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Conjuntura

- Publicada em 10 de Março de 2019 às 23:00

Falta de recursos coloca negócios em risco na feira

Verba escassa do Moderfrota está sendo considerada o grande gargalo para a venda de máquinas

Verba escassa do Moderfrota está sendo considerada o grande gargalo para a venda de máquinas


/MASSEY FERGUSSON/DIVULGAÇÃO/JC
Assim como em outros segmentos da economia, o agronegócio começou o ano com os índices de confiança em alta e animados com o novo governo federal. O final desse primeiro trimestre do ano, porém, revela que 2019 é especialmente farto em incertezas e problemas a serem resolvidos pelo setor. O primeiro dilema que o segmento tentava solucionar, e não conseguiu, é a obtenção de mais R$ 3 bilhões em recursos para o Moderfrota.
Assim como em outros segmentos da economia, o agronegócio começou o ano com os índices de confiança em alta e animados com o novo governo federal. O final desse primeiro trimestre do ano, porém, revela que 2019 é especialmente farto em incertezas e problemas a serem resolvidos pelo setor. O primeiro dilema que o segmento tentava solucionar, e não conseguiu, é a obtenção de mais R$ 3 bilhões em recursos para o Moderfrota.
Uma das principais linhas de financiamento chega ao mês de março com apenas R$ 750 milhões disponíveis, segundo estimativas do setor. Lideranças rurais e políticos vinculados ao tema pediram à União um complemento de R$ 3 bilhões para que ainda houvesse oferta de recursos disponível nas principais feiras setoriais, como a Expodireto. No final de fevereiro, o Ministério da Agricultura anunciou apenas mais R$ 470 milhões (R$ 390 milhões com juros de 7,5% ao ano e R$ 80 milhões com taxas de 9,5% anuais).
Sem ter o pedido atendido, representantes do agronegócio se dividem sobre a manutenção da projeção inicial feita pelo presidente da feira, Nei Mânica, de que o evento poderia alcançar R$ 2,7 bilhões nesta edição - R$ 500 milhões acima do ano passado. "Para a Expodireto, a não liberação de recursos extras não deverá ser um grande problema, mas poderá ter impacto em feiras que virão depois, como a Agrishow. Por isso mantemos a mobilização junto ao governo federal para que se tenha mais recursos o quanto antes", diz Mânica.
De acordo com o presidente da Cotrijal, um anúncio poderá ser feito inclusive durante o evento. Mânica diz que já estão confirmadas na feira as presenças do vice-presidente, Hamilton Mourão, da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Já o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, é taxativo ao dizer que nenhuma mobilização do setor conseguiria obter mais recursos para a aquisição de máquinas neste momento. Gedeão diz que não há mais nenhuma mobilização nessa direção e nem expectativas neste sentido.
"Estive participando de diferentes estudos, inclusive junto ao Ministério da Economia, e o que ocorre é que acabou o dinheiro. Vamos ser claros. Neste ano já não teve, no crédito tradicional, o pré-custeio, as taxas de juros de modo geral estão subindo", lamenta Gedeão.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers), Claudio Bier, no entanto, mesmo com um cenário de confiança do setor no novo governo e no avanço da economia, manter a perspectiva de aumentos de vendas em R$ 500 milhões em relação a 2018 será difícil sem mais recursos públicos para a compra de máquinas. A alternativa de buscar financiamento apenas nos bancos privados, diz, não atende o setor de forma ampla, já que há juros maiores e exigências que dificultam o acesso ao crédito.
"E para o agricultor comprar sem financiamento, tirando do capital de giro, e sem nunca ter a certeza de retorno garantido, não é viável. É uma atividade que está sempre sujeita às intempéries do clima e, por esse risco constante, precisa ter algum respaldo público, tanto para manter a produção de alimentos e o equilíbrio da balança comercial brasileira", ressalta Bier.

Fenabrave espera por recuperação do segmento, mas recomenda cautela aos produtores

Ainda que sem os recursos extras do Moderfrota e sem muitas perspectivas de aumento de negócios em Não-Me-Toque, o setor segue vendo 2019 com bons olhos, mas principalmente devido a uma sequência de três anos de baixos negócios. Roberto Saldanha, que responde pelo segmento agrícola do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos (Sincodivi-Fenabrave), avalia que como não há mais áreas para se expandir o plantio no Estado, o produtor tem que focar cada vez mais em tecnologias para aumentar a produtividade.
"Neste ano, apesar de as perdas com as enxurradas na Fronteira-Oeste podendo afetar os negócios, a soja e o milho devem garantir vendas melhores. Mas as vendas em feiras são sempre uma caixa de surpresa. É claro que recursos escassos no Moderfrota podem afetar a feira. Não só pelo juro melhor do que o oferecido pelas linhas próprias dos bancos como por ter prazos de pagamento maiores", destaca Saldanha.
O empresário lembra que se levar em conta o valor de uma colheitadeira ou de um pulverizador, por exemplo, máquinas de R$ 500 mil a R$ 1,5 milhão, a demanda de investimento é grande. E que para fazê-lo o produtor precisa ter planejamento prévio, expectativa de bons preços e alguma segurança no horizonte. E com o dólar incerto como temos atualmente, diz Saldanha, isso pode se refletir, para alguns produtores, em R$ 1 milhão a mais ou menos, por exemplo, em apena uma safra.
"O que pesa a favor da compra de uma nova máquina é obter, por exemplo, redução no consumo de combustível e economia com aplicação mais precisa de insumos e ganhos na colheita. É um investimento necessário, mas no setor privado não há prazo nem juro acessível", critica o empresário.
O representante do Sincodiv-Fenabrave no Estado avalia que a organização da feira, nos últimos três anos, priorizou ações que privilegiavam mais as novas tecnologias para lavouras, na área de insumos, como sementes e fertilizantes, do que as máquinas. Nesta edição, isso pode mudar. "Basta ver o destaque dado aos visitantes internacionais nos últimos anos. E eles não vem comprar máquinas. Após as vendas do segmento de máquinas andarem de lado, acredito que podem ser retomadas (as vendas) pela necessidade de renovação em muitas propriedades", espera Saldanha.