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Saúde

- Publicada em 17 de Abril de 2020 às 23:13

Escassez de EPIs gera corrida do mercado para abastecer hospitais

Em todo o País profissionais que circulam por áreas hospitalares não consideradas de risco, estão trabalhando com medo

Em todo o País profissionais que circulam por áreas hospitalares não consideradas de risco, estão trabalhando com medo


SINDISAÚDE-RS/DIVULGAÇÃO/JC
O aumento acelerado de óbitos e de pessoas contaminadas pelo Covid-19 tem pressionado sistemas de saúde ao redor do mundo e impulsionado a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), bem como respiradores e leitos de UTI, colocando o Brasil em fila de espera, e gerando risco para parte dos profissionais da Saúde.
O aumento acelerado de óbitos e de pessoas contaminadas pelo Covid-19 tem pressionado sistemas de saúde ao redor do mundo e impulsionado a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), bem como respiradores e leitos de UTI, colocando o Brasil em fila de espera, e gerando risco para parte dos profissionais da Saúde.
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São atendentes, técnicos de enfermagem, médicos e enfermeiros que não trabalham em áreas específicas de tratamento ao coronavírus nos hospitais, e que estão dependendo da sorte para escapar de serem infectados. No Estado, já passa de 800 o número de casos confirmados entre a população. Os registros mais recentes foram notificados em Porto Alegre, São Leopoldo, Guaíba e Bento Gonçalves, conforme balanço da Secretaria Estadual da Saúde (SES) no fim da manhã desta sexta-feira (17). A doença está em 92 municípios gaúchos
“Em algumas pessoas, a presença do Covid-19 é assintomática”, alerta a vice-presidente do Sindisaúde-RS, Claudete Miranda. Técnica de enfermagem do Grupo Hospitalar Conceição em Porto Alegre, ela afirma que no seu posto de trabalho – que não está na linha de frente da pandemia – três pacientes positivaram para a doença.
“Esse é um exemplo claro da importância do uso de EPI em qualquer área de um hospital, seja na linha de frente ou não.” Claudete se refere ao fato de que, por conta da escassez de equipamentos de proteção no mercado, principalmente máscaras, a maioria das instituições tem precisado racionar o uso destes materiais. A iniciativa obedece a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma vez que a demanda por equipamentos de proteção ocasionou uma interrupção na cadeia de suprimentos, acarretando escassez de estoque em todo o mundo.
“A ordem é garantir a prevenção de contágio dos profissionais de Saúde que lidam diariamente com o atendimento de infectados, usando os EPIs de forma racional”, destaca o médico infectologista Rodrigo Pires dos Santos, coordenador do Controle de Infecção Hospitalar e da Equipe de Preparação para o Combate ao Covid-19 no Clínicas, uma das duas instituições de referência no tratamento da doença no Estado.
Em contraponto a este argumento, em todo o País profissionais que circulam por outras áreas hospitalares, não consideradas de risco, estão trabalhando com medo, uma vez que uma série de mortes (principalmente entre enfermeiros) vem sendo registradas com frequência em diversas regiões.
O boletim do dia 16 de abril publicado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Confen) informa que foram notificados 30 óbitos de profissionais por Covid-19 no Brasil. Destes, 21 já tiveram diagnósticos confirmados. Atualmente, o Cofen contabiliza mais de 4,8 mil denúncias de profissionais de enfermagem reclamando de falta, restrição ou proibição do uso de EPIs em hospitais e unidades de saúde brasileiras. Destas, 329 são procedentes do Rio Grande do Sul, enquanto a maioria (1425 casos) é de São Paulo.
De acordo com o órgão, em algumas cidades há relatos também de solicitação por parte de gestores para que os profissionais adquiram seus próprios materiais de segurança e reutilizem materiais descartáveis. Nesta quinta-feira, o Observatório do Cofen confirmou que há 3.583 profissionais de Enfermagem com suspeitas de Covid-19 em quarentena. São 604 com diagnóstico já confirmados e afastados de suas funções, e outros 135 internados com sintomas da doença em instituições de saúde.

Estoques de materiais dependem de cumprimento dos prazos de entrega

Rodrigo Pires dos Santos, médico infectologista e coordenador executivo da equipe de preparação para o combate ao coronavírus dentro do Hospital

Rodrigo Pires dos Santos, médico infectologista e coordenador executivo da equipe de preparação para o combate ao coronavírus dentro do Hospital


divulgação Hospital de Clínicas
No Hospital de Clínicas, o estoque de EPIs vem sendo avaliado diariamente, informa o médico infectologista e coordenador executivo da Equipe de Preparação para o Combate ao Coronavírus dentro da instituição, Rodrigo Pires dos Santos. “Desde janeiro estamos trabalhando no planejamento para o atendimento da população à pandemia”, informa. “Atualmente, ainda temos estoque e as compras de equipamentos de proteção individual estão sendo realizadas com prazos de entregas estimados – mas precisamos que os mesmos sejam cumpridos”, pondera Santos.
Logo que a doença começou a se espalhar na China e Europa, a Instituição formou uma equipe multidisciplinar, que contou com mais de 30 pessoas, para definir o fluxo de atendimento, bem como necessidade de insumos de laboratório e EPIs. “Tudo foi programado previamente antes de termos casos no Brasil”, reforça Santos. “Em março, desdobramos a medida, e estamos de lá para cá nos reunindo diariamente para avaliar o andamento e a organização do fluxo de atendimento para pacientes do Covid-19, que estão sendo tratados em áreas dedicadas em cada ala do hospital.”
O infectologista destaca que no Clínicas não existe atendimento de pacientes de coronavírus sem a paramentação adequada, mas confirma que há racionamento no uso. “Não dá para não utilizar à toa e gastar um insumo que é finito. Não podemos considerar as dificuldades de entregas e compras no mercado”, justifica. Dentre as ações da Instituição, os profissionais estão recebendo treinamento para colocação e retirada de EPIs, e foram criadas “barreiras, com uso de boas práticas, como limpeza do ambiente e de mãos, e afastamento social” em áreas não destinadas ao atendimento da doença. “De qualquer forma, o uso de EPIs e a paramentação é comum em processos padrão”, garante.
“Em nenhum momento faltou material e a qualidade dos equipamentos de proteção é muito boa”, confirma a enfermeira Janine Abreu Silveira Franceschi, que atua na Emergência do Hospital de Clínicas. Segundo ela, a rotina se tornou bastante intensa. "Estamos sempre buscando uma forma de qualificar o trabalho de forma segura para todos. O acesso aos EPIs ocorre para todos os profissionais da Emergência, inclusive os administrativos. Neste sentido, me sinto amparada. Também temos tido apoio psicológico dentro da Instituição para lidar com o clima tenso e de dúvida sobre o futuro."
Admitindo tensões emocionais e físicas por atender "na porta de entrada do Hospital, onde a incerteza é diária", Janine destaca que há apreensão, por não ter como saber se quem está chegando está ou não contaminado. “Como não temos superpoderes, sentimos receio de adoecer e ter que sermos afastados diminuindo o quadro funcional, pois corremos o mesmo risco como qualquer outra pessoa – mas nos mantemos no propósito de estar bem para atender quem precisa.”
Ao todo, o Clínicas conta com seis mil profissionais. “Trabalho há 22 anos no Hospital, e confesso que nunca imaginei que fosse passar por uma situação igual a esta”, afirma a enfermeira Chefe da Unidade de Emergência, Morgana Pescador. “E olha que foram muitas as situações, incluindo a pandemia de gripe A H1N1”, emenda, “mas nada parecido com o que estamos vivendo”, reforça. Em relação aos EPIs, ela garante que os profissionais do Clínicas têm tido acesso aos materiais necessários, e sublinha que o Hospital reforça diariamente a importância do uso dos equipamentos de proteção. “Isso ocorre tanto para os cuidados com nossa saúde, como para evitar a infecção cruzada, e também para preservar os nossos familiares e outras pessoas que estão na rua”, sinaliza. “Aliás, esta é uma grande preocupação entre nós, pois podemos estar com o vírus, sem sintomas.”
Mesmo tendo acesso aos EPIs, Morgana diz que todas as manhãs acorda com a dúvida sobre como vai ser o dia de trabalho, se vai aumentar o número de casos, e se ela vai voltar para casa “limpa de Covid-19”. “Não tenho medo de me contaminar, mas de passar para outras pessoas e para alguém da minha família. Mas neste momento triste, eu acho que meu papel é muito importante. Estou na gestão da unidade, tenho que acalmar meus colegas, orientar, estar junto do atendimento e estar mais presente do que nunca”, pondera.
Ao comentar que na rua observa pessoas caminhando sem proteção, como se não houvesse risco, Morgana lamenta que parte da população não esteja levando a pandemia a sério. “Parece que parte da população não está entendendo o que está acontecendo, isso sim me dá muito medo.”

Custo dos materiais também estaria gerando racionamento

Maior escassez é de máscaras N95, cujo mercado é dominado pela China

Maior escassez é de máscaras N95, cujo mercado é dominado pela China


Vale/Divulgação/JC
De acordo com informações do Confen, nem todos os profissionais de Saúde estão amparados no País. Segundo o órgão, há denúncias de diversos locais onde não é ofertado nenhum EPI, “porque simplesmente não tem”. “Não há registros de que isso ocorra em um hospital de grande porte, mas há muitos relatos de unidades hospitalares menores, onde os funcionários precisam improvisar com materiais que não protegem em nada. Em outros casos, a instituição tem EPIs mas não tem todos os tipos recomendáveis para todas as situações”, destaca o coordenador do Comitê Gestor de Crise no Confen, Walkirio Almeida.
Segundo ele, em outros casos há equipamentos, "mas estão racionando, fazendo os profissionais utilizarem os materiais um número de vezes maior do que o recomendável pelos fabricantes.” O gestor acredita que pelo fato do produto estar sendo vendido a preços elevados, (uma máscara que custava R$ 1,00 hoje está sendo vendida por até R$ 9,00) não há garantia de que será possível repor os estoques em todas as instituições. “Por isso, tentam prolongar ao máximo o uso dos EPIs”, opina.
Outro problema apontado em denúncias no Confen é que muitos aventais estão sendo feitos com TNT ou matéria-prima com gramatura que não impede a passagem de líquidos para a roupa dos profissionais de Saúde. “Cabe lembrar que o coronavírus é transmitido por gotículas respiratórias e secreções de modo em geral”, alerta Almeida. “É preciso ter ciência que quanto maior o número de profissionais afastados por estarem contaminados e ter desenvolvido a doença, maior a dificuldade de assistência à população”, reforça.
Conforme o presidente do Sindisaúde-RS, Julio Cesar Jesien , na Capital gaúcha muitos trabalhadores seguem reclamando de não ter acesso a EPIs, e outros denunciam que compram seus próprios equipamentos, mas não têm permissão para utilizar. “Cada hospital tem agido de forma distinta. Nos privados, as queixas são menores, o que não quer dizer que não falte equipamento. De cinco privados em Porto Alegre, pelo menos dois têm este problema”. Outro problema grave, na avaliação do dirigente, é a falta de testes de contágio junto aos trabalhadores da Saúde. "Além de sequer aplicarem testes, os hospitais estão omitindo o número de profissionais contaminados", afirma Jesien. “De 13 diretores do nosso Sindicato, dez foram infectados."

Brasil tem capacidade de produzir 40 milhões de máscaras por mês

Se dependesse da capacidade produtiva da indústria brasileira, um dos equipamentos de proteção individual com maior escassez no mercado, a máscara N95, poderia estar chegando aos hospitais sem maiores dificuldades. No entanto, até há pouco mais de um mês os fabricantes nacionais estavam desarticulados, devido à estratégia de compra na China, que vende os produtos por preço mais baixo.
“Não foi uma boa ideia transferir para o exterior a produção de um segmento tão importante, que é o EPI, deixando a indústria brasileira ociosa por uma questão de menor preço. Isso agora está custando vidas”, sentencia o presidente da Animaseg, José Geraldo Brasil. “Estamos trabalhando para que os fabricantes nacionais coloquem suas linhas de produção para atender os hospitais, e para que, passada a pandemia, o País não se descuide novamente de um produto tão estratégico, que é o EPI”, adianta.
Esta linha de pensamento ainda não foi absorvida pelo governo federal, observa o presidente da Animaseg. A compra de insumos e equipamentos para a proteção de profissionais da Saúde em meio à pandemia de Covid-19 tem sido um dos maiores desafios do Ministério da Saúde, mas está voltada para a China, que domina 90% de todo o mercado mundial desses itens e que ficou fechada para a exportação desde o início do ano por conta dos efeitos da pandemia na região. “Deveria haver um incentivo da União para a indústria nacional investir no aumento da produção, que atualmente tem capacidade para fabricar 40 milhões de máscaras N95 por mês”, observa Geraldo Brasil. “Isso seria o suficiente para abastecer os hospitais”, garante o dirigente.
Nos últimos dois meses, os associados da Animaseg vêm trabalhando com sua capacidade máxima para direcionar EPIs para hospitais e demais instituições da área da Saúde. As empresas estão doando 1 milhão de máscaras para o Ministério da Saúde no decorrer dos próximos 90 dias. Estes fabricantes representam metade do total (17) com linha de produção específica para EPIs no País.
Na última semana de março, o Ministério da Saúde distribuiu a terceira e última remessa de EPIs usados por profissionais da área que realizam atendimento dos pacientes infectados pelo coronavírus, em diversas regiões do território brasileiro. Ao todo, 40 milhões de itens adquiridos por meio de cinco editais de compra emergencial publicados entre os meses de fevereiro e março no Diário Oficial da União (DOU) foram enviados para reforçar estoques de estados e municípios. Os equipamentos fazem parte da assistência hospitalar e ambulatorial do SUS.
Ainda está previsto que 200 milhões de máscaras cirúrgicas, 40 milhões de máscaras N95, 2 milhões de frascos de álcool, 240 milhões de luvas para procedimentos não cirúrgicos, 120 milhões de aventais, 1 milhão de sapatilhas, 1 milhão de óculos de proteção, 120 milhões de toucas, e 200 mil unidades de protetores faciais devem chegar à rede de atendimento até o final deste mês. Mas, com o alastramento da doença, a demanda segue reprimida – principalmente quando se fala de máscaras N95, utilizadas para impedir a inalação de pequenas partículas transportadas pelo ar.
“Interromper a produção de equipamentos de proteção individual por conta da concorrência da China foi um erro da indústria brasileira, que hoje se desdobra para dar conta de um mercado cuja demanda aumentou de forma exponencial”, insiste o presidente Animaseg. Na opinião do dirigente, o governo deveria incentivar a produção em nível nacional, ao invés de seguir importando EPIs.
“Se os fabricantes do setor têxtil, por exemplo, entrassem todos para a linha de produção, em pouco tempo estaríamos em uma situação melhor, para que os profissionais de Saúde tivessem equipamentos adequados para atender a população e se proteger”, destaca Almeida. Hoje as linhas de produção estão paradas, com funcionários em férias coletivas, enquanto o mercado poderia estar fabricando EPIs. “Alguns produtos não precisam de grande tecnologia.”

Parcerias com empresas aumentam possibilidade de abastecimento

Unidade Fast Track atenderá somente pessoas com sintomas do vírus

Unidade Fast Track atenderá somente pessoas com sintomas do vírus


Divulgação Divina Providência
Voluntariamente, empresas da área têxtil, como a Renner, estão montando estrutura para colaborar com esta corrida contra o tempo nos hospitais. A varejista tem realizado uma série de doações para o Sul e Sudeste, a exemplo de 30 mil aventais impermeáveis e 200 mil máscaras N95 que foram entregues recentemente à direção do Grupo Hospitalar Conceição. “Contamos com as doações de várias empresas, como a Taurus, que doou protetores faciais para nossas equipes”, comenta o diretor administrativo e financeiro da rede hospitalar, Cláudio Oliveira.
Maior força de trabalho da área da Saúde, os profissionais de enfermagem somam 2,2 milhões em todo o País. Destes, 50% está atuando na linha de frente de atendimento ao Covid-19, informa o coordenador do Comitê Gestor de Crise no Confen, Walkirio Almeida. “Na instituições, atualmente o que mais faltam são justamente as máscaras N95”, comenta. “O Confen também está tentando comprar da China, mas está difícil. Nossa meta é comprar 1 milhão de máscaras, e nosso setor de compras está indo atrás”, destaca.
De acordo com Almeida, esta semana deve chegar uma leva de 100 mil máscaras adquiridas pelo Conselho de Enfermagem junto a uma fabricante nacional para serem distribuídas na área da Saúde em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Distrito Federal e no Amazonas. São locais que estão com coeficiente de transmissão muito acima da média nacional e apresentam dificuldade maior na questão dos EPIs, uma vez que a demanda de atendimento é maior. “Ainda estamos fechando parcerias com universidades para produzir protetores faciais. São os meios que estamos buscando para minimizar o problema, mas sabemos que não vai resolver por completo”, lamenta o gestor.
Contando com nove mil funcionários, o Grupo Hospitalar Conceição – que agrega os hospitais Conceição, Fêmina, Cristo Redentor, uma unidade de pronto atendimento (UPA) e 12 unidades básicas de saúde na Zona Norte – utiliza de 10 a 12 mil máscaras por dia. O diretor administrativo e financeiro da rede, Cláudio Oliveira, comenta que desde que foi declarada a pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 11 de março, o Grupo vem trabalhando “incessantemente para a aquisição de vários EPIs”. “E estamos conseguindo. Desde o começo da semana passada já fechamos compra de máscaras, aventais, jalecos, protetores faciais, entre outros.”
Tido como referência no atendimento a casos Covid-19, o Hospital Conceição implementou um centro de triagem para pacientes com suspeita da doença, localizado a 100 metros da base, para desafogar a Emergência. Também o Divina Providência criou a Unidade Fast Track (atendimento rápido), um anexo externo do hospital, para atender somente pessoas com sintomas do vírus. Além de separar os casos suspeitos dos demais pacientes, o espaço destina profissionais exclusivamente para a assistência aos sintomáticos. A Unidade Fast Track conta com dois consultórios, sala de espera, sala de triagem, sala de coleta, tudo pronto, unindo excelência e agilidade.
Mas a necessidade de racionar material preocupa profissionais que não estão na linha de frente do Covid-19. “Apesar de ter restringido o acesso das visitas, é preciso alertar que pacientes já estão fragilizados e ficam mais vulneráveis de se contaminar. Como a doença é assintomática, todos potencialmente podem ser transmissores”, alerta a técnica de enfermagem do Grupo Conceição, e vice-presidente do Sindisaúde-RS, Claudete Miranda.
O condutor de ambulância Rudiarmim Strambuski, representante da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição (Acerg) aponta que os colegas comentam que não há material de EPI suficiente. “A proteção que que o hospital disponibiliza não é ideal. A paramentação de profissionais da Saúde na Europa, Estados Unidos e Japão é bem melhor e de muito mais contenção para a doença.” Strambuski afirma que “a gestão e chefias não estão permitindo” que funcionários, técnicos de enfermagem e enfermeiros trabalhem diretamente com máscara nos setores que não são área de Covid-19. “Só quem está na área de risco usa equipamento, e de forma racionada. Consideramos uma extrema falta de organização e preparo do governo federal, porque tempo hábil para se preparar houve.”
“Seguimos a padronização da Anvisa e do Ministério da Saúde, além das orientações da OMS rigorosamente para que todos fiquem protegidos”, rebate o diretor administrativo e financeiro da rede hospitalar, Cláudio Oliveira. “Não trabalhamos com meias verdades, temos EPIs necessários para todos os empregados, todos os que atendem Covid-19 têm acesso a este material.” Oliveira explica que no momento o quantitativo “é para quem está trabalhando na linha de frente e precisa utilizar”. “Claro que tem que ter cuidado pois trabalhamos em hospitais, mas aqui no administrativo a maioria trabalha sem uso de máscara, porque não há necessidade.” Atualmente o Conceição conta com 47 pacientes internados com Covid-19, e outros 30 que passaram por ali tiveram alta.
Ao ser questionado sobre a técnica de enfermagem, de 44 anos, que teve morte confirmada por coronavírus na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital no último dia 08, Oliveira destaca que “não teve confirmação” de que a funcionária se contaminou no trabalho. “A ala dela era Emergência, e ela também não estava em grupo de risco, pelo menos não havia informado. Ficamos consternados com o ocorrido e tomamos as medidas necessárias para dar o melhor tratamento para ela.” Atualmente, o Grupo está montando uma equipe com psiquiatras, assistentes sociais e psicólogos para dar suporte para funcionários e famílias de pacientes, que deve entrar em ação ainda em abril, sinaliza o gestor.

Na Santa Casa, uso de máscaras foi generalizado há cerca de dez dias

Desde o início da segunda semana de abril, todos funcionários do Complexo Hospitalar Santa Casa, mesmo aqueles que não têm contato direto com os pacientes,estão tendo acesso a máscaras descartáveis. A informação é do diretor administrativo, Jader Pires. “Estamos disponibilizando uma máscara por dia para quem não trabalha na linha de frente. Para os que estão no combate não tem limite de uso da máscara N95, do capacete protetor, de aventais, luvas, entre outros”, afirma Pires. Ele reforça que neste sentido, não há “nenhum racionamento para quem está na linha de frente”.
O gestor da Santa Casa admite que até um mês atrás os funcionários administrativos não tinham acesso aos EPIs, mas com a recomendação de uso, a situação mudou. “Todas regulamentações do Ministério da Saúde, Anvisa e OMS estão sendo seguidas.” Pires observa que o complexo vem se preparando desde o início da pandemia. “Quando começou a movimentação do Covid-19, buscamos fornecedores e a compra ocorreu com garantia de estoque para enfrentar o período.”
Atualmente, os insumos na Santa Casa estão sendo supridos com as importações vindas da China. “Os equipamentos estão chegando, e, além disso, recebemos doações de materiais variados de diversas empresas.” Voltado a doenças respiratórias, na Santa Casa, o pavilhão Pereira Filho foi dedicado totalmente ao atendimento de pacientes com coronavírus. “Temos funcionários que fomos positivados, mas nenhum teve complicações, foram tratados de forma básica, e estão bem, mas afastados.”

Isolamento é arma para evitar colapso na saúde, afirma médico italiano

Muito se escuta falar do colapso que o coronavírus consegue impor ao sistema de Saúde, o que ainda não aconteceu no Brasil. Mas Itália e Espanha são exemplos de demanda grande e boa parte dos óbitos lá já estão acontecendo nas residências da população. O médico dos Hospitais Reunidos (Ospedali Riuniti) de Bergamo, cidade vizinha de Milão, e uma das mais atingidas pelo coronavírus na Itália e no mundo, Diego Ripamonti reforça que “o coronavírus é uma doença que tem um grau de contágio muito elevado”. Recentemente, ele enviou uma mensagem à atriz pelotense Luciáh Tavares, que repassou o texto à reportagem do Jornal do Comércio. “Em Bergamo, a explosão da epidemia se deu em torno de 22 de fevereiro, foi violenta, foi rápida e em um mês esta cidade, que conta com cerca de 1 milhão de habitantes, pagou um preço muito alto, mais de 2 mil mortos oficiais, mas fazendo um balanço razoável são mais de 4 mil mortes atribuídas ao vírus.”

Ripamonti destaca que muitos não puderam ser hospitalizados para reanimação porque não haviam leitos nos hospitais. “Os médicos e os enfermeiros por sua vez foram literalmente arrastados por essa maré, muitos adoeceram e alguns acabaram morrendo”, destaca o italiano. “O isolamento é a única arma que temos a disposição para conter a difusão, o contágio; de maneira que nos hospitais se possa reverter o número de internações para um número que a estrutura hospitalar possa aguentar.”

Reduzir o contato, ficar em casa, parar tudo, o máximo possível, é o único recurso que se tem, alerta Ripamonti. “É claro que é cansativo, e é também prejudicial do ponto de vista econômico, mas é a única possibilidade para não morrer. Vocês (brasileiros) estão em vantagem em relação a nós, já que isso já aconteceu em um outro lugar e então podem aprender com os erros e tirar proveito, se preparando da melhor maneira possível. Mas vocês devem fazer isso logo! Eu desejo que vocês saibam afrontar esta batalha melhor do que nós conseguimos. Boa sorte!”, finaliza o texto.