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Música

- Publicada em 27 de Dezembro de 2019 às 03:00

Músicos eruditos gaúchos trilham carreira no exterior

Soprano Carla Maffioletti ganhou projeção internacional como solista na orquestra de  André Rieu

Soprano Carla Maffioletti ganhou projeção internacional como solista na orquestra de André Rieu


GREGOR RAMAKERS/DIVULGAÇÃO/JC
A falta de tradição histórica do Brasil em música de concerto e ópera leva artistas gaúchos a ampliar os horizontes geográficos. Na busca por excelência técnica e oportunidades de trabalho, muitos instrumentistas eruditos e cantores líricos optam por trilhar carreira em países europeus e nos Estados Unidos. A porta de entrada mais comum é um curso de especialização, após o qual acabam se fixando no exterior. O caminho do sonho ao sucesso concreto, porém, apresenta um conjunto de desafios a esses músicos, como aperfeiçoamento constante e concorrência acirrada. Mesmo distantes, eles mantêm a relação com o país de origem, retornando para ministrar masterclasses, apresentar-se como solistas convidados e outros projetos.
A falta de tradição histórica do Brasil em música de concerto e ópera leva artistas gaúchos a ampliar os horizontes geográficos. Na busca por excelência técnica e oportunidades de trabalho, muitos instrumentistas eruditos e cantores líricos optam por trilhar carreira em países europeus e nos Estados Unidos. A porta de entrada mais comum é um curso de especialização, após o qual acabam se fixando no exterior. O caminho do sonho ao sucesso concreto, porém, apresenta um conjunto de desafios a esses músicos, como aperfeiçoamento constante e concorrência acirrada. Mesmo distantes, eles mantêm a relação com o país de origem, retornando para ministrar masterclasses, apresentar-se como solistas convidados e outros projetos.
A soprano porto-alegrense Carla Maffioletti, que ganhou projeção internacional como solista na orquestra do violinista holandês André Rieu, é um desses talentos gaúchos tipo exportação. Artista multifacetada - reconhecida pelo alcance de seus agudos e pela presença cênica, Carla também toca violão clássico, compõe e faz arranjos -, ela diz que escolheu a Europa para se aprimorar e ter mais perspectivas de trabalho. "No Brasil, por exemplo, as produções de óperas são em curto prazo. Aqui são no mínimo 10 apresentações por temporada durante o ano ou concentradas em seis meses. Então, o teatro é um empregador para trabalho fixo", diz a cantora lírica, que mora na Holanda.
Bacharel em violão clássico pela Universidade do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Carla estudou canto lírico com a soprano brasileira Neyde Thomas, em Curitiba. "Ela fez uma carreira operística na Europa. Foi muito importante eu ter esse tipo de profissional no começo", destaca. Em 1998, com uma bolsa de estudos, ingressou no Conservatório de Maastricht, nos Países Baixos, onde se especializou em ópera e música de câmara. "Fui com duas malinhas e muito pouca roupa de inverno, e se abriu um mundo novo", conta a cantora, que após a formação começou a participar de óperas e festivais pela Europa. Posteriormente, ela teve outra grande mestra, a soprano norte-americana Reri Grist.
Em 2000, incentivada por colegas de conservatório, Carla fez um teste no estúdio de André Rieu, que procurava uma voz superaguda para a gravação de um CD com uma melodia da trilha sonora do desenho animado Branca de Neve e os sete anões. Dois anos depois, durante uma visita ao Brasil, recebeu uma ligação do maestro convidando-a para uma turnê. "Voltei para a Holanda com este emprego. Foi uma sorte grande. Ganhar trabalho logo após o conservatório é uma coisa muito difícil. É preciso passar por agentes, ter empresários, que vão te encaminhar para teatros, onde vai haver 40, 50 pessoas cantando o mesmo papel", explica. Com Rieu, famoso pelas superproduções, foram 12 anos de colaboração, vários DVDs e viagens pelo mundo inteiro. "Um trabalho fantástico, mas também muito exigente. No primeiros sete anos, eram 120 concertos por ano", afirma Carla.
Foi justamente após sete anos de estrada com a famosa orquestra que ela encarou o desafio de voltar para a ópera. Carla integrou o elenco fixo do Teatro de Gießen, na Alemanha, durante a temporada 2009/2012, desempenhando mais de 10 papéis, como a Rainha da Noite, na ópera A flauta mágica, de Mozart, e a boneca Olympia, em Os contos de Hoffmann, de Jacques Offenbach. De 2013 a 2016, foi contratada como solista pelo Teatro de Lucerna, na Suíça. Requisito obrigatório para cantores líricos, a versatilidade de idiomas é outro ponto forte que abriu espaços para a brasileira no circuito lírico europeu - Carla fala alemão, italiano, espanhol, francês, inglês e holandês.
Após morar três anos na Suíça, Carla voltou à Holanda e decidiu se dedicar a projetos pessoais. Gravou álbuns-solo, produziu espetáculos próprios e retomou o violão, criando com a soprano alemã Jutta Maria Böhnert o duo Almeh Luz, para o qual adapta melodias do repertório de câmara e também compõe. "Como musicista, senti a necessidade de voltar para as minhas origens. Acabamos de gravar nosso primeiro CD. São 14 músicas, com todos os arranjos originais feitos por mim. Estou numa fase muito criativa, diversificando", diz ela.
Essa capacidade de se renovar e correr riscos, segundo a cantora, é imprescindível para uma carreira fora do Brasil. "O mais necessário é ter resiliência. E continuar estudando sempre, ter extrema disciplina, não se sufocar em uma só possibilidade," avalia. Atualmente, Carla também trabalha em uma nova produção em Gießen, viajando para a Alemanha duas vezes por mês. "Faz 25 anos que eu canto, é uma dádiva imensa continuar fazendo ópera", afirma.

Conciliando atividades

Contrabaixista Marcos Machado fez toda sua formação nos Estados Unidos

Contrabaixista Marcos Machado fez toda sua formação nos Estados Unidos


SERGEI KVITKO/DIVULGAÇÃO/JC
Natural de Bagé, o contrabaixista Marcos Machado mudou-se para os Estados Unidos em 2005 e lá fez toda a formação superior - graduação e mestrado na Universidade da Geórgia e doutorado na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. Hoje, leciona contrabaixo e música de câmara na Universidade do Sul do Mississippi, em Hattiesburg, onde atingiu o cargo de full professor, o mais alto da carreira universitária norte-americana.
Machado diz que decidiu se mudar para os Estados Unidos porque o país oferece um mercado de trabalho mais forte e estável para a música erudita. O músico também se aprimorou no Rabbath Institute em Paris, obtendo os diplomas de performance e professor. "Estudei com o François Rabbath, considerado um dos mais importantes contrabaixistas na história do instrumento. Sou o único sul-americano a ter estes diplomas", afirma. Seu trabalho de pesquisa também contempla outros talentos brasileiros. "Sou o orientador de quatro alunos de mestrado e cinco de doutorado neste semestre. Tenho cinco alunos do Brasil atualmente, sendo um gaúcho", destaca.
No palco, Machado já se apresentou em turnês e festivais internacionais de música em vários países, como Suíça, França, Inglaterra, Alemanha e Peru, além dos Estados Unidos e do Brasil. "São cerca de 10 solos com orquestra ao ano. É muito raro contrabaixistas serem solistas com orquestras. (Faço) uma média de 10 a 15 recitais ao ano. Mas este número pode aumentar muito quando faço tours de lançamento de CD", diz o músico. No currículo, ele acumula ainda álbuns-solo e gravações com outros artistas. Participou, como convidado, do grupo de câmara Conspirare, com o qual gravou os álbuns Threshold of night e Conspirare in concert, ambos com o selo Harmonia Mundi e indicados a prêmios Grammy.
Conciliar a carreira de músico com o trabalho acadêmico é uma tarefa complexa, de acordo com o músico. "Tenho muita sorte de estar numa instituição que preza a performance acima de tudo. Tenho um livro publicado, Tao of bass, que está na sétima edição. Já foi vendido em aproximadamente 50 países e está sendo usado como o livro de técnica de contrabaixo em muitas universidades, como o Conservatório Superior de Música de Paris e o Conservatório Boccherini, na Itália", destaca Machado.

Dedicação em busca de um sonho

Pianista Alessandra Feris é professora titular da Universidade de Dakota do Sul

Pianista Alessandra Feris é professora titular da Universidade de Dakota do Sul


SILVIO MANSANO/DIVULGAÇÃO/JC
Há duas décadas morando nos Estados Unidos, a pianista Alessandra Feris também se divide entre a sala de aula e palcos de diferentes países. Desde 2016, é professora titular de piano na Universidade da Dakota do Sul. "Quando comecei o bacharelado em piano na Ufrgs, eu já buscava bolsas para a Europa. Tinha um sonho de estudar em uma escola que fosse voltada apenas para a performance, pois os cursos no Brasil são bastante acadêmicos", lembra.
Ao concluir a graduação, em 1997, Alessandra conseguiu uma bolsa do KAAD, instituição vinculada à Igreja Católica alemã, para estudar na Escola Superior de Música Franz Liszt, na cidade de Weimar. Lá, fez dois cursos de especialização e teve a oportunidade de estudar com um nome célebre - o russo Lazar Berman, considerado um dos grandes pianistas do século XX. Ficou quatro anos e meio na Alemanha, retornou ao Brasil e seguiu para um mestrado na Universidade de Iowa. "Eu me dei conta de que, para ter uma carreira sólida de pianista clássica, precisaria estar vinculada a uma universidade", explica a pianista. Antes mesmo de terminar o doutorado na Universidade da Flórida, em 2009, Alessandra recebeu uma oferta de trabalho na Universidade do Sul do Mississipi, onde recebeu um prêmio pelo trabalho pedagógico que desenvolveu e lecionou por oito anos até se estabelecer na Dakota do Sul.
Apesar do foco na vida acadêmica - Alessandra também ministra masterclasses, atua como banca de concursos e professora convidada em universidades americanas, brasileiras e de outros países -, a pianista tem um carreira de concertista dentro e fora dos EUA. Nos últimos três anos, apresentou-se na Itália, Sérvia, Grécia e em Portugal e, neste ano, encerra a agenda com recitais na Costa Rica. Em 2018, foi artista de destaque no Festival Piano City Milano, em Milão, na Itália. "É uma carreira que exige uma dedicação tremenda", resume.

Um sopro de qualidade

Flautista Vladimir Soares fixou residência na Alemanha

Flautista Vladimir Soares fixou residência na Alemanha


CLAUDIO ETGES /DIVULGAÇÃO/JC
Há seis anos, o flautista Vladimir Soares desembarcava na Alemanha para um curso de mestrado em música de câmara na Escola Superior de Música de Stuttgart. O convite surgiu durante um festival no Brasil, ao participar de uma masterclass com um professor da instituição alemã. Na sequência, veio um segundo mestrado, em flauta doce, ao final do qual recebeu nota máxima e láurea. Soares então acabou se fixando no país europeu, trabalhando como educador musical e camerista.
"A vida cultural (na Alemanha) é muito intensa, tem-se muitas oportunidades de assistir a orquestras de alta qualidade e de se aperfeiçoar no seu instrumento. E é muito valorizada a qualidade, esse é um ponto muito positivo", diz o músico. Porto-alegrense, Soares iniciou os estudos de flauta doce aos 11 anos, no projeto Orquestra Villa-Lobos, programa gratuito de educação musical desenvolvido há 25 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Villa-Lobos, na Vila Mapa. Continuou se aperfeiçoando e em 2010 concluiu a licenciatura em música pela Ufrgs, tendo sido vencedor do concurso Jovens Solistas da Ospa no ano seguinte.
Na Alemanha, como solista, Soares já tocou com a Orquestra de Câmara de Stuttgart e outros grupos regionais. Nos últimos meses, vem se dedicando a concertos de lançamento de um CD que gravou em Londres como parte do Projeto Donne, iniciativa da soprano gaúcha Gabriella Di Laccio - radicada na Inglaterra - que busca divulgar a obra de compositoras clássicas. Com o selo Drama Música, o álbum traz sonatas para flauta da italiana Anna Bon e tem a participação do cravista alemão Fabian Grosch. Ele mantém o foco, porém, na atividade em escolas de música de Sttutgart. "Viver de arte, não só no Brasil como no mundo inteiro, é realmente muito difícil. Por isso optei por ser professor, e não concertista", afirma.

Na rota do bel canto

Cláudia Azevedo enfrentou muitos desafios para ser cantora lírica

Cláudia Azevedo enfrentou muitos desafios para ser cantora lírica


RODRIGO FÉLIX LEAL/DIVULGAÇÃO/JC
Radicada nos Estados Unidos, a soprano Cláudia Azevedo chamou a atenção do mundo da ópera em 2005, quando conquistou o terceiro lugar no Concurso Internacional de Canto Bidú Sayão, considerado uma vitrine do canto lírico. No mesmo ano, formou-se em música pela Ufrgs e ganhou uma bolsa de estudo para especialização no Conservatório Superior de Música do Grande Teatro do Liceu, em Barcelona, na Espanha, por onde passaram estrelas como o tenor José Carreras e a soprano Montserrat Caballé.
"Na Europa, me dei conta de que havia grandes possibilidades de continuar me aperfeiçoando. São muitos cursos, cursos de verão, festivais, e as distâncias (entre países) são relativamente curtas", diz a cantora, natural de São Sebastião do Caí. Ela então começou a se especializar no bel canto - escola operística italiana que teve como principais representantes os compositores Rossini, Bellini e Donizetti, privilegiando o virtuosismo vocal - e também na obra de Mozart. Após um curso na Alemanha, Cláudia fez uma audição para a concorrida Academia Rossiniana de Pesaro, na Itália. A convite do maestro Alberto Zedda, referência mundial na ópera, apresentou-se em 2006 no Rossini Opera Festival, principal evento internacional de bel canto, interpretando a personagem Corinna na peça A viagem a Reims. Cantou também na Espanha e na Alemanha.
Em busca de aperfeiçoamento, Cláudia partiu para outro curso nos Estados Unidos em 2010 e foi selecionada para a escola do Metropolitan Opera House, um dos maiores teatros líricos do mundo, em Nova Iorque. "Isso me deu uma bagagem muito rica, tive contato com os melhores músicos do mundo na área da ópera", destaca. A estreia no palco do Met foi em 2011, no papel de Ismene na ópera Mitridate, rei do ponto, de Mozart. Desde então, a soprano vive em Nova Iorque, onde também dá aulas de canto. No final deste ano, participou de audições para a temporada de óperas de 2021 em Viena, na Áustria.
Em um campo artístico pautado pelo poder da voz, o talento nato não é único requisito. Um cantor lírico leva muito tempo para se formar, e o investimento financeiro tende a ser alto. "Precisamos de partituras, que são caras. Precisamos trabalhar o repertório com pianistas especializados, os correpetidores", exemplifica. Aulas de expressão corporal também são decisivas. "No Brasil, a maioria das universidades não tem um 'opera studio', que é onde se tem todas essas vivências. Busquei tudo isso por observação e com recursos próprios", afirma Cláudia, citando ainda a necessidade de dominar inglês e italiano, idiomas fundamentais na ópera.
Cantores líricos que tentam brilhar no exterior também precisam de um bom controle emocional para lidar com os altos e baixos da carreira, observa a cantora. "Sofremos muita rejeição, e isso não significa que você seja ruim. Às vezes, não é o tipo de voz ou o tipo físico que estão buscando para determinado papel. Recebeu um 'não' numa audição? Vai para a próxima", ensina.
 

Em defesa da música brasileira

Para o pianista André Golbert, há muitos compositores fantásticos no País

Para o pianista André Golbert, há muitos compositores fantásticos no País


RENATA FISCHMANN/DIVULGAÇÃO/JC
Dos "Três Bs" da música alemã - Bach, Beethoven e Brahms - a Mozart, Chopin, Debussy, Ravel, Aaron Copland, Shostakóvitch, Prokofiev, Béla Bártók e Villa-Lobos, o repertório de André Golbert percorre diferentes estilos e períodos da história da música erudita. Nascido em Porto Alegre, ele começou a estudar piano aos oito anos e, após se graduar como bacharel no instrumento pela Ufrgs, em 2015, decidiu se especializar nos Estados Unidos.
Em Nova Iorque, cursou mestrado em performance de piano na tradicional Mannes School of Music, onde foi aluno de Arkady Aronov, um mestre da escola russa do instrumento. Atualmente, está na fase final do doutorado na Universidade Estadual da Flórida, em Tallahassee. Pratica de seis a horas por dia, "sem feriado e fim de semana", ou até mais, dependendo do número de ensaios e repertórios.
A maior parte das apresentações é ligada à atividade acadêmica. Na rotina intensa, porém, Golbert também encaixa convites para participação em masterclasses e performances profissionais, resultados que ele credita às oportunidades trazidas pela universidade. Em julho, o pianista participou de um festival de música no Sudoeste da França e, em agosto, tocou obras de Debussy em um recital na igreja Sainte-Croix des Arméniens, em Paris.
Para o futuro, Golbert vislumbra uma carreira de docente, entre outras possibilidades. "A qualidade do ensino que tive no Brasil foi altíssima. Mas na Europa e nos EUA a gente vê uma sociedade que valoriza mais esse tipo de música, a arte em geral, e que investe na criatividade", avalia. Os planos do pianista também incluem divulgar o trabalho de artistas brasileiros. "O Brasil não produziu só músicos, produziu muita música. Há compositores fantásticos que são muito pouco conhecidos fora do País", afirma.
 

Uma orquestra de muitos sotaques

Ange Prada, Viktoria Tatour e Velitchka Filipova: integrantes estrangeiras da Ospa

Ange Prada, Viktoria Tatour e Velitchka Filipova: integrantes estrangeiras da Ospa


LUIZA PRADO/JC
Se muitos artistas gaúchos optam por buscar espaço fora do Brasil, também há músicos que fazem o caminho inverso. Entre seus 102 integrantes, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) tem 11 estrangeiros, vindos de Uruguai, Argentina, Colômbia, Bielorrússia e Bulgária.
Primeiro oboé da Ospa, a bielorrussa Viktoria Tatour chegou ao Brasil em 1997, estabelecendo-se em Manaus e tocando na Amazonas Filarmônica. Em seu país, trabalhava como professora na Academia de Música do Estado Bielorrusso, em Minsk, e tocava na Orquestra Sinfônica do Estado da Bielorrússia. Em 2004, integrou-se à orquestra gaúcha. Além de atuar nos concertos, Viktoria dá aulas de oboé na Escola de Música da Ospa e diz se impressionar com os talentos que encontra. "Quero ensinar tudo o que sei. Mesmo em condições difíceis, crescem jovens músicos que surpreendem com seu trabalho extraordinário", afirma ela.
A fagotista Ange Paola Bazzani Prada é outro reforço estrangeiro na Ospa. Nascida em Bucaramanga, na Colômbia, chegou ao Brasil em 2013, após receber um convite para fazer parte do projeto social Neojiba (Núcleos Estudantis Orquestrais Juvenis e Infantis da Bahia), em Salvador. Depois, estudou na Academia de Música da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
No final de 2014, participou do concurso público aberto pela Ospa. A nomeação para assumir a vaga, porém, demorou três anos - no período, voltou à Colômbia e foi aprovada em outras seleções. Ange foi a primeira mulher a ocupar o posto de solista no fagote em quase sete décadas de atividade da orquestra gaúcha. "Com o tempo fui entendendo que isso tinha um significado muito forte em termos de representatividade. O fagote é tocado predominantemente por homens", afirma Ange, que espera incentivar outras jovens a se interessar pelo instrumento, pouco conhecido do grande público no Brasil.
A violista Velitchka Filipova veio da Bulgária, em 1991. Natural da cidade de Burgas, formou-se na Academia Nacional de Música de Sófia. Foi spalla do naipe de violas da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (SP), passou pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, de Brasília, pela Amazonas Filarmônica e, no Rio Grande do Sul, pela Orquestra de Câmara da Ulbra. Em 2014, foi aprovada na seleção da Ospa. Na mudança de país, ela diz que o grande desafio foi o idioma. "Não sabia nada de português. Precisei de dois anos para aprender a falar e entender a língua", afirma Velitchka. "O povo brasileiro é muito respeitoso e acolhedor, nunca tive grandes dificuldades para me adaptar."
Para o diretor artístico e regente da Ospa, Evandro Matté, a experiência trazida por instrumentistas do exterior faz bem à orquestra - ela própria fundada por um estrangeiro, o maestro húngaro Pablo Komlós, em 1950. "Isso fez com que se formasse aqui uma tradição na música de concerto, que não era tão forte no Brasil", diz. Para comparação, a Filarmônica de Berlim, uma das mais respeitadas do mundo, é também uma das mais internacionais, mesclando em sua composição 28 nacionalidades. De seus 121 integrantes, 57 são alemães e 64 são de outros países.

* Patrícia Feiten é jornalista formada pela UFSM e tradutora, formada em Letras pela Ufrgs.