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sucessão rural

- Publicada em 03 de Julho de 2020 às 00:30

Cooperativa (também) é lugar para a nova geração

Cooperativa Languiru desenvolve Programa de Sucessão Familiar, apostando na formação de novos líderes para os pequenos agricultores

Cooperativa Languiru desenvolve Programa de Sucessão Familiar, apostando na formação de novos líderes para os pequenos agricultores


/Éderson Käfer/Divulgação/Languiru/JC
Ele é antigo e atual, ao mesmo tempo, com mais de um século como modelo de desenvolvimento regional mais justo e sustentável - ainda hoje, conquista jovens e adolescentes. O centenário cooperativismo brasileiro, que no primeiro sábado de julho comemora sua principal data, tem suas origens em 1902, no Rio Grande do Sul.
Ele é antigo e atual, ao mesmo tempo, com mais de um século como modelo de desenvolvimento regional mais justo e sustentável - ainda hoje, conquista jovens e adolescentes. O centenário cooperativismo brasileiro, que no primeiro sábado de julho comemora sua principal data, tem suas origens em 1902, no Rio Grande do Sul.
O modelo chegou ao Brasil pelas mãos do padre jesuíta Theodor Amstad, admirador da experiência alemã, e avançou do meio rural ao urbano, da agricultura para quase todos os setores da indústria, do comércio e dos serviços. E, em um momento de pandemia, crise generalizada e novos desafios globais, ganha força como referência.
Cooperar, ser também o dono do próprio negócio e poder contar com os outros para crescer vem se fortalecendo como uma experiência real entre estudantes de diferentes idades. Os princípios que levaram o modelo cooperativo a prosperar desde o século passado aos dias atuais ainda batem à porta, ou melhor, aos computadores e smartphones das novas gerações.
Apontado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos mais eficientes sistemas para promover o desenvolvimento econômico equilibrado, o cooperativismo tem por base temas como a democracia e a união de esforços em torno de um tema comum. Na contabilidade de uma cooperativa, o lucro ganha o nome de sobras, fruto do esforço conjunto e repartido entre todos que ajudaram a alcançar o resultado positivo.
São premissas como essas que fizeram o sistema progredir e até mesmo se rejuvenescer, avalia o presidente do Sistema Ocergs/Sescoop, Vergílio Perius, hoje 100% dedicado ao setor e que foi também um jovem cooperativado. Trata-se de um modelo econômico diferenciado, baseando-se fundamentalmente no princípio democrático, no qual cada um tem voz, vez e voto.
O voto é igual para todos integrantes, independentemente dos recursos de cada um. O resultado econômico é que será proporcional ao volume dos negócios que cada cooperativado realiza. A capacidade de retornar aos jovens seus esforços e investimentos de uma forma mais igualitária e justa está entre os principais motivos de atração das chamadas gerações X e Y à cooperação profissional.
"O cooperativismo é o modelo econômico que faz o melhor aceno aos jovens frente ao capitalismo - que apropria mais capital às empresas -, ao comunismo e ao socialismo, que o direcionam ao Estado. Desde 2012, a ONU recomenda que os governos apoiem o sistema por ser um dos modelos de desenvolvimento ideal. E os jovens têm abraçado a ideia de uma forma extraordinária", avalia Perius.
Em estudo recente, a Ocergs buscou entender melhor a visão que os jovens têm das cooperativas - foram ouvidas 401 pessoas com idades entre 16 e 34 anos. O grupo incluiu não apenas jovens cooperativados, mas também quem era funcionário de uma cooperativa. A Pesquisa Jovens Coop trouxe indicadores interessantes e revigorantes sobre como é, hoje, a interação deste público-alvo com o sistema.
Um das conclusões é que a maior parte deles entende que esta forma de atuação favorece o desenvolvimento pessoal, profissional e comunitário. O idealismo aliado a um forte anseio por crescimento pessoal e profissional, e com perfil globalizado, também chamou a atenção nas respostas aos questionamentos.
Engana-se quem imagina que os jovens entrevistados são notoriamente agricultores com anseios focados no local. Entre os entrevistados, os maiores planos para o futuro incluem viajar e conhecer o mundo (49,6% das respostas, múltiplas) e ser capaz de ajudar os outros a mudar suas realidades de vida, com praticamente igual destaque (46,9%).

Ações para qualificar e conhecer os anseios dos jovens

A busca por essa proximidade com o futuro do cooperativismo é fundamental para a sucessão rural, um dilema para o agronegócio. Entre os programas que vêm mobilizando jovens e cooperativas estão o Aprendiz Cooperativo do Campo, com o qual a Ocergs promove a capacitação profissional em meio turno, ao longo de 17 meses, tempo em que o jovem recebe uma bolsa-auxílio equivalente a 50% do salário-mínimo nacional (além de vale-transporte e outros benefícios) para compensar o período em que deixará de ajudar na propriedade familiar.
"Apenas em 2019, com esse programa, qualificamos 1 mil jovens. Deste total, apenas três deles desistiram de ficar no campo, por diferentes circunstâncias. Ou seja, 997 permaneceram na atividade e mais estimulados", assegura o presidente da instituição, Vergílio Perius.
O programa viabiliza que os estudantes desenvolvam projetos reais e alternativas de desenvolvimento na propriedade, dentro de suas potencialidades. Como? Habilitando os jovens para atuar em diferentes setores da economia. São cerca de 1 mil horas de estudo e trabalhos práticos na propriedade.
"Esses jovens, optando por novas ações, permanecem no campo. É uma gota no oceano, mas mostra que eles têm no cooperativismo um estímulo para seguirem no campo e manter o sistema. As cooperativas rurais não estão perdendo sócios, estão ampliando", destaca Perius.
Manter forte tanto as bases da cooperativa quanto o futuro das propriedades rurais familiares é uma das ações que estão na linha de frente de cooperativas como a Languiru, com sede em Teutônia, no Vale do Taquari. O programa de sucessão familiar da cooperativa ajuda na preservação e na expansão dos negócios individuais, ao mesmo tempo em que insere uma nova geração de associados à Languiru.
Em parceria com a Unisinos, e com o apoio do Sescoop/RS, a segunda turma de estudantes do curso teve 44 formados em janeiro deste ano. Se somados os jovens que participaram do Programa de Desenvolvimento da Liderança Cooperativa, os diplomas foram entregues a um total de 70 jovens agricultores.
No programa de sucessão familiar foram 60 horas/aula, com encontros mensais, de setembro de 2018 a dezembro de 2019, em atividades que abordaram, entre outros temas, o acompanhamento das finanças da propriedade rural, técnicas de análise dos custos de produção, meios de relacionamento e gestão de pessoas. O grupo ainda participou de visitas técnicas em propriedades rurais de associados da Languiru e à uma cooperativa agropecuária do Paraná.
 

Cooebompa mobiliza jovens de Nova Petrópolis

Cooperativa escolar foi fundada em 2010 no município da Serra

Cooperativa escolar foi fundada em 2010 no município da Serra


/Cooebompa/Divulgação/JC
Foi ainda no Ensino Fundamental que a estudante Gabriela Boelter teve contato com uma paixão que dura até hoje: o cooperativismo. Atual presidente da Cooperativa Escolar Bom Pastor (Cooebompa), fundada em 2010, Gabriela começou a se aproximar da cooperativa há cinco anos. Hoje, se pedir à jovem uma explicação do que é uma cooperativa escolar, o interlocutor receberá uma aula.
Gabriela fala com entusiasmo das reuniões que decidem os rumos da cooperativa, detalha as ações, descreve como é feita a gestão, as dificuldades e os processos que culminam sempre com um produto educacional. A meta da cooperativa é criar produtos e serviços que levam os jovens a aprenderem, na prática, diferentes funções de administração, produção e até de contabilidade.
Entre os mais recentes "empreendimentos" educacionais estão a confecção de álcool em gel (ainda antes da pandemia), a gestão e contratação de uma máquina de café para a escola técnica, localizada em Nova Petrópolis, conhecida como capital gaúcha do cooperativismo. Tudo que é feito tem uma finalidade educacional, tanto no caso do álcool quanto da máquina de café. .
"Temos alunos associados que participam de assembleias, das decisões do que vamos priorizar como atividade, fazemos atas, cuidamos do caixa, elaboramos estimativas de custos de produtos. E executamos os planos seguindo os princípios do cooperativismo", informa ela.
No caso do álcool em gel, foi preciso recorrer aos professores de Química e aos laboratórios da escola para fabricação de, em média, 2 litros por mês vendidos em pequenos frascos. Fluxo de caixa que também vira aprendizagem.
As reuniões do conselho fiscal e administrativo debatem convites feitos à Cooebompa para participar de eventos, atividades que serão priorizadas, novos produtos de aprendizagem, como mobilizar estudantes em causas e até atrair novos propagadores do cooperativismo. Gabriela diz que, quando uma ideia é aprovada, os cooperativados começam a concretizá-la.
"Vemos o que é necessário, se temos capacidade para fazer, os custos de produção e se é viável. Caso positivo, fazemos o projeto acontecer. O álcool em gel foi apenas um dos projetos que se concretizou", conta a estudante.
Como a escola recebe no internato alunos de fora da cidade e de outras regiões, ressalta Gabriela, há estudantes que não tinham contato com o sistema e acabaram levando a ideia para as suas famílias e comunidades. Muitos que já deixaram a Cooebompa hoje trabalham ou são associados de cooperativas.

Lições das aulas são aplicadas direto na propriedade

Anieli, 16 anos, tem aulas na Cotricampo, em Três Passos, e agora organiza a contabilidade familiar em planilhas eletrônicas

Anieli, 16 anos, tem aulas na Cotricampo, em Três Passos, e agora organiza a contabilidade familiar em planilhas eletrônicas


Arquivo Pessoal/JC
Integrante do programa Aprendiz Cooperativo do Campo desde maio de 2019, Anieli Schu, 16 anos, leva os conhecimentos da sala de aula da Cotricampo, em Três Passos, direto para a propriedade da família. Ainda que de início os pais não vissem lá muitos ganhos diretos no fato de a jovem integrar o programa, hoje o apoio é amplo. Até mesmo porque desde cedo a estudante do Ensino Médio aplica na produção familiar de hortifrutigranjeiros técnicas de gestão que aprendeu recentemente.
“Eu faço no Excel (planilha eletrônica) os controles da propriedade, como despesas e vendas, e ajudo no planejamento dos gastos quando não podemos comprar sementes à vista, por exemplo. A contabilidade antes era feita toda em anotações à mão”, conta Anieli.
Além de ela própria se aproximar mais do sistema, com aulas dentro da sede da cooperativa ao qual o pai é vinculado, Anieli conta que também ele passou a se interessar mais pelo que a jovem estava estudando e pela própria cooperativa. E mudou a visão dela sobre as formas de gerir o que no futuro pode ser tua principal atividade profissional.
“O programa aborda, por exemplo, o empreendedorismo rural, que é importante para estimular a permanência no campo. Hoje, eu consigo ter uma ideia melhor o que eu farei se ficar na propriedade”, conta a adolescente.