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reportagem cultural

- Publicada em 20 de Agosto de 2020 às 20:36

Meio século depois, cine drive-in retorna com força ao Rio Grande do Sul

Cinema ao ar livre teve primeiro empreendimento na Capital em 1970; modelo voltou 50 anos depois, no estacionamento da ADVB

Cinema ao ar livre teve primeiro empreendimento na Capital em 1970; modelo voltou 50 anos depois, no estacionamento da ADVB


/MARCO QUINTANA/arquivo/JC
De banho tomado e com roupa de sair, Paulinho, de oito anos, esperava ao lado da mãe a chegada do pai, que voltava do trabalho. Era a grande noite. Finalmente, ele havia convencido os pais a levá-lo ao distante Park Auto Cine, na Zona Sul.
De banho tomado e com roupa de sair, Paulinho, de oito anos, esperava ao lado da mãe a chegada do pai, que voltava do trabalho. Era a grande noite. Finalmente, ele havia convencido os pais a levá-lo ao distante Park Auto Cine, na Zona Sul.
Por volta das 18h, o pai chegou. A família entrou no Fusca 73, saiu da rua Gaspar Martins, no bairro Floresta, percorreu 16 quilômetros, cruzando um trecho da zona rural porto-alegrense até Ipanema. Era lá que morava a mágica. O primeiro cinema drive-in do Rio Grande do Sul foi inaugurado em novembro de 1970. Porto Alegre foi a sexta capital contar com a atração.
Famílias e jovens casais chegavam em seus automóveis e estacionavam sobre um plano inclinado, de frente para a grande tela. Motocicletas também eram permitidas. Antes dos sistemas de som via rádio FM, o áudio vinha de um aparelho com fio pendurado em uma estaca, ao lado da janela. Para pedir um lanche ou bebida, era só ligar o alerta e esperar a atendente.
O programa familiar que despertava sonhos e desejos no pequeno Paulo não era mais do que um programa familiar maçante para os pais, cinéfilos, mas com interesse mais voltado a musicais e clássicos do cinema europeu e com escassa paciência para assistir filmes japoneses de ação.
Era o caso de Mothra versus Godzilla, lançado em 1964. Na trama, o monstro gigante enfrenta uma mariposa modificada por bombas nucleares.
"A memória é uma ilha de edição", definiu o poeta Waly Salomão em sua Carta aberta a John Ashbery. Como um montador, a memória de Paulo Casa Nova encaixa os detalhes de cada cena no local exato de acordo com o que ficou guardado na lembrança ou foi construído, ao longo de 50 anos, a partir de relatos e fantasias.
"Era a coisa mais divertida. A mãe não aguentava ver, porque era nojento, o pai ficou interessado só no cachorro-quente e eu, atrás, fazia a festa, dava berros. Tinha muito pouca legenda. Eram poucos diálogos e nem tudo era traduzido. Para mim, era uma obra-prima", conta.
Paulo Casa Nova é secretário e ex-presidente do Clube de Cinema de Porto Alegre, que reúne hoje 65 cinéfilos. Antes da pandemia, eles organizavam sessões especiais de cinema com debates aos fins de semana em salas da Capital.
O formato de cinema drive-in foi patenteado em Nova Jersey, por Richard Hollingshead, que criou o primeiro estabelecimento do tipo de que se tem conhecimento, em 1933. Acredita-se que sua motivação era familiar.
A mãe de Hollingshead era obesa e não cabia em uma poltrona convencional. Isso o teria motivado a instalar um projetor no pátio de casa, direcionado a dois lençóis brancos estendidos na frente do carro. Assim teria nascido o primeiro drive-in. Foi o que afirmou o presidente da Associação de Proprietários de Drive-ins dos Estados Unidos, Jim Kopp, à Smithsonian Magazine, em 2008. Na década de 1950, eles eram um grande sucesso nos Estados Unidos, com milhares de unidades espalhadas pelo território.
O cinema assistido de dentro dos carros foi uma febre que chegou ao Brasil na virada dos anos 1960 para os 1970. O modelo era uma cópia, do que havia nos EUA.
Um fator determinante para a viabilizar essa modalidade foi a popularização do automóvel no Brasil do Milagre Econômico. Naquele ano, foram fabricadas mais de 300 mil unidades no País.
A cultura do carro ganhava força. Famílias tinham seus veículos para passear aos fins de semana. Os jovens de classe média que completavam 18 anos sonhavam em ganhar seu primeiro Fusca, ainda que usado. Ou, ao menos, tirar a carteira de motorista e conseguir o empréstimo do veículo da família para sair com a namorada.
Eram estes dois os principais grupos de frequentadores dos cinemas drive-in: famílias com um filho - com dois a visualização do filme já fica comprometida - e casais de jovens. Nos dois casos, ir ao cinema era um passeio onde o filme não necessariamente era a principal atração.
"Eu jogava pipoca dentro do carro, ficava todo emporcalhado. Me diverti horrores, mas meus pais não. Nunca mais fomos em drive-in nenhum. Por mim, iria toda noite. Era uma festa", recorda Casa Nova.
O primeiro estabelecimento de Porto Alegre funcionou até a década de 1980. O espaço de um hectare tinha capacidade para receber 254 carros. A tela que media 21m x 9m e era feita de madeira laminada, revestida com plástico e pintada em tinta EVA. O ingresso custava 3 cruzeiros para o veículo e mais 4 cruzeiros por pessoa.
Hoje, no local, como em tantos outros terrenos de esquina com localização privilegiada nas grandes cidades, funciona um posto de combustíveis, com uma loja de conveniências e um buffet de sanduíches - franquia norte-americana.
Um dos frentistas, funcionário antigo, confirma que assim que o cinema fechou, o terreno foi adquirido pelo dono do posto. No entorno, moradores de jovens casas geminadas nunca ouviram falar sobre um drive-in por aquelas bandas.
Mas com a pandemia, em 2020, o cine drive-in está de volta.

Cine drive-in marcou época em Porto Alegre e no Litoral

Projeções ao ar livre, com o público acompanhando dos carros, voltou à capital gaúcha em 2020

Projeções ao ar livre, com o público acompanhando dos carros, voltou à capital gaúcha em 2020


ALISSON BATISTA/DIVULGAÇÃO/JC
Nas décadas de 1970 e 80, pelo menos seis drive-ins foram criados no Rio Grande do Sul. A partir de 1985, o Auto Cine Eucaliptos atraía veículos ao gramado do antigo estádio colorado. De propriedade de um coronel da Brigada Militar, durou cerca de três anos.
Em Novo Hamburgo, no pátio da Fenac, também existiu outro, sem nome, criado por Bodo Blankenheim. Quando o proprietário passou a exibir filmes pornô, o contrato foi encerrado e o cinema teve de se mudar para uma área no bairro Rincão, próximo a Estância Velha, onde permaneceu por cerca de um ano.
O Litoral Norte teve ao menos três espaços simultâneos, em Tramandaí, Atlântida e Torres com direito a panfletagem das atrações da noite na beira da praia.
Com o tempo, os drive-in saíram de moda e sumiram no tempo. Em Brasília, um único drive-in resistiu ao longo do tempo e permanece em atividade no autódromo até a atualidade. No mais, restaram apenas raros registros e algumas cenas soltas na lembrança de quem os frequentou.
Meio século depois, o cinema drive-in retorna como principal - e quase única - opção segura de entretenimento em um contexto completamente diferente. Com a pandemia do novo coronavírus e as medidas de distanciamento, não há como prever quando será possível novamente reunir centenas de pessoas em uma sala hermeticamente fechada para assistir filme em tela grande.
No Rio Grande do Sul, as primeiras iniciativas vieram do Interior, com sessões beneficentes, onde o ingresso era cobrado na forma de doações de alimentos, destinados a famílias em vulnerabilidade social. A programação estilo "sessão pipoca" é atração para famílias que nunca haviam vivenciado essa possibilidade.
Além de filmes, os drive-in voltam com possibilidades expandidas. É possível realizar shows e até eventos corporativos com o mínimo de contato físico. Em Porto Alegre, também há iniciativas permanentes e pontuais.

Cine em Tramandaí tinha espaço para 350 veículos

Experiência no Litoral contava com o que havia de mais tecnológico na época

Experiência no Litoral contava com o que havia de mais tecnológico na época


CESAR ROBERTO DIENSTMANN/Divulgação/JC
A história dos drive-ins gaúchos, de uma forma de ou de outra, passa pelas mãos de Milton Dienstmann. Dos seis de que ele tem conhecimento, foi o criador de três e equipou os demais.
Além de fornecer equipamentos importados de som e projeção a centenas de cinemas, Dienstmann chegou a ter 20 salas espalhadas pelo Estado. O problema era que no verão todo mundo ia para o litoral e os filmes ficavam sem público.
"Onde está o pessoal? Na praia. Então vamos botar cinema lá. Fui a Tramandaí e comprei um quarteirão na entrada da cidade. Não se conseguia terreno sem ser comprado", recorda.
Na então capital das praias, ele criou o Cine Auto Riviera com capacidade para 350 veículos. Equipamento de som era raro no País. Dienstmann pensou em ir a Miami buscar os alto-falantes, mas optou por uma saída nacional.
Juntamente com o engenheiro Homero Simon, da rádio Guaíba, desenvolveu um transmissor FM, pelo qual o rádio do carro captava o som do filme. "Não existia isso no mundo. Todos os cinemas nos EUA eram com auto falante pendurado", sustenta.
Anos depois, Dienstmann percebeu que o fervo noturno do litoral se concentrava no balneário de Atlântida e criou o Auto Cine Guará, na Avenida Central, próxima ao Ibiza. "Tinha fila de carros para entrar. Foi tanto sucesso que botei o terceiro cinema na praia, o Auto Cine Torres, no estádio do Torrense", recorda.
Com alta qualidade de som estéreo, a experiência contava com o que havia de mais tecnológico na época. Dienstmann recorda de uma sessão do filme Retratos da Vida que terminou por volta da 1h.
"Quando todo mundo foi embora, botei meu Galaxie no meio do cinema e mandei passar o filme só pra mim. Foi um prazer enorme. Um telão de 20m X 9m, som stereo. Era uma loucura!"
O Riviera foi o mais duradouro, tendo funcionado desde o início da década de 1970. Em 1981, Disntmann separou-se da esposa, Dorothy, que ficou administrando o cinema com o filho do casal, César Roberto. Foi nesta época, já no começo dos anos 1980, que ele criou a unidade de Atlântida.
O cinema de Tramandaí chegou a fechar e reabrir, administrado por um irmão de Dorothy. No fim da década de 1980, quando a família já não possuía mais salas de cinema, o Riviera encerrou suas atividades em definitivo.
Milton atribui o fim do negócio à falta de segurança, quando começaram a ocorrer assaltos aos clientes. Depois, ele ainda criou um drive-in na avenida Ipiranga, próximo à Pucrs, mas aí o estilo já era outro, sem filmes. Era um tempo em que motéis não eram tão populares. Além dos cinemas, ainda trabalhou com importação de laser discs, home theaters e videogames.
Aos 86 anos, aposentado, Milton Dienstmann vive em Aracaju, no Sergipe, e prepara um livro sobre sua história. Ainda sem previsão de lançamento, a obra vai se chamar Uma Vida de Cinema. Ele nunca acreditou que os drive-ins tivessem morrido.
"Eu sempre falava que o auto cine ia voltar um dia. Agora voltou com toda força, porque ninguém vai mais sentar dentro de sala fechada. O camarada vai, fica dentro do carro dele, não tem contato com ninguém."
 

Uma tela gigante na Avenida Central

O Litoral Norte gaúcho teve uma onda de cinemas a céu aberto, entre as décadas de 1970 e 1980. Durante a adolescência, o jornalista Cristiano Zanella, autor do livro The End - Cinemas de calçada em Porto Alegre (1990 - 2005), vivenciou o Auto Cine Guará, de Atlântida.
O cinema ficava em uma área distante da beira da praia, entre a Estrada do Mar e a Avenida Central, em meio a um matagal habitado por mosquitos.
"Lembro de ter assistido meia dúzia de filmes lá. Um dos que mais me marcou foi Expresso da Meia Noite, do Allan Parker, produzido em 1978, mas que reprisou muito nos anos 1980", recorda.
Uma das sessões preferidas era a das onze, onde a atração eram filmes eróticos, como Emanuelle. Com um aparelho de rádio e uma bicicleta, a gurizada que não queria ver filmes para gurizada - no Cine Mar, em Atlântida, ou no Cine Riograndense, em Capão da Canoa - conseguia se divertir.
"Tinha um ponto da estrada em que se podia ver um pedaço da tela. A gurizada medonha da vizinhança pegava as bicicross, dizia que ia dar uma volta na quadra, e ia atrás da Emanuele. A gente levava um radinho de pilha e ia tentar ver uma coxa, uma bunda."

Espetáculo no gramado do antigo Estádio dos Eucaliptos

Antiga casa colorada recebeu sessões de cinema na década de 1980

Antiga casa colorada recebeu sessões de cinema na década de 1980


JOÃO MATTOS/ARQUIVO/JC
Em 1969, o Inter concluiu a construção do Beira-Rio. As atividades no antigo Estádio dos Eucaliptos ficaram restritas às categorias de base. Na segunda metade da década de 1980, a antiga casa colorada recebeu sessões de cinema. O provável ano de abertura é 1985, quando foi criado o CNPJ da Auto Cine Eucaliptos LTDA.
Os automóveis eram estacionados sobre o mesmo gramado que décadas antes recebeu partidas de Copa de Mundo. A tela ficava no lugar de uma das goleiras, retiradas em noites de cinema.
O advogado Marco Campos, de 61 anos, foi presidente do Clube de Cinema de Porto Alegre durante 18 anos a partir da década de 1970, e lembra de ter frequentado pelo menos 20 vezes o Auto Cine Eucaliptos. Ele conta que faziam sucessos filmes que "ganham na tela grande", os espetaculares, com desastres, muitos efeitos especiais, sustos, ruídos e música, como Tubarão e filmes de terror como Sexta-feira 13 e Poltergeist. "Para a época, a gente achava a recepção do som no FM do carro um avanço tecnológico fantástico. Era uma época que o automóvel tinha outro glamour, principalmente para o jovem", lembra.
Campos costumava ir ao drive-in acompanhado da namorada, no carro emprestado por seu pai. "O cinema em drive-in tem esse ar romântico, de sensualidade. O normal era ir um casal." Ele acredita que o drive-in dos Eucaliptos tenha durado três anos. O estádio ficou inativo por longo período e deu lugar a um condomínio residencial com torres de apartamentos.

A céu aberto, sem para-brisa

Cine Teatro Continente funcionava na avenida João Pessoa, em Porto Alegre

Cine Teatro Continente funcionava na avenida João Pessoa, em Porto Alegre


/léo guerrero/ACERVO MUSEU DE PORTO ALEGRE JOAQUIM FELIZARDO/DIVULGAÇÃO/JC
Crítico de cinema do Jornal do Comércio, Hélio Nascimento recorda de um cinema a céu aberto antes mesmo dos drive-ins. Na década de 1950, o Cine Teatro Continente ficava na avenida João Pessoa, em frente ao Parque da Redenção. Não era exatamente um drive-in, mas um espaço sem carros onde eram realizadas apresentações artísticas e sessões de cinema. Sentados em cadeiras de lona, estilo praia, os espectadores assistiam a filmes como a reprise de Sargento York, de Howard Hawks, e o lançamento de Pânico nos Bastidores, de Alfred Hitchcock. "Lembro como se fosse hoje, no Sargento York começou a chuviscar e a programação seguiu normalmente".
Diferente dos drive-ins, a programação tinha lançamentos e filmes cult. "Foi uma experiência muito interessante, lembro que era bem frequentado, ia bastante gente. Era melhor que drive-in, porque não tinha o vidro do carro na frente para atrapalhar. Como era aberto, podia fumar. E naquele tempo todo mundo fumava", recorda.
O Cinema Continente funcionou no local por cerca de um ano, quando um incêndio destruiu a estrutura. Depois, outro Continente foi criado na avenida Borges de Medeiros, próximo à Riachuelo, mas em sala fechada convencional.
O formato empregado nos anos 1950, antes da chegada do drive-in ao Brasil, é lembrado por Nascimento como possibilidade de retomada das sessões de cinema, dentro de normas de segurança, enquanto não for possível cogitar uma sala fechada com centenas de pessoas assistindo a um filme. Uma espécie de transição entre os espetáculos em veículos e a volta às tradicionais salas escuras.
 

Retomada pelo interior do Estado

Chegada de carros ao cine drive-in de Estrela, segundo empreendimento no Rio Grande do Sul deste ano

Chegada de carros ao cine drive-in de Estrela, segundo empreendimento no Rio Grande do Sul deste ano


/PREFEITURA DE ESTRELA/DIVULGAÇÃO/JC
No Rio Grande do Sul, a retomada dos cinemas drive-in se deu pelo Interior. Primeiro, em Santa Maria, onde, em maio, ocorreram sessões em um hotel fazenda. O município teve ainda a criação de um circo no mesmo formato, com o público dentro de seus veículos.
Em seguida foi a vez de Estrela, no Vale do Taquari. No fim de maio, foram marcadas inicialmente duas sessões, sexta-feira e sábado, com 100 vagas cada, no campo de rugby do Parque Princesa do Vale, o principal da cidade.
Dias após o anúncio, foi necessário transferir o evento para o porto, com espaço para 140 carros, e criar uma sessão extra, no domingo. Inédita na região, a iniciativa foi promovida pelas secretarias de Cultura e Turismo (Secultur) e da Saúde.
O evento teve custo total de R$ 15,8 mil. O município arcou com R$ 4 mil e o restante foi dividido entre seis empresas.
Praticamente inativo para embarcações, o Porto de Estrela recebeu uma tela de 55 metros quadrados e movimentou 1,3 mil pessoas em um fim de semana. O "faturamento" de bilheteria foi uma tonelada de alimentos, doados a famílias em situação de vulnerabilidade social no município.
A ação foi uma comemoração aos 144 anos da cidade e uma homenagem aos profissionais de saúde.
A ideia deu certo e despertou interesse de outros municípios vizinhos, do Vale do Taquari. Em agosto, Lajeado e Arroio do Meio também promoveram edição de cinema drive-in beneficente.

A boa nova que vem do passado

Empresas como a do ator e empresário Zé Victor Castiel buscaram viabilizar a iniciativa

Empresas como a do ator e empresário Zé Victor Castiel buscaram viabilizar a iniciativa


FREDY VIEIRA/JC
Com a chegada da pandemia, produtores que realizavam sessões ao ar livre tiveram seus eventos inviabilizados. A saída partiu das produtoras Lora e Gana, que buscaram a parceria da Mezanino, do ator e empresário Zé Victor Castiel. "A gente sentiu que a pandemia ia durar e era uma possibilidade de sair da quarentena sem perigo", diz Castiel.
Em seguida, as empresas foram em busca de adequar o sistema aos protocolos de segurança e de parceiros para viabilizar a empreitada. A ADVB cedeu o estacionamento de 12 mil metros quadrados e construiu a estrutura, equivalente a cinco andares, onde foi assentada a tela de mais de 100 m2. Assim renasceu o cinema drive-in em Porto Alegre, na beira do Guaíba, como 50 anos atrás.
A curadoria dos filmes foi feita pela Lora. Zé Victor conta que já estava acertada uma programação, um licenciamento guarda-chuva para filmes clássicos dos anos 1980 e 1990. No entanto, após a pressão de exibidores, as grandes distribuidoras, como Paramount e Universal, vetaram a venda dos filmes.
A saída foi buscar distribuidoras mais alternativas. "Achamos raridades ali, como clássicos que tínhamos certeza de que muitos jovens não tinham visto e iam gostar. Teve cara de 30 anos que não sabia o que era drive-in, foi assistir A primeira noite de um homem e saiu maravilhado."
A iniciativa gerou cerca de 100 vagas para profissionais da área do entretenimento, uma das mais afetadas pela pandemia.
O objetivo é ter um novo equipamento cultural da cidade quando a pandemia acabar. Uma arena multiuso com shows de música, stand up comedy, teatro, cinema e ações corporativas, que contribuem com a lucratividade do negócio e utilizam a estrutura em horário diferente dos espetáculos.
Na primeira fase do projeto, o local recebeu a apresentação de um empreendimento imobiliário para corretores e possíveis parceiros.
"O que estamos fazendo é manter o lugar ativo até o fim da pandemia. Depois, sim, será rentável. É um projeto a longo prazo. Nós tínhamos que lançar esse cinema antes de todo mundo pra ser novidade e marcar o lugar", conclui Castiel.
> Gostou da reportagem? Aproveite para ler a coluna Cinema, de Hélio Nascimento
*Matheus Chaparini é jornalista. Tem passagens por veículos como TVE-RS, Tabaré e Jornal JÁ e trabalha, atualmente, no jornal A Hora, de Lajeado.