Nenhum projeto eólico gaúcho saiu vencedor de uma disputa de um leilão de energia, desde 2014. Entre os obstáculos que impediram o êxito desses empreendimentos estavam obras de transmissão inacabadas, que eram de responsabilidade da Eletrosul. Hoje, essas obras encontram-se nas mãos de outras empresas e estão em andamento. Com essa questão superada, a maior dificuldade para os parques eólicos do Rio Grande do Sul, no momento, é a concorrência com as competitivas usinas nordestinas. Os estados daquela região, além de contarem com uma excelente incidência de ventos, possuem uma cadeia de fornecedores constituída e vantagens fiscais e de financiamento com o Banco do Nordeste (BND).
Uma saída para as iniciativas gaúchas pode ser a realização de certames vocacionais (que levam em consideração as fontes características de cada estado) ou o mercado livre (formado por grandes consumidores que podem escolher de quem vão comprar a energia). O presidente do Sindicato das Empresas de Energia Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), Guilherme Sari, admite que os leilões com a participação da energia eólica estão cada vez mais competitivos. "Como você compete com preços muito baixos é preciso uma produtividade muito alta", afirma. Sari pensa que o mercado livre desponta como um caminho natural para os projetos.
Uma possibilidade levantada é que algumas usinas poderão fazer uma combinação, vendendo parte da energia para o mercado livre e outra em leilão. A vantagem do mercado regulado, detalha o dirigente, é a financiabilidade do projeto e a do mercado livre é um melhor preço. "O Rio Grande do Sul tem que visualizar o negócio como mercado livre ou outra forma de comercialização, o mercado regulado está ficando distante para nós", admite Sari. O dirigente também considera que o leilão vocacionado pode ser um mecanismo para conceder um novo fôlego para os projetos eólicos gaúchos.
Sari revela que o Sindieólica-RS já tratou desse assunto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia e responsável pelo planejamento do setor elétrico. Contudo, o dirigente ressalta que dentro da EPE há posições contrárias, argumentando que um leilão regional seria um certame político e não teria sentido, porque o sistema é interligado (ou seja, a geração de qualquer usina pode atender à demanda de qualquer parte do País, então o fator fundamental para que o empreendimento saia do papel precisaria ser o preço). "Mas, eles (EPE) são favoráveis a atribuições de custos diferenciados devido às distâncias do centro de cargas", acrescenta. Nesse caso, usinas que estão situadas longe dos locais de maior consumo demandam mais investimentos em transmissão e implicam maiores perdas durante o deslocamento da energia. Essa diferenciação quanto à distância do centro de carga atende a um pleito do setor eólico gaúcho.
O secretário do Meio Ambiente e Infraestrutura, Artur Lemos Júnior, diz que o governo estadual irá trabalhar para que acabe o "jejum" de novos empreendimentos na área eólica. O secretário reforça que uma forma para que essa meta seja alcançada passa pela mudança das lógicas dos certames de energia. "Se não forem contempladas concorrências díspares entre as regiões, vai ficar difícil participar", alerta.