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reportagem cultural

- Publicada em 23 de Julho de 2020 às 20:30

Impactado pela pandemia, audiovisual gaúcho ensaia retomada das gravações

Um dos projetos parados foi o longa 'Além de nós', de Rogério Rodrigues, filmado em 2019 e ainda não finalizado

Um dos projetos parados foi o longa 'Além de nós', de Rogério Rodrigues, filmado em 2019 e ainda não finalizado


ATAMA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Com seus enredos apocalípticos, muitas vezes centrados em epidemias misteriosas, os filmes-catástrofe andavam em baixa nas telas, quando a escalada da Covid-19 projetou na vida real o pânico típico das produções do gênero. No setor de audiovisual gaúcho, o impacto do novo coronavírus foi brusco.
Com seus enredos apocalípticos, muitas vezes centrados em epidemias misteriosas, os filmes-catástrofe andavam em baixa nas telas, quando a escalada da Covid-19 projetou na vida real o pânico típico das produções do gênero. No setor de audiovisual gaúcho, o impacto do novo coronavírus foi brusco.
Os cinemas estão fechados há mais de quatro meses, estreias e eventos culturais foram cancelados e filmagens ficaram paralisadas. Com o retorno gradual aos sets, as produtoras adotam novas práticas e refazem planos. O desafio é adaptar projetos a um cenário de dificuldades ampliadas por uma crise sanitária que, ao contrário dos roteiros de blockbusters, não promete desfecho rápido.
Desde março, quando tiveram início as medidas de distanciamento social, a pandemia afetou principalmente os cronogramas de gravação. Produção da Prana Filmes, o longa Jepotá, de Augusto Canani, projeto que envolve pesquisa em aldeias guaranis, teve as filmagens suspensas. "Seguimos acompanhando as orientações do governo estadual para ver quando poderemos retomar sem nenhum risco para a população indígena e para a equipe", diz a produtora Luciana Tomasi, diretora da empresa.
A Casa de Cinema de Porto Alegre teve de interromper a realização da segunda temporada da série Grandes cenas, produzida para o canal Curta!. As gravações estavam previstas para maio e ainda não têm nova data. 
“Toda a pré-produção já foi feita e vamos retomar quando entendermos que podemos filmar com segurança. Estamos fazendo algumas experiências de trabalhar (filmar) remotamente, mandando o equipamento higienizado para a casa do entrevistado. Mas ainda não temos certeza se vai funcionar e quando começaremos a filmar”, afirma Ana Luiza Azevedo, sócia da produtora.
Nos sets, elencos e equipes técnicas convivem com uma nova realidade. Para possibilitar as filmagens, a Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos (APTC-RS) e o Sindicato da Indústria Audiovisual (SIAV-RS) lançaram no mês passado um guia com orientações de acordo com o modelo de distanciamento controlado adotado no Estado. "Envolvemos quase 200 profissionais na construção desse protocolo que consideramos seguro para voltar aos poucos aos sets", destaca a presidente da APTC, Daniela Strack. Entre as regras, previstas para todas as bandeiras, devem ser evitadas cenas que envolvam aglomerações, beijos e contato físico entre atores, por exemplo.
Apesar do sinal verde para as câmeras, muitos planos de filmagem seguem adiados e o cenário é de incerteza, avalia Beto Rodrigues, sócio-fundador da Panda Filmes. Ele explica que, no Brasil, centenas de produções estão empacadas à espera de verbas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) da Ancine, mecanismo mantido por tributos recolhidos entre o próprio setor. "(O fundo) está parado há quase um ano e movimenta recursos muito expressivos, que é o que tem possibilitado a produção de filmes e séries no Brasil", diz.
Muitas produções contempladas em editais públicos do FSA em 2018 receberam parte dos recursos e já foram filmadas, mas ficaram à espera de repasses para finalização. Um dos projetos prejudicados foi Além de nós, estrelado por Thiago Lacerda e Miguel Coelho. Com produção da Atama Filmes e direção de Rogério Rodrigues, o filme foi rodado em abril e maio de 2019 e ainda não pôde ser concluído. “Nosso plano B seria captarmos recursos pela Lei do Audiovisual (cuja renovação foi vetada pelo presidente Jair Bolsonaro em dezembro passado). Na ocasião do desenvolvimento do projeto, aprovamos o orçamento na Ancine”, explica Rogério. “O que a gente vem fazendo é buscar o remanejamento do que já está aprovado para outras alternativas, como a LIC-RS (Lei de Incentivo à Cultura). Isso já gerou um atraso de no mínimo um ano na finalização e pode ainda acarretar um atraso de mais de um a dois anos.”
Rogério, que é presidente do SIAV-RS, não vê perspectivas de retomada para o audiovisual no Estado antes da primavera, em razão da interrupção das principais fontes de financiamento do setor e da crise gerada pelo coronavírus. “A pandemia atinge com mais força os projetos com menor orçamento, dificultando a adequação aos novos custos de produção, frente aos cuidados necessários para quem quer filmar nos próximos meses”, avalia.
Um alento poderá vir da chamada Lei Aldir Blanc, sancionada em 29 de junho pelo governo federal, com a promessa de liberar R$ 3 bilhões para a cultura no País durante a pandemia. Parte dos recursos, provenientes do Fundo Nacional da Cultura (FNC) e transferidos da União a Estados e municípios, poderá ser usada para fomento a projetos, como produções audiovisuais, por meio de editais e chamadas públicas. "Esperamos que chegue ao setor", diz Rogério.

Estreias adiadas e modelo rediscutido

Verlust, da Casa de Cinema, com direção de Esmir Filho, tinha estreia prevista para junho e espera nova definição de lançamento

Verlust, da Casa de Cinema, com direção de Esmir Filho, tinha estreia prevista para junho e espera nova definição de lançamento


/TUANE EGGERS/DIVULGAÇÃO/JC
O ano havia começado em ritmo de vitória para o longa Aos olhos de Ernesto, da cineasta Ana Luiza Azevedo. Produzido pela Casa de Cinema de Porto Alegre, o filme saiu do 23º Festival Internacional de Cine de Punta del Este, em fevereiro, com dois troféus: melhor filme pelo júri popular e melhor ator para o o uruguaio Jorge Bolani. Em outubro do ano passado, já havia conquistado o prêmio da crítica na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Rodada em Porto Alegre e nos estúdios do Tecna, em Viamão, em 2018, a trama focada em um ex-fotógrafo que encara os dilemas da velhice chegaria às telas em 2 de abril.
"Quando começou a quarentena, estávamos com o lançamento engatilhado. Toda a campanha estava desenhada", diz Ana Luiza. O filme, que entra em cartaz no Japão em julho, ainda aguarda a reabertura dos cinemas brasileiros. Por aqui, pôde ser visto em um festival de pré-estreias online promovido pela rede Espaço Itaú Cinemas no mês passado. Outro projeto da Casa de Cinema que se preparava para o circuito comercial é o longa Verlust, de Esmir Filho, com estreia prevista para junho. "Estamos trabalhando junto com os exibidores e a distribuidora (Elo Company), para redesenhar esse lançamento", afirma Ana Luiza.
Ao transformar os serviços de streaming em protagonistas na quarentena de milhões de brasileiros, a pandemia estimulou uma maior valorização da produção audiovisual. Mas também deixou uma interrogação sobre o destino dessas criações no futuro próximo, afirma Ana Luiza. "Os exibidores entendem que o mercado vai mudar, que por muito tempo os protocolos (de saúde) não vão permitir salas de cinema lotadas. Mas como a gente tem de trabalhar? Qual é o momento de ir para o cinema, para a televisão, para o cabo, para o streaming? Tudo isso tem um lado trágico e outro instigante, que é repensar tudo", avalia a cineasta, que comanda a Casa de Cinema ao lado dos sócios Giba Assis Brasil, Jorge Furtado e Nora Goulart.
Referência de qualidade no cinema nacional, a Casa de Cinema soma 72 filmes (longas, médias e curtas) e 18 séries de TV produzidos desde sua fundação, em 1987, além de mais de 260 prêmios conquistados em festivais nacionais e internacionais. O cancelamento desses eventos também estremeceu o mercado audiovisual. Especialmente para os filmes independentes, é essencial passar pelo crivo dessas mostras, onde ganham visibilidade, geram interesse dos exibidores e aumentam suas chances de chegar às salas de cinema, destaca Ana Luiza. "Hoje, tu não tens garantia nenhuma de que o público vai assistir numa sala de cinema. Nossa maior responsabilidade, como produtores e distribuidores, é fazer com que o público saiba que o filme existe, porque é muito fácil um filme ficar perdido num canal de streaming", diz.
Para compensar a lacuna dos eventos, a cineasta observa que os próprios festivais vêm criando canais alternativos de divulgação. Programado para maio e cancelado devido à pandemia, o Festival de Cannes 2020, por exemplo, anunciou no mês passado os 56 filmes de sua seleção oficial deste ano. As obras não foram divididas por categorias e, portanto, não serão premiadas, mas algumas poderão serão exibidas em outras mostras previstas para o segundo semestre, como os festivais de Toronto e de Veneza. "Não vai ter o tapete vermelho. Mas Cannes vai dar uma visibilidade para os filmes", afirma Ana Luiza.

"Novo normal" nos sets e roteiros

Para Leo Garcia, da produtora Coelho Voador, mudanças vão influenciar narrativas também

Para Leo Garcia, da produtora Coelho Voador, mudanças vão influenciar narrativas também


MARIANA FONTOURA/ARQUIVO/JC
Máscaras, álcool-gel, equipamentos de proteção, distanciamento entre atores, elencos reduzidos. Enquanto estúdios de todo o mundo definem regras de trabalho seguro, equipes criativas, técnicos e atores tentam se familiarizar com o recomeço em meio à pandemia. Mas que novo set é esse e como acompanhar seu ritmo? Entre os realizadores, a expectativa é que a pandemia mudará não apenas a forma como as cenas serão gravadas, mas o próprio conteúdo das produções audiovisuais.
"Um set nunca é exatamente normal. O que mais me assusta é como nós vamos contar histórias emocionantes sem que os personagens se toquem", diz o cineasta Carlos Gerbase. Diretor dos longas Bio - Construindo uma vida (2017), Sal de prata (2005) e Tolerância (2000), Gerbase diz que, mesmo com as limitações impostas pelas medidas sanitárias, é possível experimentar recursos adaptáveis a espaços confinados e normas de distanciamento, mas os resultados são variáveis. "Penso numa dramaturgia que envolva conversas online", exemplifica o cineasta. "Há pessoas que estão fazendo filmes dentro de casa. Podem ficar muito bons ou muito ruins, dependendo da qualidade do texto, da realização, dos atores."
Para o roteirista Leo Garcia, sócio da produtora Coelho Voador, as mudanças decorrentes da pandemia e as reflexões motivadas pelo período de isolamento social poderão influenciar os futuros roteiros. "As artes refletem o que acontece no mundo. O grande acontecimento que tínhamos no século até então eram as Torres Gêmeas, que não nos afetou tão diretamente. Acredito que muita coisa vai mudar: o que as pessoas vão querer assistir, o que nós vamos querer contar deste 'novo mundo'", diz Garcia, que assina o roteiro do longa Legalidade (2019), de Zeca Brito.
Os protocolos de segurança nos sets impactarão também a ordem de prioridade dos projetos direcionados a canais de televisão, acredita a produtora Aletéia Selonk, fundadora da Okna Produções e coordenadora do Tecna (Centro Tecnológico Audiovisual do Rio Grande do Sul). "No ano passado, rodamos Sementes do amanhã, uma série documental (do Canal Futura) sobre alimentos ameaçados de extinção, e a minha equipe rodou as cinco regiões do Brasil. Hoje, um projeto como esse encontraria maiores dificuldades. Não teremos estreia de programas desse tipo tão cedo, porque serão os que vão sofrer mais os impactos dessas novas práticas de mercado", avalia.
O produtor Ricardo Baptista, sócio da Zepp Filmes, diz que a empresa está se adaptando ao novo modelo de trabalho. Com sede em Porto Alegre e São Paulo (SP) e especializada em filmes publicitários, além de conteúdo de cinema e televisão, a produtora retomou as filmagens com equipes mais enxutas e jornadas menores. "Com a crise econômica, as produções já vinham sendo simplificadas. Não sabemos como serão as coisas depois da pandemia. Mas sabemos que será diferente. Temos de estar atentos e preparados para não ficar presos a um passado que não vai existir mais", opina.

Tecna preparado para receber equipes

Espaço não deixou de funcionar, segundo coordenadora Aletéia Selonk

Espaço não deixou de funcionar, segundo coordenadora Aletéia Selonk


/BRUNO TODESCHINI/PUCRS/DIVULGAÇÃO/JC
Desde que entrou em cena com o primeiro de seus três estúdios, em 2017, o Tecna (Centro Tecnológico Audiovisual do Rio Grande do Sul) é referência na indústria do audiovisual fora do eixo Rio-São Paulo. No complexo, instalado no Tecnopuc - Parque Científico e Tecnológico da Pucrs, em Viamão, são gravados comerciais, filmes e séries disponíveis no catálogo da Netflix.
A última etapa do projeto foi concluída em novembro passado, com a inauguração de uma estrutura completa para atender produtoras em todos os estágios da criação de conteúdo de cinema e TV - além dos estúdios, há salas de mixagem de som, ilhas de edição, laboratórios de animação e efeitos visuais. Mesmo com as atividades de filmagem suspensas devido à pandemia, o espaço não deixou de funcionar, afirma a coordenadora do centro, Aletéia Selonk. "O Tecna é uma estrutura em que grande parte do trabalho foi planejada para trabalho remoto e por home office", explica Aletéia.
Com a definição de novas normas para produções audiovisuais pelas entidades do setor, acompanhando a abertura gradual das atividades da universidade, o Tecna está preparado para voltar a receber equipes de filmagem, mas abrirá "sob demanda", segundo a coordenadora. "Os ambientes do Tecna permitem bastante controle de acesso. Temos facilidade para higienização por etapas, separação das áreas de produção. Então, em razão da estrutura 'pensada' para o audiovisual, temos certeza de que o ambiente ajuda muito para a colocação dos protocolos em prática", diz.
O Tecna é uma iniciativa da PUCRS em parceria com o governo do Estado e a Fundação de Cinema do Rio Grande do Sul (Fundacine). Parte importante do projeto, as ações de desenvolvimento profissional programadas para este ano, como cursos imersivos e workshops, continuam paralisadas e passarão por uma revisão. Segundo a coordenadora do centro, o objetivo é sintonizar a formação oferecida com as prioridades criadas pela pandemia. "Todas as áreas de conhecimento em que o audiovisual precisa se aprimorar continuam sendo ativadas, mas precisamos acionar outras competências para poder segurar esta onda e manter o mercado em andamento", afirma Aletéia.

Tempo de reinvenção

Em período de home office, Rene Goya Filho investiu na montagem de estúdio para lives e eventos corporativos

Em período de home office, Rene Goya Filho investiu na montagem de estúdio para lives e eventos corporativos


/EDU CANTO/DIVULGAÇÃO/JC
Luz, câmera, recriação. A crise desencadeada pelo novo coronavírus tem levado os profissionais do audiovisual gaúcho a buscar caminhos para a sobrevivência. Para o cineasta Rene Goya Filho, sócio da produtora Estação Filmes, essa capacidade de adaptação continuará sendo decisiva no pós-pandemia: "Acredito que não vamos voltar a ter o mercado como antes. Muitas produtoras já fecharam e outras ainda vão fechar. A Estação escolheu se reinventar para seguir em frente".
Com mais de duas décadas de atividade, a produtora migrou para o home office no início da pandemia, dando continuidade a projetos em andamento. "Séries e novos produtos - através da Ancine e do Fundo Setorial do Audiovisual - já estavam parados desde 2019, em função das decisões políticas do atual governo (federal)", conta o cineasta, que tem no currículo dezenas de DVDs musicais, videoclipes, documentários, filmes publicitários, séries e especiais para TV.
Na publicidade, a demanda da produtora caiu mais de 50% e os trabalhos executados remotamente passaram por redução de custos. "A pandemia nos mostrou, às avessas, que se pode produzir com pouco. Inventaram-se formas de direção remota com uso de video assist, comerciais feitos só com banco de imagens e uso maior da computação gráfica e VFX (efeitos visuais)", exemplifica Rene. Os elencos também assumiram novos papéis. Em algumas produções, o próprio ator ou figurante encarregou-se do figurino e maquiagem, filmou-se e enviou o vídeo para a montagem. "São tendências que mantiveram o mercado vivo e também abriram um precedente na redução nos custos." As mudanças ainda trouxeram uma equação difícil para os produtores. A adoção dos novos protocolos de segurança tende a encarecer os projetos, enquanto os valores dos filmes diminuíram. "A grande questão que vamos enfrentar no mercado é sobre o valor das produções - quanto valia um filme antes e quanto vai valer depois da pandemia", afirma Rene, que no período de home office também investiu na montagem de um estúdio híbrido para lives e eventos corporativos, em parceria com as produtoras Tape Motion, Fly Audio, Rito e Elo.
Em meio à retração provocada pela pandemia, ele viu surgir uma corrente do bem no audiovisual gaúcho. "Vários grupos se formaram para ajudar a cadeia produtiva, com suporte, organização de processos e o envio de cestas básicas aos mais necessitados. Um movimento que nos deixa otimistas nestes novos tempos, em que o coletivo é cada vez mais importante", diz.

Salas exibidoras seguem em suspense sem previsão de abertura


Primeiros a fechar com as medidas de distanciamento social, os cinemas não têm data de reabertura prevista, e os exibidores se perguntam como ficarão os hábitos do público após longa reclusão em que os serviços de streaming reinaram soberanos. A única certeza é que, ao menos inicialmente, a experiência da sala de cinema será diferente.
No Estado, onde há 180 salas de exibição, os cinemas deixaram de receber 54 milhões de pessoas desde que fecharam as portas em março. O número corresponde ao total de espectadores entre 19 de março e 30 de junho de 2019, o que representa uma receita de bilheteria de R$ 900 milhões, de acordo com o presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (FENEEC), Ricardo Difini Leite, diretor de operações da GNC. Mesmo fechadas, as empresas estão preparando os protocolos de segurança para voltar a funcionar, segundo afirma o executivo. A reabertura no Rio Grande do Sul deve acompanhar o restante do País, já que as estreias ocorrem simultaneamente em todos os estados, com custos de distribuição e divulgação. "Não vale a pena lançar filmes de forma fragmentada", explica Difini. O empresário se mostra otimista quanto ao futuro do setor: "Pesquisas têm mostrado que os cinemas estão na lista das prioridades das pessoas assim que for possível retomar a rotina anterior".
O anseio pela experiência também anima o diretor de programação do Espaço Itaú, Adhemar de Oliveira, que opera em Porto Alegre, mesclando filmes de arte e produções comerciais. "O cinema é uma das diversões mais baratas. Não há streaming que tire esse ato social (de ir ao cinema) dos exibidores", avalia. Após quatro meses, no entanto, Adhemar projeta um recomeço difícil para as empresas, que poderão encontrar cinéfilos receosos de retornar às salas nos primeiros momentos: "Mas não tenho medo do que está por vir. O trabalho de reorganização será grande". Segundo o empresário, o cancelamento de festivais internacionais e o adiamento de estreias provocaram um desarranjo na distribuição de longas, mas não faltarão títulos a serem lançados, já que a produção mundial é grande e o número de salas existentes no Brasil é considerado pequeno. Após a definição de uma data de reabertura, um novo calendário de exibição será planejado com as distribuidoras. "Não despedimos nenhum funcionário, de forma que a reabertura não é um processo demorado", avalia Adhemar.

* Patrícia Feiten é jornalista formada pela UFSM e tradutora, formada em Letras pela Ufrgs.