de rua no Menino Deus.
Já os Palmeiro chegaram antes, em 1808, junto com a corte portuguesa liderada por Dom João VI, em rota de fuga para escapar do assédio de Napoleão Bonaparte. Por conta das atividades do pai - o general João dos Reis Palmeiro, engenheiro-militar que morou em várias regiões do Brasil -, o músico veio ao mundo em 3 de abril de 1941, na rua Conde do Bonfim, na Tijuca (Zona Norte do Rio de Janeiro). Por coincidência, a mesma rua em que nasceu Tom Jobim. A casualidade fez com que João imaginasse que, em algum momento, o mestre teria passado a mão sobre a sua cabeça, quando brincava na calçada. Por que não?
Se o afago aconteceu mesmo, não foi o único encontro com um ícone da bossa nova na infância. Tia Baby, como era chamada a irmã de Carmelita, namorou Vinicius de Moraes. "Quando ele ia na casa dela, na Ilha do Governador, ficava conversando comigo" (anos depois, Palmeiro ciceroneou o poeta na noite de Porto Alegre). A antiga capital federal povoa até hoje suas memórias: "O Rio era uma cidade civilizada, onde você discutia filosofia com o dono da banca de jornal. Hoje, virou uma guerrilha braba".
Aos 9 anos de idade, João teve poliomielite, doença que lhe impôs uma limitação ao caminhar pelo resto da vida, concedendo-lhe a companhia inseparável da bengala. Mas as consequências da pólio não arrefeceram o ímpeto aventureiro, que o fazia subir trilhas de picos como o da Tijuca. Lá de cima, a 1.022 metros de altitude, avistava a paisagem vertiginosa da Cidade Maravilhosa em um ângulo de 360°. A mudança para a capital gaúcha aconteceu no início de 1955 (após a morte do pai), a bordo do navio Itaité, com a mãe e os irmãos João Batista e Terezinha. Para passar o tempo, escutava tangos com o pianista contratado para entreter os passageiros em alto-mar. Aqui, a família se estabeleceu, a princípio, em um dos sobrados pertencentes aos Silveiro, junto à Praça Menino Deus, mudando-se depois para o edifício Astral, na rua José de Alencar - o mais alto do bairro à época. Em pouco tempo, o apartamento se tornaria um dos cenários da emergente bossa nova gaúcha.
 

"Olha a beleza que está o céu
O pôr do sol deixou na noite um rosa-véu
Noite-carinho, doce aroma de flor
Tudo tão quieto, amor, amor"
O orvalho e a rosa (João Palmeiro/Mutinho)

Os saraus da José de Alencar

Com Giba Giba (esq.), que também integrou o célebre grupo Canta Povo

Com Giba Giba (esq.), que também integrou o célebre grupo Canta Povo


/ACERVO MARIA LÚCIA SAMPAIO/DIVULGAÇÃO/JC
De acordo com Juarez Fonseca, por causa do avançado conhecimento musical, João Palmeiro era visto como um "jovem mestre" pelos músicos que se reuniam, ao final dos anos 1950, em seu apartamento, na rua José de Alencar. Em fevereiro de 1959, um amigo de bairro, Cauby, apareceu no edifício Astral com o compacto simples de João Gilberto que continha a música Desafinado. De imediato, o dono da casa se apaixonou pelos acordes dissonantes e tratou de aprender as harmonias da bossa nova. Quem o ensinou foi Thierry de Castro, músico pouco conhecido, que tem parcerias com Paixão Côrtes (a exemplo de Pregões de Porto Alegre, gravada no LP Folclore do pampa, em 1962). Além disso, Thierry foi "pintor, desenhista, gravurista e grande figura humana do Menino Deus", conforme Palmeiro.
Quando o apartamento da José de Alencar ficou acanhado para tanta gente, a turma passou a se reunir no Grêmio Náutico Gaúcho, na Praia de Belas, à época "um clube pequeno, quase restrito aos moradores do Menino Deus", lembra a cantora e arquiteta Maria Lúcia Sampaio. Ainda criança, ela frequentava o clube com o pai, o cartunista Sampaio, pioneiro da atividade profissional do cartum no Rio Grande do Sul (no jornal A Hora) e irmão do também cartunista SamPaulo (criador do personagem Sofrenildo, no Correio do Povo).
À tardinha, o pessoal atravessava a Praia de Belas, com os violões a tiracolo, para cantar em saudação ao pôr-do-sol na beira do Guaíba. "A gente levava cachaça e acendia uma fogueira quando caía a noite", comenta Palmeiro. A região - hoje ocupada pela extensão da avenida Borges de Medeiros e o Parque Marinha do Brasil - tinha sido batizada de Brizolândia, já que o processo de aterramento começara na gestão de Leonel Brizola na prefeitura. O principal ponto das rodas de som, porém, era a Praça Menino Deus, no começo da Getúlio Vargas, ainda enfeitada pela igreja com a torre gótica erguida nos anos 1920, relíquia demolida em 1970 para a construção de um templo moderno.
Fora do Menino Deus, o ponto de encontro era o apartamento da José Bonifácio, no bairro Farroupilha, em que morava a família do músico e poeta Celso Marques. Nessas reuniões, foi constituído o grupo Canta Povo, com Palmeiro, Mutinho, Ivaldo Roque, Giba Giba e as irmãs de Celso, Sílvia e Laís Marques (ambas cantavam no Coral da Filosofia da Ufrgs, regido por Madeleine Ruffier, precursora maestrina de música medieval e renascentista no Estado). Entre eles, o mais próximo era Mutinho, sobrinho de Lupicínio Rodrigues, que, mais tarde, como baterista, acompanharia grandes nomes da MPB. Eles se conheceram num baile do Petrópolis Tênis Clube, mas a amizade se transformou em parceria musical depois que se encontraram no bar Roxy, ao lado do Cine Marrocos, na avenida Getúlio Vargas.
Quando o Canta Povo se formou, João não era mais uma jovem promessa - já havia se apresentado no Grêmio Náutico Gaúcho (em março de 1962), na Sociedade dos Amigos de Tramandaí (janeiro de 1963) e no Pavilhão de Exposições do Menino Deus (novembro de 1965), entre outros lugares. O conjunto foi criado para participar do I Festival Sul-Brasileiro da Canção Popular, em julho de 1967. Embora fosse a predileta da plateia, Batucada, de João e Ivaldo, perdeu para Cantiga de menina, de Rosa Maria Hessel, o que motivou protestos - após a vaia, que durou 10 minutos, algumas poltronas foram jogadas em direção ao palco do Teatro Leopoldina.
Nas graças do público, os músicos do Canta Povo foram os primeiros gaúchos a se apresentarem no Encouraçado Butikin, principal casa noturna da cidade, que antes se restringia a nomes de Rio de Janeiro e São Paulo. Em setembro de 1967, o poeta concretista Augusto de Campos elogiou-os no artigo A voz e a vez do Sul, no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Vinicius de Moraes juntou-se à legião de fãs, após atravessar uma madrugada em cantoria com João Palmeiro & Cia. na casa do cônsul do Uruguai, Fernando Rieth, que conhecia o poeta dos laços da diplomacia. "De lá, Vinicius saiu com um copo de uísque na mão e foi misturando com cachaça nos botecos pelo caminho", recorda Palmeiro.
Tudo parecia se encaminhar para que a carreira de João Palmeiro ganhasse protagonismo. Armando Pittigliani, diretor-artístico da Philips, teria dito, após escutar seis canções do Canta Povo: "Está pronto o primeiro lado do LP, vamos escolher agora as músicas do lado seguinte". Para selar a contratação, Osmar Meletti, apresentador do programa Discorama, da rádio Guaíba, marcou um jantar no Clube do Comércio com a presença dos artistas e de Pittigliani, além de outros dois diretores da Philips, que vieram do Rio de Janeiro. "A horas tantas da noite, já meio alto, João Palmeiro fez alguns comentários desagradáveis a respeito de sucesso e de gravadoras; em outras palavras, foi descortês com os homens da Philips", registra Juarez Fonseca. Em consequência, os executivos se levantaram da mesa e foram embora. Na manhã seguinte, o Canta Povo se dissolveu.
Mais de meio século depois, Palmeiro justifica a atitude: "Fiquei indignado quando vi que, em vez de conversar com todos nós, os caras estavam falando só com o Ivaldo. Fui lá e dei um esculacho". Além disso, Carmelita estava com câncer: "Entre o Canta Povo e a minha mãe, fiquei com minha mãe". Seja como for, esses rompantes agressivos não eram novidade para quem conhecia João, que, por sinal, nunca escondeu o fascínio por armamentos, herança da cultura militar da família. Com porte de armas de fogo, é também um colecionador de facas. "Tive namoradas que moravam em bocas brabas e, quando ia visitar, botava o 38 embaixo do sovaco e uma faca de combate na bota", conta ele. Esse aspecto da personalidade, que já o fez brigar (e depois fazer as pazes) com amigos, se expressa em algumas canções, até como arrependimento.
Após o Canta Povo, Palmeiro se aproximou dos carnavalescos e chegou a compor, com Mutinho, o Samba da Borges, que animou o desfile da Praiana no Carnaval de 1969, o último realizado na avenida Borges de Medeiros. Mas, por quase 30 anos, não mais se apresentou em público, nem buscou outra chance de gravar suas músicas. Ao invés disso, dedicou-se à boemia e, com frequência, arrumou a mochila para se refugiar em Garopaba (SC), junto à comunidade de pescadores.

"Eu caminho na chuva (...)
Estou ao desabrigo
Quem me pensa as feridas
Se eu agrido os amigos"
Armadilha (João Palmeiro)

O portal do paraíso

João da Benga gravou disco lançado pela prefeitura de POA em 1995

João da Benga gravou disco lançado pela prefeitura de POA em 1995


/ACERVO MARIA LÚCIA SAMPAIO/DIVULGAÇÃO/JC
Quem deu a dica foi a cantora Laís Marques: "João, tu precisas conhecer uma praia em Santa Catarina, é a tua cara". O ano era 1964, tempo em que Garopaba era uma bucólica baía onde predominava a pesca artesanal (em tupi guarani, o nome da cidade significa "enseada de barcos"), cercada por praias desertas e moinhos de farinha ocultos na densa mata das encostas dos morros. Hoje, é o principal ponto turístico do litoral sul-catarinense.
João Palmeiro desembarcou do ônibus interestadual em Araçatuba, distante 14 km do destino final. Era cedo da manhã, de modo que precisou aguardar o despertar dos moradores. "Fala com Abilinho. Ele tem uma Kombi, pode te levar até Garopaba", recomendaram. Além da carona, o dono da caminhonete ofereceu linguiça com ovo para aplacar a fome do visitante.
No percurso, Abilinho mostrou a Pedra Branca, na Encantada, onde se esconde uma princesa - nas raras vezes em que ela aparece, brota uma orquídea, contam os antigos moradores. Em Garopaba, João hospedou-se no hotel da família Lobo, com a qual fez amizade duradoura - compôs a canção Moça litorânea para Cidinha, única filha mulher do casal Iris e Vanda Lobo: "Cidinha solta o cabelo/ Deixa o vento nele cantar/ Dá um sorriso pra gente...".
Por um tempo, ele morou numa barraca coberta por uma lona na subida do morro que se estica até a praia da Preguiça. "Olhava o azul do mar, aquela onda ciciando na areia, os ranchos dos pescadores com as montanhas ao fundo. Achava que estava no portal do paraíso". À noite, descia até o bar do Lucas. De repente, a cidade ficava às escuras. Sem rede de energia elétrica, a luz vinha de um gerador, desligado a certa hora. Palmeiro subia a encosta com a bengala, sem enxergar um palmo à frente. "Não precisava, as pernas já sabiam o caminho".
João chegou a residir em Garopaba, entre os anos 1970 e 1980. Casa mesmo, nunca teve. "Chegando lá, tinha mil casas de amigos para ficar. Um ajudava o outro e todo mundo se queria bem. Imperava a gentileza e as conversas acabavam em risadas". Quem deu o apelido de João da Benga foi o pescador José Inácio. Essa familiaridade se reflete nas canções que compôs sobre pesca e mar - uma delas, Salve, salve a Garopaba, é ensinada nas escolas como hino não-oficial do município.
Em 2014, recebeu o título de Cidadão Honorário de Garopaba e, nas comemorações dos 60 anos de emancipação da cidade, que se estenderão até 2022, dois projetos pretendem homenageá-lo. Garopaba canta João Palmeiro agrega show e documentário produzidos por Txaka e Gente da terra reúne imagens e depoimentos sobre 60 personagens (entre eles, Palmeiro), que serão afixados em painéis nas ruas - a iniciativa é do fotógrafo Henrique Amaral e do historiador Fernando Bitencourt (autores do livro Garopaba Vista do Céu e da Terra), com colaboração do cineasta Walter Caria.
 

Maior parte da obra segue inédita

Gravação do CD Águas abertas, único registro da obra de Palmeiro

Gravação do CD Águas abertas, único registro da obra de Palmeiro


/ACERVO MARIA LÚCIA SAMPAIO/DIVULGAÇÃO/JC
Único registro da obra de João Palmeiro, o CD Águas abertas tem 18 canções - metade homenageia Porto Alegre, outra metade celebra Garopaba. O disco lançado pela prefeitura de Porto Alegre tem a participação de Geraldo Flach, Zé Caradípia, Renato Borghetti, Fernando Do Ó Neto, Pedrinho Figueiredo e Luiz Carlos Borges, além das cantoras Glória Oliveira e Flora Almeida, entre outros. "Todos trabalharam de graça. Foi um projeto dos amigos do João", diz a produtora Maria Lúcia Sampaio. Em abril de 1995, as canções do CD foram apresentadas em show no Teatro Renascença, exibido pela TVE/RS e hoje disponível no YouTube.
Embora o CD tenha preenchido parcialmente a lacuna, Celso Marques se diz preocupado com o registro do restante da obra, que abrange, inclusive, uma vertente inovadora do nativismo, com uma peça "quase sinfônica" sobre a vida de Sepé Tiaraju. Marques se considera o "fiel depositário" de boa parte das canções que permanecem inéditas. "Há músicas que o próprio João não lembra mais, e só eu sei cantar". Ele acredita que, caso não sejam registradas, há "grande probabilidade" de que essas composições, com estreita vinculação com a paisagem e a história de Porto Alegre, caiam em definitivo no esquecimento.
 

Confira

No site joaopalmeiro.wordpress.com/letras, saiba mais informações e conheça as canções de João Palmeiro.

* Paulo César Teixeira é jornalista com textos publicados em IstoÉ, Veja e Folha de S.Paulo. Escreveu os livros Esquina Maldita e Nega Lu - Uma Dama de Barba Malfeita, além de Rua da Margem - Histórias de Porto Alegre, baseado no portal do autor, www.ruadamargem.com.