Se as grandes empresas já calculam os prejuízos econômicos causados pela crise provocada pelo novo coronavírus, imagine então os efeitos da pandemia para microempreededores. Além de todas as preocupações com a saúde para evitar o contágio – assim como acontece em todo o mundo -, há também a apreensão de perder praticamente toda a renda em função da queda nas vendas. E o varejo, segundo pesquisa divulgada pelo Sebrae na semana passada, está entre os 10 setores mais atingidos pela crise.
A artesã e designer de joias Caroline Teixeira sentiu os reflexos. As encomendas dos acessórios da marca Carol Clio – como colares, pulseiras brincos e anéis – cessaram imediatamente. “Com o impacto negativo, sentido já nos primeiros dias de crise, a ideia foi investir mais na divulgação das vendas on-line através do site e das redes sociais”, conta a empreendedora.
Acostumada a atender clientes em seu atelier e participar de feiras e eventos como expositora, perdeu suas principais vias de concretizar as vendas. Então, apostou forte nas negociações via internet, com promoções de preços e prazos, e adotou uma medida que até então era muito rara em seus 16 anos de mercado: a tele-entrega. “Vamos levar os produtos aos clientes sem que eles arquem com os custos de pagamento do frete”, conta. Historiadora de formação, Caroline busca manter a inspiração neste momento difícil para dar forma às peças artesanais feitas em couro, cetim e muranos.
As alternativas adotadas por Caroline estão entre as mais indicadas por especialistas no momento, que incluem, além do uso de redes sociais e entrega a domicílio, o uso de aplicativos e cuidados com o orçamento, por exemplo. Essas medidas constam nas orientações preparadas pela Prefeitura de São Paulo para amenizar o impacto da crise, já que determinou, na semana passada, que microempreendedores e proprietários de comércio estão proibidos de funcionar ou fazer atendimento presencial como medida de propagação de coronavírus.
A preocupação da prefeitura paulista em compartilhar dicas é apenas um exemplo entre as centenas de iniciativas semelhantes que se propagam nos últimos dias, especialmente em relação a pequenos negócios.
O que fazer em momentos de dificuldades
Mídias sociais e divulgação dos serviços
- Caso o empreendedor não tenha perfis empresariais nas redes sociais, esse é o momento. A internet é uma ferramenta fundamental para divulgação dos serviços e produtos, o que facilita, de maneira rápida e com baixo custo, o contato com o público.
- Além das redes sociais, uma alternativa é colocar na fachada do estabelecimento uma placa ou banner, respeitando a lei Cidade Limpa, de divulgação dos meios de contato para encomendas e atendimento para os consumidores, indicando taxas de entrega e demais informações.
Comércio via aplicativos de entrega e internet
- Pela internet, o empreendedor tem a possibilidade de oferecer seu produto via aplicativos de entrega, que também possibilita transações on-line, diminuindo o contato físico entre comerciante e consumidor.
Implantação de delivery próprio
- Com a orientação do poder público para que a população fique em casa, o fluxo de atendimento presencial diminuirá. Uma alternativa é a disponibilização de delivery com os funcionários do estabelecimento, especialmente em bairros residenciais, onde a entrega pode ser feita em curtas distâncias e sem o uso de veículos.
Orçamento e redução de custos
- É interessante fazer uma análise do negócio e identificar os itens fundamentais para o seu funcionamento. A partir disso, o empreendedor pode avaliar quais gastos podem ser cortados ou reduzidos.
FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO
Alternativas incluem mudar a rotina e enfrentar desafios
Confira o depoimento de microempreendoras que tinham no atendimento presencial a principal forma de vendas e estão se reinventando para seguir os negócios:
Produtos personalizados podem fazer a diferença
Artesanias do bem comercializa peças de porcelana pintadas à mão e papelaria
ALINE PEREIRA/DIVULGAÇÃO/JC
“Sou fonoaudióloga e faço atendimento a domicilio, sobretudo para idosos, e há uma semana cancelei completamente meus atendimentos por 30 dias. Então a Artesanias do Bem, minha veia artesanal, com porcelanas pintadas à mão e papelaria, passou a ser mais importante como fonte de renda. Neste período, geralmente, exponho em feiras e reponho peças para duas lojas das quais sou fornecedora. Perdi as duas alternativas, já que os eventos foram cancelados e o comércio fechado. Por isso, passei a vender os produtos de uma forma diferente, dando prioridade para encomendas personalizadas e divulgando do que tenho em estoque nas redes sociais. Precisei buscar um serviço de entregas, o que normalmente eu fazia pessoalmente. Sempre priorizei o contato direto, o olhar no olho, conversar com o cliente para contar a história de cada desenho, de cada peça e o poder ouvir do cliente sobre o afeto que ele quer transmitir em cada encomenda. Com o serviço de entregas isso se perde um pouco, mas a prioridade é manter as contas em dia e felizmente, de alguma forma eu ainda consigo trabalhar de casa.”
Aline Pereira
Perfil pessoal de redes sociais pode virar loja on-line
Clara Raiz oferece cosméticos fitoterápicos e produtos lixo zero
CLARISSA MONTIEL/DIVULGAÇÃO/JC
"Trabalho com cosméticos fitoterápicos e produtos lixo zero Clara Rais, e os exponho em feiras ecológicas e de bairros desde 2018. Não possuo loja física. O contato com o público é importantíssimo para mim, pois muitos clientes buscam se informar sobre o conceito do consumo consciente e as matérias-primas dos cosméticos, que são de base vegetal e fitoterápica, levam óleo mineral e não possuem derivados petroquímicos em sua composição, por exemplo. Além disso, usamos insumos orgânicos rastreados. O melhor é explicar tudo isso pessoalmente, mas temos que cumprir as determinações de ficar em casa. Então, a saída foi adaptar minhas redes sociais e torna-las lojas de vendas on-line. Também adotei tele-entrega via aplicativos, novas formas possíveis para me adaptar às demandas dramáticas deste momento. Nunca dei muita importância para a divulgação on-line das vendas antes. Estou tendo que aprender muita coisa, refazer algumas estratégias, mas acredito muito que com a união e cooperação de todos vai dar tudo certo!"
Clarissa Montiel
Acompanhe o trabalho das microempreededoras nas redes sociais
- Artesanias do Bem – Aline Pereira
facebook.com/artesaniasdobem
instagram.com/artesaniasdobem
- Clara Raiz - Clarissa Montiel
instagram.com/clara_raiz
facebook.com/clararaiz.br
- Carol Clio – Caroline Teixeira
carolclio.com.br
instagram.com/carol_clio
facebook.com/carolclio.moda