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Agroneg�cio

- Publicada em 03h00min, 18/12/2020. Atualizada em 10h17min, 18/12/2020.

Carnes e gr�os animam o agroneg�cio para 2021

Lavouras e cria��o de animais garantem um in�cio de ano de otimismo para agricultores e pecuaristas

Lavouras e cria��o de animais garantem um in�cio de ano de otimismo para agricultores e pecuaristas


WENDERSON ARAUJO/TRILUX/CNA/DIVULGA��O/JC
Thiago Copetti
Com uma conjuntura de fatores bastante positivos, o agronegócio tem em 2021 um cenário que permite até mesmo ao Rio Grande do Sul virar o calendário com certo otimismo. Isso mesmo após dois ciclos castigados pela estiagem, o que vai frear os lucros e consumir parte dos ganhos que estão no horizonte - especialmente os do comércio exterior.
Com uma conjuntura de fatores bastante positivos, o agronegócio tem em 2021 um cenário que permite até mesmo ao Rio Grande do Sul virar o calendário com certo otimismo. Isso mesmo após dois ciclos castigados pela estiagem, o que vai frear os lucros e consumir parte dos ganhos que estão no horizonte - especialmente os do comércio exterior.
O mais palpável e imediato, e que já trouxe dividendos em 2020, é a alta no preços das commodities agrícolas, com arroz, milho e soja, valorizados em até mais de 100%. Ainda que boa parte dos produtores tenha vendido e fechado contratos antes da alta, as cotações seguem sendo praticados em bons patamares e já há quem esteja com parte da safra 2022 negociada para travar parte da produção em valores atuais.
Também promissor é o mercado de proteína animal, com a China ainda precisando de mais alguns anos para recompor o seu plantel de suínos devastado pela peste suína africana desde 2018. O holandês Rabbobank, por exemplo, especializado em análises e projeções para o agronegócio, avalia que essa recuperação ainda levará pelo menos mais quatro anos. Mas também há perspectivas positivas de vendas para a Indonésia, México, Canadá, Japão e Coreia do Sul.
Assim, seguirá aquecido o mercado de carnes não apenas suína, como também bovina e de aves. O revés vem com o milho, escasso no Rio Grande do Sul pela falta de chuva. O grão também está valorizado globalmente e os criadores gaúchos terão custos extras para aquisição. Componente básico de rações em diferentes percentuais de mistura e forma de uso, inclusive para produção leiteira, o milho terá de vir do Centro-Oeste brasileiro, mesmo com o alto valor do frete até o Rio Grande do Sul.
Além das estradas, também pelos portos, com origem em países diversos, podem desembarcar milhares de toneladas para alimentar nosso plantel. O governo federal tentou estimular essa aquisição neste ano zerando a alíquota do imposto de importação de soja e milho até 2021. Na soja, porém, a redução temporária é válida apenas até 15 de janeiro do próximo ano. No milho, incluído na Lista Brasileira de Exceções à Tarifa Externa Comum (Letec), a redução é válida até 31 de março de 2021.
De acordo com a Federação da Agricultura do Estado (Farsul), no ciclo 2020/2021, a expansão das lavouras em geral deve chegar a 3%. E o Rio Grande do Sul teria condições de aumentar em quase 30% a produção de grãos, alcançando 39,9 milhões de toneladas, em comparação com a desgastada safra de 2019/2020.
Com uma radiografia momentânea e tendo como prerrogativa que a estiagem será amenizada a partir de janeiro, a Farsul chega a projetar elevação de 75,8% na soja - para 19,8 milhões de toneladas, em área 3% maior. Isso, claro, depois de queda de quase 40% com a falta de chuva no ciclo 2019/2020.
Já o milho deve sofrer com sua segunda quebra e ter resultados ainda piores do que no ano passado. A falta de chuva no início do desenvolvimento do grão, principalmente na Região Noroeste do Estado, tende a reduzir a produção para somente 3 milhões de toneladas.

Pecu�ria tende a avan�ar com novo status sanit�rio

OIE deve autorizar a retirada da vacina contra aftosa no RS
OIE analisa em maio de 2021 o novo status sanit�rio ga�cho
THAIS DENTITY_apos_ENTITYAVILA/IMPRENSA FUNDESA/DIVULGA��O/JC
O Rio Grande do Sul poderá celebrar em 2021 a conquista na Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) do status sanitário de zona livre de febre aftosa sem vacinação. Depois de uma série de ações e investimentos privados e públicos para retirada da vacina em 2020, o encontro da OIE, agendado para maio do próximo ano, já tem na pauta a solicitação gaúcha.
Há pelo menos dois anos o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa) vem intensificando investimentos em melhorias e reformas nas inspetorias veterinárias no Interior do Estado. E o governo gaúcho assegurou a contração de 150 novos auxiliares administrativos e recursos para a compra de mais 100 veículos para atividades de fiscalização e monitoramento. A ideia é, sobretudo, aumentar a presença de policiais e fiscais agropecuários nas regiões de fronteira
Ainda que tenha atraso no processo de compra dos veículos, mesmo com recursos garantidos, o entrave está com os fornecedores e o governo acredita que em breve terá a aquisição efetivada. Entre os servidores também há confiança de que o processo na OIE será exitoso, diz o presidente da Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do sul (Afagro), Pablo Fagundes Ataide.
O presidente da Afagro cita o recente programa Sentinela como um exemplo concreto das medidas que devem levar o Estado a obter status de livre sem vacinação - e assim abrir ou ampliar mercados como no México, Estados Unidos, Japão e Coréia do Sul. O programa Sentinela abrange a patrulha de 1.200 quilômetros de faixa de fronteira, envolvendo 59 municípios próximos da Argentina e do Uruguai (país que segue com vacinação), em uma área que compreende 64.842 propriedades rurais e 4,4 milhões de cabeças.
Além coibir e evitar o livre trânsito de animais entre Brasil e Uruguai, neste corredor existente entre Uruguai e Brasil, principalmente, o Sentinela inibe o abigeato, o trânsito irregular de animais e aproximou sistemas de informação e profissionais das policias federal, rodoviária, militar, exército e fiscais agropecuários. A vigilância ativa nas fronteiras foi uma as exigências federais para encaminhar o pedido do Estado à OIE.
"Praticamente zerou a criação de gado em corredor, por exemplo, o que aumenta o risco sanitário. Mas o trabalho dos servidores aumentou muito além das atribuições do dia a dia. É necessário um concurso para o serviço com mais uma centena de fiscais e isso se tornou ainda mais evidente agora", defende Ataide.
Quando aprovado o novo status, começará a etapa de prospecção de mercados mundiais especialmente para exportações de suínos e carne bovina. O governo do Rio Grande do Sul estima ganhos de cerca de R$ 600 milhões em novas exportações.
Ao longo de 2020, porém, o setor também produziu com custos maiores e por isso a produção que chegou, ou chegará ao mercado em 2021, também foi uma das mais caras da história em função do câmbio e dos insumos dolarizados, como fertilizantes e herbicidas, e o consequente reflexo no custo da ração animal.

Milho � a maior fonte de preocupa��o

Efeitos da estiagem em lavoura de milho em Severiano de Almeida
Produ��o teve segundo ano de quebra em meio � leva��o da demanda
PREFEITURA DE SEVERIANO DE ALMEIDA/DIVULGA��O/CIDADES/JC

Em um ano em que a demanda global por prote�na global deve seguir em alta - e depende em boa parte do milho para ser vi�vel e rent�vel - a estiagem � o maior fantasma da produ��o nacional. E como a demanda internacional pelo gr�o est� em alta com a maior produ��o de biocombust�vel e para alimenta��o de planteis mundo afora, importa��es se tornam mais dif�ceis e caras.

A falta de milho, que seca devido a estiagem at� mesmo no Centro-Oeste neste ano, vai na contram�o das necessidades dos criadores de aves e su�nos e da ind�stria. O setor j� amarga e paga o pre�o por um d�ficit anual na casa de 2 milh�es de toneladas ano, de acordo com a Associa��o Ga�cha de Avicultura (Asgav) e em 2021 tem enfrentar um dist�rbio ainda maior na cota��o. A associa��o alerta que as compras futuras dever�o se intensificar, assim como a press�o no governo federal por mecanismos de flexibiliza��o de importa��o.

Bruno Lucchi, superintendente t�cnico da CNA, alerta que o milho � foco de preocupa��o para 2021 especialmente porque a produ��o estar� excessivamente ajustada ao consumo dom�stico. O executivo lembra ainda que a quest�o clim�tica afetar� seriamente a oferta, tamb�m levando ao atraso no plantio da safra de soja e posteriormente � segunda safra de milho. Sempre a mais forte, o atraso nesta segunda safra ter� impactos na oferta e possivelmente tamb�m na produtividade.

Aliado a isso, a China dever� entrar no mercado fortemente comprando milho, pois come�a aos poucos a retomar seu plantel de su�nos e precisa do gr�o para isso. Ainda que o Brasil n�o venda milho diretamente pra China, diz Lucchi, o gigante asi�tico comprar� mais de outros pa�ses, que por sua vez v�o abrir mercado para vendas do Brasil. Isso � ponto de preocupa��o nas cadeias da pecu�ria em geral que, mesmo com produ��o e exporta��o melhor, arcar� com custo de produ��o muito maior, destaca Lucchi. A demanda de importa��o de milho pela China deve aumentar de quatro a cinco vezes o que comprou em 2020, diz o executivo. Isso pela tecnifica��o e recomposi��o do rebanho su�no por l�.

"O Brasil n�o exporta para a China por quest�o de transg�nicos, mas outros grandes players, como Estados Unidos, Argentina e Ucr�nia, sim. Eles devem vender mais para l� e abrir para que o Brasil exporte a outros pa�ses dentro e uma produ��o j� insuficiente e cara no mercado dom�stico", detalha Lucchi.

Mercados globais e blocos econ�micos exigem aten��o

Brasil pode ganhar espa�o nas vendas para o Reino Unido
Brasil pode ganhar espa�o nas vendas para o Reino Unido
/Daniel LEAL-OLIVAS/AFP/JC

O agroneg�cio brasileiro, que tanto�se orgulha de alimentar o mundo, precisa ficar ainda mais atento aos movimentos globais recentes, alerta a superintendente de Rela��es Internacionais da CNA, L�gia Dutra. A��o que exige mais do que apenas olhar para China, mas para �sia como um todo, assim como observar mercados que podem ser ganhos com a sa�da do Reino Unindo da Uni�o Europeia e muitos outros focos.

A Parceria Econ�mica Regional Abrangente (RCEP, que re�ne China e mais 14 pa�ses da �sia e da Oceania) � uma das novidades. S�o 15 pa�ses que somam 30% do PIB mundial e do qual, claro, a China � o maior comprador, e onde h� muitos concorrentes do agro brasileiro, como Nova Zel�ndia e Austr�lia.

"Temos de ficar de olho nesse novo movimento e buscar acordos com pa�ses asi�ticos tem de ser uma prioridade para o nosso governo. Estamos em negocia��o de acordo com a Coreia do Sul, por exemplo, e precisamos avan�ar mais rapidamente",destaca L�gia.

Al�m disso, diz a representante da CNA, o panorama internacional ganhar� outros contornos com novo governo norte-americano, em janeiro de 2021. E, ainda que n�o se possa dizer que o comando de Joe Biden trar� uma tr�gua na guerra comercial com a China, � esperada uma participa��o maior dos Estados Unidos no mercado internacional.

"Outro ponto importante a prestar aten��o � o Brexit, a sa�da do Reino Unido da Uni�o Europeia", sinaliza Ligia. A executiva da CNA ressalta que o Reino Unido � um dos grandes importadores de alimentos do mundo, tendo comprado US$ 105 bilh�es de d�lares em alimentos no ultimo ano. E o Brasil exportou a esse importante comprador somente 1,5% desse valor.

Arroz tem ano promissor ap�s sequ�ncia de perdas

Nos grãos, um dos destaques no mercado interno é a recuperação do arroz. Depois de anos de prejuízos, neste ciclo que será colhido agora, o produtor deve enfim conseguir cobrir os custos operacionais efetivos, e até renovar o maquinário e investir no aumento da área plantada. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nos últimos cinco anos os orizicultores, concentrados sobretudo no Rio Grande do Sul, tiveram prejuízo com a atividade.
Por problemas diversos, o consumo de arroz vinha caindo no Brasil, assim como os preços. Na safra atual, porém, o produtor conseguiu cobrir o seu desembolso, mas realmente colocará dinheiro na conta e efetivamente em 2021. Isso porque apesar de o consumidor ter visto a elevação nas gôndolas dos supermercados, poucos conseguiram se beneficiar realmente da alta dos mais de R$ 100 da cotação de 2020.
"O preço do arroz ao produtor está em cerca de R$ 104,00 (início de dezembro). Só que grande parte vendeu antecipado (23%) ou na colheita (mais de 50%), quando o preço era R$ 50,00. Então 75% do arroz comercializado foi ao preço médio de R$ 52,00", explica Bruno Lucchi, superintendente técnico da CNA.
Assim, finaliza ele, restaram 6% de agricultores ainda comercializando arroz por bons preços. A grande maioria vendeu pela metade do que está cotado agora.
"O agricultor não está ganhando rios de dinheiro. O produtor de arroz recuperou prejuízo de cinco anos e vai poder reinvestir na próxima safra. Este é basicamente o salto até agora", assegura o executivo da CNA.
No caso da soja, acrescenta Lucchi, ocorre algo semelhante no sentido de diferença entre o tempo da venda, as comercializações antecipadas e as cotações vigentes.
"Cerca de 70% dos produtores comercializaram a um preço médio bem abaixo do atual. Eu diria que 1% dos produtores conseguiram comercializar em R$ 156,00, como chegou em Sorriso (MT).
 
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